Capítulo LXXXV - SARA
Depois de uma eternidade de espera – pelo menos foi o que pareceu para mim – finalmente os vi se aproximando do beco. O Tonho já deixara de ser uma enfermeira e trazia consigo a Helô, o Zeca e uma terceira garota com o cabelo esquisito.
Ignorei a todos e segui em direção a Helô. Segurei-a pelos ombros e a chacoalhei com toda a minha força.
- Sua irresponsável de uma figa! - exclamei, aos berros. - Você quase me matou de susto, sua pirralha! E se tivesse acontecido alguma coisa com você, sua idiota?! - Senti que algumas lágrimas começaram a aparecer, mas as ignorei e continuei com meu ataque. - O que eu ia dizer pro seu irmão?
- Puxa, Sara! - exclamou ela, enquanto eu ainda a chacoalhava, por isso sua fala saiu entrecortada. - Eu também senti sua falta.
Já não ligando mais em esconder o maldito choro que insistia em vir, abracei-a com força.
- Eu nunca mais vou concordar com as suas maluquices, entendeu? - disse, entre soluços. - Nunca mais!
Notei que, enquanto eu dava meu pequeno show, todos nos encaravam boquiabertos.
- O que vocês estão olhando? - indaguei, enquanto soltava a Helô e secava as lágrimas. - Nunca viram?
- Na verdade, não. – Riu o Zeca.
Então me aproximei dele e lhe dei um soco no braço.
- Você é o maior culpado de tudo isso!
No momento em que a frase saiu da minha boca, arrependi-me completamente do que disse. Graças a mim, o clima, que estava ameno – já que todos estavam rindo de mim – tornou-se austero e pude notar a feição do Tonho se fechando.
Antes que o Zeca tivesse chance de se defender, o Tonho já o segurava pela camisa, quase soltando fogo pelas ventas.
- Eu sei o que você vai dizer – adiantou-se o Zeca. - Mas eu simplesmente não podia ficar de braços cruzados, Tonho!
- E tinha que levar a Helô com você? - indagou ele, numa clara tentativa de conter a raiva.
- Ele não queria me levar, Tonho... - começou a Helô, mas foi interrompida pelo Tonho.
- Deixa que eu me resolvo com o Zeca.
- Não! - exclamou. - Eu já estou cansada de ser tratada como uma criança! Caso você não tenha percebido, eu cresci, Tonho. E você vai me escutar: O Zeca só me levou porque eu o ameacei. Ele não queria me levar.
Enquanto o Zeca aproveitou a distração para escapar do Tonho usando sua intangibilidade, pude ver o Tonho tentando conter sua raiva, descontando-a enquanto fechava os punhos com tanta força que seus nós dos dedos ficaram brancos.
- Eu sei que você está com raiva, Tonho – comecei, tentando acalmá-lo. - Mas vamos ouvir o que eles têm a dizer.
Com um olhar de gratidão o Zeca continuou:
- Nós não podemos deixar aquele maníaco concretizar os planos dele. E dessa vez ele está mais perto do que nunca.
- E quais são esses planos? - perguntei, com medo de ouvir sua resposta.
O Zeca começou com uma história muito louca, sobre a criação de uma terceira geração e a comercialização dela como arma. Essa foi a parte tranquila da história. A parte realmente grotesca ficava por conta de fazer dois irmãos terem filhos. Essa era a coisa mais nojenta que eu já tinha ouvido falar.
- É serio, Tonho. Nós não podemos deixar que algo aconteça a Malu – insistiu.
- Nem ao Bruno! - completou a Helô.
O Tonho nos encarou por um instante sem dizer nada. Eu não sabia o que se passava em sua cabeça, mas ainda assim podia apostar que ele estava confuso com isso. Resolvi dar uma mãozinha na sua decisão.
- Eu estou com eles, Tonho – anunciei. - Se tivermos uma chance, mesmo que pequena, de evitar que essa podridão aconteça, eu estou dentro.
- Ah... - suspirou o Tonho, frustrado. - Eu sei que eu vou me arrepender até meu último fio de cabelo por isso, mas... Vamos nessa.
Sentamos no chão a fim de pensar em algo, quando notei que algo estava faltando. Na verdade, alguém.
- Onde está a garota esquisita? - perguntei.
- Desgraçada! - exclamou a Helô. - Ela deve ter aproveitado para fugir enquanto estávamos distraídos.
- É melhor assim – concluiu o Zeca, dando de ombros – Eu não queria que ela nos atrapalhasse de novo.
Estávamos tão absortos nessa nova jornada, que nem sequer tive curiosidade em saber o que diabos essa garota tinha atrapalhado. Acho que o Tonho pensava da mesma forma, pois também não se manifestou a respeito disso.
- O que você está pensando em fazer? - indagou o Tonho, direcionando sua pergunta ao Zeca.
- Eu preciso que vocês me deem cobertura, para que eu encontre os dois e os tire de lá – respondeu.
- E você acha que eles não estão sob intensa vigilância? - questionei.
- É por isso que eu preciso da ajuda de vocês. Precisamos de toda ajuda necessária para poder tirá-los de lá.
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Quem achou que ia dar briga, levanta a mão o/
Ainda bem que o Tonho está mais controlado do que nunca, senão...
Beijão ;*
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