Nicholas olhava a delegacia junto com Virgílio e Helen. Estavam com as maletas de trabalho já em mãos.

— Tem certeza que é esse o local que o prefeito passou? — perguntou Virgílio

— Tenho plena certeza. — afirmou Nicholas.

— Espero que não caia sobre nós. — completou Helen.

A delegacia estava no térreo de um prédio de três andares, o segundo prédio mais alto da cidade, perdendo apenas para a prefeitura. Porém, o que mais chamava a atenção era a idade que o edifício aparentava ter: possíveis 100 anos.

Ao comparar com os outros edifícios e casas locais era, com certeza, a construção mais velha da cidade. Não que Ponteville seja uma cidade nova, mas aquela delegacia era demasiadamente velha.

Nicholas entrou no local. Observava tudo atentamente, fazia já um primeiro reconhecimento. Ambos vestiam, agora, as roupas oficiais da polícia. Um sobretudo que se estendia até as coxas, de cor levemente cinza e com um cinto em volta da barriga. Acima do cinto encontravam-se botões que fechavam o sobretudo até o início do pescoço. Uma gravata rosa encontrava-se no colarinho da camisa, a qual sempre foi motivo de reclamações de Virgílio. Para completar o visual, uma luva de couro e uma bota, também de couro, que se estendia até os joelhos.

No interior da delegacia encontravam-se seus novos companheiros de trabalho. Enrique estava sentado em uma cadeira com um cigarro, enquanto Robert trabalhava na máquina de escrever.

— Senhores. — cumprimentou Nicholas.

— Olá, meus caros. — respondeu Enrique.

Robert, concentrado no trabalho que estava fazendo, não respondeu à saudação.

Nicholas olhou para Helen com rosto de desconfiança.

— Já sabiam que estávamos a caminho?

— O prefeito nos avisou. — afirmou Enrique.

— Mesmo assim, saberíamos. Não é sempre que temos gente vestida assim nessas bandas. — completou Robert. — Além disso, ninguém costuma vir à delegacia logo pela manhã, delegado. Apenas para trazer um café, como uma boa ação dessa gente. Se, por algum acaso da vida, acontecer algum incidente, tenho certeza que será pela tarde ou noite.

— Isso é bom. Pela manhã, então, iremos colocar os papéis em dia. E pela tarde e noite faremos ronda. — afirmou Nicholas.

— Poderíamos fazer ronda só no fim de semana, pela semana apenas descansamos. — falou, sorrindo, Virgílio.

— A cidade é pacata e goza de uma paz inesgotável. Não necessita de tantas rondas. — complementou Robert.

— Pacata ou não, teremos rondas de segunda a segunda. Começando hoje. — ordenou Nicholas.

— Como o Senhor mandar. — concordou Enrique.

Com rapidez, Nicholas começou a procurar todos os registros e processos criminais arquivados da cidade.

— Preciso de toda a papelada. Irei avaliar todos os boletins que a cidade possui. — falou Nicholas.

— De qual data? — perguntou Robert.

— De 1900 até os dias atuais. — respondeu Nicholas.

Com um esforço tremendo, Enrique levantou-se da sua cadeira, resmungando pelo mau início de trabalho. Colocou os papéis na mesa e Helen os examinou imediatamente.

Apenas três crimes constavam nos registros policiais. Um desses crimes era relacionado ao caso do prefeito Ted Ford, que possuía estado de não finalizado pelas investigações. O caso do prefeito muito interessava a Nicholas, pois poderia chegar à cidade já com um bom status, desde que viesse a resolver o que aconteceu com o carro do prefeito Ted. Poderia mudar a situação dentro da equipe e, talvez, conseguir um pouco mais de respeito.

Nicholas ficou horas estudando, minuciosamente, os três processos em aberto. Percebeu que nenhum continha um julgamento finalizado. Era hora de investigá-los.