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VINTE E UM - Por Valente

Valente

Destravei o portão de ferro com o botão de controle remoto no chaveiro e larguei a moto no gramado. O olhar assustado de Isabela quando a deixei na porta de casa, ameaçava reduzir o meu muro de proteção às ruínas. Exatamente como previ, ter alguém ao meu lado o dia todo na biblioteca acabaria por trazer certa proximidade. Só não imaginei que poderia gostar.

Eu devia ter contratado um homem.

Mulheres sempre me arrumavam problemas. Tudo bem. Se eu parasse para ser honesto, acabaria por admitir que o problemático era eu. Sei disso, mas me recuso a admitir. Desde o ocorrido com meus pais, tornei-me um incapacitado. Algumas pessoas perdem braço, perna, visão, audição. No meu caso, fiquei com deficiência em afeto.

Subi apressado o gramado. Na confusão do dia, esqueci-me de ler a mensagem do livro. Praguejei por ter escolhido guardá-lo justo no lugar que mais evitava.

Entrei no castelo e fui até a biblioteca. Puxei o Dicionário Hindu na prateleira falsa atrás do balcão e aguardei as paredes se moverem para revelar o espaço hexagonal. O Salão do Zodíaco, antes utilizado por meus pais como cofre. Para mim, desempenhava agora a função de depósito. Mas de outro tipo. Um recinto de feridas. Ali eu guardei tudo que tentava esquecer. Na vã ilusão de manter minha memória junto daqueles objetos, de deixá-los soterrados na poeira.

Andei pelo piso de mármore xadrez e franzi o cenho ao fitar as prateleiras de jacarandá. Senti o pescoço rígido de tensão. Fotos e mais fotos se espalhavam pelo espaço. Retratos da minha vida. Meus pais. Minha avó. Caixas com meus pertences devidamente lacradas. Evidências dolorosas de várias primaveras. Observei o pufe lilás no centro e o livro O Pequeno Príncipe sobre o tecido.

Uma estranha combinação que só eu e meus pais poderíamos entender. Fraquejei diante da saudade lutando para vir à tona. Apressei-me em pegar o livro encantado.

O maldito livro que não me serve de nada. Vou passar o resto da vida Enforcado.

Deixei o espaço enclausurado e empoeirado de lembranças. Cruzei a sala dos brasões e dirigi-me ao meu quarto. No caminho, preparei-me para a raiva que a mensagem muito provavelmente traria.

Assustou-me ao sentir a vibração do celular no bolso. Somente uma pessoa possuía aquele número. O aparelho foi comprado para que me mantivesse informado sobre minha avó. Eu mantinha uma linha direta com a cuidadora extra.

Atendi e nem a esperei concluir a explicação. Joguei o livro na cama. Em minutos, montava em minha moto e deslizava pela estrada até o Centro de Saúde para Idosos.

Fui recebido pela cuidadora ainda na recepção, depois seguimos pelo corredor até a enfermaria enquanto ouvia sua explicação:

— Sua avó contraiu pneumonia. Ela não parava de murmurar seu nome entre delírios ardentes de febre. Desculpe se o assustei, Senhor Valente. Mas Dona Constança insistiu que eu o chamasse. Ela está consciente.

Empurrei a porta. A ansiedade batalhou com minha preocupação. Seu bem estar era o mais importante de tudo. Mas ao mesmo tempo, senti certa animação. Minha avó estava consciente? As verdades de minha vida não tinham o hábito de serem boas assim.

— Vó? — indaguei ao silêncio do quarto sob a fraca luz fria.

— Tiago?

Ela se ergueu na cama. Não acreditei. Voltei a ser o menino de sete anos atrás.

— Vó!

Abracei a cabeça dela. Ouvi-la acertar meu nome me encheu de esperança. O perfume de talco e lavanda fez com que eu me sentisse em casa.

— Meu filho! Como você está forte. — Minha avó descolou o rosto de meu peito e alisou minha bochecha. — Mas que barba é essa? Isso é alguma promessa pra me tirar daqui?

— Ah, vó. — Ri de verdade. — É tão bom falar com você.

Sentei-me na cama de hospital e segurei as mãos dela.

— Acho que não temos muito tempo, não é, meu filho? Daqui a pouco eu esqueço de novo, não é?

Olhei para os pés e meneei a resposta. Tive medo de proferir a palavra e acabar com aquele encanto. Como senti falta de vê-la assim. Novamente como ela mesma, em vez da sombra dos últimos dois anos.

— Vamos, Tiago, me conte. Está trabalhando, estudando, namorando? Conte para sua avó — pediu com um sorriso que enrugou sua pele cor de pêssego e estreitou os olhos azul piscina.

Como poderia isso? Em vez de tentar compreender o estado de sua doença, minha avó queria saber de mim. O tempo, pelo visto, não se encarregou de seu espírito doce. O problema eram as respostas, todas iguais às suas questões. Não, não e não.

Eu havia estagnado no tempo. Para não decepcioná-la, não respondi nenhuma das três.

— Estou indo, vó. Eu acho.

— Então tenha apenas a certeza de estar indo para o lugar certo. Seus pais desejariam ver você feliz.

Ela acariciou minha mão. Contive a ardência irritante nos olhos. Inclinei-me para beijar minha avó que, de súbito, encostou-se assustada na cama e afastou-se de seu toque.

— Quem é você?

— Calma. — Suspirei. Minha garganta ardeu pelas lágrimas lutando para escapar. — Sou eu, vó, Tiago. — Peguei sua mão, desejoso de trazê-la de volta.

— Saia! Saia daqui!

A cuidadora apareceu de prontidão ao ouvir os gritos. Levantei desapontado da cama. Observei-a se debater enquanto a cuidadora lutava para lhe aplicar uma injeção.

Obriguei-me a admitir que o momento em que ela me reconheceria novamente, talvez, nunca mais viesse.

Meu corpo pesava uma tonelada quando me arrastei pelo corredor. Não estava indo a lugar algum. Minha avó é quem ia para cada vez mais distante. E meus pais já haviam partido há muito tempo. Eles desejariam me ver feliz? Por quê? Eu não merecia isso. Pelo visto, conseguia decepcionar até mesmo os mortos. Será que eu não podia ficar em paz? Simplesmente viver minha vida até acordar um dia e os problemas terem desaparecido? Que inferno! Só precisava apagar o passado. Mas aparentemente o destino não me deixaria esquecer a tragédia que me obrigou a se esconder no castelo. Culpa da maldição.

Culpa da maldita Laura e aquela maldita noite no circo!

Girei a moto na saída do estacionamento. Em instantes, destravava novamente os portões do castelo.

Andei imerso até o salão do Zodíaco e resolvi me afogar na própria mágoa.

Dane-se!

Carreguei o pufe lilás pelas escadas. Levei junto o livro do Pequeno Príncipe, uma foto de meus pais e larguei os itens perto da cama.

Já que o passado me chama, atenderei ao pedido.

E como eu não passava de um monte de lixo, começaria a noite quebrando a última promessa feita a sua avó.

Abri a porta dupla do closet. Peguei a garrafa de tequila e virei os primeiros goles no gargalo.

Antes de iniciar a leitura do Pequeno Príncipe, peguei o outro livro. O maldito sobre a cama, quer dizer, encantado. Abri a página e li:

"De que adianta a vida trazer alguém para ajudar a soltar a corda?

O Enforcado se ocupa demais em fitar a terra. Assim, fica impossível de se ver que basta o esforço de erguer o tronco, para alterar o ângulo."

Atirei o livro na parede. Seus enigmas mantinham-se inúteis, e minha avó continuava presa à maldição causada por mim. Ela não merecia isso. Antes de perder a memória, eu me recordava dela como alguém com a alma colorida, sorridente, em paz com si mesma e com a vida. Aquele tipo de pessoa capaz de transformar o mundo num lugar melhor. E por culpa minha, estava ali, perdida no centro de idosos, condenada a flutuar para sempre. Como um balão cheio de gás, perdido em uma ventania.

Dei mais três longas goladas e me encaminhei ao bar. Só uma garrafa essa noite, não seria o suficiente.

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Ainnn meu coração! Vocês também ficaram com dó?

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