07 - O DESPERTAR DO LOBO
NOS PRIMEIROS MESES em Dorne, Lyanna se dedicou ao treinamento físico e aos estudos de estratégia com uma intensidade quase desesperadora. Era como se mantendo o corpo e a mente ocupados pudesse afastar a dor que latejava em seu peito. Oberyn assistia a essa transformação com uma mistura de admiração e preocupação. Ele sabia que o caminho para o qual Lyanna estava se dirigindo era perigoso, mas entendia a necessidade dela de continuar lutando.
Certa manhã, enquanto treinava sozinha no pátio de Lançassolar, uma carta foi entregue a ela por um mensageiro apressado. Lyanna reconheceu imediatamente o selo dos Mormonts - o urso em cera vermelha, e uma sensação de inquietação tomou conta dela. Ao abrir o pergaminho, seu coração quase parou ao ler as palavras que mudariam tudo mais uma vez.
" Robb Stark está morto. O Rei do Norte foi traído em uma emboscada durante um banquete pelos Frey e os Bolton. "
As palavras ecoaram em sua mente, repetindo-se sem parar enquanto a realidade se desdobrava diante dela como uma tempestade inevitável.
Robb estava morto.
O irmão que havia lutado para restaurar a honra da família, que havia marchado em direção ao sul com um exército na esperança de salvar suas irmãs e de vingar seu pai. E agora ele estava morto, o sangue dele derramado em um casamento traidor, assassinado pelas pessoas em quem ele confiava. E junto a isso tirando a vida de sua mãe e seu herdeiro. Tudo o que restava da sua família se foi, levando com ela o último resquício de esperança que tinha de ter sua casa de volta.
Lyanna sentiu o chão se mover sob seus pés como se o mundo inteiro estivesse desmoronando ao seu redor. Ela cambaleou tentando se manter de pé, mas as forças a abandonaram e ela caiu de joelhos, o pergaminho escorregando de suas mãos. Lágrimas ficaram presas em seus olhos sem escorrer enquanto a fúria a consumia.
Ela sentiu uma mão quente em seu ombro e ao olhar para cima viu Oberyn ao seu lado. Ele não disse nada, mas a expressão dele dizia tudo. Ele também havia perdido pessoas, conhecia a dor do luto, do desespero, da impotência. Mas ao contrário dela, Oberyn havia aprendido a transformar essa dor em uma arma, algo que Lyanna ainda precisava entender.
- Ele era o meu irmão. - Sussurrou Lyanna, a voz fraca, quase inaudível. - Eu deveria estar lá. Deveria ter lutado ao lado dele.
- Você não pode carregar o peso de todo o mundo nos ombros, Lyanna. - Disse Oberyn suavemente, mas com firmeza. - Nós todos fazemos o que podemos. Às vezes, o destino é cruel, e não podemos mudá-lo. Mas podemos decidir o que fazer a seguir.
Ela balançou a cabeça sentindo o peso das palavras dele, mas a dor ainda era insuportável. Ela queria gritar, queria correr até o Norte, até as terras frias de Winterfell e destruir todos aqueles que haviam traído sua família. Mas sabia que isso não era possível. Não ainda.
Oberyn a puxou para si, envolvendo-a em um abraço firme. Por um momento, Lyanna lutou contra ele, ainda perdida em sua dor, mas então cedeu, permitindo-se afundar na força dele. As lágrimas que finalmente derramou eram amargas e cheias de rancor, mas aos poucos ela sentiu algo diferente se formar dentro de si, algo que não sentia há muito tempo: determinação.
Nos dias que se seguiram, Lyanna esteve em silêncio, mergulhada em seus pensamentos. A notícia da morte de Robb e do casamento de Sansa com Tyrion Lannister a havia devastado, mas ela sabia que não podia se dar ao luxo de ser consumida pela dor. A responsabilidade de sua casa, de sua família, agora pesava sobre seus ombros. Em sua mente só havia espaço para planos, estratégias, trajetórias que poderia seguir. Eles não derrubaram todos os Starks, não ainda. Estava dividida entre ir ao encontro de Sansa e encontrar uma forma de tirá-la de Porto Real ou correr para o Norte e unir forças.
Oberyn como sempre estava presente, pronto para lhe oferecer tudo o que ela precisasse enquanto processava mais um luto. Ele sabia que Lyanna precisaria de tempo, mas também sabia que logo ela tomaria uma decisão.
Uma noite, enquanto o crepúsculo tingia o céu de Dorne com tons de vermelho e laranja, Lyanna se aproximou de Oberyn, que estava no salão principal, estudando mapas e discutindo táticas com seus comandantes.
- Preciso da sua ajuda. - disse Lyanna, sem rodeios, interrompendo a conversa.
Oberyn ergueu o olhar e se percebeu intrigado com a expressão determinada no rosto dela. Ele gesticulou para que seus comandantes saíssem e quando ficaram sozinhos, se virou completamente para ela.
- O que você deseja, esposa? - Ele perguntou com um sorriso, já tendo uma ideia do que viria a seguir.
- Quero que você me ajude a reunir as forças de Dorne. - Ela disse com firmeza. - Precisamos de um exército. Preciso levar a luta ao Norte, para vingar meu irmão e proteger o que restou da minha casa. E você... você me prometeu que lutaria ao meu lado quando a hora chegasse.
Oberyn a estudou por um longo momento.
- E por que eu deveria fazer isso? - Ele perguntou mantendo o meio sorriso.
- Porque nossos inimigos são os mesmos. - Lyanna respondeu sem hesitar. - Os Lannisters. Eles tomaram sua irmã, seu sobrinho, sua família. E agora, tomaram meu irmão. Não podemos permitir. O Norte sempre se lembra.
Oberyn assentiu, estava mais do que satisfeito e inspirado com a resposta. Ele sabia que Lyanna estava falando a verdade, mas também sabia que havia mais em jogo do que simples vingança. Ele queria compreender o que ela havia tirado de tudo aquilo e que pudesse ser algo que visse além da raiva e da dor.
- As forças de Dorne não são tão simples de mobilizar, Lyanna. - Ele começou a explicar. - Os senhores de Dorne são leais, mas são orgulhosos, e não se dobram facilmente. Convocá-los para uma guerra não é algo que se faz de ânimo leve. Além do fato de que estão em termos de paz com Porto Real. Essa vingança é nossa, significa que em muita coisa seremos só nós.
- Então, vamos mostrar a eles o que está em jogo. - Lyanna estava resoluta. - Vamos lembrá-los do que significa a verdadeira justiça. E se isso não for suficiente, encontraremos outra maneira. Precisamos só de uma guarda discreta para chegar no Norte, lá reunirei os homens necessários. A partir disso, o exército de Dorne pode se movimentar a nosso favor e em um momento oportuno conseguiremos cercar Porto Real...
Oberyn sorriu e tocou o rosto dela.
- Admiro sua inspiração, mas vamos verificar o passo a passo. - Ele se levantou e caminhou até a mesa no centro do salão onde havia um mapa detalhado de Westeros. Ele passou o dedo pelas terras do Norte, até a região que uma vez pertencera aos Stark.
- Você está pronta para isso, Lyanna? - Ele perguntou, sua voz baixa, quase um sussurro. - Porque uma vez que cruzarmos essa linha, não haverá volta. A guerra muda as pessoas.
Lyanna respirou fundo, sabendo que ele estava certo. Mas também sabia que não tinha outra escolha. Sua família precisava dela, e ela não podia falhar.
- Não tenho mais nada a perder. - Ela disse finalmente, expressando uma convicção que surpreendeu até a si mesma.
Oberyn assentiu, ele sabia que essa luta seria difícil, mas também sabia que Lyanna não estava mais sozinha. Eles tinham um ao outro, e juntos, poderiam enfrentar o que viesse pela frente.
- Então vamos começar - disse ele, voltando sua atenção para o mapa. - Há muito a fazer, e pouco tempo para planejar. Precisamos reunir nossos aliados, preparar nossas tropas, e decidir a melhor forma de atacar. E o principal: deseja ir até sua irmã Sansa ou embarcar para o Norte?
Lyanna se aproximou pensativa, sentindo uma nova determinação se formar dentro de si. Ela olhou para o mapa, visualizando cada movimento, cada batalha que estava por vir. A guerra havia começado, e ela estava pronta para liderar. Ela então olhou nos olhos de seu esposo enquanto o caminho começava a se formar em sua mente. Ela sabia que o caminho à frente seria perigoso, mas pela primeira vez em muito tempo, sentia que estava onde deveria estar.
E assim, com a força de Dorne ao seu lado, Lyanna Stark se preparava para levar a guerra ao Norte, para vingar seu irmão, e para proteger aqueles que ainda amava. Ela sabia que a batalha seria longa, e que muitos desafios ainda a aguardavam. Mas estava pronta para enfrentar cada um deles, e dessa vez, não lutaria sozinha.
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