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Capítulo 2 Retomando a rotina

– Não me diga que a garota esquisita está na nossa turma!?

Rosa ouviu alguém dizer, sem a menor intenção de ser discreto. Ela imediatamente parou de andar e localizou a dona inconteste daquela voz. Clarice – com sua voz estridente – a rainha abelha da escola.

– Garota esquisita? Está falando da...? Mas não é aquela que fica doente o tempo todo?- indagou Ingrid, a capitã do time de vôlei feminino da escola. Detalhe: time campeão juvenil do Estado.

Clarice e Ingrid eram como unha e carne.

-Asmática, dizem... – a outra respondeu, com um traço de desdém, como quem fala de algo sem importância.

Por ter parado em meio ao fluxo, Rosa levou um esbarrão de alguém.

-Ôaaa! Vai ficar parada aí? – Esbravejou um garoto revoltado, que ela logo identificou como sendo Joaquim. Vivia irritado, aquele... Nem a pandemia mudou o seu temperamento. Bem, talvez tenha piorado.

Quer ver se alguém resolvesse chamá-lo pelo apelido "Joca". Aí, ele chegava a ficar vermelho de tanta raiva, parecendo prestes a explodir. No entender de Joaquim, ser chamado de Joca não era nada lisonjeiro. Daí o irritadinho virava um verdadeiro porco espinho.

Tão bonitinho. Talvez fosse por isso que todo mundo o chamasse de Joca. Para ver se inflama ou se afoga na revolta.

– Não enxerga, não? – ele acrescentou, praticamente cuspindo as palavras.

– Foi mal – reagiu Rosa, meio magoada.

– É-é-é! – ele gesticulou, sem parar de andar. Foi resmungando como um velho de 80 anos até desaparecer no alto das escadas. Comportamento de velho, pernas de gafanhoto ágil, considerou a garota, por um momento.

Rosa apressou-se em terminar de subir os degraus, antes que levasse outro esbarrão. A escadaria tinha cinquenta lances e conduzia direto para o pátio externo do colégio. Mas era usada também para vingancinhas pessoais, como empurrões, esbarrões e comentários insidiosos, como os de Clarice e Ingrid.

Falavam sobre ela como se não estivesse bem ali, do lado, escutando. Ou, como se não dessem importância se escutasse ou não.

Esse era mais um sapo para engolir... E as aulas presenciais nem haviam começado!

Com um suspiro, Rosa arrumou as alças da mochila para distribuir o peso. Terminou o trajeto o mais rápido que suas pernas magras conseguiram. Quem precisava de aula de educação física, depois de enfrentar aquela escadaria? "Desculpa perfeita para escapar", pensou a garota que fugia da atividade física como o Diabo foge da cruz.

Tudo o que Rosa mais queria era ficar longe das Boas, Bonitas e Gostosas da escola. Era assim que Clarice denominava o grupo das meninas populares, o qual ela convenientemente liderava. Populares e, portanto, bem sucedidas "no rolê social". O que, definitivamente, não era o caso de Rosa.

Sentindo um chiado mais fundo no peito, devido ao esforço físico e a entrada do ar gelado nos pulmões, Rosa procurou inspirar e expirar profundamente, várias vezes, sem ter que recorrer a bombinha. Ela já usava a medicação uma vez por dia e não queria aumentar. As meninas passaram por ela, conversando em voz alta e gargalhando, enquanto os garotos fingiam provocá-las num flerte público. O som da risada estridente doeu no ouvido de Rosa.

Tentou lembrar a si mesma que aquele era o último ano do Ensino Médio. Nunca mais teria que aturar aqueles boçais. De repente, Clarice soltou uma risada que poderia ser comparado ao riso enlouquecido de uma hiena. Em suas elocubrações secretas, Rosa substituiu o substantivo masculino "boçal", em termos de classificação, por "hiena", um substantivo feminino que tinha mais a cara e Clarice.

Pessoa detestável, essa nossa Clarice. Rosa fez um careta como quem toma um xarope muito amargo. Era assim que se sentia em relação à filha da Prefeita Élida-faz-pelos-pobres; ou seja, um xarope ruim que teve que tomar durante toda a sua vida escolar. A garota pegava no pé dela desde que aprendeu a soletrar bo-bo-na. Depois passou para ma-gre-la. E se tornou es-qui-si-tona. É o aprendizado efetivo proporcionado pelo sistema de ensino, refletiu Rosa, em toda a glória de seu sarcasmo.

– Não consigo entender... – soou uma voz familiar e bem vinda.

Rosa virou-se na direção do som com um sorriso de alívio. Finalmente um rosto amigável – Thiago seu grande amigo, estava aboletado sobre a mureta que contornava a entrada dos portões.

A amizade dos dois era o que muitos colegas chamariam de improvável. Ela mesma pensava assim, de vez em quando... Enquanto imaginava-se sem graça e desprovida de encantos, Thiago era o bonzão, o cara popular e carismático; nem um pouco modesto quanto aos próprios atributos; com plena consciência de seu poder de atração e, consequentemente, dispondo de trânsito livre nas panelinhas do colégio.

Havia gente que ainda estranhava tal amizade. Bem, precisaram se acostumar a vê-los juntos, ao longo dos anos. Cada qual em seu mundo – o atleta legal e a esquisita da turma... A amizade dos dois era tão sólida quanto uma rocha.

De maneira elegante, Thiago saltou com agilidade. Estava esperando pela chegada de Rosa, como sempre fazia, antes da pandemia, para irem juntos em direção à sala de aula. Limpou os fundilhos da calça, de um jeito descuidado, então, alinhou os passos aos dela na calçada escorregadia.

– Por que permite que elas tratem você assim? – Ele perguntou, de repente.

-Assim como? – desconversou Rosa.

Ele soltou um resmungo de desaprovação e encolheu os ombros.

– Você sabe muito bem... Não queira dar uma de esperta comigo! – ele lhe deu uma ombrada de leve, de um jeito camarada. – Elas não te respeitam, porque você permite!

– Ah, e você quer o quê? – Rosa não quis soar tão ríspida. – Que eu vá lá e quebre a cara de cada uma delas?

– Não... Quer dizer, quebrar a cara delas teria sido eficiente, e sem consequências legais, se você tivesse feito isso lá atrás, no jardim de infância... Quando começaram a te provocar... – Ele sorriu. – Lembra da Michelle, a quem chamavam de baleia o tempo todo?

Rosa refletiu, por um momento, buscando em seus arquivos mentais.

– Ah, sim... – lembrou-se do evento épico, quando a gordinha virou para os seus agressores e avisou: Se continuarem me chamando de baleia, vou enfiar este lápis na cara de alguém.

Eles não acreditaram; continuaram debochando dela e não puderam dizer que não foram avisados, quando a garotinha calmamente pegou o lápis e enfiou no olho da líder da gangue que a azucrinava. Se os adultos não resolviam o problema educando... Ela resolveu educando pela dor.

– Foi, tipo, cartas na mesa – comentou Rosa, dando uma breve risada. – Eu acho...

– Agora ninguém ousa falar dela... Pelo menos, não pela frente. No seu caso, acredito que apenas mudar a postura já seja suficiente. – Thiago colocou a mão em sua cintura e forçou, com a outra mão posicionada na omoplata, para que ela endireitasse as costas.

– Credo! – Rosa reagiu, empurrando a mão dele. – Vai quebrar a minha espinha...

– Também, com essa mochila pesada! Me dá ela aqui!

Ele tirou a mochila do ombro de Rosa e colocou em seu ombro livre. – Você precisa de atitude! Não tem jeito! Se continuar andando como uma derrotada, parecerá derrotada.

A garota suspirou, meio sem ar... Em dias mais frios, era difícil respirar direito por causa da asma.

– Você não entende... – Ela sacudiu a cabeça. – Tudo o que desejo é terminar esse maldito ensino médio, ver-me livre de uma vez por todas... Estou farta, é um pesadelo!

Rosa acelerou um passo conforme o assunto se tornava o centro da sua ansiedade.

– A faculdade tem que ser uma página virada na minha vida social desastrosa. E eu espero sinceramente nunca mais ver esses abutres... – ela gesticulou para os grupos de adolescentes que estavam convergindo para o corredor principal.

Thiago permaneceu em silêncio enquanto caminhavam. Só então ela se deu conta do que tinha acabado de dizer.

– Nem todos são abutres... – Tentou consertar o resultado do seu desabafo, sentindo-se patética. – Você e Sol são meus amigos. Os únicos com os quais pretendo manter contato, quando a faculdade começar.

Ele levantou a sobrancelha. – Sabe, Rosa, nem todos são tão ruins por aqui... Mas você nunca lhes deu uma chance. Se for sincera consigo mesma, verá que não fez a menor força para se enturmar.

– Não fiz força? – Rosa elevou a voz, sentindo indignação. – Você é testemunha de todas as humilhações pelas quais passei! Nunca mais permitirei que me tratem assim!

– Sei... – Ele riu baixinho, mas sem humor. – Você continua sendo tratada assim, diariamente, e a maneira que encontrou para resolver o problema foi enfiar a cabeça debaixo da terra, feito um avestruz.

– Eu não...

– Sim, você sim - ele apontou o dedo para ela, com um sorriso a fim de amenizar a crítica. – Se não enfrentar os seus medos hoje, me diz, o que a faz pensar que não vai acontecer de novo e de novo e de novo, quando estiver na faculdade, no trabalho... Enfim, pro resto da sua vida?

Rosa o ignorou. Continuaram andando lado a lado. O sinal soou no exato instante em que atravessaram os portões de ferro trabalhados. Não teria sido tão sincrônico, se tivessem ensaiado.

De repente, Rosa avistou Mayo vindo pelo caminho dos fundos – aquele que corta o estacionamento dos professores e as quadras de esporte.

Aquele que torna necessário pular o muro da escola.

Ao vê-lo novamente, caiu-lhe a ficha de que Mayo estava a pé. Mas ele não tinha uma moto caindo aos pedaços? E sempre vinha para a escola naquela moto – estilosa, com certeza, ela tinha que reconhecer... Dizem por aí que ele ganhou num jogo de pôquer.

Agora ela entendia porque se encontraram mais cedo, no centro da cidade. Bom, era de se imaginar que alguma coisa fosse acontecer àquela moto, depois de tanto tempo de pandemia.

Thiago acompanhou o seu olhar e estremeceu visivelmente. Exageradamente, diria Rosa... Ele tirou a cruz que trazia ao pescoço, para fora da gola de seu pulôver. Ah, Thiago era um debochado por natureza.

– Que é isso? – Ela riu baixinho, um tanto constrangida. – Ele não é o demônio!

Bateu em seu braço, querendo fazer com que entendesse o absurdo da situação. Thiago segurou-lhe a mão.

– Não tenho tanta certeza! – Ele objetou, mas não se estendeu no tema.

Mayo passou pelos dois, silencioso como sempre. Seu olhar, contudo, parecia lhes dizer que ele sabia muito bem o que estavam pensando e falando dele. Foi um olhar de desprezo... Mas tinha um quê de decepção. Agora foi a vez de Rosa estremecer. Thiago parou de andar e a segurou pelo braço, dando tempo para Mayo se afastar deles.

A cabeça morena do bad boy se destacava no mar de alunos, os quais se repartiam a sua passagem, como o Mar Vermelho diante de Moisés.

– Com esse daí, eu não quero encrenca não – disse Thiago.

– Nem eu – ela murmurou, lembrando-se de que o bad boy a ajudou na rua. Sentiu-se um pouco culpada. – Nem eu.

– Ei, pessoassss!!!! – Solimar os chamou. Estava aboletada sobre uma das mesas de concreto onde os alunos jogavam xadrez ao ar livre. Os pés calçados com botas firmemente plantados sobre os bancos de concreto. Devia estar olhando suas cartas de tarô, enquanto passava o tempo faltante para o início da aula. Rosa reparou na bolsinha onde ela as aguardava, pendurada em seu pulso por um cordão.

Sabendo muito bem o que a amiga estava fazendo, ela perguntou mesmo assim:

-O que você pensa que está fazendo, Sol? – Rosa não achava higiênico que a amiga trouxesse suas cartas, pois estas poderiam ser contaminadas pelo coronavirus.

(De acordo com alguns jovens norte-americanos, filhos de militares, e com os quais trocou algumas informações durante o pior da pandemia, o vírus poderia permanecer vivo sobre o papel por uma ou duas horas.)

Adivinhando-lhe os pensamentos, Sol mostrou o vidrinho do álcool e o pacote de toalhas de papel. Rosa deu uma risadinha e se rendeu ao bom humor da amiga. – Tá, então, o que as cartas lhe disseram hoje?

O sorriso de Sol se ampliou: – Que o amor está no ar, que uma grande reviravolta vai mudar nossas vidas, e que devo tratar da minha dor de dente o mais breve possível.

– Como é que é? – Thiago observou enquanto Sol guardava o tarô na mochila. Deus a livrasse, se Henrietta Casas a visse com um símbolo adivinhatório do antigo Egito. Teria dado um de seus conhecidos discursos, no qual diria tratar-se de uma heresia. No mínimo, a deturpação de um instrumento sagrado dos egípcios. A professora pegava muito no pé de Sol por causa daquele baralho. Thiago também, por isso, fechou a cara antes de dizer: – Que papo é este?

– Dor de dente... Que parte você não entendeu? – Solimar, arreganhou os dentes para ele.

– Tá, mas porque você ainda não tratou?

– Ora bolas, por causa da COVID. Minha mãe queria que eu esperasse até a vacina chegar a nossa faixa etária, mas com o andar da carruagem e a incompetência do governo federal, vou perder o dente antes de ser vacinada. Acho que não posso esperar mais não.

– A sua mãe entendeu isso?

– Entendeu... Mas está exigindo do dentista que eu seja a primeira a ser atendida depois que ela veja, com os próprios olhos, que eles limparam todos os instrumentos.

– Minha nossa!

– Bom... – Rosa interveio na conversa dos dois. – Errada ela não tá... Quem garante que os outros se importem com a sua vida, hoje em dia. Parece que só querem lucrar, e se você tiver que morrer de COVID para isso, paciência.

– É, gente... A pandemia mostrou o melhor, mas também o pior das pessoas – Thiago comentou. – Tantas formas criativas de se ganhar dinheiro sem que os outros se exponham, e os grandes empresários não querem abrir mão nem de um tiquinho do seu lucro para investir na segurança do trabalhador. Com raras exceções, a maioria quer simplesmente forçar as coisas a voltarem a ser como antes... Que o gado se exponha por aí para que eles continuem lucrando... Eles se protegem, mas o trabalhador que se dane! Depois mentem, dizendo: "Oh, sim, estamos tomando todas as medidas sanitárias! Ah, este aglomerado de pessoas se esfregando umas nas outras? Que nada! É impressão sua"!

Rosa ponderou que, embora Thiago fosse dado a discursos inflamados pelos direitos trabalhistas, ele também não estava errado.

– Cara... – ela levantou o dedo. – Nunca mais as coisas vão ser como antes... As pessoas precisam aprender a lidar com as mudanças e se adaptar a elas.

– Mas como? – Thiago passou o braço pelo dela, chamando a atenção de Mayo. – As pessoas andam se comportando como avestruzes, enfiando a cabeça debaixo da terra.

– E tem o lance da corrupção! - comentou Rosa, enquanto Sol segurava no braço livre de Thiago. Assim, formaram um trio. – Nenhuma das sanguessugas que estão no poder quer abrir mão de seu roubo diário, para salvar vidas.

– Exatamente! A classe política em nosso país é uma vergonha!

– Para gente! – reclamou Sol. – Já estou deprimida antes mesmo de começarmos a aula.

– Verdade – Rosa concordou e eles. Cessaram a conversa até alcançarem o interior do prédio onde ficavam as salas de aula.

Ainda pensando nos efeitos da pandemia, Rosa analisou os grupinhos ao seu redor – caminhando pelo corredor, ou parados em frente aos armários. Cada qual emitia vibrações diferentes, que os demais não compartilham. Tudo a ver com a história de cada grupo. Afinal, a pandemia os isolou, mas muitos mantiveram contato pelas redes sociais, ou se visitaram mutuamente, formando verdadeiras bolhas sociais.

Durante a pandemia, os alunos tiveram mais contato com os amigos. Só deixaram de ver aqueles que já ficavam de fora da patota. Assim, o processo de exclusão foi bem maior.

Hoje, para Rosa, a impressão de ser excluída estava sendo mais impactante do que no primeiro dia de aula, na quinta série... Ou no primeiro dia de aula do ensino médio... Por sorte, ela tinha os seus amigos de infância. No mais, estar de volta à escola, em plena pandemia, estava se revelando uma verdadeira provação.

O único que parecia não se importar com as turbulências pandêmicas, e continuava a se comportar da mesma maneira, era o Mayo. Ele entrou na sala de aula arrastando os pés; o que bastou para que a turma inteira continuasse do lado de fora, esperando a professora chegar. Ela era a única entre os seres viventes e pensantes daquela instituição de ensino, que não tinha medo do enigmático rapaz. Da mesma forma, era a única a quem Mayo temia e respeitava. O curioso é que Henrietta tinha a metade da metade da metade do tamanho dele.

Por falar nela, lá vinha a professora pelo corredor... Toda elegante em seu conjunto creme... Andava do mesmo jeito que Rosa se lembrava – sem pressa e com segurança. Uma segurança que ela costumava invejar.

– Postura, lembra? – comentou Thiago, num sussurro, meio que lendo os pensamentos de Rosa.

De fato, o que não faltava à curadora da Fundação Casas era postura. "Bem, se ela pode", pensou Rosa, "eu também posso". Endireitou as costas e se preparou para enfrentar a primeira aula do dia.

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