1. Aqui se faz, aqui se paga
Mais um dia amanhece em um ponto distante uma gigantesca estrutura que lembrava uma montanha e banhada pelos raios solares. Em seu interior habita uma espécie que há muito tempo dominou todo o planeta, contudo no auge do seu orgulho e desejo pelo poder se atacaram mutuamente assim destruindo tudo à sua volta tornando o mundo em um verdadeiro inferno. Em desespero os sobreviventes do confronto ergueram várias estruturas como aquela pelo mundo agonizante na esperança de um dia ele se recuperar. Porém apenas colocar pessoas dentro e esperar dias melhores não daria certo.
Era necessário alguém para guiar a humanidade, ensiná-la garantindo que os mesmos erros não seriam repetidos, então líderes foram escolhidos, leis foram criadas para dizer o que era certo e errado e desta forma a hierarquia da torre nasceu. No topo e o lar do conselho de anciões, os responsáveis por criar as leis que governam a todos, abaixo deles até, o 300º e a morada dos nobres e seus familiares. No 200º fica o quartel-general da guarda da torre, um grupo com a missão de proteger e servir a todos ali, do 199º até o 1º e onde vive a maioria da população comum. E claro que não havia espaço para todos então a grande maioria dos sobreviventes foi abandonada a própria sorte e sem alternativa essas pessoas buscaram abrigo nas fundações da estrutura que foi erguida sobre a cidade abandonada e assim nasceu os andares zeros.
O tempo passou, primeiro anos, depois décadas e finalmente séculos no interior da estrutura, milhares de pessoas se apertam tentando minimamente viver nos mais de 400 andares daquele lugar que ficou conhecido como a"torre."
E hoje observando a torre em um dos andares 0 e possível ver um pequeno vulto se movendo com agilidade entre as ruínas da velha cidade. Ele entra em uma construção por um dos diversos buracos nas paredes e caminha com segurança até alcançar o espaço mais amplo e melhor cuidado. Finalmente o vulto alcança um ponto iluminado, é possível ver que se trata de um gato rajado com diversas cicatrizes pelo corpo, incluindo uma em seu rosto onde antes havia um olho. O felino sobe em um móvel e começa a miar de forma estridente cada vez mais alto tomando todo o lugar. Em um canto próximo, um amontoado de panos se mexe de forma irritada, reagindo ao barulho quase como se fosse explodir quando uma pequena brecha surge e uma faca sai voando em direção ao felino que desvia rapidamente.
Os panos vão ao chão, revelando uma moça de olhos castanhos que não tinha mais que 20 e poucos anos, irritada pela interrupção do sono.
– Gato maldito! Não tem nada para comer e se não tratar de ficar quieto na próxima não vou errar e pelo menos um de nós terá o que comer. Porra não posso nem dormir em paz? – A garota se levanta revelando um corpo esbelto coberto por uma camisa muitas vezes maior que a proprietária, ainda sonolenta ela caminha até uma coluna de concreto onde uma bacia com água era abastecida por um aglomerado de canos enferrujados e tortos. Rapidamente a mulher enfia a cabeça na água gelada espantando o último fio de sono e ao levantar o rosto da bacia ela olha para o espelho improvisado encarando seu reflexo.
Não era feia, isso não podia se negar, entretanto, profundas marcas de expressão adornavam seu rosto mostrando que sua vida não era fácil, inconscientemente seus olhos vagueiam pela fase tão conhecida até que um pequeno sorriso surgir no canto de seus lábios. Seu olhar vai até o pulso que estava coberto por bandagens e o pequeno sorriso desaparece enquanto ela volta aos dias de sua infância.
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Aquela jovem, como muitos antes dela, foi abandonada recém-nascida e entregue no orfanato do 1°andar, um lugar que se os futuros moradores imaginassem o que os aguardava, muitos teriam escolhido a morte.
O local era apenas um depósito para que as crianças não morressem pelos andares da torre, uma instituição criada por motivos há muito esquecidos e que agora só oferecia dor e sofrimento. Mesmo as pessoas que ali trabalhavam não queriam estar naquele maldito lugar. Os administradores para passar o tempo criavam jogos, onde podiam apostar qual crianças iria ganhar. Para o vencedor, uma porção extra de comida, aos perdedores nada além de uma surra dependendo apenas de quanto dinheiro os apostadores perderam. Nem um nome aquelas pobres almas recebiam eram marcadas como gado.
Os que sobrevivem a todas essas provações ao completar 9 anos tem a chance de ser escolhidos para serem servos e quem sabe aprendizes e assim garantindo um teto sobre suas cabeças, comida em suas barrigas e acesso à Gaia. No dia de adoção as crianças são banhadas e recebem roupas novas, também é montado uma passarela onde elas ficam expostas para que os adultos pudessem ver quais os interessava, a prioridade na escolha é definida por quem faz as maiores doações para o orfanato.
O dia de adoção caminhava para o final e M13 respirava aliviada até ali ela havia escapado de ser escolhida pelos tipos mais estranhos de nobres. Como um homem tão gordo que parecia não ter pescoço que sorria de forma estranha, teve também uma velha magra e alta que apertava cada criança para ver se tinha carne o suficiente nos ossos para o ensopado que iria fazer. Após os nobres os mestres artesãos entraram em busca de aprendizes e ajudantes e por fim os comerciantes muitos queriam adotar para trabalhos braçais, alguns poucos aprenderiam a ler e escrever para cuidar das compras e vendas.
Já havia sido a vez dos artesãos e os comerciantes seriam os próximos a escolher, M13 estufou o peito e colocou o melhor sorriso que podia, ela sabia que teria que ser escolhida e não importava qual trabalho ela tivesse que fazer aceitaria sem discutir, pois, o destino dos que não fossem escolhidos era certo. Ao completar 15 anos a criança se torna maior de idade e uma vez sem utilidade para a torre são banidos para os andares 0.
O portão mais uma vez é aberto, todas as crianças olharam naquela direção tentando descobrir que tipo de pessoas seriam os próximos visitantes, para surpresa geral apenas uma pessoa entra no momento que passa pelo portão esse se fecha atrás dela e rápido com um raio o diretor do orfanato caminha até o recém-chegado.
– Mestre Isaac, eu não o esperava hoje, que surpresa maravilhosa, se tivesse avisado teria deixado o melhor para o senhor. – M13 avança para frente para enxergar melhor o misterioso homem, era um homem jovem com a barba por fazer, vestido de forma simples usando um chapéu de coco, blazer e se apoiava em uma bengala.
– Meu amigo, se eu tivesse feito isso, como acharia esses pequenos anjos? – Ao dizer essas palavras o recém-chegado sorri para as crianças e sinaliza para que se aproxime, algo quente surge no coração de todas as crianças presentes que correm em direção ao homem que ri e as abraça, era a primeira vez que elas sentiam o que era carinho. O tempo passou e Isaac brincou, cantou, dançou e deu doces a todas até que chegou a hora de escolher quem iria com ele
– Crianças, agora eu preciso falar sério por mim, levaria todas, contudo só posso ter 12, dessa forma farei o seguinte, vou fazer algumas charadas e quem responder certo virá comigo, está bem? – As crianças gritam concordando eufóricas.
– muito bem, agora vamos às regras do jogo, quem errar a resposta não poderá mais participar, então pensem bem antes de responder, às crianças mesmo não gostando aceitam as regras.
– Certo. Lá vai à primeira. O que é, o que é? Me alimente e eu vivo. Me dê água e eu morro. – Os minutos passaram até que um menino de cabelos pretos se adianta para responder.
– O fogo!
– Muito bem, meu jovem. – Sorrindo, Isaac sinaliza para que ele fique do seu lado, assim o jogo prossegue com muitos erros ao som de choro e gritos de vitória até que finalmente se fecha o número de 12 crianças. Na hora de partir ele despediu-se todos e quando estava indo para os portões sentiu falta de uma pequena caixa que carregava no bolso. Olhando em volta, ele vê uma criança encostada no muro mais distante segurando o objeto.
– Ola meu anjo, tenho que ir embora e preciso dessa caixinha pode me devolver por favor? – A menina estica a mão entrega o objeto e para a surpresa de Isaac parecia quase resolvido, não seria nada de mais se aquela caixa não fosse um dos mais difíceis quebra cabeça que ele já tinha visto em sua vida.
– Minha criança me diga, alguém te ajudou? – A menina move a cabeça em negação, como ela não parecia estar mentindo, então ele decide testá-la.
–Quer terminar de montar? – A criança ainda calada gesticula que sim para Isaac que devolve a caixa para ela que retoma o processo para desvendar o enigma sob o olhar atento de Isaac até que um estalo é ouvido e a caixa abre revelando uma joia vermelha.
– Quem diria que eu encontraria uma joia tão rara minha criança, qual é seu nome? – A criança mostra o pulso onde se via tatuado M13.
– Entendo, ainda assim parece estranhamente apropriado já que hoje levarei 13 crianças e não 12 como o planejado, claro se você quiser? – A criança começa a chorar, pois aquele era o fim do seu pesadelo.
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– M13 sente algo escorrer pelo seu rosto ao olhar no espelho percebe que estava chorando.– Que porra você acha que ta fazendo? – M13 em um acesso de raiva joga a bacia no chão enxugando as lágrimas com as costas da mão. Quer se fuder? Talvez se juntar a eles no caralho do inferno? Não? Então mexa loga a porra dessa bunda e vá conseguir alguma comida! – Motivada por suas próprias palavras, a mulher se veste, pega o equipamento e sai pela porta parando por um instante ela olha para trás e enxerga o gato que lentamente se deita na cama que a minutos ela ocupava.
– Hunf! Filho da puta preguiçoso, cuide de tudo até eu voltar.
Sejam todos muito bem vindos a torre. Pedimos que deixem toda e qualquer esperança do lado de fora. Agora se acomodem e aproveitem ao máximo essa aventura. E por favor não deixem de votar e comentar.
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