Cinza - parte I
Jeongguk não tinha muita frescura quando se tratava de diversão. No auge de seus vinte anos, ele acreditava que onde havia uma boa companhia, álcool e sexo, era um bom lugar para se divertir. Sair para desacumular o estresse semanal era praticamente um ritual seu e de seus amigos – mesmo que às vezes fizesse isso sozinho.
Sentia-se bem em uma noite onde podia ser uma pessoa um pouquinho mais corajosa devido ao álcool forte correndo em sua corrente sanguínea, dando aquela dose de coragem para conseguir a paquera da vez e, no fim, acabar sua noite bem satisfeito. Prometera a si mesmo que aproveitaria sua fase adulta e, apesar de se dedicar aos estudos, jamais deixava de se divertir e ter experiências.
E aquele sábado não seria diferente. Resolveu que sairia com os amigos para uma balada – recém-aberta – próxima à faculdade, esta que estava sendo muito bem elogiada pelos universitários. Como bom festeiro que era, não recusou o convite de Chunghee.
O lugar, à primeira vista, tinha uma fachada bonita e cheia de cores alegres, projetando as cores do arco-íris para todos os lados e, automaticamente, elevando o nível de euforia dos jovens. E era assim que Jeongguk se sentia: eufórico. Sempre buscava se aventurar pelas pessoas, jamais fazendo exceção de gênero. Era apaixonado pela vida, e mais apaixonado pelos prazeres que ela lhe proporcionava.
— Você quer beber alguma coisa? — ouviu a voz de Chunghee ser elevada alguns tons para que pudesse ouvi-lo. Assentiu, analisando o local, vendo as pessoas desesperadas por contato humano; fosse ele através de um beijo, um toque, ou até mesmo na dança. A música tinha uma pegada agitada e ao mesmo tempo sensual, deixando tudo mais denso e propício para o lugar.
E assim foi seguindo sua noite, cheia de beijos e amassos. Perdera a conta de quantas bocas beijara, o álcool deixava seu raciocínio cada vez mais lento e leve e a música alta contribuía para que não pensasse tanto. Um sentimento de felicidade o preenchendo cada vez que sentia os toques humanos. Felicidade. Jeongguk acreditava que esse era o verdadeiro sentimento da felicidade.
Não soube ao certo quando alguém o puxou para o banheiro, só tinha em mente aliviar a forte ereção no meio das pernas. O copo cheio até a metade fora esquecido na pia e sentiu o corpo ser imprensado na parede fria de uma das cabines. Sorriu quando suas calças foram baixadas junto à cueca, revelando sua ereção molhada.
O corpo sensível reagia aos estímulos que recebia; os beijos cálidos em seu pescoço, as mãos atrevidas subindo e descendo pelo seu abdômen, deixando rastros de arranhões superficiais. E era disso que ele gostava, de tocar, sentir, ser sentido e um contato íntimo que o levasse ao prazer carnal. Sim, somente carnal.
Jeongguk nunca tinha se apaixonado. Nem mesmo em seus antigos relacionamentos, e estava bom daquele jeito. Não se arrependia de nenhum deles e até tinha algumas experiências absorvidas – a maioria delas, sexuais. Em sua mente, não precisava de muito para ter um relacionamento duradouro, bastava uma comunicação entre o casal, um bom sexo e algumas trocas de carinhos. Não havia como dar errado. Mesmo que não tivesse tido um relacionamento longo, acreditava piamente que foram somente as casualidades que levaram ao término.
Gozar. Sempre teve em mente que esse era um ato bem egoísta. Um ato onde você está buscando somente a própria satisfação carnal. Acreditava que era como qualquer outro ser humano. E gozou, gozou gostoso com o boquete que recebera.
Respirou em pura satisfação e subiu as calças, só agora prestando atenção nos detalhes do garoto que o chupara. Um ser humano bonito, e Jeongguk tinha certeza de que transaria com ele sem nenhum problema, afinal, só precisava se sentir atraído pela pessoa para se submeter a uma boa transa. Mas, por ora, só precisava de mais álcool para aproveitar o restante da noite. Não perguntou o nome do garoto, não que fosse uma pessoa ruim, mas já tinha o costume e sabia como as coisas funcionavam nesse ambiente para as pessoas que procuravam sexo sem compromisso. Também não era como se o garoto fizesse questão.
***
Depois do ocorrido no banheiro, Jeongguk voltou a beber, beijar e se divertir no meio daquela gente que exalava tensão sexual. Talvez tivesse pegado pesado quando ingeriu altas doses de Tequila, mas sequer se importou com a ressaca que teria no dia seguinte, apenas focou-se em sua diversão. Quando não se aguentou mais em pé, sentindo o estômago reclamar por alívio, voltou ao banheiro e vomitou tudo aquilo que consumiu, o que já era quase um costume seu. Enquanto o incômodo no estômago ia aliviando, riu sozinho apenas por sentir a famigerada euforia de ser um jovem adulto com os hormônios borbulhando. Aos poucos, o corpo fora cedendo naquele chão frio, e assim adormeceu no banheiro fedido e úmido.
Não demorou para que sentisse um chacoalhar em seus ombros, seguido de alguns tapinhas na face. Resmungou algumas palavras desconexas e virou-se de lado, deitando.
— Jeongguk, cara! Levanta, já está quase amanhecendo e preciso ir para casa da minha namorada — seu corpo mexia de um lado para o outro, e tudo que mais queria era gritar com o infeliz que estava o tirando a paciência. Mesmo a contragosto, abriu os olhos e pôde sentir uma ardência excruciante em suas pupilas, e para piorar a situação, a cabeça latejava como o inferno.
— Que saco, o que você quer? — estalou a língua no céu na boca e pôde sentir o gosto amargo e azedo em seu paladar, consequência do álcool e muito vômito. Olhou para cima e deu de cara com Chunghee o encarando impaciente. — Certo, já entendi, tô indo.
A vontade era de dormir ali mesmo, no chão frio e cheio de bactérias do banheiro, mas não tinha essa opção, então tudo que fez foi se apoiar no vaso sanitário para levantar.
— Que inferno de dor de cabeça — resmungou, e agradeceu pelo amigo lhe ajudar a achar o caminho da saída, pois em suas condições não conseguiria nem mesmo sair da cabine. Ainda se sentia tonto, mas em menores proporções. Pelo menos já tinha a capacidade de assimilar o que estava fazendo e já conseguia andar sem tropeçar nos próprios pés.
— Bebe — sorriu ao ver uma garrafinha de água mineral, e tratou de engolir todo o conteúdo da mesma, sentindo o alívio da boca seca devido à desidratação.
— Obrigado, hyung.
O ambiente já era bem diferente naquele horário, o lugar não tinha a mesma vibe de outrora e os que restavam estavam na mesma situação; com ressaca, dor de cabeça e uma completa falta de coragem de ir embora. Sentiu até um alívio quando chegou do lado de fora da boate, apreciando o ar fresco preenchendo seus pulmões.
— Vem, vamos pegar um uber — Jeongguk não respondeu, apenas assentiu e esperou até um carro preto aparecer. O caminho não era longe, mas conseguiu cochilar no banco e, tão rápido quanto dormiu, foi acordado. — Não posso descer aqui, preciso ir pra casa da minha namorada, você consegue ir até o dormitório?
— Sim.
— Certo, até depois. Pode deixar que eu pago a corrida — novamente só acenou positivamente e deixou o carro.
***
Assim que colocou os pés para fora do veículo, o vento frio e denso lhe arrepiou por completo, e seu corpo tremeu quando uma rajada gélida o atingiu. Abraçou o próprio tronco e pôs-se a caminhar até o bloco dos dormitórios. Porém, desviou o olhar para a esquerda e pôde ver o céu alaranjado, o crepúsculo lindo demais até para seus olhos, mostrando o gradiente de cores quentes e frias.
Estava frio, a grama orvalhada pelo sereno – resultado da noite gelada –, era até uma cena bonita de ficar apreciando, mas sua atenção foi roubada quando avistou algo diferente no meio do campus. Uma pessoa. Pensou que talvez ele estivesse voltando de alguma festa também, afinal, era comum estudantes caminharem pelo campus pela manhã. Mas, aos domingos, geralmente muitos escolhiam passar o final de semana em suas casas, ou aproveitar para descansar da longa semana exaustiva de estudos.
Percebeu que ele fazia alguns movimentos concentrados e quando forçou os olhos um pouquinho para enxergar melhor, viu que o mesmo segurava uma câmera fotográfica. Sentiu certa curiosidade e caminhou alguns passos, aproximando-se da figura com senso de moda um pouco diferente do que era acostumado.
Seus movimentos eram leves, elegantes; quase graciosos. Ele também parecia apreciar a paisagem dada pelo nascer do sol e pelo ambiente arborizado do campus, mas de uma forma realmente devota. A câmera dançava em suas mãos como um instrumento musical, e Jeongguk ficou um bom tempo contemplando a cena simples e, ao mesmo tempo, enigmática. O rapaz sequer se importou com a umidade da grama e, simples assim, deitou-se no chão, a câmera apontada para o céu quase azul. De fato, peculiar e único. Nunca havia presenciado esse tipo de trabalho e estava gostando da sua primeira vez, principalmente porque ele demonstrava intensidade nos genuínos atos que realizava.
Talvez tivesse ficado tempo demais ali, observando o estranho, e sentiu-se pego no flagra quando ele olhou em sua direção. Lindo. Sua cabeça estava um pouco leve por ainda conter álcool em suas veias, então não teve nenhuma reação de imediato, apenas sentiu o rosto esquentar. Droga. Todavia, o rapaz não pareceu incomodado ou, pelo menos, não esboçou nenhuma reação parecida, e pôde jurar que o rosto bonito se contorceu em um sorriso mínimo para, logo em seguida, voltar a tirar fotos da paisagem estonteante do céu amanhecido.
Jeongguk apertou o abraço no próprio corpo e desviou o olhar para os prédios onde ficavam os dormitórios, caminhando novamente para a direção que deveria ter ido desde o início. A temperatura não chegava aos 14 graus, e Jeongguk se perguntava se o outro não se incomodava pelo clima ameno. Balançou a cabeça para afastar o divagar de pensamentos, precisava, urgentemente, chegar até o seu quarto, tomar um bom banho e descansar.
***
Cogitou fortemente a possibilidade de se deitar sem tomar banho, mas seus princípios jamais deixariam cometer uma atrocidade dessas. Tomou um banho quente e sentiu-se mais renovado, as impurezas abandonando seu corpo à medida que esfregava a esponja macia na pele. Realmente restaurador. De pijamas e banho tomado, jogou-se na cama fofinha e quente para, enfim, descansar. A mente pesava uma tonelada e não seria difícil adormecer, mas dessa vez seus pensamentos vagavam pela cena bonita que presenciara mais cedo e, com o nascer do sol sendo fotografado, Jeongguk mergulhou no sono profundo.
Seu domingo se resumiu em dormir, acordar, comer, dormir mais um pouco, revisar um conteúdo apenas superficialmente e dormir de novo até o outro dia. E encarar a segunda-feira era chato, como qualquer outro jovem, odiava acordar cedo e reiniciar a rotina. Em contrapartida, Jeongguk jamais faltaria uma aula por mera preguiça ou tédio, tinha que se esforçar e não deixava de cumprir suas obrigações semanais.
Sua rotina de estudos era pesada, estudava jornalismo e tinha um interesse real pelo seu curso. Gostava da parte de buscar pelo desconhecido e informar as pessoas, tinha prazer em escrever e relatar as coisas da sua forma, e era interessante saber que poderia influenciar muita gente caso tivesse uma carreira bem-sucedida na área que escolheria.
E não passou disso, novamente, um cronograma regrado de estudos e dedicação, as memórias sendo arquivadas na mente, dando lugar aos novos conteúdos e acontecimentos. A sexta-feira começou agitada, com alguns convites de algumas festas que aconteciam aos sábados, mas Jeongguk se sentia um pouco sobrecarregado para encarar outra balada cheia de luzes e bebidas fortes.
— Tem também a festa do Hoseok — Jonghyun, um outro amigo, comentou, uma vez que discutiam sobre a possível programação para o fim de semana. Era a última aula do dia e Jeongguk estava com o corpo debruçado na carteira, enquanto esperava o ultimato de conclusão do professor, cansado.
— Ele é rico — comentou por alto, fazendo Jonghyun rir ao mesmo tempo que concordava com seu pensamento. — Acho que passo lá.
***
Mesmo com uma vontade enorme de emendar a tarde com noite em um sono profundo, Jeongguk queria ir até a social que Jonghyun comentara consigo, talvez o ambiente mais calmo e "familiar" fosse a melhor escolha naquele fim de semana. Arrumou-se sem muitos exageros, mandou uma mensagem para o amigo para dividirem um uber até o local e não demorou muito para chegarem até a casa de Hoseok.
Já de início notou a diferença entre o final de semana anterior; não tinha cores gritantes para todos os lados, muito menos uma música eletrônica reverberando em seu peito. As pessoas também pareciam mais calmas e conversavam em um tom natural, sem precisar aumentar a voz por conta da música. Afinal, o som do ambiente nada mais era do que músicas calmas tocando na mediana caixa de som suspensa na parede da sala.
A casa de Hoseok era confortável, grande o suficiente para uma boa social cheia de amigos. Logo o anfitrião veio recebê-los, um sorriso característico estampado na face naturalmente alegre.
— Jeongguk, quanto tempo não te vejo? — era verdade, não eram grandes amigos, mas se conheciam de alguns amigos em comum, e Hoseok tinha uma personalidade legal e divertida. Um sentimento de culpa lhe atingiu quando o pensamento que tivera mais cedo lhe veio à mente. Havia cogitado vir à festa do Jung apenas pela condição financeira de seus pais, e repreendeu-se por ter tido um comportamento tão fútil.
— Verdade, que bom que consegui vir dessa vez — devolveu o sorriso gentil. Hoseok cumprimentou seu amigo e lhe estendeu um copo vazio.
— Aqui. Tem bebida lá na cozinha. E olha que é para todos os gostos, de cerveja à refrigerante. Fiquem à vontade, gente, vou receber os outros.
Viria mais vezes às festas de Hoseok, e dessa vez por um motivo muito diferente.
— Cara, minha namorada está me ligando, já volto — Junghyun informou, balançando o celular para lhe mostrar a chamada. Apenas concordou com a cabeça. Logo estava sozinho e não gostou muito da ideia, não que fosse alguém antissocial, mas tinha sua roda de amigos e parecia que nenhum deles estava presente na reunião, e Jeongguk era um pouco introvertido nesse tipo de ambiente. Talvez se estivesse mais escuro e com muita gente dançando, fosse mais fácil.
Resolveu ir até a cozinha pegar algo para beber, pois sabia que o álcool o deixava bem mais sociável e alegre. Hoseok não mentira sobre a diversidade de bebidas que havia ali, mas resolveu ficar na cerveja somente. E com a bebida em mãos, decidiu que seria uma boa ideia esperar por Junghyun na sala. O local tinha uma quantidade considerável de pessoas e havia uma parte livre no sofá, uma vez que a outra tinha um casal se engolindo e trocando carícias.
Queria beijar. Então começou a analisar suas possíveis opções naquela noite, seus olhos rolaram pelo cômodo grande, atento. De alguma forma, não estava tão disposto quanto gostaria, por isso levantou-se e foi ver o que acontecia na parte exterior da casa, mas desistiu da ideia quando seus olhos pousaram em uma figura encostada na parede, sozinha.
Um rapaz de alta estatura, cabelos castanho claros e estilo suspeito, usava fones de ouvido e balançava os dedos conforme a melodia da música, concentrado em seu celular. Jeongguk tentava buscar na mente o motivo da sensação de já tê-lo visto em algum momento da vida, mas não conseguia se lembrar com exatidão. Deixou a latinha em cima da mesinha de centro e resolveu que seria melhor se aproximar. Não era a melhor pessoa com flertes, mas sabia que dava para o gasto.
— Oi. — disse simples assim que ficou de frente do corpo esguio, mas se perguntou se o fone de ouvido impediu que ele ouvisse.
— Olá.
Nossa.
Jeongguk realmente não esperava que aquela voz saísse daquele corpo. E quando ele ergueu os olhos e lhe encarou, sentiu como se não soubesse mais como agir naquele momento. Exposto. Essa era a palavra que o definia ao ver as íris cor de mel lhe analisarem como se tivessem lendo sua alma.
Os cílios longos pareciam moldados nos olhos rasgados, a pele uma textura aveludada e radiante, o nariz afilado e bonito. Tão bonito que Jeongguk se sentiu intimidado pela beleza quase divinal, e até um completo idiota por não seguir com um diálogo decente.
Sua boca se abriu e fechou por uns segundos, porém não conseguiu sibilar nada coerente naquele momento, principalmente porque os olhos acastanhados emitiam um ar misterioso.
Nossa.
Jeongguk acabara de encontrar alguém que o deixava sem palavras.
— Kim Taehyung — ele deu continuidade, estendendo a mão bonita em sua direção; Jeongguk fitou os dedos longos parados no ar, repreendendo-se mentalmente por não ter tido uma atitude rápida.
— Jeon Jeongguk — conseguiu devolver o comprimento, envolvendo sua mão na dele, podendo apreciar a textura macia e morna que ela possuía. Um sorriso mínimo se curvou nos lábios finos e, como se flashs acendessem em sua mente, lembrou-se de onde conhecia aquele rosto bonito.
O nascer do sol.
É claro. Era ele. A mesma pessoa que estava fotografando a bela paisagem naquela manhã gélida de sábado quando voltava da balada. Era ele. Sabia que sim, talvez reconhecera por conta da mesma ação que ele lhe lançara naquele mesmo dia.
Será que ele também o reconhecia?
— Jornalismo — ainda de mãos unidas, disse. Universitários em uma festa geralmente informavam o curso. Taehyung puxou a mão de forma delicada e gentil e assentiu.
— Fotografia.
— É claro, imaginei — arregalou os olhos quando se deu conta do que disse, repreendendo-se por ser tão impulsivo. — Quer dizer...
— Acho que tenho cara de fotógrafo — disse simples, guardando o celular no bolso e se desencostando da parede. — Nunca te vi em uma festa do Hobi hyung.
— Esse não é bem o tipo de festa que vivo frequentando — coçou a nunca. — Mas preciso rever meus conceitos. — flertou.
— Você não é muito de festas, né? Entendo, eu gosto, mas confesso que tenho outras preferências — tagarelou Taehyung. E sem que Jeongguk pudesse dizer outra coisa, continuou: — Está bem abafado aqui, vou lá na cozinha pegar algo gelado pra beber, você vem?
— Claro — sorriu, mesmo sem entender muito bem o que acabara de acontecer.
Animou-se por pensar que já tinha a boca que beijaria aquela noite, e merda, nem acreditava que beijaria alguém tão bonito quanto ele, ou, quem sabe, poderiam avançar além dos beijos. Ótimo.
Errado.
Taehyung era uma pessoa muito... diferente, talvez? Não sabia muito bem como usar uma palavra certa para descrevê-lo corretamente. Mas ele não era nada daquilo que esperava. Depois que pegaram duas bebidas na cozinha, engataram em uma conversa com diversos assuntos dos mais variados tipos. E parecia normal; duas pessoas conversando sobre coisas que não avançariam em nada se quisessem trocar uns bons beijos.
Jeongguk notou uma inteligência admirável no outro; sempre tão decidido e com opiniões fortes formadas sobre as pautas que conversavam. Taehyung também parecia dono de uma ingenuidade verdadeira, ou talvez só não estava muito a fim de dar pilha para os flertes discretos que Jeon lançava, buscando deixar claro sua verdadeira intenção naquela noite. As duas latinhas de cerveja estavam esquecidas na mesinha de centro enquanto Taehyung pontuava as coisas que mais gostava de fotografar.
Não era ruim ouvi-lo, pelo contrário, Jeongguk se sentia verdadeiramente envolvido pela voz tenra e grave, atento em suas explicações detalhadas, concordando vez ou outra ou falando sua opinião, mas era diferente de tudo que imaginava.
Droga, queria beijá-lo. Não parecia correto tomar uma atitude mais drástica, pensou no quanto se sentiria desconfortável com a situação, essencialmente porque ele parecia não deixar brechas para que pudesse engatar um assunto mais quente.
— Você não acha? — Ele disse e Jeongguk piscou algumas vezes até se dar conta de que estava divagando sobre como conseguiria beijá-lo.
— Acho. — Mesmo que não soubesse exatamente sobre o que o outro falava, concordou.
— Bom, está tarde, acho melhor eu ir — Taehyung avisou e o mais novo observou ele se levantar e teve que pensar rápido ou talvez não teria outra oportunidade.
— Eu também vou, podemos ir juntos, quer dizer, você também mora no campus e eu estou indo pra lá — soltou tudo num fôlego só, respirando aliviado quando Taehyung assentiu gentilmente.
— Claro, então vamos.
A conversa no ônibus ainda permanecia recheada de assuntos. Descobrira que ele era mais velho, nascera em Daegu e sempre gostou de fotografia, desde criança. Na verdade, Taehyung era um apreciador da arte em geral: música, teatro, pintura, cinema.
— Então eu tenho que te chamar de hyung — comentou.
— Parece que sim, Jeongguk-ah — apertou o botão que servia para avisar ao motorista de que a parada que desceriam seria a próxima. — O quê? Está achando que não me pareço com um hyung?
— Mas eu não disse nada, hyung — sibilou a última frase de forma brincalhona. O Kim era aquele tipo de pessoa que, com pouco tempo de conversa, te fazia sentir confortável.
— Certo, chegamos. Acho bom você ir pra cama porque já está muito tarde — Jeongguk riu da careta impotente que fez e se levantou para que pudessem descer.
— Certo, pode deixar, hyung — foi a vez de Taehyung rir, uma risada doce e contida, mas que não deixava de se encaixar tão bem em sua personalidade.
O clima, novamente, estava ameno e não demorou para que ambos se encolhessem com os ventos frios da madrugada. A universidade grande era iluminada pelas luzes externas, e a noite tinha seu satélite natural lá em cima, a lua.
— Bom, meu dormitório fica no bloco B, bem ali — apontou para a esquerda, mostrando os prédios juntos onde ficava alojamento dos estudantes.
— Eu estou no A, não é longe — Taehyung abraçava o próprio corpo e seu queixo tremia, o nariz já tinha uma coloração vermelhinha, e Jeongguk achou tão adorável a face contorcida pela temperatura baixa. Céus, queria muito beijá-lo, e seria uma oportunidade perfeita. — Foi bom te conhecer, Jeongguk-ah, mas agora eu preciso ir.
O mais velho pôs-se a caminhar na direção de seu dormitório, jogando a chance de Jeongguk por água abaixo.
Não, não, não!
— Tae hyung, espera! — chamou. O mais velho parou de caminhar e virou-se para o mais novo, os olhos atentos e os lábios roxos por conta do frio.
— Oi? — tremeu devido a uma rajada fria. — Estou congelando, Jeongguk-ah.
— Você poderia... hm... é... — coçou a nuca, sem jeito —, me passar o seu telefone?
— Hã? — retraiu as sobrancelhas, confuso. — Ah, claro, me dê seu celular.
Ele esticou os dedos longos, e Jeongguk não pensou duas vezes antes de puxar o aparelho do bolso traseiro e estender para ele. Tão rápido quanto pegou, Taehyung anotou o número.
— Está aí. Agora é sério, preciso ir ou vou virar um picolé. Você também deveria, ou pode ficar doente. — despediu-se em um aceno e Jeongguk sorriu, mesmo que um sentimento lhe incomodasse no peito. Viu a figura esguia desaparecer na noite fria e respirou fundo por pensar que não conseguiu beijá-lo.
— Talvez ele seja hétero.
***
Encarando o celular, Jeongguk se pegou num dilema enorme sobre mandar ou não uma mensagem. Como deveria começar uma conversa? Não fazia a mínima ideia.
Você
Oi, hyung :)
Sentiu-se ansioso, temendo que ele não estivesse disponível, afinal, era domingo e Taehyung parecia ser o tipo de pessoa que ficava bem ocupada aos domingos. Bem diferente de si que geralmente procrastinava. Apertou o telefone quando o sentiu vibrar.
Taehyung
Jeongguk?
Você
Como você sabe que sou eu???
Taehyung
Você é o único que me chama assim, ㅋ ㅋ ㅋ
Então...
E, mais uma vez, Taehyung foi a mesma pessoa que conhecera na noite passada, cheio de assuntos, envolvendo o mais novo em uma conversa sobre teorias da conspiração e roupas da moda.
Único.
Também não passou disso. Nunca conseguia envolvê-lo de outra forma, embora não tivesse se arriscado muitas vezes. Às vezes, Taehyung conseguia ser bem extra, mandando-lhe fotos do céu azul ou de algumas florezinhas que ele achava por aí. Adorável.
Mas um adorável gostoso.
Jeongguk nunca havia se sentido tão atraído fisicamente por alguém. Merda, Taehyung era lindo em proporções surreais. Gostoso. Intelectual. Tudo nele atraía, a voz suave, o modo incomum como organizava os pensamentos, os olhos, o cheiro, o sorriso.
Precisava transar com ele.
Certa noite até sonhou que se envolviam de uma forma muito quente, um sonho maravilhoso onde ele lhe pagava um boquete trepidante. Claro que se aliviou no banheiro com uma punheta que fora capaz de lhe amolecer as pernas e acelerar o coração.
Precisava muito transar com ele.
***
Durante uma semana, Jeongguk ficou receoso de convidá-lo para sair, escrevia a mensagem com o pedido, mas nem adiantava, não conseguia enviar. Era quase hora do almoço quando sentiu o aparelho vibrar em suas mãos. Parecia quase uma conexão. Era ele. Sorriu bobo para o celular e o desbloqueou.
Taehyung
O que acha de um almoço? Tem uma padaria aqui pertinho!
Você
Acho ótimo. Estou morrendo de fome.
Sorriu novamente, sentindo uma felicidade lhe abraçar e tentou ao máximo não criar tantas expectativas com isso, mas não obteve sucesso. Tinha quase certeza de que as coisas estavam avançando com Taehyung.
***
Foi apenas mais um almoço simples entre amigos. Novamente as conversas aleatórias e brincadeiras com um pouco mais de intimidade. Jeongguk não sabia dizer se ele fingia não entender os flertes descarados ou as insinuações de duplo sentido, mas Taehyung era sempre tão... Taehyung. Natural, sem nenhum joguinho ou provocação. Mas, ao mesmo tempo em que tinha essa desilusão nessa situação, gostava da forma que estava se envolvendo com ele.
Poderiam se considerar bons amigos. E não fazia nem um mês que se conheciam.
O Kim era profundo na maioria das vezes, os olhos ainda eram misteriosos e cobertos por algo que Jeongguk não conseguia decifrar, fazendo uma ansiedade lhe apertar a boca do estômago. E cada vez que ouvia a respeito do aspirante a fotógrafo, ficava mais curioso sobre ele.
— Já pensou na possibilidade de... hm... ele ser hétero? — Chunghee disse. Havia desabafado com o amigo, na esperança que ele tivesse uma resposta. Realmente, não sabia mais que atitudes tomar.
— Eu pensei nisso. Mas o Tae... ele não parece ser o tipo de pessoa que se importa com isso — soltou um suspiro alto.
— Ele não namora? — questionou o amigo, fechando o livro para que pudesse prestar atenção na vida amorosa do mais novo.
— Não, hyung. Ele é solteiro e nunca mencionou ninguém, nenhuma outra pessoa — respondeu.
— Então eu acho que você deveria tomar alguma atitude. Beija ele — deu de ombros, como se a situação fosse simples assim, sem preocupações.
— Hyung, juro que essa possibilidade me passou pela cabeça, mas, sei lá! É diferente de tudo que eu já lidei. Eu não quero que fique um clima desconfortável se eu fizer isso e ele não gostar — passou as mãos pelos fios negros, irritado. — Ele é tão diferente.
— Como assim? — quis saber.
— Eu não sei explicar, mas ele é pessoa mais... profunda? — hesitou, pensativo. —, que eu já conheci. Toda vez que ele olha nos meus olhos eu sinto como se ele soubesse tudo que estou sentindo, minhas emoções, meus medos. É fascinante. Mas quando eu tento desvendá-lo, sinto como se não o conhecesse. Ao mesmo tempo que ele me conta sobre a vida dele, parece que eu não sei o que se passa na mente dele, mesmo que ele me conte exatamente o que está sentindo.
— Uau. — Foi a única coisa que Chunghee conseguiu dizer.
— Né? E eu me sinto tão envolvido... — jogou os objetos de estudo no canto e deitou-se na cama, desistindo de tentar absorver alguma matéria. Haviam combinado de estudar para uma prova, mas sua mente só girava em torno das questões que levavam ao futuro fotógrafo.
— Chame ele pra sair. Faça algo que ele goste e aí você arrisca tudo. — aconselhou. Jeongguk soltou um suspiro, pensativo. Taehyung gostava de tantas coisas, então não seria difícil de agradá-lo, uma vez que ele se sentia feliz com pouco.
Não sabia dizer quando foi o momento em que se viu tão absorto na relação em que construíra com o Kim. De repente, ele fazia parte da sua vida e somente uma mensagem de bom dia ou uma foto adorável do céu azul era capaz de mudar seu humor de uma forma que nem mesmo Jeongguk conseguia explicar.
Sentia-se sendo preenchido por algo bom, vital e quente, e não tinha nada a ver com um orgasmo.
Mesmo assim, ele queria mais de Taehyung, queria sentir a textura dos lábios acerejados, testá-lo para comprovar se eram tão aveludados quanto pareciam. Queria tocá-lo, sentir o corpo esculpido sob suas mãos, apreciar a temperatura da pele cor de caramelo. Queria tantas coisas com ele. Mas parecia não ser recíproco.
E foi por isso que resolveu se arriscar uma última vez. Acatou o conselho de Chunghee e, durante um tempo, procurou por algo que realmente agradaria ao mais velho. Encontrou o que procurava pendurado em uma parede de anúncios perto da biblioteca. Bem, parecia uma oportunidade perfeita.
***
Na hora do almoço, novamente, optaram pela mesma padaria onde tiveram o "primeiro encontro" – pelo menos era assim que Jeongguk nomeava. Taehyung lhe contava sobre um fotógrafo incrível que tirava fotos com a intenção de representar as doenças psicológicas como: depressão, bipolaridade, ansiedade e etc.
— Parece interessante — comentou, sincero. — Eu acho difícil entender distúrbios psicológicos, representar isso em fotos, então...
— E ele é fantástico, adoraria ver as obras dele de perto! — Taehyung bebeu um pouco do chá de camomila que havia pedido, enquanto Jeongguk apreciava seu café expresso.
— Hyung, falando nisso — limpou a garganta, puxou a mochila que descansava ao lado posta no chão e retirou de lá um panfleto que havia pego da parede de anúncios.
— Hm?
— Sabe, eu vi isso aqui e logo... hã... pensei que você gostaria de ir, então pensei que... — deslizou o papel sobre a mesa na direção do mais velho, e Taehyung abaixou o olhar para que pudesse entender melhor sobre o que ele estava falando. — É uma exposição de arte moderna. Pensei que a gente podia ir junto — soltou de uma vez, sentindo o coração bombear mais forte à medida que o mais velho analisava o panfleto. Maltratava o lábio inferior em pura ansiedade, os olhos levemente arregalados esperavam por uma resposta. Assim que ele terminou de ler sobre o que se tratava, viu um sorriso gracioso se abrir naqueles lábios que tanto queria beijar.
— Eu adoraria ir com você, Jeongguk — Foi sua vez de sorrir largo, sentindo um alívio imediato lhe percorrer o corpo. Era sua grande chance e não poderia desperdiçá-la. — Hm, aqui está falando que tem uma sessão às quatro e meia, o que acha?
— Por mim tudo bem, na verdade, ótimo! — respondeu mais animado do que deveria.
— Certo, então nos encontramos às quatro, no ponto de ônibus, ok? — disse, se levantando e levando consigo a pequena bolsa azul-marinho que sempre carregava consigo para onde quer que fosse.
— Ok, te vejo depois, hyung — despediu-se com um sorriso bobo, e assim que ele saiu do estabelecimento, quase soltou pulinhos de alegria em comemoração como um adolescente tendo o primeiro encontro.
***
Passear por um museu de arte contemporânea não era bem o tipo de encontro perfeito que Jeongguk tinha em mente, mas não é como se tivesse sido uma péssima escolha. Ver o sorriso empolgado e o brilho esperançoso nos olhos do Kim era mais do que suficiente para que a animação também tomasse conta de si. Ainda mais quando ele usava sua câmera – sua fiel escudeira – para tirar fotos incríveis da exposição. Era bonito vê-lo fotografando.
Fazia mais ou menos uns dez minutos que Jeongguk ouvia a explicação de Taehyung sobre uma escultura estranha. E, apesar de ter virado sua cabeça em todos os ângulos possíveis, não entendeu muito bem o conceito proposto.
Mesmo com a ótima didática do mais velho, entendia que para compreender o verdadeiro significado por trás de cada obra precisava ter tato e sensibilidade em abundância. E isso Taehyung parecia ter de sobra.
Era algo novo para Jeongguk. Ficar ouvindo a calma e paciência com a qual ele fornecia as informações era bom. A voz polida e grave lhe fazia bem.
— Ok, hyung, esse quadro aí não tem sentido — referia-se a uma pintura em tons cinzas, esta que, na mente de Jeongguk, não era mais do que um simples degradê de cores frias. Uma arte vazia e sem personalidade.
— Ele não te diz nada? — Taehyung o encarou, e mesmo que tivesse buscado alguma informação no cérebro que o ajudasse a compreender o que ele havia dito, não conseguiu. Era um simples quadro, mais nada. Não havia desenhos, pinturas, sequer a assinatura do autor.
— Cinza me remete à melancolia, estou errado? — inclinou o pescoço, fazendo uma careta. Nada. Já Taehyung tinha os olhos vidrados no quadro sem graça, e parecia preso no próprio mundo, e pela sua expressão, Jeongguk tinha certeza de que ele havia captado mais detalhes do que a obra aparentava ter.
— Eu acho que cada pessoa tem uma relação diferente com as cores. Cinza me remete à neutralidade — seu tom era carregado de um sentimento que Jeongguk não conseguiu identificar. — O cinza está entre o preto e o branco. E é isso que o torna tão... neutro? São duas cores opostas. Enquanto o preto é sombrio, o branco é resplandecente.
Seu tom era poético, letárgico até, e Jeongguk teve a certeza de que Taehyung era uma incógnita e mesmo que se esforçasse para entendê-lo, jamais conseguiria mergulhar em suas nuances de diferentes intensidades.
— Acho que dá tempo de você me pagar um churros, hein? — ele disse, olhando para o relógio em seu pulso, e Jeongguk ainda piscava lento, tentando absorver as palavras que ele havia dito sobre a obra. Compreendeu, da sua forma, mas fora capaz de se identificar com ela, mesmo que minimamente. Entendeu.
— Tem uma pracinha aqui perto, lá vende o melhor churros da cidade! — sorriu largo, e o rosto de Taehyung se iluminou com um brilho quase infantil. Adorável. — E, hey, quem disse que eu tenho que pagar aqui? Você que é o hyung!
— Você que me convidou para esse encontro, nada mais justo — disse simples, dando de ombros. O queixo de Jeongguk caiu, encabulado por ele ter rotulado com a palavra "encontro''. Pensou que talvez estivesse mais próximo do seu objetivo do que nunca.
***
Taehyung devorava o churros de maneira quase infantil, enquanto caminhavam pelo parque. O sol já ameaçava se pôr, deixando o céu pintado de cores quentes e vibrantes, mesclado ao branco das nuvens suaves. E Jeongguk automaticamente lembrou-se de algumas semanas atrás quando vira o Kim pela primeira vez. Sorriu bobo quando o encarou e viu as bochechas morenas sujas de açúcar e canela.
Divagou nos próprios pensamentos sobre os últimos acontecimentos; Taehyung parecia querer algo consigo, mas, ao mesmo tempo, não tomava nenhum tipo de atitude e isso estava fervendo os neurônios do mais novo. Ele sempre pensava que estavam avançando um passo na relação, mas, quando percebia, ainda permaneciam parados no mesmo lugar.
Taehyung o confundia
É claro que desenvolveram um laço durante esse período. Sentia-se mais confortável para conversar sobre situações íntimas com o outro, e ele também lhe compartilhava algumas experiências pessoais, mas nunca era o suficiente. Ao mesmo tempo que sabia muito sobre a vida do mais velho, tinha a sensação de que não o conhecia quase nada.
Então sua única opção era tomar alguma atitude mais drástica, mesmo que colocasse em risco toda essa relação que construíram em tão pouco tempo de convivência. Não poderia ser tão ruim quanto parecia, certo? Não saberia se não tentasse.
Estavam em um silêncio confortável quando Jeongguk indicou para que se sentassem em um banquinho que ficava perto da graciosa fonte de água. Taehyung jogou a embalagem no lixo e sentou-se ao lado do mais novo, pegou sua câmera que estava pendurada em seu pescoço e apontou para o céu que expunha o poente. E o Jeon achava fascinante quando ele demonstrava o cuidado para enquadrar a paisagem para que pudesse tirar uma boa foto.
— Por que fotografia? — perguntou, aproximando os corpos. Taehyung virou em sua direção, a câmera apontada para si. Jeongguk sentiu as bochechas esquentarem sutilmente de vergonha.
— Consigo ler a sua alma através dessa lente — ele disse simples, ainda segurando a câmera, e Jeongguk ouviu uns cliques. — Uma pessoa solta no mundo é só um elemento qualquer num cenário. Uma pessoa enquadrada numa foto é rara. Uma foto fala muito sobre quem está na frente da lente e atrás dela, é uma conexão íntima. E você é bonito, Jeongguk-ah, gosto de fotografar coisas bonitas.
Sentiu o coração pular na garganta, o peito contraindo com a súbita coragem que o atingia. Aproximou-se um pouco mais, deixando o rosto a alguns centímetros da câmera. Era como se o restante do mundo não fizesse diferença naquele momento e Jeongguk teve a certeza que Taehyung realmente estava lendo sua alma através daquela lente, os rostos separados apenas pelo objeto que era o preferido do mais velho. Jeongguk sentia a respiração morna lhe tocar os lábios e, quase que anestesiado, levou uma mão até a câmera, abaixando-a lentamente. E como num quadro, os olhos cintilantes de Taehyung cruzaram os seus, e Jeongguk jurou que viu um pouquinho da alma pura que ele possuía. Céus, ele era muito bonito. Lindo. Até mesmo os detalhes que o compunham, desde a pintinha charmosa na ponta do nariz à cicatriz superficial na bochecha. Perfeito. As sobrancelhas bem desenhadas estavam levemente contraídas, e a expressão indecifrável não fora o suficiente para parar Jeongguk.
Fechou os olhos e colou os lábios aos de Taehyung, sentindo o coração pulsar forte no peito, o estômago se embrulhando em uma ansiedade verdadeira. E, mesmo incerto por arriscar tanto, moveu os lábios timidamente.
O gosto de Taehyung era muito mais do que poderia descrever. Era suave e com gosto de açúcar e canela. Macios e quentes. Surpreendentemente, foi retribuído de um jeito calmo e saboroso. Sutil e doce. A destra foi de encontro à bochecha cor de caramelo enquanto a canhota repousava em seu joelho. Pareciam sincronizados, os movimentos se encaixando como se fossem peças soltas de um quebra-cabeça que acabara de se completar, os gostos se misturando suavemente à medida que se inclinavam para que pudessem colar ainda mais as bocas. Tinha quase certeza de que Taehyung conseguia ouvir as batidas incessantes do seu coração, afinal, também conseguia ouvir as dele.
Jeongguk beijara muitas bocas, mas nenhum beijo inflara seu coração assim.
Não havia língua, desespero ou uma ânsia para que aumentassem o ritmo. Só lábios se provando e se roçando em encaixes vagarosos. Parecia certo e bom daquele jeito. A pele dele era realmente aveludada e macia, além de possuir uma temperatura morna. Os lábios tinham mesmo a textura que havia imaginado, na verdade, era tudo tão bom e suave que supriu qualquer expectativa. Cada extensão de seu corpo formigava de uma forma gostosa, e sentiu-se como um adolescente outra vez simplesmente porque um beijo singelo fora capaz de o deixar desestabilizado e anestesiado.
Quando descolaram os lábios apenas para respirarem, Jeongguk ousou pressionar um selinho demorado antes de se afastar de vez. Abriu os olhos e pôde contemplar a imagem de Taehyung de olhos fechados, os cílios longos tremeram sutilmente quando ele também ficou de olhos abertos, novamente os olhares intensos se cruzando, e quando os lábios rosados se curvaram em um sorriso mínimo, sentiu vontade de beijá-lo outra vez.
— Você me beijou — Taehyung disse, aumentando o sorriso.
— Beijei — Jeongguk respondeu, mesmo que ele não tivesse feito uma pergunta. — Pelo menos você não é hétero, não é? — Taehyung gargalhou, e Jeongguk o acompanhou.
— Você não existe, Jeongguk-ah. Eu gostei. — disse sincero.
— Isso é bom, né? — o peito se contraiu em ansiedade e expectativa.
— Não faz ideia do quanto.
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