ᴄᴀᴘíᴛᴜʟᴏ 8
Respiro aria pulita
Che alimenta il fuoco dentro di me
E lascio che mi uccida
Io rinasco dalla mia cenere
Il dono della vita | Maneskin
Depois que Morpheus foi embora, fiquei sozinha no Verde do Violinista por pouco tempo. Toda aquela conversa tinha sido extremamente complexa, mas interessante. Mas, por Deus, eu não conseguia parar de encarar seus olhos claros como as ondas do mar, obcecada por sua voz grave e sussurrada me arrepiando e seu comportamento tranquilo.
Quando ele se foi, senti por alguns minutos uma solidão. O Rei dos Sonhos estava trabalhando para me ajudar, para que eu pudesse me encontrar e entender mais sobre mim mesma. Eu não queria dar essa preocupação a ele, pois alguém tão superior assim deveria ter milhares de outras coisas para fazer além de salvar uma pobre alma mortal.
Quando voltei ao castelo, Lucienne e Merv pareciam trabalhar arduamente. A bibliotecária era quem comandava tudo, conversando com Sonhos e Pesadelos que precisavam ser guiados para novos trabalhos, além de continuar seus serviços na Biblioteca. Merv organizava livros e carregava ferramentas de um lado para o outro. Todos pareciam estar se movimentando a mil, como se algo grande estivesse a caminho.
– Olá, o que está acontecendo? No que posso ajudá-los? – falei, caminhando para perto deles.
– Ah, Zoe, que bom que está aqui – Lucienne sorriu para mim, me cumprimentando. Ela falava tudo rapidamente, com pressa. – Podemos seguir com a organização de alguns livros, estamos organizando uma festa, por isso, precisamos que tudo esteja mais que pronto e encaminhado.
– Claro, no que eu puder ajudar – lhe respondi, pegando uma pilha de livros de suas mãos.
– Ophelia, busque o buquê de lótus da Iara... Merv, vou precisar da sua ajuda para contatar alguns Sonhos que não vejo há um certo tempo, já que estamos sem o Matthew – a bibliotecária continuou a falar sem parar dando dezenas de ordens para todos que estavam por ali. – Theodoro, mais para a esquerda!
Desviando de vários seres, continuei pelo corredor até colocar os livros de minha mão na estante. Como eles se organizavam sozinhos, não precisaria caminhar por milhares de estantes para encontrar o lugar certo, o que era um alívio, pois eu não gostaria de me perder neste lugar.
– Por que estamos sem o Matthew? – perguntei, curiosa, ao homem espantalho.
– Ele foi com o Mestre em uma missão – respondeu Merv, dando os ombros. – Essa é sua principal função, basicamente, mas ele é muito útil com recados.
– Matthew vai muito com Morpheus em missões? – continuei a perguntar.
– Bastante. São quase inseparáveis. Eu poderia dizer até que são amigos, mas você sabe como o Rei é – Merv respondeu com um riso amarelo, meio envergonhado.
– Eu os considero melhores amigos. Assim como sei que também somos amigos deles. Morpheus tem apenas uma certa dificuldade de expressar seus sentimentos – Lucienne chegou ao nosso lado comentando. – Ele é mais sensível que nós, mas normalmente guarda tudo pra si.
– Pode ser – o homem com cabeça de abóbora assentiu.
– Vocês fazem essa festa com frequência? – questionei Lucienne, que agora carregava uma pilha de papéis.
– Não temos muita comparação com tempo, mas é um evento que gostamos de realizar durante o Solstício de Inverno, já que é a mais longa noite do ano dos mortais – explica ela. – Consequentemente, é um dia onde muitos sonhadores ficam por aqui e podem se divertir sem preocupação.
– Então é mais um Baile de Inverno? – perguntei brincando com o tema. Por alguma razão isso me lembrava um tempo escolar. Me lembro de um vestido branco brilhante e de voar no salão, dançando com minhas amigas.
– Exatamente – disse ela. – E aproveitamos um pouco enquanto o mestre não está.
Franzi o cenho.
– Espera. Morpheus não participa do baile? – continuei com meu interrogatório.
É claro que uma parte de mim sabia que o perpétuo não tinha cara de quem participava de muitos eventos sociais, mas por um segundo, desejei poder vê-lo interagindo com os seus súditos ali. Apesar de calado, imagino que ele apreciaria muito trazer um pouco de felicidade para eles e para os sonhadores.
– Assim como tem dificuldade com seus sentimentos, também tem problemas com socializar. Prefere não se fazer presente nesses dias, na verdade – responde Lucienne, dando os ombros.
– Então, o gato sai e os ratos fazem a festa? – gargalhei.
– Sim! Acho que essa metáfora faz todo sentido – disse ela, rindo também.
Após guardarmos os livros, nos dirigimos ao salão. O clima era meio sombrio e melancólico, então, sabia que precisaríamos animar aquilo. Haviam centenas de pessoas naquele salão infinito, conversando suavemente ou então caminhando uns entre os outros.
– Queridos Sonhos, precisarei de sua ajuda para a decoração – Lucienne subiu um degrau da escadaria que levava ao grande trono, apenas para ver melhor aqueles que estavam no espaço.
Então, vários Sonhos se aproximaram, pessoas feitas de cores incríveis, felpudos e mágicos, com arabescos e a mais pura delicadeza que existia naquele lugar. Alguns deles viraram espirais de luz e areia e, momentaneamente assustada, os observei esvoaçar pelo salão, formando lençóis de luz azul e branca que se caminhavam até um lustre feito de flocos de neve. Milhares de pequenos pontos de luz surgiram próximos ao teto sem fim, iluminando o lugar.
No chão, linhas cheias de arabescos se formavam em um misto de magia e alegria, formando algo que se parecia uma mandala de luz. Flores de todas as cores foram preenchendo espaços, fitas brancas balançavam de um lado para o outro formando arcos, flocos de neve começaram a cair do teto, suavemente, até desaparecerem.
Os cristais acima do trono se moldaram em azul claro, formando lindas imagens que remetiam a um baile de inverno. Velas também foram acesas por todo o salão, deixando o clima frio um pouco mais aquecido.
Ao lado, um conjunto de instrumentos mágicos surgiu, flutuando no espaço, como se não houvesse um músico. Violinos, violoncelos, piano, flautas e outros instrumentos, todos de um branco gelo reluzente, começaram a balançar até que as primeiras notas de uma suave música começasse.
Quando os Sonhos terminaram, Lucienne parecia orgulhosa. Era claro como ela adorava sua função e tudo o que abarcava. Ela era fiel, confiante e prestativa ao máximo. Seu carisma era contagiante, mesmo quando dava ordens ou pedia ajuda.
– Uau – foi a única coisa que consegui expressar ao ver tudo se finalizando. – Ficou incrível!
– Um excelente trabalho! – a biblioteca afirmou, mantendo sua postura firme de poder. – Agora, aguardamos a meia-noite dos despertos para abrir o salão.
Podíamos ouvir risadas empolgadas como sinos. A excitação dos integrantes do reino dos Sonhos com aquele evento era claro. Merv foi até o centro do salão e deu uma pirueta como um bailarino. Não pude deixar de rir, mergulhada na emoção de ouvir aquele som tão agradável.
– Me permite a honra? – o homem com cabeça de abóbora me questionou, fazendo uma referência com a mão direita estendida em minha direção.
– Mas é claro – respondi, tentando manter a pose e a postura de uma respeitável dama. Usei todos os meus conhecimentos escondidos em minha mente relacionados a eventos de época para isto.
Então, Merv me guiou para dançar, segurando em minha cintura com delicadeza enquanto girávamos pelo salão, rindo e aproveitando a música. Ele era um dançarino muito bom. Nos divertimos, fazendo com que outros Sonhos e Pesadelos também viessem para o salão, aproveitando a festa antes mesmo dela começar.
A diversão começaria dali meia hora mortal, pelo que Lucienne disse, então, adoraria aproveitar para me divertir um pouco agora enquanto milhares de pessoas não começavam a chegar. Eu sei que tudo no mundo dos sonhos de movia e crescia como um organismo vivo, mas ainda assim, não sabia como me guiar dentro dele. Então, precisaria ficar ali perto dos meus amigos, conhecidos, para não acabar no meio de milhares de pessoas sem saber por qual caminho de labirinto sair.
Continue a dançar e rir, mas então então, senti uma pontada de dor. Dor mesmo. Em todo meu corpo. Eu nem sabia que isso era possível ali, mas ela veio, da mesma forma que senti quando Morpheus tentou me conectar ao mundo desperto. Parei de dançar imediatamente, zonza e fraca.
– Zoe, o que aconteceu? – perguntou Merv preocupado, apoiando meu braço.
– Argh – consegui apenas arfar, quase caindo. O espantalho me segurou pelo cotovelo e me apoiou.
Meu peito começou a arder e minha visão ficou turva. Todo o meu corpo parecia arder em fogo, como se meu sangue estivesse sendo queimado. Gemi de dor, tentando me concentrar naquele mundo. Tudo doía incessantemente. Ardente. Queria que aquilo parasse. Mas doía. Muito. Lucienne também veio ao meu lado, apoiando o outro lado do meu braço, enquanto tentavam me levar para o canto do salão.
– Zoe! Zoe! Responde algo, por favor – Merv continuou me chamando, mas minha mente desvaneceu.
– O que aconteceu, Zoe? O que está sentindo? – a bibliotecária me questionou.
No segundo seguinte, me vi mergulhada em uma lembrança no interior da minha mente, naquele espaço que pareceu trancado por tanto tempo.
Eu estava em um quarto branco de algo que parecia um hospital, sentada em uma cadeira. Não havia nenhuma sensação a mais no meu corpo, nem alegria, nem tristeza, nem solidão, nem companhia. Mas eu sentia o vazio, a solidão. Havia uma janela em minha frente, mas diferente da lembrança que eu tinha de um lindo campo de lavandas, havia um muro e muita chuva. No entanto, não era para fora que eu estava prestando atenção, mas no meu próprio reflexo.
Vestida em um uniforme cinzento, com as bochechas marcadas pela magreza e os lábios secos e rachados. Não consegui me reconhecer de primeira, mas reconheci uma voz, a da minha mãe, soando em meus ouvidos.
- E então? disse o principezinho. Agora, que ele dá uma volta por minuto, não tenho mais umsegundo de repouso.Acendo e apago uma vez por minuto! Ah! que engraçado! Os dias aqui duram um minuto!Não é nada engraçado, disse o acendedor. Já faz um mês queestamos conversando.Um mês?Sim. Trinta minutos. Trinta dias – ela lia O Pequeno Príncipe. Seu rosto pelo reflexo era simples, uma mulher morena de olhos tristes com lábios marcados em formato de coração.
Uma pessoa entrou no quarto e falou com ela algo que não consegui compreender. Ela se virou para sair pela porta e então sumiu.
No momento seguinte, vi poeira escura. Em uma nuvem de partículas que se movimentavam como ondas no mar, se aproximavam de mim e balançavam em minhas costas, passando pelos meus braços. Eu senti o arrepio, mas não conseguia abrir a boca para falar alguma coisa. Era como se eu estivesse apenas presa àquele corpo.
Aquilo parecia ser a areia do Sonhar, mas sua energia era negativa, diferente de qualquer coisa que já pude ver.
Então, pelo reflexo vi cabelos louros e um olhar de mel.
– Vamos, meu querido, eu não tenho o dia todo – disse o ser, com a voz melosa e sedutora, exagerada. A pessoa deu um sorriso aberto, mostrando todos os dentes brilhantes e intensos. – Vamos precisar ir um pouco além desta vez. Tente não falhar e você sabe o que receberá.
A poeira passou por mim e me cobriu, mas então, pisquei e tudo brilhou.
Agora eu estava no campo de lavandas, conseguindo me mover normalmente. O sol pairava intensamente no céu e havia uma forma dentro da luz. Uma silhueta que infelizmente não consegui identificar. Não havia nada além de folhas verdes refletindo a luz, flores cheirosas e aquele ser na minha frente, estendendo a mão para mim.
– Vida... Vida... Vida... – ouvia uma voz ecoar. Sonora, musical... Era até angelical de certa forma. Diferente de tudo. – Está na hora de despertar...
E então, fui empurrada pela luz.
Despertar. Despertar. Despertar.
Vida. Vida. Vida.
As palavras continuavam ecoando em minha cabeça, que ardia intensamente, como se meu sangue houvesse transformado-se em um tipo de metal líquido pronto para me queimar de dentro para fora. Se gritei, não me lembro, mas poderia. Como uma rádio sem fim, aquelas palavras estavam se repetindo incessantemente me fazendo querer vomitar coisas que eu nem sabia que podia.
Despertar. Despertar. Despertar.
Vida. Vida. Vida.
A luz foi sumindo aos poucos, me permitindo voltar para a escuridão que minhas pálpebras podiam me proporcionar. Respirei fundo com o peito ainda meio dolorido, sentindo que, independente de para onde fui, estava de volta. O cheiro do Sonhar... de Morpheus, pairava naquele espaço, me permitindo respirar melhor e me acalmar. Franzi as sobrancelhas e comecei a piscar, tentando focar em alguma coisa.
Assim, me vi focando em um par de íris de um tom de azul intenso coberto por pestanas escuras extremamente preocupado sobre mim. Suas mãos grandes e fortes estavam apoiando minhas costas enquanto deitada no chão do salão.
– Zoe – ele me chamou, me apertando suavemente, com urgência. – Zoe, por favor!
– Morpheus? – sussurrei, recebendo uma expressão aliviada.
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