Sophie
- Eu só quero conversar com você, Sophie. - Aquela impostora diz com um sorriso amistoso no rosto. Não era nem um pouco parecido com o sorriso de Lídia, era amistoso e demoníaco ao mesmo tempo.
Aquela noite não era de Sophie, definitivamente não era. Ela passou dias dormindo em um trailer, passou pela tortura de moda da prima e agora estragou todo o plano porque foi burra de acreditar que a sua mãe estaria dançando em uma pista de dança.
- Sobre o quê? - Pergunta cruzando os braços.
- Sobre uma possível aliança entre nós dois. - A versão falsificada de sua mãe gesticula entre os dois.
Sophie franziu o cenho e se afasta, pensando em que tipo de aliança aquela pessoa poderia querer. Ela já sabia há muito tempo que existe todo tipo de gente para fazer todo tipo de coisa.
- Que tipo de aliança? - Ela pergunta com receio.
"Caos" ri do nervosismo dela, balançando a cabeça da mãe de Sophie e a inclinando levemente para o lado. É a cópia dela. Como é possível?
- Uma cooperação para meu objetivo. - Caos diz com a voz calma. - Eu gostaria muito que você me ajudasse. Você tem um grande potencial.
Sophie tinha que chamar alguém, qualquer um, para avisar que a pessoa que eles estavam procurando estava diante dela fingindo ser Lídia Hauser. Mas ela também precisava manter Caos ali, distraído. Parece um tagarela, então, vou deixar que fale.
- Por que eu? - Sophie perguntou.
- Pelo mesmo motivo que sua avó queria te atrair para o lado dela. - Caos respondeu dando de ombros. - Pelo seu potencial inacreditável.- Diz com a voz da própria avó de Sophie.
"Potencial inacreditável" foi o que Magnólia disse que Sophie tinha quando a conheceu, elas se conheceram na primeira das várias mansões onde a Hauser ficou com sua família. Aquela velha desgraçada quis conversar com ela sobre seu histórico de vida, que Sophie não sabe até hoje como Magnólia conseguiu tudo aquilo, e disse que adorou tudo. Depois, quis que ela fosse testada.
Sophie acabou em uma mesa perto de quatro tipos de metal mais comum em formato de cubos, ela manipulou todos eles, fez teste de mira, atirando as facas que ela mesma criou em alvos, mostrou tudo o que podia fazer. O tio Tyr também estava lá, com os olhos arregalados depois do que ela mostrou, e Magnólia perguntou sobre o treino que Sophie teve. Ela disse que não teve muito porque nunca viu necessidade de usar seu poder.
Depois disso, Sophie se sentiu a favorita da sala de aula. Intocável e elogiada por qualquer coisa que fizesse, mas ela não viu o motivo de tanta festa que viu a avó fazer com o poder dela.
- Como assim? - Sophie perguntou.
- Você chegou no nível de Corinne e Éden Zander em questão de meses, eles treinam desde crianças. - Caos estende a mão para ela. - Nenhum Zander evoluiu tão rápido assim. Seus tios são treinados desde que aprenderam a andar, seu tio Tyr já tinha matado pessoas aos nove anos e seu tio Onúris já havia começado o mesmo aos onze.
Caramba! Sophie pensou.
- Seu tio mais velho foi treinado nas fronteiras na época em que Cyrus e Denver queriam invadir Escarion. - Caos conta. - Foi levado até lá aos sete anos. Seu nível de poder quase se equipara ao dele quando ele tinha sua idade. É uma benção.
- Por isso você quer que eu me junte a você? - Sophie pergunta imitando o movimento que Caos fez com a cabeça. - Por causa do meu tio?
Seu semblante se tornou sério e frio, como se Sophie tivesse o insultado da pior forma possível.
- Porque você vai superar cada um dos seus parentes em pouco tempo, eu adoraria ter alguém como você lutando comigo. Essa é uma oportunidade única para você, Sophie, a chance de restaurar a honra de sua família. Fazer todos se esquecerem dos covardes que sua avó, seus tios e sua mãe foram.
A raiva se enrolou em Sophie como uma serpente e quase quebrou todos os seus ossos, ela joga Caos contra a parede com um punho gigante de metal, o fazendo atravessar a madeira. Sophie pisca e olha para o que fez. Tinha esse tanto de metal aqui? Ela se perguntou, mas balançou a cabeça e ignorou isso.
Aquele desgraçado, ou desgraçada, cai no meio da pista de dança, algumas pessoas correm e outras apenas se afastam. Sophie atravessa o buraco que fez ao lançar aquela versão falsificada de sua mãe contra a parede.
- Pode parar de fingir ser a minha mãe e mostrar a sua cara! - Sophie diz furiosa, apontando a ponta da espada na direção da mulher se levantando.
- Ah, mas ela é tão linda. - A falsificada diz levantando a cabeça e soltando o cabelo. Tem a audácia de ainda imitar o tom de voz da mãe de Sophie.- Alguns a consideravam a garota mais bonita da turma quando ela estudava no Campo em Gedeon, mas não sou eu quem vai contar as histórias da sua mãe para você. - Caos diz balançando a cabeça, deixando o cabelo cair sobre os seus ombros. - Você pode ouvir da boca dela se quiser, se me ajudar.
Elas andam em círculos, Sophie fica atenta aos pés e as mãos de sua adversária, outra dica que sua avó deu. Caso ainda não saiba o poder de alguém, fique atento aos movimentos dos pés e das mãos. Sophie não estava mais usando peruca, deve ter caído em algum lugar, as pessoas que pensaram que seria legal assistir perceberam que se tratava dela e realmente tentaram sair do bar.
- Oh, não. - A Falsificada diz levantando a mão e Sophie ouve o som das portas batendo. - Ninguém pode sair daqui ainda.
- Você sabe onde minha mãe está? - Sophie pergunta. Caos acabou de insinuar que ela poderia ver sua mãe de novo, depois de um ano, Sophie vê algo que pode realmente levá-la até sua mãe.
- Sei, e posso te levar até ela em troca da sua colaboração. Eu estava prestes a te dizer isso.
- Colaboração em quê? - Sophie pergunta franzindo a testa, ela tenta chutar os sapatos para longe, o vestido era apertado e a obrigava a manter a coluna extremamente reta.
- O fim dessa mentira que nos afoga. - Ela diz.
Sophie não esperou a versão pirateada da sua mãe fazer alguma coisa nem fez cerimônia para começar a luta, ela disparou facas na direção de suas pernas, indo pelos lados e por trás. Ela pensou em criar uma armadilha para poder atacar aquela coisa de surpresa, mas a sua mãe falsa avança para a frente, na direção dela.
As vozes de seus tios passaram a ecoar por sua cabeça, Sophie lembra de seu tio Oni lhe ensinando a se esquivar agilmente de ataques brutais como os que a Lídia falsa tentava acertar em seu rosto, lembrou da tia Titi lhe dando dicas de como posicionar a faca para deixar o inimigo com receio de se aproximar demais e do tio Tyr ensinando como contra atacar e saber o momento certo para isso.
Momento que chegou e Sophie quase perdeu.
Aquela impostora tentou acertar seu rosto, a garota abaixou, viu as costelas da mulher expostas por baixo do braço esticado. Foi ali onde a Hauser acertou seu primeiro golpe, mais forte do que pensou que seria, mandando a inimiga a uns dois metros de distância dela. Tio Tyr daria os parabéns a Sophie se visse o chute icônico que ela deu.
A versão falsificada de sua mãe tentava se levantar mesmo com a dor, Sophie parou para avaliar a si mesma. Tinha colocado escamas afiadas nos antebraços e na palma das mãos, seu cabelo já estava arruinado, mas ela não tinha nenhum arranhão. Caos se levanta rindo.
- Como esperado de uma Zander que foi treinada pessoalmente pelos herdeiros de Magnólia. - Diz com um sorriso e uma mão sobre o lugar onde Sophie acertou com muito orgulho. - Aposto que nem se dá conta do que faz até ter feito.
- Vai falar onde minha mãe está ou você só queria me distrair com isso? - A garota pergunta voltando a andar em círculos, força do hábito.
- Eu realmente sei onde sua mãe e cada um dos seus tios está, um está morto, claro, mas sua mãe, Onúris e Héstia ainda estão vivos. Você pode encontrar todos eles e a Magnólia pode vir de brinde. - Sophie ouve a oferta com desconfiança. - Mas, como eu disse, você vai ter que se juntar a mim.
- Mas de que mentira você está falando?
- A de que os escarianos foram feitos para a paz.
- Quê? - Sophie franziu a testa, mas continuou atenta aos movimentos daquela coisa ou pessoa que insistia em imitar sua mãe.
Caos deixa a coluna reta e deixa aquela imagem da mãe de Sophie se desfazer, se transformando em um homem alto, forte e de ombros largos. Era um escariano azul, sua pele era em um tom perolado e o cabelo branco sujo e embaraçado caía em seu rosto, ele o afasta delicadamente com as mãos. Seus olhos eram castanhos, simples.
- Os escarianos deveriam ser um símbolo de força, um símbolo verdadeiro de poder e soberania. - Ele diz. - Temos potencial para governar o mundo inteiro, mas a Imperatriz Miriam se reduz por um acordo que sua aliada sequer respeita. Veja as princesas de Órion, você realmente acredita que elas podem governar? Que poderiam simplesmente vir para esse continente e se intrometer em nossa política?
Sophie pensou com seriedade, lembrando das princesas, e concluiu que elas definitivamente não tinham capacidade de governar nada e que o jeito como elas chegaram em Denver não era um exemplo de diplomacia nem deixaria uma boa imagem para a mãe delas.
- A Senhora do Oeste transformou os escarianos de verdade em preguiçosos. - Caos diz cuspindo no chão. - Ela tem o mundo nas mãos e só usa esse poder para se manter confortável e acomodada na segurança frágil do seu Império e não veria limites para criar cada vez mais mentiras, prender ainda mais pessoas no seu tabuleiro de poder.
Ah, que ótimo. Um reclamão. Sophie quase revira os olhos.
- Não há mais ninguém como os guerreiros de antes, ficaram acomodados nessa paz e perecem na insignificância. - Caos continua reclamando e Sophie prepara algumas lâminas perto para agirem seus calcanhares como cobras prontas para dar o bote.
Sophie odeia esse tipo de gente, do tipo que vive reclamando do novo mundo, da sociedade, falando que sua época era boa sendo que só era para no máximo 10% da população. Magnólia não é assim, ela gosta das coisas como são agora. A única coisa que aquela velha não gosta é não estar no comando de tudo isso.
Se a Hauser tivesse que escolher entre aturar essa gente e comer todos os doces de amendoim que já a ofereceram, ela comeria tudo de uma vez. E Sophie é alérgica a amendoim, morreria na primeira mordida.
- Antigamente, os Chefes das Três Famílias Primordiais eram sinônimo de poder, autoridade e força em todo lugar onde eram conhecidos. - Caos diz, andando em círculos e Sophie revira os olhos. - Veja como eles acabaram. A preguiça de Miriam Minori, o despreparo de Urano Febe e a negligência de Tyr Zander foi o que colocou você aqui hoje. Pode me dizer onde você se via atualmente, sete anos atrás? Seus planos para o futuro? As Famílias Primordiais tiraram isso de você, seu tio escolheu se manter um tolo pacifista com a Magnólia e isso o destruiu. As crenças as quais os escarianos se prenderam o condenaram à morte.
- Olha aqui, sua falsidade, não abra a boca para falar do meu tio! - Sophie dispara. - Nem mais ninguém da minha família ou eu corto suas pernas fora!
- Ele caiu nas mentiras do antigo rei Minori, de que podemos resolver nossos conflitos com pacifismo e diplomacia, agora, nem seus filhos puderam honrar sua memória. - Caos continua friamente.
Que bom que o Éden, a Cori e a tia Dani não estão aqui. Sophie pensou segurando as facas que tinham com força, mas Caos estendeu sua mão e mostrou um sorriso que o deixava quase encantador com aquele rosto, se ele não fosse um completo babaca.
- Você não precisa acabar assim. - Diz se aproximando dela. A cada passo que Caos dava na direção de Sophie, ela dava um para trás. - Pode ser elevada, será colocada acima de seus tios, da Magnólia, todos eles. Junto a mim, Sophie Zander. Para o meu próximo plano, você é perfeita.
- Que plano? - Ela pergunta, fazendo com que o metal atrás de Caos seja posicionado atrás deles como a cauda de um escorpião.
- Destruir o príncipe Vitor Minori, a maior arma que Miriam Minori já empunhou. - Caos responde com a voz fria e o rosto impassível. - O que me diz, Sophie? - Ele coloca a mão dele próxima ao rosto dela. - Você nunca mais vai ter que limpar a bagunça deles.
Sophie mostrou um sorriso de canto e inclinou a cabeça para o lado, analisando Caos de cima a baixo e começando a rir.
- Colega, você me enganou fingindo ser a minha mãe, ofendeu minha família e ofendeu a minha vida. - Sua voz se torna séria. - Eu nem sei quem você é e não me importo, só te prometo uma coisa: um de nós vai sair daqui morto.
Caos se transformou de novo. A imagem do homem rústico bonitão se desmancha, se tornando na de Sophie naquele exato momento. A Sophie verdadeira arregalou os olhos ao notar o jeito como essa transformação aconteceu, se lembrando de outra pessoa, criando uma teoria de quem poderia ser. A Sophie falsa sorriu e depois fez biquinho.
- Então, você será apenas um estorvo. - Ela diz. - Lamentável.
Sophie estava ocupada demais pensando na teoria que estava se formando em sua cabeça e como foi burra em não perceber antes, sobre quem aquela pessoa era, ela dá mais um passo para trás, mas sua versão falsa toca sua barriga com uma delicadeza agonizante.
Foi como se sua pele queimasse da sola de seu pé até sua coxa, Sophie apoia todo o seu peso no outro pé, mas uma dor atinge seu abdômen como se fosse uma espada atravessando seu corpo. A Hauser se curva e cai de joelhos, sua respiração começa a arranhar sua garganta, e a dor começa a aumentar. Sophie não aguentou e gritou de dor e medo.
Caos se ajoelhou na frente dela, com o sorriso dela, segurando o queixo de Sophie para olhar nos olhos dela. Sua "falsa eu" coloca a mão em seu pescoço, se aproxima de sua orelha e sussurra.
- O que está acontecendo na sua perna vai ficar aparente para ele, mas o que está acontecendo nos seus órgãos, ele não vai perceber. - Sophie ouve uma voz masculina que ela não conhecia. - Vai pensar que te salvou, mas você vai morrer logo depois que ele dizer que você está bem. Vai ser doloroso, você não vai ter as últimas palavras e seu corpo vai ficar horrível. Sua família vai assistir você morrer sem poder fazer nada para impedir.
A visão de Sophie começa a ficar turva quando Caos finalmente se afasta dela, mas ela consegue ver seus olhos. Eram verdes, mas não vivos como os do Vitor, eram mais opacos, sem brilho, sem vida.
- Adeus, Sophie. - Caos diz se levantando. - Sua vida não valeu muito, mas foi interessante por um tempo. Com a sua linhagem, poderia alcançar muito, seu final é realmente triste.
Sophie não conseguiu parar de olhar para aqueles olhos.
Antes de tudo escurecer.
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