Vitor
Denver estava em boas condições, não foi muito prejudicada com a ausência do rei, Vitor tem que agradecer pela sua corte não ter recusado a ajuda da sua mãe. Não tinha tantos problemas para resolver, mas ele tinha que mostrar ao reino que está vivo. O rei de Denver teve que visitar cidades para conferir como tudo estava e mostrar estar vivo e bem, assim como o império está.
Foi bom rever seu reino, observar tudo, os jornalistas mostram como Denver foi abençoado por ter seu rei de volta e diziam que tudo estava bem. Bem. Bem. Bem. Que palavra engraçada. Vitor sorria e trocava cumprimentos com os governadores, acenava para o seu povo e conversava com as crianças.
De volta a Marillion, o rei é recebido com bandas marciais, confetes e ruas decoradas. O príncipe do Império Íris estendia a mão para algumas pessoas e elas apertavam com força, uma criança lhe deu uma coroa de ipês brancos. Vitor agradeceu com um sorriso e seguiu seu caminho até o Wildknight.
Em toda essa viagem, Dumpling não ficava a mais de um metro e meio de distância dele, o príncipe queria que o lobo fosse descansar e não ficasse apenas o monitorando. O palácio do rei de Denver foi construído há anos pensando em abrigar as Bestas da Coroa dentro deles, logo o lobo passava tranquilamente pelos corredores, Dumpling nem chega perto da maior Besta que já entrou naquele palácio.
Vitor ainda se sentia fraco, não conseguia fazer um quarto do que fazia antes, sua sensibilidade estava horrível e suas habilidades de cura eram demoradas demais. Se estivesse no seu auge, não teria levado cinco horas para deixar Danielle Alfred fora de perigo e Sophie Hauser não teria demorado tanto para se recuperar.
Ele temeu não conseguir salvar a vida da senhorita Hauser, se afastou do grupo várias vezes junto com Dumpling para tentar reunir sua energia, mas não adiantou de nada. Vitor decidiu não usar magia até estar totalmente recuperado antes de Akemi dizer o que houve com ela.
Com muito esforço, ele conseguiu ajudá-la.
Embora a senhorita Hauser tenha enganado e sedado Vitor com uma droga utilizada pelos veterinários para animais gigantes, o príncipe do Império Íris não sentia raiva dela, viu nos olhos dela o medo que tentava esconder. As pessoas fazem coisas imprudentes quando tem medo.
Por muito pouco, Dumpling não a devorou quando os encontrou. O rei mal tinha acordado quando seu lobo começou a balançar o carro onde ele estava, furioso e quase arrancou as portas do carro e arranhou a pintura até Vitor sair. Depois de muito esforço, e afastar Sophie o máximo possível, Dumpling se acalmou e deixou a senhorita Hauser e o Chefe Zander em paz.
Vitor o mandou esperar até que o plano de sua mãe e de Tyr Zander fosse explicado, eles iriam até Magnólia fingindo levar o príncipe como troféu, mas seria apenas para que ele soubesse a localização dela para passar a sua mãe. Depois de feito, Vitor voltou até Dumpling e os dois esperaram o tio Urano e sua mãe continuarem. Sophie reapareceu com os primos e a tia à beira da morte, depois do que conversaram no escritório de sua mãe, eles nunca mais se viram pessoalmente.
O quarto do rei não mudou muito, sua antessala era circular com janelas estreitas com sofás abaixo delas. As paredes eram verdes claras e tinham um lustre cristalino no centro do teto. O quarto do rei em si tinha as paredes verde escuro decoradas com linhas douradas desenhando algumas espirais e o Salgueiro de Denver na parede da cama, Vitor apenas se deitou no banco estofado à frente de sua cama e soltou um suspiro de alívio. O cronograma da manhã foi um sucesso.
Dumpling o cutuca com o focinho e o rei ri.
- Pelo que eu soube, não fui o único que matou todo mundo de preocupação.- Diz fazendo carinho no lobo. - Você fugiu. Não foi, mocinho? - Pergunta ao se lembrar do que todos na sua corte disseram a respeito do lobo.
Ele deita a cabeça em cima do príncipe, quase o sufocando. Vitor balança as pernas.
- Certo, Dumpling.- Ele diz tentando bater os dedos no focinho dele, mas estava muito longe. Quando ele cresceu tanto? Vitor já se perguntou mil vezes.- Ei, grandão.
Dumpling levanta rápido e vai até a varanda, o rei de Denver pensou que ele iria pular da sacada, mas então sente o que ele sentiu e corre para fora do palácio.
...
O lobo o leva rapidamente para o local atingido por aquela energia sombria. Em um raio de cem metros, a Floresta Sagrada de Cecília estava morta. As árvores estavam secas e pretas como carvão, animais mortos estavam com os corpos apodrecidos. Vitor olhou em volta, uma neblina fraca que não cobria suas botas estava se dissipando aos poucos.
A Madrinha Cecília não aparece, o que não é um bom sinal. O príncipe do Império Íris tenta sentir algum resquício de vida ali e não detecta nada, por fraqueza ou pelos animais que estavam perto da área que fugiram foram além de seu raio de alcance, ele não sabe. Helicópteros chegam acima dele, vigilantes também descem deles em cordas, param ao redor do rei.
- Majestade, mil perdões.- Um deles, alto, robusto e com uma barba preta que ficava para fora de seu capacete diz.- Nosso sistema não detectou nada antes, percebemos apenas quando uma das tropas de vigilantes percebeu algumas árvores secando.
Não detectaram nada, a Floresta Sagrada de Cecília é protegida por fora e costumava ser protegida por dentro. Tropas de vigilantes que garantiam que nenhum caçador entrasse na Floresta e tinham o trabalho de resgatar animais que fossem atacados por contrabandistas ficavam dentro da área em cabanas altas que evitam animais desconfiados e eram protegidas dos gigantes que poderiam derrubá-las.
Depois que Vitor... ficou ausente, as tropas foram forçadas a sair, os animais se voltaram contra eles e até chegaram a matar alguns durante a evacuação. Então, eles redobraram a proteção do lado de fora, mas sem se arriscar a entrar.
- Vasculhem a área, procurem algum sinal do responsável.- Vitor ainda está olhando para o cenário morto. - Chamem a equipe de resgate também para ajudar qualquer animal que tenha sido ferido, isolem essa área e monitorem as saídas da Floresta.
- Devemos reportar a Imperatriz?- O capitão pergunta.
- Não se preocupe com isso.- O rei de Denver responde.
...
A reunião foi um tanto caótica, Nathan teve um mal estar por ter se irritado tanto e teve de ser retirado da sala depois de pedir a Vitor que consulte a Grande Mãe para saber o que deve ser feito. Tereza, uma conselheira, ficou furiosa e ressaltou o dano que isso causará no resto do país em questão de dias. Tereza Wasser era a diretora do órgão de proteção e preservação da Floresta de Cecília, responsável por manter aquele ecossistema o mais intacto possível na ausência do rei. Óbvio que ela estava furiosa com o que quer que tenha acontecido.
Edmund estava sentado em uma cadeira ao lado de Vitor, de volta à sua posição de Segunda Voz no conselho de Denver, também ouvia calmamente a reunião.
- Não devemos tolerar esse nível de desrespeito, majestade.- Tereza esbraveja.
- Onde quer chegar?- Vitor pergunta com um punho fechado, mostrando a natureza calma que deve ter.
- Foi um ataque feito por magia, meu senhor.- Edmund explica.- Os únicos no continente que podem fazer isso são...
- Escarianos.- O rei de Denver completa.
Vitor queria que eles não chegassem a esse raciocínio, mesmo sendo óbvio. Os escarianos são os únicos no Oeste que podem usar magia, mas poucos além das Três Famílias Primordiais despertam algum tipo de poder. O fato de um escariano provavelmente ter atacado um território restrito e sagrado de Denver pode gerar ainda mais desentendimentos entre a corte de Vitor e a da sua mãe.
- Sendo assim, podemos descobrir quem foi o responsável por isso ainda mais rápido.- O rei acalma todos.- Todos os escarianos que nascem com resquícios de magia da Era de Edith são registrados e seu tipo de poder também é deixado claro no sistema.
- Então pode pegá -lo, Vossa majestade?- A Conselheira Roberta pergunta, esperançosa.
- As chances são favoráveis com base no que temos até agora.- Vitor esclarece. - Também não podemos tirar conclusões precipitadas e culpar alguém sem provas. - Ele alerta para que nenhum deles tente atacar sua mãe sem motivos lógicos.
- O que fazemos agora, senhor?- Edmund pergunta ao rei.
- Identificar a magia usada e descobrir se aquela área atingida pode ser restaurada, descobrir o responsável e capturá-lo.
Vitor se levanta, arrastando a cadeira para trás e dando a reunião por encerrada. Alguns conselheiros o seguem junto com Michael e Leonard, Dumpling estava sempre em seu encalço, quando o rei recebe uma ligação. Ao olhar para a tela, dispensa seus acompanhantes, apenas Michael, Leonard, Edmund e Dumpling ficam.
- Alô?- Vitor atende seu celular pessoal.
- Oi, Vitinho.- Sophie cumprimenta com a voz alegre.
- Oi, senhorita Hauser.- Ele apoia as costas na parede do corredor, os três que continuavam ali ficaram observando o rei.
- Está ocupado agora?- Ela pergunta.- Eu queria perguntar umas coisinhas.
Outro motivo que Vitor não via Sophie Hauser como inimiga, ela era totalmente sincera a respeito do que queria.
- Não.- O rei responde, vendo Edmund franzir o cenho para ele.- Algum problema?
- Não, quer dizer, mais ou menos.- Sophie responde, parecendo um pouco nervosa pelo tom.- Eu queria fazer uma pergunta. Quer dizer, essa é a principal e, dependendo da resposta, eu pergunto o resto.
- Majestade, as reuniões. - Michael relembra.
- As com os comerciantes, adie para a próxima semana.- Vitor diz em voz baixa.- Com os vigilantes da floresta, diga para esperarem e cancele as entrevistas por ora.- Michael assente e sai para cumprir suas ordens.- Desculpe, senhorita Hauser.- Ele volta a falar com a Sophie.
- Olha, se você estiver ocupado, eu ligo depois.
- Não, pode falar agora.- O príncipe diz com calma.
- Ok, você conhece alguém chamado Caos? - Sophie pergunta rápido.- Claro que esse não é o nome verdadeiro dele, mas ele gosta de se chamar assim. - Ela explica.- Já ouviu falar?
Vitor lembrou de todos os arquivos que sua mãe enviou para que ele pudesse se atualizar sobre o que aconteceu de mais importante no império. Não leu nada sobre alguém chamado Caos.
- Não tem nada sobre alguém com esse nome nos arquivos daqui.- O príncipe responde ainda tentando puxar algo na memória. Seu celular toca de novo.- Pode me dar um minuto?
- Claro.- Sophie responde.
Ele olha a tela do celular, é uma chamada conjunta de Hank e Éden.
- Vocês dois de uma vez?- Vitor pergunta ao atender a chamada.
- Foi o Hank que me ligou.- Éden diz com a voz sonolenta.
- Porque sua prima vai fazer alguma estupidez.- Hank defende, tem eco onde ele está.
Isso não mudou com os anos que se passaram. Antes de tudo isso começar, Vitor, Éden e Hank eram melhores amigos. Éden era quem tinha as ideias malucas, Vitor seguia como um telespectador e o Hank era o coitado que tentava impedir eles de pararem na prisão ou prejudicarem a imagem da família. Como membros das Três Famílias Primordiais, era difícil conseguir alguma amizade verdadeira, por isso eles tinham um círculo de amizades bem pequeno.
- Você poderia esperar eu falar com ela?- Éden pergunta aborrecido.
- Eu estava falando com ela agora, me deem um minuto.- Vitor diz colocando Sophie na chamada também.- Sophie, eu estou falando com o Hank e com o Éden, vou colocar você também.
Ele junta todos eles na chamada.
- Oi, Edie.- Sophie cumprimenta e Vitor aposta que ela está fazendo o que sempre faz com a boca quando está nervosa. - Tudo bem?
- Tudo bem nada. - Éden responde.- F-fu-fui expulso do exército e agora o Hank m-m-me liga perguntando o que você vai aprontar.
- Eu só quero saber do cara que eu ouvi no estádio, Edie. - Sophie se justifica.- Ele sabe onde a Magnólia se meteu e até pode dizer o que fez com a minha mãe.
- Nós já temos a informação. - Éden diz com a voz sonolenta.- A General Bahati vai mandar uma tropa para lá.
- Se uma tropa for, o cara vai se esconder. - Sophie insiste.
- Espera, a Magnólia tem um aliado?- Vitor pergunta depois deles se acalmarem.
Leonard e Edmund erguem as sobrancelhas em surpresa, e medo.
- É o que parece. - Hank responde.
- Hank, o que você sabe?- Ele pergunta olhando para os lados do corredor.
- Nada. Não sei nada, Vitor. - Hank responde rápido demais.
- Ah, por favor. - Éden bufa.
- Sério?- Sophie pergunta.- Até eu percebi que isso é mentira.
Hank não mentia, e se mente por alguma coisa, quer dizer que está escondendo algo grave ou que alguém pediu para ele mentir. Vitor supôs que fosse a segunda opção.
- Hank, o que aconteceu?- O rei de Denver pergunta com a voz firme.
Ele demora um bom tempo para dizer alguma coisa, Vitor espera pacientemente.
- Hank, eu não tenho a paciência do meu p-p-pai. - Éden diz, já irritado.
- A Imperatriz já sabe do ataque à Denver.- Hank responde a contragosto.- Não quer que você se envolva nem procure o responsável.
- O quê?- Vitor pergunta, indignado.
- Mas ele é o rei de Denver, que tipo de rei ele vai ser se ignorar uma ameaça? - Sophie pergunta.
- Cala a boca, Hauser. - Hank diz, estressado.- Isso não é da sua conta.
- Ela tem razão. - Vitor diz com a voz calma.- Não posso ignorar algo que acontece no meu reino.
- Vitor, por favor, a sua mãe está procurando um escariano extremamente perigoso agora.- Hank explica.- Ele consegue matar uma pessoa com uma magia que ninguém conhece, não se arrisque.
Uma magia escariana, rara e que pode anular a energia vital. Já é um ótimo começo para identificar o culpado, Vitor poderia encontrar a pessoa que matou aquela parte da Floresta, mas não entendia o motivo de sua mãe o querer fora disso.
- Obrigado pela preocupação, Hank.- O príncipe diz com educação.- Eu vou para Gedeon hoje investigar.- Ele diz olhando para Edmund e Leonard, para deixá -los cientes e que cancelem os compromissos.
Com isso, ele desliga.
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