05 - A Cozinha
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O Gosto não era mais um lugar tão ruim para se trabalhar, mas os clientes a exauriam. Sempre havia algo de errado fosse com a comida, com o local em que estavam sentados ou com um garçom que não sorrira o bastante ao bater parabéns para a sua filhinha que estava completando 30 anos. Ela sabia que se trabalhasse em cima de seu sonho teria que lidar com problemas todos os dias, não apenas relacionados a papeladas, mas também à pessoas e isso a assustava mais do que tudo. Por isso, quando o restaurante não estava tão movimentado, Amanda se escondia na cozinha.
Nas duas semanas que trabalhara ali aprendera a gostar do cheiro do tempero e do trabalho movimentado, das piadas entre os funcionários e da camaradagem que surgia quando não se tinha um babaca rico julgando tudo o que você fazia. Diego gostava que ela ajudasse com os pratos, dizia que seu gosto pra temperos era muito bom e Amanda, obviamente, se sentia bastante orgulhosa de si mesma em ser elogiada por um chefe de verdade. Ela não tinha boas experiências com a cozinha, por mais que amasse cozinhar desde criança.
Por ser mulher e negra as pessoas gostavam de pensar que seu lugar era lavando pratos ou limpando a sujeira de branca, como se a sua cor ou seu gênero a impedissem de almejar algo maior para si mesma. Criara certa aversão por cozinhar em público que só crescera com a constante pressão da família para que se formasse na faculdade em algo como engenharia ou economia, mesmo que toda a sua família fosse composta por professores, que deveriam ser mais "mente aberta", ela não tinha coragem sequer de pensar em seguir qualquer área que não exigisse uma formação acadêmica impecável e no mínimo um mestrado.
— Você é genial! — exclamou Diego com uma colher na boca e um sorriso escapando pelo canto dos lábios — Se você quiser, quando acabar de tirar as férias da Suzete, eu arranjo um lugar pra você aqui, o que acha? Ser a sous chef da maior rede de restaurantes do Brasil é um emprego que até seu pai gostaria.
Amanda sorriu balançando a cabeça e tomando a colher de Diego. Nos dias que passara ali acabara por contar todos os seus dilemas pessoais. Era fácil se abrir com o Chef do Gosto de Casa, Diego comprara o restaurante meio falido quando ganhara um prêmio na loteria local e com a ajuda da mãe, que largara o trabalho de empregada doméstica para ficar com o filho no restaurante, tornara do Gosto uma grande corporação. Ele era uma pessoa de personalidade alegre, como o pequeno sol particular no meio da cozinha, se importava verdadeiramente com os funcionários e tinha os sorrisos mais espetaculares.
— Não acho que meu pai gostaria muito dessa proposta — ela suspirou — Mas se você estiver mesmo determinado, poderia pedir a ele. Se conseguir convencer o meu paizinho, eu até posso cogitar a ideia, viu?
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495 palavras
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