Quando tudo começou
Dan
Seis meses antes do surto de andarilhos - Casa dos Hawks, Atlanta.
Era para ser um dia como todos os outros, mas como estou contando essa história e eu não sou nada normal, algo estava por vir a mudar o planeta Terra. Sim, meus caros: naquele dia, foram descobertas as orbes, por toda a parte do globo. Naquela época, a corporação X-Bios era nova e precisava se estabelecer a todo custo, então ela dividiu as orbes achadas para todas as suas filiais. Mas calma que vamos chegar até o que são elas, mas antes disso, irei mostrar como soube dessa notícia.
30 minutos antes...
Acordei como todos os outros dias, a luz do sol adentrando a janela de meu quarto e batendo sobre meu rosto, despertando-me, devido ao leve incômodo que aquilo me trazia. Nosso apartamento ficava localizado no centro de Atlanta, o que significa que naquele momento a cidade já estava a mil, e o dia mal havia se iniciado. Do andar que morávamos eu conseguia escutar sem dificuldade algumas buzinas dos carros, os ônibus passando um atrás do outro no ponto do outro lado da rua e o metrô sobre a ponte próxima ao nosso apartamento. Me levanto rapidamente com a luz do sol batendo sobre meu rosto e me sento em minha cama, espreguiçando-me e passando a mão em meu rosto. Bocejo e falo, em seguida, com a voz preguiçosa — Mais um dia de estudante normal. Ao menos era o que eu pensava...
Caminho em direção à saída de meu quarto, deparando-me com meu irmão, Dante, dois anos mais velho que eu, passando e já tirando uma com minha cara. Ele já estava com o uniforme e a bolsa em suas costas. Dante tinha cabelos platinados grandes e com uma franja, seu tom de pele era branco. Ele tinha um porte físico bom e um corpo musculoso, pois era capitão do time de futebol americano. Sua personalidade era séria, mas adorava ficar pegando no meu pé e tirar uma comigo sempre que podia, como agora.
— Bom dia, princesa da Disney. — Seu tom de voz sarcástico, assim como sua expressão.
Diferente do meu irmão, eu era um pouco menor do que ele, ele tinha 17 anos e eu 15, tinha um corpo definido por conta do basquete, o qual era minha paixão e eu era muito bom, mesmo não tendo tanta altura. Meu tom de pele bronzeado
era assim como o da mamãe, cabelos grandes e ondulados de cores castanhas. Diferente da personalidade dele, eu era bem-humorado e extrovertido, às vezes um pouco tímido e preguiçoso, mas nada que me atrapalhasse.
— Não perde tempo, Dante — Olho para ele, falando com um tom preguiçoso e ainda despertando, enquanto caminho sem pressa e quase que me arrastando corredor afora.
Antes de seguir para a cozinha, faço minha higiene matinal. Adentro a cozinha e me sento junto a eles, a mesa do café da manhã já estava preparada. Minha mãe se chamava Lilly e era uma mulher com seus trinta e seis anos, cabelos longos e ondulados de cor castanha e muito gentil. Ela tinha minha altura, seu tom de voz era doce, sua pele bronzeada assim como a minha, e trabalhava como escritora de um best-seller de romance. Ela nos dava toda sua atenção quando possível, era só não tirar ela do sério. Ela era a melhor e muito atenciosa conosco, eu sabia que poderia contar com ela para tudo. Não é à toa que era mais apegado a ela do que ao papai; não que meu pai era chato ou coisa do tipo, mas tem um tempo, na verdade um bom tempo que não sei o que é passar um tempo com ele, e acredito que ele sinta o mesmo.
— Não irei te esperar, Dan. Você é lento demais. — Mal havia me sentado à mesa e Dante já vinha me alertando, enquanto atacava seu misto-quente.
— Dante, irmãos sempre vão junto à escola. Então, por favor, seja paciente com seu irmão. — Ela intercala olhares entre nós dois enquanto fala.
Dou um sorriso gentil à minha mãe enquanto pego um copo com suco natural de laranja, servindo-me, e falo, tirando uma com Dante:
— Seja paciente com o seu maninho. — Meu tom sai um pouco provocativo. — Afinal, você não possui a lerdeza, mas não tem a minha beleza, meu caro irmão.
Estávamos todos sentados, iniciando o nosso café da manhã na cozinha, que se encontrava levemente bagunçada enquanto conversávamos. Minha mãe logo diz, olhando para nós dois, em um tom autoritário:
— Nada de bate-boca na mesa do café da manhã, meninos.
Ela já disse aquilo por ver que Dante iria retrucar comigo. Ele lança o guardanapo amassado em minha direção e minha mãe logo lhe passa um olhar do tipo "repita esse gesto e não terá mais a sua mão". Ela era doce, mas quando ficava brava conosco não media esforços. Logo somos interrompidos ao ouvir uma notícia vinda da TV em frente à mesa, o noticiário do dia alertava sobre uma nova mudança em prol de um bem maior para nosso mundo.
— Hoje, a X-Bios traz uma grande revolução no meio da biomedicina. Orbes com matéria escura traz ao DNA
humano uma nova mutação, tornando-nos capazes de adquirirmos poderes elementares. Tal método será aplicado a todos os seres humanos ainda hoje. Não é isso, Doutor Jay? — pergunta a repórter, de aparência jovem e de pele negra, cabelos curtos e negros e a voz firme, em frente à sede da empresa, em Atlanta.
— Isso mesmo. As orbes, encontradas em cavernas, nos mostram que uma linhagem de seres que estavam antes de nós na Terra possuía poderes de elementos básicos. Os mesmos, no passado, dominavam: fogo, água, ar e terra. Fizemos testes em alguns humanos que assumiram o risco do experimento e reagiram de forma positiva com a matéria escura se fundindo com o DNA humano. Iremos levar a humanidade a um novo patamar. — O doutor parecia empolgado com sua descoberta, e não escondia isso na entrevista.
Nesse momento, na TV passava imagens das expedições feitas pela X-Bios nas cavernas, as orbes encontradas por eles e os soros criados a partir dali, havia vários e de diversas cores; os soros sendo aplicados nos seres humanos e os efeitos surgindo quase de imediato. Víamos cenas de alguns que já usavam dos elementos naturais, como ar e água. Doutor Jay possuía uma aparência mais velha, na faixa de seus cinquenta anos, pele clara e poucos cabelos em sua cabeça de cor amarelada; em sua pele eram notáveis sinais da idade, assim como sua voz grossa e um pouco anasalada. Ele demonstrava confiança enquanto falava de tal projeto, seu olhar era firme para a câmera enquanto dava a entrevista.
— Doutor Jay, o soro será aplicado em todos, pelo que escutei. Então, estou certa em dizer que não surgiu efeito colateral algum, como mostrado há pouco nas imagens. E agora, a pergunta que não quer calar: há restrições para tal poder? — pergunta a repórter, olhando atentamente para ouvir a resposta a seguir.
O doutor respira fundo e foca seu olhar para a câmera, chamando-a para o setor de vacinação. Eles então começam a caminhar pela empresa enquanto a câmera filma tudo e todos por onde passa.
Jay começa, então, a responder as perguntas da mulher; a câmera filma os dois. Enquanto caminham e a explicação é feita pelo doutor, podemos ver que o prédio, grande e com tecnologia de ponta, estava a todo vapor com a última e grande novidade. O local em si não possuía muitas cores, era tudo branco. Em alguns lugares tinha o símbolo da empresa, um X, com genes de células logo atrás do logo. Linhas azuis neon decoravam, de modo sutil, o local, na horizontal e vertical das paredes.
O silêncio era notável, mesmo nós não estando lá, conseguíamos sentir isso apenas pela tv. As pessoas que lá se encontravam já estavam sendo vacinados e não falavam muito, apenas observavam atentamente os procedimentos e transpareciam em seus rostos a feição de empolgação para ver os efeitos e o poder que manifestariam a pouco, esquecendo do real objetivo da vacina. A câmera agora mostra o lado de fora e é quando vemos uma fila, e as pessoas conversando entre si, enquanto aguardavam sua vez. Olho brevemente para minha Mãe e Dante, que estavam bem atentos e interessados na reportagem.
— O soro, assim como permitido pelo governo, senhorita,
será aplicado a todos que não possuem ficha criminal e nem passagem pela polícia. Não possui efeitos colaterais. Pelo contrário, a vacina elementar está ajudando a idosos e pessoas que possuem algum tipo de problema de locomoção, pois a matéria escura recria células mortas ou danificadas. Ela irá trazer muitos benefícios. Achei incrível, junto com os demais cientistas de meu setor, os benefícios de algo que estava escondido e antes achávamos ser só lenda, algo que pode mudar de uma vez por todas a raça humana. O soro dará poderes a nós, podendo facilitar e trazer segurança a todos. Todos poderão se defender, criar anticorpos mais fortes. Facilitará muito o nosso dia a dia. Mas não se preocupem, teremos controle sobre tais poderes e armas prontas para aqueles que perderem o controle ou raciocínio com tamanho poder. Sobre sua pergunta em relação a restrições, vamos lá: o limite do poder elementar é não usar o poder de modo desenfreado. Quando sua fonte de poder se esgotar, ela irá absorver e recarregar a partir da aura da natureza que se pode encontrar na terra, água, ar e energia solar. Apenas dez minutos e já estará carregado novamente, não existirá limites, meus caros. Nós, da X-Bios, esperamos a todos aqui para dar esse passo em rumo ao futuro.
Vemos as pessoas e a enorme fila que já se encontrava no primeiro dia de vacinação. A repórter, com suas respostas e filmagem feitas, dá a reportagem no jornal do meio-dia como encerra- da. Minha mãe passa o olhar para nós e diz, sorrindo e empolgada com o que acabou de assistir:
— Vamos lá, meninos! Mudança de planos, daremos um passo em direção ao futuro. Dia de se vacinar. Seremos parte desse grande passo da humanidade. Me ajudem a arrumar a mesa do café da manhã e iremos à X-Bios. — Ela falava de modo determinado.
Minha mãe passa uma mensagem no WhatsApp para meu pai informando que iríamos estar na X-Bios, para ele encontrar-se conosco, se possível. Olho para Dante, que parecia empolgado com algo depois de um tempo, mas sentia que a humanidade não saberia lidar com tamanho progresso de modo tão acelerado como tudo estava sendo feito. Mas todos estavam felizes com aquilo, não queria ser o único diferente ou do contra.
Após arrumarmos a mesa do café da manhã, vou em direção ao banheiro para escovar meus dentes. Enquanto via meu reflexo no espelho, tive um flash em minha mente de um local em ruínas e o banheiro de minha casa repleto de musgo e fungos em tom verde escuro. Tudo parecia real, o frio percorrendo meu corpo, assim como o cheiro forte. Recuei para trás, batendo minhas costas na parede, tomando um susto devido ao medo e a sensação forte de ter sido lançado para outro local. A escova de dentes cai no chão e meu irmão passa pelo corredor, falando comigo e olhando para mim de modo intrigado:
— Você está mais estranho do que o normal... Não fique enrolando aí, vá se trocar logo... Estranho.
Pego a escova que havia caído, limpando-a e guardando. Molho meu rosto, sentindo a água fria me despertando por completo, enquanto pensava sobre o que senti e presenciei há pouco; levanto meu rosto, olhando meu reflexo no espelho, estava com uma expressão desconfiada enquanto as gotas de água escorriam pelo meu rosto.
"Devo estar ficando louco mesmo" — penso comigo, enquanto pego a toalha de rosto, secando-me e penteando o cabelo em seguida.
Rapidamente, vou até meu quarto, trocando de roupa às pressas e lançando meu pijama para algum canto de meu quarto o qual não vi. Olho em volta, de modo pensativo, tentando me recordar onde havia colocado meu celular; escuto ele vibrando, embaixo dos livros e cadernos nos quais estava fazendo uma atividade na noite anterior, e o pego, junto aos fones de ouvido embolados.
— De nada, irmão. — Dante segue andando com um sorriso convencido em seu rosto. — Não sei o que seria de você sem mim.
— Não se ache tanto, isso é dever mesmo de um irmão mais velho — falo, caminhando atrás dele enquanto desembolo os fones. — Mas, valeu mesmo assim.
— Que bonitinho, achei que não fosse agradecer mesmo. — Sinto a mão esquerda dele sobre meus cabelos, deixando-os levemente bagunçados enquanto ele me irritava com sua atitude infantil. Fecho a cara para ele enquanto tiro sua mão, e minha mãe nos acelera para sairmos de casa.
— Vocês dois tem que ficar provocando um ao outro na hora
de sair? — Minha mãe tranca a casa e seguimos pelo elevador.
— A cada minuto que passa tenho a certeza de que a fila só se prolonga. — O elevador logo chega em nosso andar e adentramos ele rapidamente. Para a nossa surpresa, só havia nós naquele momento, e assim permaneceu até chegarmos ao térreo.
Eu estava tendo algum pressentimento ruim, de que algo de errado estava por vir junto àquela mudança. Olho para Dante, que me encara e eu o encaro de volta. Começo a falar com ele em língua de sinais.
"Cara...Estou com mau pressentimento" — digo para ele, fazendo sinais com as mãos.
"Para com isso. Vai ser maneiro, teremos poder, irmão. Vou jogar você longe se atrapalhar isso. Não tenha medo de uma simples agulha, cara."
Minha mãe olha para nós dois, desconfiada e curiosa, querendo saber o que estávamos falando, porém ela não nos perguntou, mas sua cara não escondeu nem um pouco que ficara intrigada conosco. Chegamos ao andar da garagem, logo seguindo para a vaga de nosso carro no estacionamento, adentramos o carro e prosseguimos para o centro da cidade. Encosto com o rosto no vidro da janela e logo a forte luz externa vem ao meu encontro. Assim que minha mãe segue em retirada com o carro para fora do estacionamento, acenamos para o porteiro e fico olhando atentamente por onde passávamos, pensando em nada, apenas observando o trajeto até a empresa que não ficava sequer a cinco quarteirões.
— Vocês não acham um absurdo crianças de sete anos já com poderes que não compreendem? — Lanço a pergunta, sem mais nem menos.
Dante se vira, olhando para mim de relance, e logo responde do modo mais normal possível, tornando a olhar para um grupo de jovens que iriam iniciar um duelo em meio ao parque público.
— Pior que não... Eu acho que se eles crescerem com tais poderes e forem ensinados a dominá-los com a supervisão de seus pais impondo limites e controles, acredito que não haverá problema nisso.
Escuto a resposta de Dante vendo que até que faria sentido. Chego até a cogitar que seja apenas uma neura minha e que podíamos de fato ser uma nova humanidade evoluída e que aqueles poderes não iriam nos levar a criar nossa própria extinção. Logo sou tirado de meus pensamentos ao escutar minha mãe comentando.
— Se vocês não fossem adolescentes e quase adultos, sem chances que eu iria autorizar esse soro em vocês, fora de questão.
— Nossa, mãe, que absurdo falar isso. Quem vê pensa que não somos responsáveis. — Dante fala, em um tom sério, porém sinto que em algum momento de sua resposta ele ironizou e minha mãe era mais do que boa em detectar isso. Escuto ela forçar uma risada alta e olhar para ele de relance.
— Você está me sacaneando, não é mesmo, Dante Hawks? Meu irmão revira os olhos, balançando a cabeça, não acreditando que nossa mãe não havia mudado sua opinião quanto a
nós. Dou risada e falo, tirando uma com Dante, dando um leve soco em seu ombro esquerdo:
— Não conhece nossa mãe mesmo.
O carro para no semáforo e logo me vejo pensando nas possibilidades que com isso viriam. Talvez não fosse tão ruim, pensar demais estava me confundindo. Acho que esse era meu mal. Falo baixo para mim mesmo:
— Que mal te...
Antes de completar minha frase, sou tirado de meus pensa- mentos com um morador de rua batendo no vidro do carro. Dou um salto do banco com o susto pelo modo que ele gritava e batia com a mão no vidro que eu estava debruçado.
— O caos está por vir, não se vacinem com esse soro. Estão dando entrada ao apocalipse, irão exterminar a nós mesmos. O fim da humanidade virá por nossas mãos — gritava o homem, enquanto seguia por trás de nosso carro, caminhando em meio aos demais carros parados, assim como nós, naquele semáforo.
Se eu soubesse que o que aquele homem dissera era real, eu e meu irmão teríamos feito algo para poder salvar algumas pessoas à nossa volta. Aqueles flashes em minha mente também tentaram me alertar, mas me deixei levar pela opinião alheia.
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