03 - LUA DE SANGUE
DA JANELA DE SEU QUARTO, Lyanna podia ouvir e ver as centenas de pessoas que chegavam ao castelo. Grupos de nobres e ricos chegavam no pátio e se dirigiam até o interior de Lançassolar com seus robes e vestidos esvoaçantes. No horizonte o intenso pôr do sol deixava todo o céu rosa e alaranjado, para além dos muros era possível ouvir também a cantoria do povo.
Ela estava decidida a cumprir o seu dever, afinal, se fosse fugir pelo deserto acabaria morrendo ao invés de conquistar a liberdade. Já havia repassado aquele plano em sua mente milhares de vezes e ainda não havia encontrado uma saída para si. Desempenharia o papel que esperavam dela, seria um cordeiro obediente até que a hora lhe fosse oportuna para atacar.
O vestido de Lyanna era uma seda prateada, ela usava um arco que tinha pequenas luas penduradas, as saias do vestido eram cinzentas como a bandeira do norte. Tudo o que ela vestia naquela noite de seu casamento era extremamente simbólico. Uma mensagem de que não importa o que fizessem com ela, Lyanna nunca esqueceria de onde viera.
Um grupo de servos a cobriram com um véu prateado e a guiaram para for de seu quarto, passearam pelos corredores vazios e se dirigiram a direção do grande salão aberto de Lançassolar. As vozes e os burburinhos da festa começaram a ficar mais altos, Lyanna podia sentir seu coração palpitar e as mãos começarem a suar. Ainda assim, seus passos eram firmes e seu olhar por baixo do véu permanecia firme.
Quando ela chegou ao salão, todas as vozes se calaram, as pessoas imediatamente deram passagem enquanto um dos servos anunciava:
— Lyanna Stark, terceira de seu nome, o deleite do Norte, a loba exilada e noiva de Oberyn Martell.
Ela não gostava particularmente da última parte e achava que "loba exilada" a fazia parecer vulnerável, mas a Rainha Cersei insistia em lhe dirigir a alcunha desde que o acordo do casamento havia sido arranjado. Lyanna não falou contra pois esperava que o título que Cersei havia criado fosse o mesmo que tirasse o sono da rainha à noite.
Os servos a conduziram até a mesa elevada onde estava a família real de Dorne, todos respondiam pelo título de Príncipes e Princesa. Oberyn se levantou e se colocou diante da mesa enquanto ela subia os degraus até o seu encontro.
O príncipe vestia um robe dourado com o sol desenhado em costura nas costas e no peito. O robe deixava seus braços nus exibindo seus músculos e sua força. Lyanna percebeu que ele havia escolhido usar dourado e aquele padrão para combinar com ela. Quando ele pegou em sua mão e se inclinou, sussurrou em seu ouvido:
— Olhe para o céu.
Lyanna inclinou a cabeça para cima, Oberyn descobriu o seu rosto jogando o véu para trás. Ela podia ver a lua surgindo no horizonte, parecia bem maior do que o habitual e sua coloração estava ficando mais avermelhada. Então ela compreendeu a escolha do robe de Oberyn, porque se ela era a lua, o príncipe era a força sangrenta por trás dela.
— Seria prudente para você? Pode acabar enviando a mensagem errada. — Lyanna sussurrou para ele.
Oberyn riu como se ela tivesse dito algo extremamente divertido.
— Ah, Lady Stark, eu sei exatamente qual mensagem estou enviando para Porto Real. — Ele sorriu e a guiou para a frente da mesa.
Todos se sentaram, a família de Oberyn ficou de pé. Doran Martell ficava na cadeira do meio já que era o irmão mais velho de Oberyn e Senhor de Lançassolar. Ele sorriu para Lyanna e beijou-lhe a mão.
— Gostaríamos que fossem circunstâncias mais felizes para você, Senhorita Stark. Espero que o casamento seja uma felicidade em um momento difícil. — Doran falou e Lyanna agradeceu.
Observou os filhos de Doran sentados ao lado dele, olhou para os convidados ao redor e algo em seu peito doeu. Doeu não ter a sua família com ela e antes que pudesse dizer algo, seus olhos se encheram de lágrimas.
Por um segundo desesperador, Lyanna se forçou a não chorar, a ideia de parecer vulnerável na frente de todos em seu casamento lhe pareceu aterrorizante. Oberyn notou sua expressão e segurou a mão dela com a direita enquanto a esquerda tomava firmemente a sua cintura, o gesto lhe passou segurança.
Ele a conduziu para o Septão diante da família real de Dorne. O homem olhou para os dois e então declarou:
— Nos reunimos hoje aqui diante dos deuses novos e antigos, e diante de todos os homens, para testemunhar a união de um casal: uma carne, um coração, uma alma, agora e para sempre.
Oberyn e Lyanna ficaram de frente um para o outro. Ele olhou em seus olhos, ela podia ver o reflexo das chamas de cada vela no local refletida em sua órbita. Seu olhar era intenso, apesar de quieto, ele a observava com cuidado e atentamente. A mão dele segurava a dela de forma gentil, seus dedos acariciaram a sua pele enquanto ele recitava os seus votos:
— Eu sou seu e você é minha a partir de hoje até o meu último dia. — Ele se inclinou na direção dela e acrescentou algo que era dele e não um voto ensaiado. — Assim como você é a lua da minha vida, serei como o sol para você, para que esse amor esteja sempre presente dia e noite mesmo que distante dos olhos um do outro.
Lyanna olhou dos olhos dele para os lábios enquanto se moviam, ela não conseguia sentir as pernas. Se pegou querendo acreditar naqueles votos, mas também sentia que não podia confiar em ninguém. Sentiu a vontade de olhar para os convidados na esperança de ver um rosto amigo ou quem sabe o olhar encorajador de sua mãe, mas sabia que não encontraria ninguém. No final, ela só tinha a Oberyn.
— Eu sou sua e você é meu a partir de hoje até o meu último dia. — Lyanna declarou, poderia não saber se confiaria sua vida a Oberyn, mas com certeza poderia decidir quando seria o seu último dia - tanto o dela quanto o dele. — Assim como você é o sol para mim, eu serei como a lua para você, para lembrar que toda noite de angústia termina ao amanhecer.
Oberyn não esperou pelo Septão, ele tomou Lyanna em seus braços e a beijou. A beijou como quem lhe desejava, lhe beijou com o calor de mil sóis, como se esperasse por aquele momento. E após o beijo ele sorriu e ergueu os braços para os convidados que comemoraram.
A noite seguiu em festa com muita dança, bebida e comida. Oberyn sentou ao lado dela e juntos eles recebiam as felicitações e presentes de representantes e nobres de toda Westeros. A maioria era seda, prata, porcelana e utensílios que Lyanna não se preocuparia em usar. Até que um representante da Casa Lannisters tomou a frente, o rapaz se aproximou acompanhado de outro servo que carregava o que parecia ser um presente.
— A Rainha Cersei Lannisters mandou seus cumprimentos de Porto Real e felicitações ao casal. — O rapaz declarou fazendo Lyanna quase revirar os olhos. O menino desembrulhou um pedaço de papel e leu as palavras da Rainha. — Querida e doce Lyanna, espero que o enfeite possa ser uma boa lembrança e que abençoe o leito seu e de seu amável esposo.
O segundo servo tomou a frente levantando o pesado presente. Oberyn percebeu um instante antes de Lyanna de modo que segurou a mão dela de forma como se fosse acalmá-la. Mas, por um longo segundo de choque e horror, Lyanna não reagiu.
Seus olhos ainda observavam sem entender a forma que a figura tinha, as cores dos olhos sem vida, a pelagem branca e os dentes exibidos na boca entreaberta. A cabeça de lobo gigante empalhada lhe pareceu cruel, mas foi pior ainda quando o choque a fez reconhecer o padrão da pelagem.
Lyanna se levantou, algo em seu peito martelava.
— — Auriel….? — Ela sussurrou.
Oberyn passou os braços ao redor dela e sussurrou em seu ouvido:
— Presta atenção, milady, não se desespere.
— Auriel… — Ela sussurrou estendendo a mão devagar, mas recuou no meio do caminho. Não poderia tocar a sua loba assim.
Todos os convidados estavam em silêncio e observando.
— Você conhece a sua loba, Lyanna. Essa não é ela. — Oberyn sussurrou. Ele tocou o rosto dela para que ela olhasse em seus olhos. — Confie em mim. Isso foi planejado para te assustar, mas não é a sua loba.
Lyanna olhou dos olhos de Oberyn para a loba e mesmo que fosse quase insuportável, ela observou o animal com mais cuidado. Era extremamente raro encontrar lobos gigantes e ainda mais um que pudesse ser caçado e morto, mas Cersei havia se dado o trabalho. O pelo branco com manchas caramelizadas lembravam muito o de Auriel, mas o padrão era diferente e a tonalidade um pouco mais escura.
Ela respirou fundo e declarou ao servo:
— Diga à Rainha que seu presente foi de fato a maior surpresa da noite. Irei pensar com cuidado em como retribuir tamanho gentileza.
Oberyn suspirou aliviado e a soltou devagar. Os dois voltaram a se sentar, Lyanna ainda tentativa digerir o que havia visto e percebeu que precisava perguntar a ele.
— Como você soube?
— O quê? — Ele perguntou enquanto terminava uma taça de vinho.
— Como soube que não era a minha loba? — Ela insistiu.
— Porque só eu e um servo sem língua sabemos que sua loba está em um lugar seguro. — Ele murmurou a contragosto, não parecia querer ter revelado naquele momento. E então ele olhou nos olhos de Lyanna. — Eu queria que fosse possível trazê-la para você, mas o deserto não é o local para um lobo.
— Quer dizer que está ajudando a manter Auriel segura? — Ela sussurrou surpresa.
— Ela matou um dos cuidadores e arrancou a mão de outro, mas estou tentando fazer possível. — Oberyn deu de ombros como se não fosse grande coisa.
Mas para Lyanna era, Oberyn ter se certificado de que a loba estaria segura era o mesmo que ele ter guardado o próprio coração de Lyanna com ele.
Aquilo fez com que ela tomasse uma decisão.
— Está na hora de levar sua esposa para a cama, meu príncipe.
notas: eu não consigo dizer mais nada além de "eu amo esses dois". se vocês agitarem nós comentários eu publico o próximo capítulo amanhã às 23h. quem puder dar uma força na fanfic do Joel, corre lá e comenta por favor! ah e vocês leriam uma fanfic do mando? tenho uma quase pronta.
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