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Capítulo 8

Becca

A manhã de domingo está fria e me abraço apertando o sobretudo no meu corpo, a porta abre e Charlie aparece com calças de moletom e só.

Travo o maxilar e passo os olhos vendo o peito dele e descendo até o abdômen, ele tem vários sinais pelo corpo e nos dois braços tem algumas tatuagens de flores.

-Pode entrar.- ele afasta.

Entro na casa e sinto que está mais quente, enquanto subimos as escadas desabotoou o sobretudo e assim que chegamos no quarto dele percebo as roupas jogadas no chão.

-A gente só não pode fazer barulho.- explica.- O pessoal tá dormindo ainda.

-Ok.- sento na cadeira e ele fecha a porta.

Tiro meu computador da bolsa e Charlie abre o livro, percebo que já está com o computador ligado e que já avançou na pesquisa.

-Pensei em citar alguns exemplos de países que adotam esse acordo e no desenvolvimento você explicar como funcionam e os dados.- explico tirando o sobretudo e cruzo as pernas.

-Ok, me passa os países que você escolher.- ele escreve algo no caderno.

-Por que você tá com uma cara acabada?- pergunto.

-O show de ontem.- ele explica.- Meus sete fãs foram assistir.

-Ah, entendi.- sorrio e vejo que ele também sorri.

-Que compromisso é esse?- pergunta.

-Minha madrasta quer dar uma de mãe comigo e não posso dizer não.- explico com calma.

-Você tem muita facilidade em dizer não.- ele explica com a voz lenta por causa da pesquisa.

-É, mas não quando meu pai manda.- mexo os ombros.

-Ah, tá com medo de cortar sua mesada.- ele fala divertido.

-Por que você faz isso?- viro o rosto e o encaro.- A conversa tava legal.

-Desculpa, força do hábito.- ele ergue os olhos castanhos e me observa.

-Ok.- deixo para lá.

Coloco o cabelo atrás da orelha e apoio o rosto na mão enquanto escrevo algo no caderno para me lembrar das referências, precisamos estudar o assunto antes de colocar qualquer coisa no trabalho.

Então acho que demora mais uma semana para terminar de fazer e vou estar livre de Charlie e das conversas idiotas que ele me destacava como uma idiota que não sabe nem abrir um pote.

Uma semana, depois disso posso continuar minha vida normal e sem a obrigação de ficar com aquele idiota ao meu lado. Só mais uma semana.

🥁

Charlie

Ouço um ruído de desconforto e olho para Becca vendo que ela está massageando o ombro esquerdo. Estávamos há horas fazendo pesquisa, ela devia estar com dor nas costas.

-Sabe, tem o resto todinho da cama para sentar.- aponto.

-Eu tô bem.- ela murmura.

-Você que sabe.- mexo os ombros.

Risco um tópico sobre o qual eu já falei e passo para o próximo, estava com uma dor de cabeça do caralho e mexer no computador agora só estava piorando.

Ouço a cadeira se arrastando e então ela pega as coisas e senta na cama ao meu lado, olho de lado e observo os dedos rápidos digitando no arquivo.

Subo os olhos e vejo o decote da blusa azul clara, o sutiã deixa eles juntos e empinados e me imagino com a cara neles. Logo viro o rosto para o computador e volto a pesquisar.

Não que eu quisesse Becca, ela era atraente e eu ainda era um homem, então era normal pensar nisso, não? Não era a pior coisa do mundo.

-Quando acabar de fazer a introdução eu mando para você e pode pegar as referências.- ela explica calma.

-Ok, também me manda os links de onde você pegou pra colocar no final.- falo concentrado.- Quando você tem que ir?

-Não sei, tô acabando a introdução.- ela explica.- Então acho que uma hora.

-Deve estar tão animada para ver a mamãe.- falo divertido.

-Ela também deve estar animadíssima, tem a mesma idade que eu.- revela e eu olho rapidamente para Becca.

-Ah, então seu pai é desse tipo.- murmuro e ela assente.- Ele só falou que você tinha que ir ou obrigou?

-Meu pai não obriga, ele impõe.- ela salva o arquivo.- Não tem como não fazer o que ele quer.

-Pelo menos não é igual o meu.- balanço a cabeça e olho para a janela.- Quando eu voltava da escola sangrando por causa dos jogadores de futebol idiotas, ele me batia também.

-Que horror.- ela franze as sobrancelhas.- Um daqueles "se você não ganhar a briga, apanha em casa também"?

-É.- assinto e percebo algo, volto a olhar para ela.- E seu pai?

-O que tem ele?- ela troca de página e escreve algo no trabalho.

-O que ele fazia quando você irritava?- pergunto.

Ela olha para mim e então volta a olhar para o computador, a observo salvar o arquivo e fechar o computador com rapidez, deixo o meu computador de lado.

-Becca?- levanto vendo ela guardar as coisas com raiva.

-Eu preciso ir.- ela fala com as sobrancelhas franzidas.

-Ele bate em você?- pergunto com calma.

-Que pergunta.- ela tenta rir e vejo seus olhos brilhando.

-Becca.- fico na frente da porta.

-Sai do meio, Charles.- ela me encara com os lábios tremendo.

-Rebecca.- falo sério e ela revira os olhos.

-Sai do meio!- ela bufa e me empurra.- Charles!

Deixo ela bater no meu peito e seguro seu pulso a puxando para mim, ela me encara enquanto eu passo meus braços por seus ombros e a aperto.

Becca deita a cabeça no meu peito e se acalma, levo minha mão até seus cabelos e os acaricio lentamente sentindo a mecha sedosa entre meus dedos.

-Ele é um bom pai...

-Mentira.- sussurro.

-Charles...

-Eu entendo.- aperto sua nuca.- Você quer pensar que ele é um bom pai.

Ela leva a mão até meus braços e suas unhas apertam meus braços, respiro fundo quando ela se afasta e me encara com os olhos ainda lacrimejando.

-Eu vou embora agora.- ela fala baixo e abre a porta.

-Te vejo na terça.- falo alto.

Ela mexe a mão descendo as escadas e olho para a cama, me jogo todo espalhando e gemo de dor quando minha cabeça reclama do movimento brusco.

🥁

Becca

Empurro a porta de vidro do salão e sorrio para a recepcionista, me aproximo do balcão passando o dedo pela pulseira da minha mãe e me acalmando.

-Eu marquei uma hora junto com a Alyssa, ela já deve...

-Filhinha!- Alyssa balança a mão lá do fundo.- Vem logo!

-Achei.- sorrio e começo a ir.

Ela está com alguém fazendo as unhas da mão e outra pessoa fazendo a dos pés, sento em uma cadeira e tiro meu casaco para colocar na cadeira ao meu lado.

-Fico feliz por ter vindo.- ela toca meu pulso.- Pode fazer qualquer coisa, eu pago tudo.

Meu pai paga tudo.

-O que a senhorita vai querer?- a recepcionista vem enquanto tiro meus sapatos.

-Pedicure e, ainda fazem a massagem?- pergunto.

-Sim.- ela assente.

-Ok, vou querer.

Tinha uma mulher incrível que antes de fazer os pés, ela fazia uma massagem sensacional que me relaxava até a última gota do meu ser. Era incrível.

Alyssa começa a falar sobre como meu pai está chateado pelo último jantar e quer me recompensar com algum presente. No fim, ele me daria uma coisa cara para se redimir do tapa que me deu.

Era sempre assim.

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