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VII


Quantas tragédias são necessárias para danificar a mente de uma pessoa?

Thessalia precisou de uma sucessão delas, concentradas num curto intervalo de tempo e ocorridas no mais sensível dos períodos, a infância.

Eu precisei de apenas uma, em plena fase adulta.

Enlouqueço a cada dia que vou ao sanatório visitar minha esposa. Às vezes, ela aparenta estar bem. Pergunta-me sobre Emilia, o velho Wagner e até mesmo sobre Ludovico. Em outras ocasiões, ela pula sobre mim com os olhos saltados, gritando sobre anjos e demônios, céu e inferno, e rogando que eu a tire daquele lugar. É então necessário vir vários enfermeiros e arrancá-la de cima de mim.

Os piores momentos, contudo, são aqueles quando ela chora e diz que me ama, e pede perdão por ter entrado em minha vida. Nesses dias, deixo o sanatório com a certeza de que um pouco de minha sanidade ficou para trás.

Talvez, no fundo, eu deseje realmente enlouquecer. Talvez eu tenha esperanças de que, assim, Thessalia e eu voltaremos a habitar sob um mesmo teto e, quem sabe, compartilhar da mesma cama, ambos abençoados pela magnífica inocência da loucura...

- Essas visitas não estão te fazendo bem – fala o velho Wagner, preocupado, numa triste tarde de primavera. – Você passa mais tempo visitando a Sra. Keller do que dentro da própria casa!

- Ela precisa de mim. Ela não tem culpa do que o destino lhe fez à mente.

- Diminua então suas visitas, filho. Se você ficar muito tempo no mundo dos loucos, acabará se tornando um.

Mas continuo visitando Thessalia diariamente. Não que vê-la me faça bem; pelo contrário, mata-me aos poucos. Mas é uma morte mais do que desejável.

- Pobre Keller! – diz minha esposa, quando está nos momentos de clareza. – Você está mais magro do que os que viveram comigo no campo de concentração! Por que continua vindo aqui? Sua irmã precisa de você, sua casa precisa de você!

- "Não necessitam de médicos os sãos, mas sim os doentes" – respondo, citando a Bíblia.

Então Thessalia volta a gesticular e a gritar sobre demônios que são anjos e sobre anjos perdidos no inferno e sobre infernos que também são céus... E novamente vejo-a ser posta numa camisa de força e ser levada para o isolamento...

Isso é tristeza. Podem anotar num dicionário.

Quando penso que não poderia ficar mais infeliz, a saúde do velho Wagner sofre uma piora brusca e ele precisa ser internado no St. Mary Hospital.

- Ora, filho, isso me acontece todo ano... – diz ele no leito do hospital, com a voz mais fraca do que um sopro. – Em breve melhoro...

Mas não melhora. Vai perdendo as forças lentamente e, após algumas semanas, não é capaz de reconhecer nem eu nem Emilia. Pelo olhar dos médicos, sei que desta vez é definitivo. Meu velho pai, enfim, está sendo derrotado.

Minha esposa, louca.

Meu pai, à beira da morte.

Estou começando a acumular minhas próprias tragédias.

As visitas ao hospital substituem as visitas ao sanatório, e me afasto do mundo dos loucos para imergir no mundo dos doentes. A diferença é que Emilia e Ludovico sempre me acompanham ao St. Mary, o que torna menos depressiva a visão moribunda de Wagner.

- Ele vai sair dessa – diz Ludovico suavemente, num dia em que estamos na recepção do hospital, aguardando o horário de visita. Meu amigo segura a mão de Emilia, cujo rosto está coberto de lágrimas, como sempre durante as visitas.

- E se não sair? – Emilia soluça.

- Estamos falando de um homem que lutou e venceu duas grandes guerras! Ele certamente vencerá mais essa.

Dou uma risada seca.

- Ah, Ludovico! Para um cientista, você anda se mostrando um homem de muita fé, não acha?

Ludovico me olha com piedade.

- É o seu sofrimento quem está falando... – diz ele, triste. – Tudo vai dar certo, não se preo...

Os olhos de Ludovico se arregalam e, de repente, ele se põe de pé.

- É isso! – exclama, tão alto que todos na recepção se voltam para ele. Emilia dá um grito de susto.

Ludovico enfia a mão nos bolsos da calça e, então, retira um papel amassado.

- É isso! – repete, fascinado. Parece completamente esquecido de onde está e da situação triste que nos trouxe aqui.

- O que você está fazendo? – pergunto, franzindo a testa.

Ludovico abre o papel e o estende para mim. Está trêmulo de excitação.

- Leia a penúltima frase, Keller! A penúltima!

Apanho o papel e o percorro com os olhos. É uma coleção de rabiscos, todos na letra esgarranchada do meu amigo. São frases desconexas, que parecem diálogos retirados de vários livros diferentes e anotados às pressas, de forma esporádica. Leio a penúltima frase:

"Para um cientista, você anda se mostrando um homem de muita fé, não acha?"

Por vários segundos, leio e releio aquilo, sem compreender. Então ergo o olhar para Ludovico.

- Isso foi o que eu acabei de dizer.

- Exatamente – ele está tão arrebatado que aparenta ser ainda mais jovem. – A mesma frase!

- Como você sabia que eu ia dizer isso?

- Pois é, como eu sabia? Essa é essa a grande questão!

Ludovico torna a sentar ao nosso lado, levando as mãos à cabeça, maravilhado.

- Se isso não confirma minha teoria, nada mais confirmará – murmura, mais a si mesmo do que a nós.

- Que teoria? – pergunta Emilia, enxugando as lágrimas.

Meu amigo fica alguns instantes em silêncio, como se não estivesse mais nos escutando. Então, quando Emilia está prestes a repetir a pergunta, ele se vira para nós.

- Tudo começou dois anos atrás – conta. – Certa noite, após deitar-me para dormir, um pensamento qualquer me veio à cabeça, daqueles que surgem do nada quando estamos sonolentos. "Se quer se matar, se jogue no Tâmisa, rapaz tolo!", era esse o pensamento. Imaginei, naturalmente, que fosse a frase de algum livro que eu lera mais cedo, ou que minha mente estava regurgitando algo que eu ouvira no passado. E continuei a me entregar ao sono. Mas então um maravilhoso assomo de inspiração me fez esticar o braço, pegar papel e caneta na escrivaninha e anotar aquela frase, só pra poder me lembrar dela mais tarde.

Ludovico passa as mãos na testa, esfregando um suor inexistente.

- O papel ficou sobre a escrivaninha, e acabei nunca lhe dando grande valor. Três meses depois, eu caminhava pelo centro de Londres, distraído, quando quase me meti na frente de um ônibus. E sabe o que o motorista, furioso, me gritou? "Se quer se matar, se jogue no Tâmisa, rapaz tolo!". Ora, no instante em que ouvi aquilo, lembrei-me da frase sobre a escrivaninha, do pensamento sonolento que eu dantes tivera. E aquilo me deixou estupefato! Que coincidência curiosa fora aquela?

Enquanto escuto aquilo, rememoro uma lembrança antiga: Ludovico silencioso, com as mãos nos bolsos da calça, acompanhando eu e Emilia em passos lentos rumo ao hospital...

- O fenômeno ficou martelando minha cabeça por um bom tempo, até que comecei a formular uma teoria. Lembro-me até de ter comentado sobre ela com vocês, no dia em que conhecemos a Sra. Keller... Contudo, só havia uma forma de testar essa teoria: tentando repetir a experiência. Por isso, desde então, passei a andar com papel e caneta no bolso. Sempre que eu tenho algum pensamento súbito e esparso, seja antes de dormir, seja quando estou nalgum estado de torpor mental, eu o anoto imediatamente, para ver se o fenômeno acontece de novo. E foi durante a estadia em Paris, Keller, que eu tive um pensamento idêntico à frase que você acabou de falar. Esta aí, anotado! Do mesmo jeitinho que você falou!

- E como você explica esse fenômeno, essas coincidências?

- É muito simples. – Ludovico pausa, como se escolhendo bem as palavras seguintes. – Minha teoria é que alguns dos pensamentos aleatórios que surgem em nossa cabeça, de forma brusca e repentina, são, na verdade, ecos do futuro. São ecos de frases que serão ditas ou ouvidas por nós em outros momentos de nossa vida.

Fico coberto de ceticismo, mas Ludovico não se incomoda. Continua a explicar com entusiasmo:

- Acredito que há momentos em nossa vida que são tão impactantes, tão marcantes, que um pedacinho deles rompe a barreira do tempo e ecoa até o passado, transformado em pensamento, e atingindo a nossa mente nos períodos em que ela está mais vazia e sensível.

- E isso acontece com todos nós? Não me lembro de jamais ter acontecido comigo.

- E nem eu me lembraria, caso um dia não tivesse tido a inspiração de anotar um desses pensamentos esparsos. Creio que eles ocorrem a todos nós. Se sua vida estivesse num livro, Keller, e você pudesse voltar à primeira página, aposto que veria o quanto isso aconteceu. Isso explica até porque temos déjà vus. Os déjà vus ocorrem quando alcançamos um momento que já tinha sido ecoado em nossa mente, na forma de um pensamento antigo.

Emilia e eu trocamos olhares. É visível que ela também não acredita em nenhuma palavra do que Ludovico está dizendo.

- Então, resumindo, alguns pensamentos repentinos que nós temos são, na verdade, ecos de coisas que serão ditas no futuro... – Emilia meneia a cabeça, descrente. – Que nome você deu a essa teoria maluca?

- Primeiramente, essa teoria acabou de ser comprovada em sua frente, senhorita. Não tem nada de maluca.

- O que aconteceu aqui foi uma coincidência, Ludovico – retruco. – A vida é cheia delas.

- O que prova que não são apenas coincidências. E, sobre o nome... Às vezes me refiro a ela, em meus escritos, como a "Teoria dos Ecos".

- É um nome muito genérico – diz Emilia. – Tenho um melhor. Que tal "Teoria dos Pensamentos Esparsos"?

Ludovico abre um daqueles sorrisos que deixa bem claro o que todos sabemos: que ele é apaixonado por minha irmã.

- É um nome perfeito, moça insolente!

Pelos minutos que se passam, ficamos falando sobre as teorias de Ludovico. O assunto distrai nossa cabeça e acaba tornando a espera na recepção menos deprimente do que de costume. Emilia até parou de chorar, e eu mesmo me vejo, pela primeira vez em um longo tempo, pensando em outra coisa que não na minha própria infelicidade.

Nosso falatório só termina quando um dos médicos se aproxima de nós. É o mais renomado do hospital e, pela seriedade em seu rosto e a forma objetiva de seus passos, compreendo imediatamente o que ele vai falar.

E todas as teorias são varridas de nossa cabeça, como se arrancadas por um furacão.

Emilia dá um grito, tão horrível e estridente que faz metade dos outros visitantes saltar de seus lugares. Ludovico, subitamente pálido, apressa-se em abraçá-la, enquanto o choro dela fica mais alto a cada segundo.

Eu permaneço em meu lugar, sem reação, sentindo-me afundar sobre a cadeira e desejando ser tragado pela terra.

Mas a terra não me traga. Deixa que eu continue ali, encarando o rosto do médico, enquanto ele relata, pesaroso, a notícia da morte de meu pai.

A Guerra enfim o levou.

Oh, Thessalia! Veja o destino, também me dando minha própria sucessão de tragédias!

Várias eternidades transcorrem entre o momento da notícia e o momento em que o corpo chega à igreja para ser velado. Vejo ali, sentados nos bancos diante do caixão, vários rostos conhecidos e desconhecidos, velhos e novos, masculinos e femininos. Reconheço antigos pacientes de meu pai, velhos companheiros de guerra, e até senhoras com quem, suspeito, ele teve aventuras na juventude. Todos deprimidos, escutando o padre falar sobre vida pós-morte, olhando ao caixão como se houvesse um anjo encarcerado ali dentro.

Estou no primeiro banco, e Emilia se derrete em lágrimas ao meu lado. Não choro, pois preciso parecer forte. É mais fácil vencer um luto quando se tem alguém sendo forte ao seu lado. Meus pensamentos, todavia, também estão contidos dentro daquele caixão, no homem que me criou desde os dois anos, no segundo pai que a vida me deu...

E que agora tirou, como ao primeiro.

- Ele era o soldado mais corajoso do grupo – discursa um velho veterano, que serviu com meu pai na Segunda Guerra. Já estamos no cemitério, assistindo o caixão ser descido à cova. – Salvou a vida de vários companheiros feridos e, em suas mãos, inúmeros prisioneiros que libertamos dos campos nazistas, em situações lastimáveis, tiveram a saúde recuperada. Wagner era um homem eficiente e corajoso, era sim. Amava a vida acima de tudo, mas também não temia se meter na frente de uma bala para salvar alguém. Oh, amigo! Que o céu te tenha... Que o céu te tenha!

E o veterano funga num lenço branco. Emilia recosta a cabeça em meus ombros e chora ainda mais.

Ah, Emilia! A filha da guerra, a única coisa boa que a campanha de terror deu ao velho Wagner... Você não merece estar passando por isso, irmã. Não merece.

Passo o braço nos ombros dela e, quando começam a jogar a terra sobre o caixão, fecho os olhos.

"Enfrentar demônios, quando todos pensam que eles são anjos, parece loucura pra quem não conhece a verdade", um pensamento qualquer ecoa em minha cabeça, tão claro como se dito por alguém ao meu lado. Deduzo, cansado, que minha mente está reverberando algo que escutei no passado.

"Ou no futuro", reflito, lembrando-me da teoria de Ludovico. Talvez eu tenha acabado de ter um pensamento esparso, de receber um eco do futuro. Ainda de olhos fechados, pergunto-me quem me diria uma frase daquelas. Quem é que sempre gosta de me falar sobre anjos e demônios?

Abro os olhos de súbito, e meu corpo inteiro congela.

Um mundo de frases e lembranças explode em minha cabeça, todas ganhando, à luz daquele pensamento esparso, um sentido mais doloroso do que a morte, uma compreensão mais terrível do que o luto.

Fico estatizado por vários minutos, vendo, com horror, tudo se clarificar em minha mente. Então me viro bruscamente, agarro Emilia com força e, forçando-a a levantar o rosto, contemplo-lhe a face.

Bom Deus!

*********

Olá, pessoal!

Finalmente foi explicado o que é a Teoria dos Pensamentos Esparsos!

Vocês já tinham reparado na "repetição" de algumas frases ao longo do conto?

Falta apenas um capítulo. Nos vemos no final! 

Obrigado a todos pela leitura! <3

Um grande abraço!

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