Capítulo V - Aqueles encontros predestinados
Notas iniciais
I'm here.
Eu disse que estava inspirada.
Algumas informações sobre esse capítulo, para quem não acompanha o mangá: aviso de spoilers.
Quem é Sir Nighteye? Pro hero, mentor de Mirio Togato e foi um ajudante de All Might. A quirk dele é previsão do futuro. Quando All Might ficou ferido - lascado - após lutar com All for one pela primeira vez, ele previu que se ele continuasse tentando ser um herói iria morrer. All Might ignorou ele, e por isso os dois são meio brigados. Ele também sugeriu Mirio para herdar One for all, mas antes que Yagi pudesse se encontrar com ele, ele topou com Izuku e vimos no que isso deu.
O encontro com Izuku acabou mudando todo o futuro, inclusive a morte dele, já que ele se esforçou para viver para continuar o treinando durante a segunda luta com All for one.
Mirio Togata (<3), que já apareceu no finalzinho de quem acompanha apenas o anime? Então, aquele menino era um dos principais candidatos a herdar One for all e se tornar o herói número um. Guess what? muahaha
Ah, e mais sobre o passado de Izuku por aqui, algumas pistas sendo soltas. Algumas pessoas acertaram já algumas coisas sobre o que aconteceu. Lembre-se: nada é o que parece.
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"Uma inteligência conhecendo todas as variáveis universais em determinado momento, poderia compor numa só fórmula matemática a unificação de todos os movimentos do Universo."
Pierre-Simon Laplace
Toshinori Yagi era um homem correndo contra o tempo, e já havia ignorado bastante esse fato. Ele tinha um tempo marcado para salvar pessoas, e tinha um tempo marcado de vida também, e precisava fazer algo a respeito logo.
Por isso havia retornado ao Japão.
Achar um sucessor para One for all, aceitar o pedido de Nezu para ensinar em U.A. Talvez juntar os dois e ensinar em U.A para tentar achar seu sucessor, caso não decidisse dar o braço a torcer e aceitar o pedido de Sir Nighteye e encontrar o jovem Togata. O próprio Nezu havia encorajado isso, o mínimo que podia fazer era marcar um encontro.
Ele não tinha tempo a perder.
E ainda assim nos meses desde que havia chegado no Japão havia fugido de Sir Nighteye com sucesso, e a única coisa produtiva que havia feito – além de salvar pessoas – havia sido uma amizade no trem.
-Toshinori-san!
E falando em amizade.
Sorriu ao ver a mão entusiasmada levantada, mesmo que o vagão não estivesse tão cheio.
-Jovem Midoriya.
O garoto sorriu de forma aberta, como sempre. Os olhos verdes brilhando excitados e um tanto infantis, mesmo com a cicatriz chamativa no olho direito e as olheiras muito evidentes. Quem era ele para falar afinal, o esqueleto que caminhava por aí assustando pessoas?
Ele bateu do lado no banco indicando que havia guardado o lugar e Yagi sorriu feliz com isso.
Desde que haviam se encontrado pela primeira vez no trem um mês atrás, os dois haviam descoberto que faziam o mesmo percurso entre as prefeituras, um deles descendo em Yamanashi, e o outro em Hosu.
E que garoto excêntrico jovem Midoriya era.
A primeira vez em que haviam se visto ele havia se aproximado de Yagi e sem muita explicação havia enfiado um gato no bolso do seu casaco e o olhado com certo desespero para ficar calado.
Havia ficado sem reação, mesmo quando um dos guardas se aproximou e, parecendo bem familiar com o garoto o revistou lembrando que não podia trazer animais – de novo- lá dentro. Não encontrando nada ele mirou o garoto que o fitava inocentemente e saiu, dando uma última olhada na direção dos dois.
O menino estranho pegou o gato de volta, agradeceu e teria acabado nisso se Yagi não tivesse saído do choque com a situação estranha e tossido sangue.
A situação seguinte envolveu algumas lágrimas, ele assegurando que estava tudo bem, sendo obrigado a aceitar ajuda para chegar em casa, apesar de reassegurar que não estava morrendo – não imediatamente pelo menos – para o fazer parar de chorar. Havia terminado o dia com um gato de presente e um amigo na forma de um menino excêntrico que gostava de cuidar da sua saúde e o obrigar a testar algum aparelho estranho ocasionalmente.
E claro que Yagi havia se apegado rapidamente.
Ele havia tentado descobrir sobre a vida de Midoriya em casa logo quando viu a cicatriz estranha. Do lado direito do rosto, saindo do pescoço perigosamente perto da carotída onde o tecido parecia mais danificado e subindo por sua bochecha até um pouco acima de um dos olhos, e com um formato estranho que as vezes lhe lembrava os dedos de uma mão. E o fato de sempre o ver sozinho, mesmo descendo em um dos bairros mais perigosos fazia um alarme soar na sua cabeça.
Havia outros sinais estranhos, as vezes ele escorregava e falava em outras línguas quando se empolgava, e quando se apresentou pela primeira vez ele pareceu surpreso em dizer o próprio sobrenome, como se não fosse isso que iria dizer inicialmente.
Até aquele ponto havia descoberto que ele morava com o tio viúvo, que não estava muito presente em casa ultimamente – 'Tio Taka viaja bastante!' -, mas que o garoto parecia se dar bem com ele. O sobrenome do tio era diferente do dele, e talvez isso explicasse ele se atrapalhar com o próprio sobrenome se fosse um costume se apresentar com o outro.
Ele parecia gostar da vizinhança também – 'As pessoas falam muita coisa que não sabem sobre Hosu, Toshinori-san!' -, e ir bem nos estudos. Havia realizado cursos online e terminado o ano adiantado, o que era algo impressionante aos olhos de Yagi.
E ele queria ser um herói.
Havia corado levemente quando ele disse que seu herói favorito era All Might, apesar de Eraserhead estar empatado. E ele sabia bastante sobre heróis, e principalmente sobre quirks. Por um bom tempo havia pensado que ele tinha alguma quirk de análise ou inteligência, porque as coisas que pareciam vir da cabeça dele eram incríveis, por isso foi com surpresa que descobriu que ele não tinha uma.
Jovem Midoriya havia falado de forma causal que seria um herói sem quirk e o quanto isso era importante, mas notou como ele o fitou esperando sua resposta, medindo o que diria.
Alguém que não tinha uma quirk e queria ser um herói. Ele havia sido assim um dia, mas havia recebido uma quirk para realizar isso, e ainda assim, olha onde havia ido parar. Com uma cicatriz enorme, sem estômago e metade do sistema respiratório.
Ainda assim, tendo visto o que aquele garoto podia fazer, o que saia da cabeça dele, as coisas que ele conseguia construir, ele de alguma forma não duvidava dele. E principalmente não tinha coração para o desencorajar, como ele já devia ter sido desencorajado com certeza muitas vezes na vida. O que fazer?
Em um universo, Yagi Toshinori havia dito a Izuku Midoriya que ele não poderia ser um herói sem uma quirk. Em alguns universos ele havia o visto fazer algo heroico, e então mudado de ideia em relação a ele poder ser um herói, mas não sem a quirk, e por isso lhe dado uma. Em outros universos, Izuku nunca recebeu essas palavras, e migrou para outros caminhos, alguns obscuros.
Nesse universo Yagi bagunçou os cabelos - já bem bagunçados - do seu jovem amigo e sorriu:
-Um herói sem uma quirk, vai ter que se esforçar bastante, certo?
O sorriso do garoto naquele dia lhe deu certeza que havia dito a coisa certa.
-Os exames estão se aproximando. – falou enquanto sentava no lugar guardado, aceitando o saco com petiscos para gatos que ganhava semanalmente, apesar de insistir que não precisava. – U.A?
- U.A. – o garoto assentiu com entusiasmo. – Departamento de suporte.
-Pensei que queria a classe de heróis? – perguntou confuso.
-Não vou conseguir entrar sem quirk e sem equipamento. – Ele deu de ombros. – Mas vou ser transferido lá dentro.
Ele falou aquilo com tanta convicção que não tinha como não acreditar.
-Dois meses então. Está se preparando? Bom. Sei que vai conseguir jovem Midoriya.
Teve que piscar com o sorriso do garoto, podia acabar cegando com todo aquele brilho.
-Espero que esteja se cuidando. – A expressão dele lembrava tanto Nana e Chiyo naquele momento que se sentiu uma criança levando uma bronca. – Parece menos magro, mas está mais exausto do que de costume.
-Muito trabalho.
Estava se justificando para uma criança.
-Bem, se matar de trabalhar não vai ajudar ninguém. Se morrer ninguém vai fazer seu trabalho.
Ele pausou ao ouvir isso, levemente aturdido.
-Tio Taka me disse que de vez em quando temos que confiar nosso trabalho a outras pessoas também Toshinori-san, fazer tudo sozinho limita a gente. Tenho certeza que pode arranjar alguém para ajudar.
Os olhos ridiculamente grandes o fitaram, e apenas assentiu, ainda atordoado.
Quando chegou em casa naquele dia, deu comida ao gato – com pelos dourados, que para sua consternação jovem Midoriya havia chamado de SmolMight – e sentou na poltrona da sala.
Pensando.
"Se matar de trabalhar não vai ajudar ninguém. Se morrer ninguém vai fazer seu trabalho."
Era como se a resposta que esperasse para uma pergunta que não lembrava de ter feito tivesse lhe atingido.
"De vez em quando temos que confiar nosso trabalho a outras pessoas também Toshinori-san, fazer tudo sozinho limita a gente."
Suspirou resignado e ligou para Sir Nighteye.
Era hora de encontrar jovem Togata.
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Naomasa Tsukauchi estava tendo uma noite complicada.
Ou meses, na verdade.
-Eraserhead chegou, parece que seu pequeno amigo estava certo de novo.
-Ele não é meu amigo. – Suspirou, sabendo que era inútil, naquele departamento ninguém o respeitava pelo jeito. - Deixe-o entrar.
Seu único consolo é que Aizawa parecia tão exausto quanto ele.
-Como foi?
O homem sentou sem cerimônias jogando uma pasta em sua mesa e indo para a máquina de café.
-Como ele disse. Três pessoas foram apreendidas, estão esperando para a interrogação.
Grunhiu uma resposta. Não que não ficasse feliz por ter aquelas pessoas presas, mas era um pouco consternador que um vigilante estava fazendo o trabalho da policia e dos heróis. E fazendo bem.
Nos últimos dois meses em que Noraneko começara a ficar ativo, ele não apenas tivera sucesso em fugir da policia e heróis, como constantemente deixou pistas de casos não resolvidos para eles. O maldito estava sempre certo.
Muitas vezes ele se perguntava se a pista sobre o desaparecimento das crianças com quirk anos atrás havia sido ele também. A abordagem era similar o bastante para o fazer pensar, e talvez por isso tenha dado uma chance as que ele vinha deixando. Foi a hesitação naquela época que provavelmente os impediu de resolver o mistério sobre os desaparecimentos e deixar o caso esfriar.
Aquele havia sido o caso em que Aizawa havia mais se empenhado também, por motivos que não tinha certeza, mas sabia serem pessoais.
-Essa peste parece acertar sempre. – Ouviu o resmungo e tinha que concordar. – E ele estava lá, o atrevido.
Ergueu a cabeça curioso e surpreso.
-Você o viu?
-Fugiu de mim.
Era impressão sua ou Aizawa parecia impressionado?
-Ele é um criminoso. – lembrou.
-Eu sei. – O outro o olhou como se fosse um idiota. – Apesar de fazer o trabalho melhor que alguns heróis que conheço.
Não tinha como discordar disso.
-Você lutou com Nora. – Ele repetiu ainda curioso. Isso nunca tinha acontecido antes. A peste sempre fugia antes que alguém o visse.
-Ele fugiu, não houve luta. Seu amigo é bem escorregadio. E 'Nora'?
-Ele não é meu amigo. – Corrigiu automaticamente, ignorando a última parte. – Conseguiu descobrir a quirk dele? Alguma coisa?
-Seja o que for, ele age bem sem ela, não fiz diferença nisso. – Ele jogou o copo descartável no lixo, e como sempre aquilo era a despedida dele sem rodeios. Antes de sair, ele pausou na porta, o rosto pensativo. – Ele é bem pequeno.
Assentiu, era o que sempre falavam.
-Se eu não soubesse melhor, diria que Noraneko é uma criança.
-Impossível.
Aizawa deu de ombros e se despediu com um floreio.
Nora, o vigilante que só não dava mais trabalho a policia do que o Stain? Uma criança?
Naomasa balançou a cabeça. Como se fosse possível.
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Aizawa estava tendo uma noite difícil.
Ou meses, na verdade.
Talvez tudo tivesse começado quando soube que outro loiro idiota começaria a ensinar em U.A. E não qualquer loiro idiota, mas um que chamaria atenção desnecessária a escola, e perigo aos alunos. E ainda por cima ficara por dentro do segredo que o 'Símbolo da paz' estava com o tempo contado, fato que se fosse descoberto pelo público abalaria os pilares da sociedade atual.
E isso seria descoberto eventualmente, nenhum segredo durava muito, ainda com o idiota sendo tão irresponsável.
Claro que seu humor também envolvia a pequena praga que havia tomado sua vida, o vigilante que nunca era pego. E para piorar, ele havia para seu horror, estranhamente aceitado que ele era bom no que fazia.
Alguém que não o conhecesse poderia até pensar que havia se apegado um pouco depois de tantas perseguições. Mas ainda bem que não era Tensei ou Hizashi, para se apegar a criminosos sarcásticos que não machucavam as pessoas e ainda ajudavam a polícia, e faziam o trabalho em bairros perigosos e abandonados que a maioria dos heróis ignorava por não dar atenção ou fama o bastante.
Shouta Aizawa não era desses, ainda bem.
Seu humor também estava envolvido com um certo caso frio. Logo quando os desaparecimentos pararam de forma abrupta, a polícia recebeu uma pista quente sobre o caso, mas perderam muito tempo ponderando a veracidade e quando Aizawa foi chamado encontraram um esconderijo abandonado e provas destruídas. O lugar dava a impressão que experimentos haviam sido realizados ali. DNA de algumas crianças foi encontrado, e ao longo das semanas que seguiram vários corpos surgiram em tal estado que apenas exame de DNA havia ajudado no reconhecimento. Esses detalhes nunca caíram na mídia para evitar o pânico e algumas das crianças desaparecidas nunca foram encontradas.
Izuku Midoriya era um desses. Nem sinal de DNA ou corpo, e ficava aliviado por isso, mas seria um mistério que sempre carregava consigo, como um peso. De vez em quando ele visitava a mãe no hospital, mas o rosto do filho que o perseguia, a sensação de falha, de alguma forma. Dois anos, quase três e nada.
Um dia antes dos exames para U.A ele recebeu a resposta para esse mistério, e ironicamente pelas mãos do loiro irritante que em primeiro lugar era motivo do seu mau humor nos últimos meses.
-Shouta. Ei! Shouta. – Hizashi, a peste, havia o acordado durante a reunião dos professores sobre o teste que viria com um olhar preocupado. – Está mais cansado que o normal.
Grunhiu uma resposta. Por que as pessoas não o deixavam dormir?
-Isso é sobre aquele caso? – o outro o olhou preocupado. – Ainda sobre Midoriya?
-O que tem o jovem Midoriya?
Shouta abriu os olhos rapidamente. Porque claro que Hizashi não conseguia falar baixo, estando com ou sem uniforme ele sempre seria o Present Mic, mas o outro loiro idiota falar aquele nome havia o deixado em choque.
Hizashi também havia piscado, aturdido.
- O quê? – All Might os olhou de forma defensiva enquanto os dois apenas o encaravam em silêncio. – Estão falando de outro Midoriya?
-De que Midoriya está falando? – Aizawa agarrou o braço do homem como se quisesse o impedir de fugir. Nesse ponto outros professores os olhavam confusos.
-Hum, Izuku Midoriya?
-Holy shit!
Tinha que concordar com Hizashi.
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-Ele estava em Hosu esse tempo todo?
All Might parecia um tanto intimidado, se possível. Hizashi não podia o culpar, não com Shouta assim. Eles dois haviam praticamente arrastado o outro herói com eles até uma das salas para o interrogar.
Hizashi ao longo dos anos havia ouvido falar bastante sobre Izuku Midoriya. O pequeno havia causado um grande impacto em Shouta, ainda mais depois de ter sumido do mapa. Ele havia acompanhado ao longo dos anos o quanto ele procurou pelo garoto, e saber que ele estava bem debaixo do nariz deles? Seria hilário até.
-Não sei se todo o tempo, mas pelo menos há alguns meses. – O herói número um respondeu quase timidamente.
-Eu pesquisei por ele por quase três anos, se ele estivesse no Japão, eu teria o descoberto.
-Ele mora com o tio, talvez ele use o sobrenome dele oficialmente nos registros? Não é incomum, e jovem Midoriya parece se complicar com o nome as vezes, como se não soubesse como se apresentar.
-Acha que sou um idiota?
-Calma, calma. Ele não disse isso, Shouta. All Might...
-Toshinori.
-T.Toshinori-san, Shouta pesquisou sobre o garoto por todos esses anos, escolas, hospitais, com o sobrenome dele, e com o materno, Hayashi, caso o tio tivesse decidido o adotar. Mesmo que ele tivesse voltado só há alguns meses, ele teria visto algo assim que ele entrou no país.
-Hum... – o herói ponderou por alguns segundos, e Hizashi tinha certeza que Shouta iria estourar uma veia na testa naquele ponto. – Eu posso estar enganado, mas jovem Midoriya me contou que o sobrenome do tio dele era Shimizu. Takashi Shimizu. Não Hayashi.
-Isso não faz nenhum sentido.
-Ele comentou sobre o tio ser viúvo? Talvez ele use o sobrenome da esposa falecida?
-Isso... não é um costume comum no Japão. – Falou hesitante. Shouta havia parado de caminhar e estava bem parado fitando o herói que parecia desconfortável com o escrutínio. -Shouta?
-Não tinha nenhum registro de casamento.
-Não no Japão, talvez?
Era isso. Shouta ia estourar uma veia.
-Não tinha como você saber, Shouta.
Um detalhe, um pequeno detalhe. Eles haviam tido um grande trabalho em escavar qualquer coisa sobre Takashi Hayashi, mas haviam encontrado mais coisas sobre ele do que sobre Hisashi Midoriya pelo menos.
Hayashi havia ido embora do Japão aos 18, retornado em uma data não determinada. O trabalho dele quando no exterior era desconhecido, quando voltou ele trabalhou em coisas diversas, mas havia ido e vindo várias vezes ao longo dos anos. Sua quirk era o oposto da irmã gêmea, ele repelia objetos. Ele havia visitado o sobrinho apenas uma vez na vida, quando ele nasceu.
-Se for um consolo, Jovem Midoriya parece ter uma boa relação com o tio.
-Não tem como saber disso.
- Um palpite, então.
-Não tem como...
-Shouta!
O viu trincar os dentes, e então ele suspirou.
-Como ele está?
O outro herói sorriu de forma afetuosa.
-É um garoto e tanto. Inteligente, excêntrico. Ele me deu um gato, e é uma verdadeira mãe galinha. Parece que ele tem mania de adotar gatos e pessoas.
Shouta ouvia de forma atenta, como o via fazer em poucas coisas na vida.
-Ele quer ser um herói. Vai se matricular em U.A, no departamento de Suporte, e transferir depois. Ele tem certeza que vai conseguir. – O homem pausou, e sorriu. – E eu também.
Shouta suspirou, mais calmo. Provavelmente por saber que ele mesmo veria o garoto logo, e checaria por si mesmo.
-A mãe dele está em coma, por anos. Ele criou um túnel em entulho para salvá-la, tenho certeza que por vontade própria ele teria a visitado. Se esse tio é tão bom por que não o deixou vir quando retornaram? Por que ele está o escondendo assim?
All Might pareceu surpreso com essa informação.
-E.eu...não sabia sobre isso. Mas ele sempre está com flores quando vejo na ida do trem, ele disse que era para a mãe, mas pensei que ela estivesse morta e por isso não perguntei.
-Com flores? Shouta, você acha que ele estava visitando a mãe? M.mas como?
Sua resposta foi o outro bater a testa na porta de forma frustrada, um gemido abafado que nem mesmo teve certeza se entendeu.
-Criança problemática.
Hizashi riria da situação, mas tinha muito amor a vida para fazer isso no momento.
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Katsuki fez uma última revisão nas anotações naquela noite. Separou seu uniforme, fez seus exercícios para controle de raiva – que não funcionavam muito, mas vá lá- e foi dormir mais cedo que o normal, depois de praticar conversação com seu pai. Era necessário para não perder a oratória, e precisava de alguém para o ajudar a controlar o volume quando estava sem o aparelho. E sua velha não era uma opção, os dois iam começar a gritar um com o outro.
Bom para extravasar, ruim para treinar.
Naquela tarde havia visitado tia Inko e contado sobre o exame, e que logo daria noticias sobre o nerd. As flores estavam lá de novo, dessa vez sem o maldito Jacinto. Não sabia o porquê de ele estar se escondendo, mas logo descobriria a razão.
Fitou o aparelho auditivo que Deku havia lhe dado na mesinha de cabeceira. Apesar dos anos, ele ainda estava relativamente conservado, e havia encontrado a trava de ajuste para quando crescesse. Até nisso ele havia pensado. E mesmo sendo ridículo com aquelas orelhas, as pessoas não comentavam isso na sua frente.
Ele vinha pensando bastante nele ultimamente, quando da noite para o dia várias pessoas passaram a usar fones bem parecidos. Tudo em razão de um certo vigilante que havia surgindo de lugar nenhum.
'Não é como se esse modelo fosse exclusivo do nerd.' Ponderava.
Mesmo que em todos esses anos ele nunca, nenhuma vez tenha visto algo parecido, até esse sujeito vir de inferno onde com algo praticamente igual. Até mesmo as luzes florescentes – ele quase explodiu a coisa quando descobriu isso – que podiam ser ligadas no escuro eram as mesmas.
'Devo estar imaginando essa porcaria.'
O merdinha tinha surgido justo quando as flores começaram a aparecer...ele queria estar errado e que tudo fosse só uma maldita coincidência. Deku não seria tão estúpido.
'Quem estou querendo enganar?'
Ao menos ninguém olhava mais para seu aparelho. Não que se importasse com isso. Ele usaria a maldita coisa de qualquer forma.
-Amanhã. – comentou para a escuridão, mesmo sem ouvir a própria voz. - É melhor estar lá, nerd.
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Amanhã.
Hitoshi conferiu as suas notas, separou seu uniforme e deitou com seus gatos. Erasercat se aninhou em sua barriga, sentindo sua ansiedade, com certeza.
Amanhã.
Passou os dedos no pelo macio, e pensou se havia algo que pudesse ter feito diferente, mas não conseguia imaginar. A teoria? Estava confiante. A prática? Iria depender do que seria o teste.
Seu futuro iria depender desse teste.
'E se eu falhar?'
Aquele pensamento traiçoeiro.
Caso acontecesse, o festival de esportes seria sua última chance.
-Vamos tentar não precisar disso, Erasercat.
Um miado foi sua resposta.
Amanhã. Seria amanhã.
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Amanhã.
Izuku conferiu seu projeto uma última vez, satisfeito. A prova do departamento de Suporte consistia na prova teórica, e depois um teste a parte, primeiro teriam que levar um projeto no papel que chamasse atenção da banca, e depois teriam que construir algo na hora, com o material que tivesse disponível.
Izuku, para sua sorte, havia aprendido a trabalhar com lixo muito bem antes de poder colocar as mãos em coisa melhor. Então ele devia estar confiante, mas era Izuku, então claro que ele estava uma pilha de nervos.
Lutar com criminosos? Experiências de quase morte? Fugir de Eraserhead? Tudo bem.
Um teste?
-Eu vou vomitar.
Sentindo sua ansiedade os gatos se amontaram ao seu redor na cama, alguns no chão. Ele tinha certeza que havia mais gatos ali do que quando saíra, alguns deles traziam os amigos, e não tinha coração de os mandar embora.
Quando tio Taka chegasse ele não ia ficar feliz ao ver que os números haviam triplicado.
'Se ele voltar'
-Ele vai voltar. – Sussurrou, olhando no celular a última mensagem que haviam trocado, um mês atrás.
Apenas algumas semanas depois de eles voltarem ao Japão ele havia partido, pedindo para não fazer nada estúpido e apenas erguer a cabeça para luz quando ele desse o sinal que estava tudo bem. O mais preocupante era o fato de ele ter se certificado de o emancipar antes de ir. Mesmo que fosse apenas uma precaução, isso não saia da sua cabeça.
Ele nunca ficava tanto tempo sem dar notícias. Mesmo que ele tivesse o ensinado a se virar, Takashi havia herdado a preocupação excessiva da sua mãe, mas com uma dose extra de paranoia que havia os deixado vivos por esses anos apesar de todas as complicações que surgiram.
Ele havia absorvido essa paranoia um pouco.
-Ele vai voltar.
Se assegurou.
Ele não havia seguido as instruções muito bem, admitia. Izuku nunca foi exemplar nisso, e os anos não haviam o feito muito melhor. Takashi devia saber que seria impossível ele estar no Japão e não ir ver sua Oka-san, mesmo que tivesse sido extra cuidadoso.
Exceto a parte de Kacchan, que ele não precisava saber.
Ele não estava muito animado para explicar a Takashi como havia acabado se tornando um vigilante na vizinhança. Embora ele não fosse o melhor exemplo nisso também, tinha ao menos essa justificativa em mãos.
-Ele vai me matar.
Se preparou para dormir, tentando não pisar em nenhum dos felinos nas suas pernas. Era raro dormir cedo assim, mas havia cortado a patrulha no meio. Não arriscaria se atrasar, de nenhuma forma.
Era amanhã.
Amanhã iria fazer o teste para U.A.
Amanhã provavelmente iria ver Kacchan.
Havia ainda certo receio, ele sabia a razão de terem se escondido, mas seu tio havia dito que poderia ter isso, ao menos isso. Era o acordo deles dois.
Logo ele estaria em U.A, cercado de heróis.
Tentando esconder que era um vigilante.
-Estou me arrependendo de tantas escolhas.
Na escuridão, apertou o botão do celular, olhando a última mensagem dele.
Taka: Se eu não chegar a tempo, boa sorte com seu exame.
Era sua permissão.
Sua permissão para finalmente retomar a vida que havia deixado para trás aos doze anos.
Amanhã.
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