Em meio à enigmática penumbra, no recôndito de uma antiga garagem, repousava oculto aos sensíveis olhos mundanos. A carne, essa essência primal que nutre a vida, tornara-se a fonte de sua subsistência. A origem e propósito, nebulosos a Antônio, ecoavam como sussurros em sua mente, nas traduções ilegíveis e soltas do livro que jazia em suas mãos trêmulas. Uma herança deixada por seu pai ausente, um chamado à ação no meio da desesperadora noite.

Envolvido pelo indizível desalento que acometia sua mãe, entregou-se de corpo e alma, seguindo os sussurros cegamente. Como uma ave perdida em seu voo, buscava freneticamente o alimento para seu "anjo", enquanto era corroído por dúvidas e incertezas. Ouvia-se o asqueroso triturar dos cadáveres, justificando suas ações com uma teia de racionalizações. Afinal, acaso não mereciam tal destino todos aqueles que se interpunham em seu propósito de salvar a vida de sua amada mãe?

A criatura erguia-se como guardiã do pacto provido pelo Livro, capaz de afastar a enfermidade que acometia sua mãe. Do fruto proibido provara, agora não havia mais arrependimentos. Ao adentrar o quarto de sua genitora, o pútrido cheiro de decomposição denunciava que o ritual havia falhado. As vozes não sussurravam mais.

As verdades obscuras e realidades distorcidas se entrelaçavam numa teia nefasta.