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Capítulo 4 Bolhas

Rosa não percebeu em que ponto da aula ela adormeceu, apenas que estava acordada quando quase caiu da banqueta. Ouviu uma risadinha infame e olhou ao redor, reconhecendo que estava no laboratório recém reformado e que – não era um pesadelo! – ela estava mesmo sentada ao lado de Mayo.

Relanceando o olhar, ela reparou no quanto o laboratório ficou diferente depois da reforma. Aproveitaram para fazer enquanto os alunos estudavam em casa. E por falar em casa, ela não podia se esquecer de cadastrar os pontos virtuais obtidos para converter depois em notas de atividades bimestrais.

Ela ainda não entendera muito bem esse sistema de avaliação. Foi uma espécie de alternativa para que os professores pudessem avaliar as trilhas pedagógicas criadas às pressas para manter o nível de qualidade da educação ofertada à distância. O corpo pedagógico da instituição passou dias e noites trabalhando no planejamento das aulas, num esforço coletivo gigantesco para que os alunos não perdessem o conteúdo por causa de um vírus safado.

Mayo se remexeu ao lado dela, de maneira intencional (para impedi-la de voltar a cochilar). Lançou-lhe um olhar reprovador, que Rosa fez questão de ignorar. O silêncio que se seguiu chamou a atenção dos dois para a lousa, onde o Professor Copérnico tomava fôlego, antes de continuar a falar. A turma imaginou que estivesse tirando o atraso do tempo perdido em torturar os alunos. Sabe como é, sem desfrutar do prazer de obrigá-los a ouvir os seus longos, muito longos discursos sobre os alcances e avanços da Física.

E não, nenhum dos alunos considerava a situação uma piada.

Rosa começou a devanear que o pai do professor deve ter lhe dado o nome de Copérnico porque era fã do cara. Imaginou que treinou o rebento para ser um físico renomado. Na real, ela bem que gostaria de saber como os pais dele lidaram com a decepção de descobrir algo incontestável: no Brasil, a física só tinha plateia cativa numa sala de aula.

Tipo, na marra!

Com um suspiro, ela espiou o seu novo parceiro de laboratório, por baixo dos cílios. Depois, deu uma analisada nas outras duplas. Que roubada! Como foi parar numa roubada dessas? Ah, sim... O laboratório novo tinha doze mesas de trabalho, pelas quais se distribuíram os alunos, em duplas. Contudo, as duplas foram escolhidas pelo professor Copérnico, conforme suas interações sociais. Aqueles que viviam grudados como chicletes foram separados. Aqueles que interagiam menos ficaram juntos.

Tentativa cruel, diriam alguns, de eliminar as panelinhas.

– Bolhas, meus caros alunos – estava dizendo o professor. – Assim são comparados os múltiplos universos na teoria das cordas.

Como o professor olhasse para ela, em particular, Rosa piscou.

– Hein?

– Quantas são as cordas, nesta teoria, Rosa? – ele perguntou.

Ela engoliu em seco.

– Sete – sussurrou Mayo, quase sem mover os lábios.

– Sete – ela repetiu mecanicamente.

– Muito bem... – Copérnico esqueceu-se deles e se voltou para outra dupla.

– Valeu! – Rosa murmurou, respirando aliviada.

– Não foi de graça... Já que seremos parceiros, espero que você não abaixe a minha nota nesta matéria. Eu sou ótimo em Física e sei que você é uma negação!

– Sou mesmo, e não me sinto constrangida com isso...

Ela quase o lembrou que foi ele quem rejeitou três vezes os papeizinhos contendo os nomes dos outros alunos... Só aceitou quando foi o nome dela. E, claro, Rosa virou a ovelha de sacrifício para o contentamento de todos que queriam fugir de formar par com Mayo.

– Por outro lado, – ele acrescentou, aos sussurros, para não chamar a atenção do professor. – Você escreve melhor do que todos outros... Assim, eu proponho uma aliança. Eu faço os cálculos e você redige as explicações no trabalho escrito.

Ah, então foi por isso que ele aceitou o nome dela... O calculista!

– Negócio fechado – disse ela, com má vontade e meio desconcertada com o olhar direto do garoto. Um olhar ambarino. Rosa desviou o seu para o caderno. – Mas para eu explicar no papel, você vai ter que me explicar.

De repente, sentiu um dedo calejado sob o seu queixo. Ele levantou o rosto dela para ele. – Claro, pode deixar que eu explico a matéria.

– Sem contato físico, pessoal – disse o professor lá da frente, assustando os dois. – Lembrem-se das regras de higiene.

– Minhas mãos estão empapuçadas de álcool em gel – reclamou Mayo. – Além do mais, sei que Rosa tem asma. Eu jamais arriscaria a vida dela.

– Ooohhhh – ousou dizer Sol, lá da outra mesa e levou uma cotovelada de Thiago.

– Quê?

Será que Sol não percebia que era muito perigoso debochar de Mayo? Thiago olhou para ela como se fosse uma sem noção, como todo mundo, aliás. Mayo começou a rir baixinho da reação dos amigos de Rosa.

– Ei, Mayo, topas que eu veja a sua sorte? – Perguntou Sol, sem se importar com os demais colegas.

– Não, obrigado – respondeu Mayo. – Nesse ponto, concordo com a professora de história. Acho que não devemos brincar com essas coisas.

Sol mostrou-lhe o dedo do meio, já que não podia mostrar a língua. A máscara cortava todo o barato. Mayo não viu, porque estava de costas.

– Eu lá quero saber do futuro – ele murmurou mais para si mesmo.

Rosa inclinou-se na sua direção e também murmurou:

– Você precisa manter a sua fama de mau.

Mayo a encarou de lado, inclinando a cabeça.

– Não é fama, meu bem. Eu sou mau mesmo.

– Nossa, que original – disse Rosa, revirando os olhos.

Mayo soltou uma risadinha incrédula. – Você não tem medo de mim?

Rosa ergueu o olhar para encontrar o dele. Mayo era tão mais alto, que Rosa engoliu em seco, mas não foi de medo. O coração deu um pulo no peito. Tentou sair pela tangente, só que falando uma parte da verdade:

– Só tô fazendo o tipo "inteligente & descolada", já que todo mundo aqui me considera uma tapada boca mole. Inclusive você.

Mayo ficou calado por algum tempo. – Eu não acho você tapada.

Sem saber o motivo, o coração de Rosa deu outro pulo dentro do peito.

– Boca mole, talvez... Mas tapada jamais – ele concluiu, com um sorriso debochado.

Rosa ficou tentada a jogar as bolinhas magnéticas nele, mas se controlou. Não lhe daria o prazer de demonstrar que tinha o poder de atingi-la.

– Ei, professor – ela escutou Joaquim chamar, lançando um olhar atravessado a sua parceira de atividade, a bela e glamourosa Bárbara. – É contra as normas de higiene da Organização Mundial da Saúde ficar assim, tão perto uns dos outros.

Copérnico suspirou, lembrando-se de repente porque Joaquim era o aluno que ele menos gostava. – Estamos seguindo todas as normas, Joaquim...

– Isso é o que o governo diz, mas só dá gente infectada por aí – e lá foi outro olhar atravessado para Bárbara, que levou as mãos à cintura.

– Espera um pouco, seu metidinho! Eu não estou contaminada!

– Quem garante? – rebateu Joaquim, inabalável. – Pode se afastar mais de mim!

– Acontece que eu já estou na beirada da mesa – mostrou Bárbara. De fato, a coitada estava com o caderno quase caído e ela, quase no corredor.

– Dois metros – insistiu Joaquim. – Você tem que ficar a dois metros de distância.

– Epa! – reclamou Ingrid do outro lado – se ela se afastar mais, daqui a pouco vamos formar um trio, aqui do outro lado.

-Gente, por favor! – disse um Copérnico arrasado, tentando manter o entusiasmo e a paixão pelas leis da física que estava prestes a oferecer aos seus alunos (se eles deixassem, é claro...) – A OMS fala em um metro e meio, Joaquim. Estamos seguindo a risca! Quer a fita métrica para comprovar?

Pego na desinformação, Joaquim não desistiu: - Seguro morreu de velho... Além do mais, estudos dizem que dois metros é uma distância mais segura. Sempre tem um mal educado tossindo de boca aberta ou espirrando tipo chuveirinho, sem dar a mínima para os outros – e lançou outro olhar para Bárbara.

– Está me chamando de mal educada, agora? – questionou a garota, perigosamente calma. – Ou de porca?

Os colegas o vaiaram. Copérnico pediu ordem. O pessoal silenciou. Achando que a questão estava encerrada, ele foi ansioso para a lousa a fim de escrever. De repente, Joaquim voltou a falar:

– O que tem a ver o experimento que vamos fazer com essas bolinhas magnéticas ridículas e os universos bolhas?

Copérnico ficou parado, com o pincel atômico a meio caminho da lousa... Ele respirou fundo, contou até três, então se voltou para o aluno pentelho.

– Nada. Foi apenas um contexto informativo.

Joaquim franziu o cenho e abriu a boca. Copérnico escutou alguém chamá-lo na porta e foi até lá, dando graças a Deus.

– Contexto informativo – Joaquim torceu os lábios com desdém e ficou falando sozinho. – Em primeiro lugar, que conceito é esse? Contexto já é informativo por definição. O homem está sendo redundante. Em segundo lugar, por que eu perdi tempo em escutar toda essa baboseira sobre bolhas. Em terceiro lugar...

– Em terceiro lugar – disse Mayo, interrompendo-o. – Acho melhor você calar a boca.

– Senão o quê? - Joaquin reagiu num impulso. Só depois se arrependeu do que disse. Mayo virou-se para ele. Os alunos fizeram "uuuuuuuu", baixinho.

Joaquim lançou um olhar arregalado para as costas do professor Copérnico, que ainda estava ocupado conversando com alguém na porta.

– Senão – disse a voz lúgubre de Mayo – eu vou te procurar, vou te caçar, e vou te dar uma sova.

Joaquim olhou para trás, horrorizado. Rosa tentou com muito empenho segurar o riso, mas não conseguiu. Afinal, Mayo acabara de parafrasear a fala de Liam Neesam em "Busca Implacável". Todo mundo começou a rir.

Irritado, Joaquim respondeu: - Quero ver você tentar!

A sala silenciou até virar um túmulo. Joaquim disparou os olhos de um lado para o outro.

– Péssima resposta, cara – murmurou Thiago.

– Foi a resposta que eu queria – comentou Mayo, em tom dúbio.

– Professor, – Joaquim levantou a mão quando Copérnico voltou a circular entre as mesas. – Acho que não estou me sentindo bem. Sinto dor de garganta. Provavelmente peguei COVID e vou contaminar a sala toda. O senhor me libera, né?

Já pensando nos quatorze dias que iria ficar em casa, Joaquim começou a recolher seus pertences, enquanto todo mundo arrastava as cadeiras para longe dele. Bárbara, sua parceira de laboratório mal acreditava nas coisas que saltavam da boca daquele garoto.

Copérnico observou Joaquim guardar as coisas na mochila em tempo recorde.

– Está liberado, claro, Joaquim – disse o professor. – Mas só depois que você passar na enfermaria e fizer o teste. Não se esqueça de pegar o recibo do teste para que seus pais entendam porque o valor será acrescido da mensalidade. E eles precisam comparecer à direção para explicar porque você veio para aula com sintomas de COVID.

– E isso é que eu chamo de um baita efeito Mandela – debochou Thiago – que deu errado.

– O que é isso? – Quis saber Bárbara, mais curiosa pela possibilidade de ter algo contra Joaquim, do que sobre o conceito em si.

Mas ao invés de Thiago responder, Joaquim lhe lançou um olhar superior, antes de passar com raiva as alças da mochila pelos braços. – É quando as pessoas transitam por diferentes dimensões e se lembram de eventos que não ocorreram em sua realidade. Acontece que isso não existe, a Psicologia chama simplesmente de "memórias falsas".

– Sei, que interessante... – Bárbara levou o dedo indicador à máscara de Hello Kitty. – Então, talvez em outra dimensão, eu tenha lhe passado COVID. Boa quarentena pra você!

Joaquim arrastou os pés para fora. Quando ele estava passando pela porta, Ingrid informou, prática como sempre: – Não se esqueça de que a gente tem pesquisa na biblioteca para fazer, cuzão. Se você estiver no meu grupo, vai ter que ralar, mesmo de quarentena!

– Cuzona é você! – Joaquim atirou de volta, irritadíssimo.

– Joaquim e Ingrid! Não permito esse tipo de linguajar em minha aula – Copérnico apontou o dedo, odiando o lado mundano da sua aula. Se fosse para viver um momento Mandela, ele gostaria de se lembrar de alguma vez ter viajado nos números e os alunos terem assimilado os conceitos sem que ele tivesse que lidar com a falta de educação desses jovens destrambelhados.

Maldição! Por que a NASA rejeitou o seu currículo!?

Joaquim passou pelo professor e se afastou, ajeitando a mochilona nas costas. Ainda escutou Bárbara comentar com Ingrid.

– Coitado... Esse daí não dá uma bola dentro.

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Durante o recreio, Rosa e seus dois únicos amigos no mundo inteiro ficaram afastados dos outros (o quanto era possível ficarem afastados), dentro do pátio coberto. Aliás, a maioria dos grupinhos se afastou bem dos outros. O primeiro recreio em um ano inteiro de pandemia, e os alunos ainda estavam, como disse Sol mais cedo: "Esquentando os motores".

No centro do pátio, Mayo se sentou sozinho diante do mastro da bandeira, em posição de yoga, e começou a meditar.

– Véi... – Thiago balançou a cabeça olhando para ele. – O cara é bizarro.

– Será que ele é tão gostoso quanto parece...? – Sol mordeu o lábio e deu uma risadinha sem noção.

– Quê? – Rosa e Thiago disseram ao mesmo tempo, chocados com o olhar interessado de Sol.

– Nada não, eu hein, tô só divagando... – desconversou Sol, arrependida do rompante. Pensou em voz alta e nem percebeu. – Ei, galera! Depois de tanto tempo com a gente se falando só pela internet, que tal se eu visse a sorte de vocês?

Rosa adorou a ideia. Thiago também. Principalmente porque ambos sabiam o quanto Sol se sentia útil e animada em ajudar os amigos, num contraste enorme com sua vida em família.

Animada, a garota tirou o estojo contendo as cartas. Do outro lado do pátio, os olhos de Bárbara voaram na direção dela. Disfarçou e foi como quem não quer nada na direção do bebedouro. Passou por eles e disse baixinho: – Eu também quero!

– Vinte paus! – comunicou Sol, em voz alta.

Bárbara congelou, por um momento, deu um sorrisinho amarelo para Clarice e Ingrid e, então, voltou-se furiosa para Sol: – Não dedura, né?

– Tem vergonha de que as amiguinhas vejam você com a cigana? – Sol sugeriu desdenhosa.

– Não, é só... – Bárbara balançou a cabeça. – Não é esse o ponto. Você não cobra deles! – e apontou para Rosa e Thiago. – Por que está cobrando de mim?

– Acontece que eles são meus amigos. Você é só cliente – disse Sol, toda profissional.

– Tá bom – Bárbara tirou o dinheiro da carteira, de maneira ostensiva. – Toma, sua mercenária!

– Dinheiro é anti-higiênico – comunicou Sol, sem pegá-lo. – Aceito pix ou transferência bancária até o final do recreio.

– Ok – Bárbara a encarou como quem diz: "Quem é você!"

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Sol encerrou as transações exotéricas antes de alguém cantar a pedra de que Henrietta Casas estava saindo da sala de professores. Só Deus saberia o destino final da professora e qual o caminho ela escolheria para chegar até lá – fosse onde fosse! Henrietta possuía o "dom" de surgir inesperadamente, e flagrar os alunos em seus piores momentos.

A palavra correta era esta mesma: "flagrar".

Com o fim do recreio, as turmas do terceiro ano seguiram para a quadra de esportes, em fila. Cada fila mantendo a distância de um metro e meio entre cada aluno. Assim, Rosa teve que falar um pouco mais alto, por sobre o ombro, para responder a um comentário de Thiago. – Vai começar a tortura.

– Eu ouvi isso, Senhorita Ciesco – soou a voz da professora Casas.

Num estado de pavor chocalhante, Rosa e todos os outros alunos olharam ao redor. Não podia ser. Era uma miragem, claro. Afinal de contas, a aula era de educação física e não de história.

– Não, vocês não estão alucinando – disse a professora Henrietta. – A professora de educação física de vocês fez o exame e deu positivo para Covid. Entrou em quarentena, ontem à tarde. Vamos dedicar um minuto para orar e torcer pelo seu pronto restabelecimento.

Ela baixou a cabeça, fechou os olhos e os alunos ficaram sem saber o que fazer. – Quanto mais tempo demorarem, mais tempo levarão para sair da quadra.

Todo mundo fechou os olhos e alguns realmente oraram. Rosa tinha a impressão de que Henrietta Casas sabia exatamente quem estava, e quem não estava rezando.

Por via das dúvidas, decidiu rezar também.

Ao final da oração, escutaram-na dizer "amém" e abriram os olhos aos poucos, desconfiados.

– Agora, senhores... – ela ofereceu o seu famoso sorriso de crocodilo. – Peguem a bola e arrasem na quadra.

Joaquim surgiu esbaforido na entrada do ginásio. Apoiou uma das mãos no joelho e levantou a outra.

– Ora, ora, senhor Kowalsky. Pensei que havia sido dispensado por suspeita de COVID – comentou a professora, num tom levemente irônico.

– O-o exame deu negativo... – ele respirava aos borbotões, porque deve ter atravessado o colégio correndo. – Pera... O que a gente faz como? – indagou apologético.

Recebeu uma bolada na cara. Bárbara, a autora do crime, riu e respondeu: - O que você acha covideiro? A gente joga!

Joaquim surtou abanando sem parar na frente do rosto.

– Ela jogou uma bola cheia de coronavirus em mim! Vou processar geral!

– Calma, senhor Kowalsky – recomendou Henriettra, olhando feio para Bárbara. – Essas bolas são higienizadas a cada uso.

– Tem certeza? – Ele olhou desesperado para a professora. Isso abrandou um pouco o humor dela.

– Tenho – usou um tom não tão enérgico. – As regras aqui são seguidas nos mínimos detalhes. Agora, o senhor trate de entrar na quadra e ocupe a posição que a professora de educação física costuma lhe dar... – vendo que ele olhava horrorizado para a equipe, ofereceu: – Ou pode correr umas dez voltas na pista de atletismo.

Joaquim contemplou a pista de corrida, ao redor da quadra, depois se voltou para Bárbara e disse: – Prefiro correr.

Rosa aproveitou para se juntar a ele, pela mesma razão. Sabia que seria massacrada na quadra. – Eu também vou!

E Thiago e Sol se juntaram a ela, por solidariedade. (Direitos iguais para todos. Se a professora ofereceu a um aluno, teria que permitir os outros também).

– Muito bem... – disse Henrietta, um pouco surpresa. – Podem correr então...

Fez um gesto com a mão pequenina, para que fossem de uma vez. Eles alcançaram a pista. Joaquim olhou para os três amigos e disse: fiquem duas pistas para lá. Não quero ninguém fungando no meu cangote.

– Seu idiota – Thiago comprimiu os lábios por trás da máscara. – Ninguém vai fungar no seu cangote.

Mas Joaquim já estava correndo, encurvado, assustado, como se o diabo estivesse em seus calcanhares.

– O que há com aquele garoto? – Rosa indagou, observando-o.

– Acho que ele era hipocondríaco antes da pandemia... – comentou Sol, encolhendo os ombros.

– E agora, ele é o quê? – quis saber Thiago, aquecendo para correr.

– Surtado? – ofereceu Rosa, com um meio sorriso, alongando-se.

– Sei não, mano – disse Sol, imitando a amiga. – Acho que se alguém tirar a máscara a uma distância de mil metros dele, Joaquim será capaz de ceifar vidas, pendurado de ponta cabeça... Como a carta do maluco ou do ermitão.

– Engana-se, senhorita Calon – disse Henrietta atrás deles. O susto foi tão grande, que os três pularam para frente. – A carta a que se refere é "o louco". Se conhecesse tanto o tarô, saberia a diferença entre o ermitão e o louco. Este, sim, está pendurado de cabeça para baixo. E a propósito, nenhum dos dois ceifa vidas. Quem ceifa vidas é a representação contida na carta da morte.

– Hum... – Sol não quis dar o braço a torcer. – Semântica.

– Não é questão de semântica, Srta. Calon – Henrietta irritou-se. – É uma questão de reconhecer os arcanos e respeitar o equilíbrio entre eles, no universo.

– Ah, tá...

Com um suspiro, Henrietta mudou de assunto. – Creio que a senhorita Ciesco tenha apontado parte da verdade, mesmo que de maneira nada lisonjeira. O senhor Kowalsky está no limite. Vamos respeitá-lo.

– A gente respeita o Joaquim – argumentou Sol, acionada pelo seu gatilho de solidariedade.

– Eu quis dizer respeitar o limite dele – explicou Henrietta, com a paciência por um fio.

– Ah, tá. – Sol trocou o peso do pé. – Vem cá, a senhora já chamou algum aluno pelo primeiro nome antes?

– Não, eu "não vou aí", Senhorita Calon. – Henrietta apontou para a pista. – Agora, corram!

E eles correram.

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A certa altura da corrida, Mayo os ultrapassou como se estivesse correndo no parque... Sua resistência física era de causar inveja, mas, também, ele era filho de um ditador da boa forma, considerou Rosa, torcendo os lábios. A máscara preta dele parecia uma focinheira, concluiu com maldade.

Os três amigos começaram a se sentir sufocados com as máscaras, antes mesmo de começar as voltas na pista, mas não queriam pedir para tirá-las. Nem ousavam cogitar tal coisa, levando-se em conta de que estariam colocando os colegas em risco. Além do mais, Joaquim iria realmente ter um ataque, se fizessem isso.

Outra vez, perceptiva, Henrietta antecipou suas angústias.

– Se cada um de vocês ficar a uma distância prudente, digamos, de dois a três metros, podem tirar as máscaras. Mas devem ficar afastados do resto do grupo.

Thiago riu baixinho. – Deixa o povo lá jogando vôlei, de máscara. Quero ver como a poderosa Ingrid lidera a equipe com a cara tapada de panos. Ela, que adora gritar ordens como uma princesa-guerreira!

– È mesmo! – Rosa observou Ingrid sacar, antes de Sol chamar a sua atenção para o olhar de Henrietta sobre ela.

– Vai ficar contemplando a vida, senhorita Ciesco, ou vai fazer a sua parte?

– Fazer a minha parte, né? – disse Rosa, levemente irônica; deu meia volta. – Estamos aqui para isso!

Os três foram para o outro lado da pista de atletismo, onde Mayo já estava na sétima ou nona volta. Rosa não saberia dizer, porque não quis contar. A camiseta regata do bad boy revelava os braços e ombros suados, indicando que ele realmente estava levando a sério os exercícios.

Quando passou por eles, mediu Rosa com indolência e perguntou: – Vai correr de jeans e moletom?

– Não é da sua conta – foi a resposta dela. Ele continuou correndo, deixando no ar uma risadinha infame.

Sol se aproximou dela a uma distância de um metro e meio.

– Reparou que o cara mais assustador da escola anda muito engraçadinho ultimamente? – ela comentou, soprando o cabelo do rosto. – E definitivamente, está de olho em você.

Thiago chegou pelo outro lado.

– Reparou que a nossa Rosa aqui anda revelando alguns espinhos? – questionou, no mesmo tom conspiratório. – Perdeu o medo foi?

– Parem de me provocar, os dois – Rosa disparou os olhos de um para o outro. – Nunca tive medo de ninguém. Ela parou apenas para tirar a calça jeans, revelando uma bermuda colante por baixo.

– Não, imagina... – contra-argumentou Thiago. – Esconde-se dos valentões e das valentonas desde a quinta série... E de repente, começa a enfrentar o cara mais sinistro do colégio com respostas espertas.

Ela teria mostrado a língua, se não fosse lamber a máscara. Puxou o moletom por cima da cabeça e fez um amontoado na arquibancada. Então, livrou-se da máscara, já que a professora deu o aval.

Joaquim parou de correr e começou a berrar: – Doida, tirou a máscara e está deixando as roupas num mar imundo de vírus!

Rosa olhou para a arquibancada vazia e depois para ele. – Primeiro, o sol mata o vírus e já deu tempo até de tostar a arquibancada. Segundo, esses bancos não são ocupados desde... Sei lá, desde antes da pandemia.

Joaquim não pareceu nem um pouco convencido. Voltou a correr, louco para colocar uma boa distância entre ele e os outros.

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