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VINTE E DOIS - Por Rosa

Rosa

— Rosa, você não vai tirar aquelas tampas de panela do corredor, não? E pra que a vassoura? Eu quase me estabaquei! — exagerou Isis.

— Você sabe que é armadilha anti-Gastão. — Parei ao lado dela, que encarava a geladeira aberta indecisa. — Anda. Pega logo o que você quer comer. Assim vou chegar atrasada no trabalho.

Cansei de esperar Isis terminar de vasculhar a cozinha e abri a porta da frente. Talvez assim ela se apressasse. No que girei a maçaneta, lá estava. O temor noturno veio me assombrar pela manhã.

Gastão.

Cocei a cabeça em busca de um GPS. Eu poderia jurar que ele havia embutido um no meu crânio!

Escondi o pânico por trás de um sorriso ensaiado.

— Oi, Gastão, que surpresa — desagradável.

— Gracinha. Vim buscar você para um passeio. Imaginei que fosse gostar.

— Não posso. Estou indo trabalhar.

— Garanto que o atraso vai valer a pena.

Gastão abriu um sorriso que só me fazia pensar em uma coisa: 190.

Volta logo de viagem, pai!

Ele deu um passo determinado para dentro da sala. Recuei e perdi a voz. Relaxei os ombros quando Isis finalmente saiu da cozinha e veio até a porta. Nunca fiquei tão feliz em ouvi-la mastigando.

— Vamos logo, Rosa. Meu pai já tá esperando pra te dar a carona — ela falou jogando os biscoitos na boca. Era uma mentira deslavada, mas convenceu com seu ar de inocência. — Oi, é... Gastão, não é isso?

— Isso. — Gastão levou as mãos aos bolsos. Sua fala saiu entredentes. Tive medo de derreter com o fogo que os olhos dele projetavam. — Bom, gracinha. Qualquer hora dessas eu apareço. E na próxima, você vai comigo.

Jesus, Maria, José!

Estiquei os lábios. Dessa vez para disfarçar o desconforto, que pela localização no meu corpo, acho que foi no fígado. Esperei ele sumir de vista, e soltei o ar com força:

— Sério. Eu te amo, Isis.

— Só fiz isso porque você tem medo dele. — Ela me olhava como se eu fosse maluca. — Não entendo porque você não aceita. Ele é gato.

— Claro. Vou adorar sair com o anticristo. — Revirei os olhos. — Disca aí 666 e fala que eu aceito.

— Exagerada.

— Isis, você presta atenção nas coisas que eu te conto? E tem outra... Viu o tamanho do braço dele? É maior que a minha coxa!

— Eu gosto de homens fortes. — Ela parecia em transe enquanto terminava o biscoito.

— Então sai você com ele. Chega. Tenho que ir trabalhar. A gente se fala depois.

Isis deu de ombros e saí para tomar o ônibus na esquina. Somente depois de descer no ponto perto do castelo, lembrei que havia esquecido de trazer a jaqueta de Valente.

Droga!

Talvez eu nunca mais devolvesse. Ele provavelmente iria me demitir após ler meu email.

Quem é que pede para reduzir a jornada de trabalho logo na primeira semana? Só mesmo eu. Infelizmente, minha vida não me dava outras escolhas. Eu tinha que voltar a estudar para conseguir a bolsa na faculdade de cinema em São Paulo.

Bruce correu pelo gramado em minha direção quando parei no portão de ferro. Corri os olhos em busca do Sr. Alcindo e não o encontrei. Bruce latiu e abanou o rabo agitado. Empurrei o portão. Abriu.

Besta fofinha solta, mordomo desaparecido e portão destrancado. Isso tem cheiro de problema.

— Oi, coisa fofa! Quebrou outra corrente hoje? É isso?

Falei com a voz modo bebê ligada. Afaguei sua orelha e Bruce correu. Andei a passos de lesma até a biblioteca. A porta de madeira rangeu pela lentidão com que a empurrei. Se eu não estivesse vendo coisas, Valente acabava de sair por um espaço escondido atrás da recepção. As paredes se fecharam atrás dele trazendo de volta as prateleiras.

Uau, uma passagem secreta! Será que aquele é o Salão do Zodíaco que ele mencionou na lista?

Ele arregalou os olhos ao me ver e minha atenção foi facilmente desviada. Valente estava sem camisa. Exibia aquele tanquinho, aquela tatuagem... A visão foi desleal. Sua calça jeans rasgada estava tão caída que o fazia parecer um rapper americano. Uma badana vermelha completava o look rock star/rapper cabeludo. Enxuguei a baba ameaçando escorrer pelos cantos da boca.

Me aproximei como uma tartaruga aleijada antes de virar ninja. Talvez ele não quisesse nem me deixar entrar. Me demitisse logo ali, por conta do email.

Apoiei o cotovelo no balcão de jacarandá e a estranheza só aumentou. Valente sentou na cadeira giratória e vi dois livros em seu colo, um em cada perna. O Pequeno Príncipe e outro sem título, de capa dura azul. Na mesa ao seu lado, havia uma garrafa de tequila quase no fim.

Mas o que, que é isso? Levantou com crise existencial achando que é o pequeno príncipe?

— Oi. Cadê o Sr. Alcindo?perguntei tímida. Estava com medo do cenário bizarro.

— Ele fraturou o fêmur ontem depois de tentar ajudar uma garota enxerida a conter um rotweiller. Está de licença médica. — Valente cruzou os braços e exibiu um meio sorriso cafajeste.

A culpa remexeu cada terminal nervoso de minha pele. Coitado do Sr. Alcindo!

Mordi a boca. Senti os olhos marejarem.

— A piada já valeu só pela sua cara. — Valente soltou uma risada. — Você esqueceu de me avisar que o Bruce estava solto, Isabela.

Ah, se eu pudesse proferir todos os insultos que me vieram à cabeça.

— Você não deveria fazer piada com essas coisas. Isso foi cruel.

— Calma, nervosinha. E você, deveria seguir minhas regras. — ele pareceu... Não sei, doce, talvez?

Valente tentou imprimir impaciência na voz, mas falhou. Quando me apontou o dedo, seu braço cambaleou para o lado. Só então me dei conta. Quer dizer, eu vi uma garrafa de tequila, mas isso não significava que ele estava bêbado. Qual o problema de começar o dia tomando uma dose de bebida quente?

Sei lá. Mas quando ele se levantou e falou em meu ouvido, seu hálito confirmou minha dúvida. Já o que ele disse em seguida, cravou a bandeira no terreno da água-ardente e proclamou como sua.

— Você fica bonitinha irritada, sabia?

Ignorei a atividade olímpica no meu estômago e tentei ser sutil.

— Que cheiro é esse? Loção de barbear nova?

— Não. Tequila mesmo. — Ele fixou seu olhar em mim, mesmo bebum continuava intenso. — Quer?

— Não, obrigada. Só costumo me embebedar depois das dez.

— Medrosa. — Valente sorriu e meus joelhos fraquejaram.

Não consegui responder. Eu havia considerado um milhão de hipóteses para a bipolaridade dele. Esquizofrenia ou alcoolismo eram as únicas coisas que ainda não constavam na lista.

Suas pernas balançaram quando ele prendeu os livros no elástico da cueca aparecendo na calça de rapper e se virou para pegar a garrafa.

Meu deus ele está parecendo um pudim de cachaça.

Como eu posso mandar meu próprio chefe parar de beber?

Se ele disser que não, eu faço o quê?

Ah, dane-se. Nem sei se vou ser demitida depois do email. E também não recebo periculosidade por trabalhar com aromas tóxicos.

Não acha melhor dar um tempo na bebida?

Como se fosse para me desafiar, Valente finalizou o restante da garrafa com uma golada.

— Não. Tenho mais umas três garrafas dessas. Vem. Vamos à cozinha. Estou com fome.

Ele cambaleou à minha frente, se equilibrando pelas paredes. Minha mãe sempre me dizia para não contrariar gente maluca. Então, eu o segui.

***

Observei os músculos das costas de Valente enquanto ele andava feito um pinguim manco. Ele abriu uma porta de madeira com leões em relevo depois de passarmos pelo salão da lareira e finalmente chegamos à cozinha. Na verdade, eu chamaria aquilo de shopping. O amplo espaço reluzia em dezenas de bancadas de mármore, armários de vidro e prateleiras de madeira entalhada. Mas todas vazias.

Valente pretende comer o quê? Patê de álcool gel?

Ele pousou a garrafa no balcão lustroso de um jeito desengonçado. Peguei antes que se espatifasse no chão. Depois se virou para mim, tirou o livro do pequeno príncipe do elástico da cueca e o bateu com um baque seco no mármore, sutil como um rinoceronte. O outro livro, azul de capa dura e sem título, ele manteve na cueca.

Eu necessitava desesperadamente descobrir que livro era aquele.

Valente seguiu meu olhar.

— Tira o olho daqui. Sua enxerida.

Ele me deu as costas e abriu a geladeira. Vazia como todo o resto.

— Não tem nada — ele resmungou de costas pra mim.

Observei meu chefe bêbado tatear pelos armários no alto da cozinha. Ele se apoiava na bancada a cada porta que abria para tentar recuperar o equilíbrio. Perdi a fala, não estava acostumada a lidar com bebuns, muito menos meu chefe. Talvez se eu desse a ele algo para comer, ele sossegasse e desmaiasse em algum canto pelo castelo. Mas como eu faria para deixá-lo sozinho ali sem ser seguida?

Ele pareceu cansar de vasculhar os armários e andou até quase colar o corpo no meu.

— Isa...bela. Por que não tem biscoito aqui? — Ele estava praticamente vesgo.

Pega de surpresa pelo contato, fiquei sem resposta. Abri e fechei a boca como um peixe.

— Vem. Vou pegar a moto pra gente comprar comida. — Valente me puxou e saiu pelo corredor. Devia estar me confundindo com alguma garrafa de bebida.

Seria mais fácil que uma vaca aprendesse a dirigir, do que o Batman banhado em cana de açúcar chegasse vivo em algum lugar naquele estado.

— Ei! Por que você não vai tomar um banho enquanto eu arrumo algo pra comer?

Forcei o braço para que ele parasse de andar. Para prevenir o acidente, não o deixaria subir naquela moto.

Valente me pegou de surpresa. Ele se virou e me imprensou na parede do corredor. Suas safiras, mesmo vesgas, me tiraram o equilíbrio. E eu não havia ingerido nem uma gota de álcool.

— Você sabe cozinhar?

— Sei. — Engoli em seco. A quentura de seu corpo parecia pulsar no mísero espaço entre nós. Valente me analisou com uma lentidão sufocante. Ele passou os dedos absurdamente delicados pelo meu pescoço e acariciou minha nuca. Fechei os olhos como uma bocó e estremeci. Eu não conseguia explicar esse poder que sua presença exercia sobre mim. Seu toque sempre me entorpecia. Nervosa, alternei meu peso entre uma perna e outra.

— Duvido. Você é muito gata pra saber — concluiu.

Seus dedos deixaram a nuca para alisar meu rosto. Quase tive um ataque de nervos com seu sorriso de cafajeste.

— Anda, banho! Vou lá fazer a comida.

Alguém chama um bombeiro pra mim e o Exorcista pra ele!

Me desvencilhei da sedução de um metro e oitenta. Valente andou à minha frente e o segui até o quarto para garantir que ele ficasse longe daquela moto. Ele tropeçou no primeiro degrau e eu o amparei. Do jeito que estava bêbado, podia quebrar o pescoço. E assim, eu, mais ou menos sessenta quilos e um metro e sessenta, ajudei meu chefe pinguço, peso pesado, no longo trajeto de uma escada, dois corredores e dois salões.

Acho que levamos umas três horas. Ao chegarmos no seu quarto, eu estava suando. Valente entrou, jogou o livro preso em sua cueca na cama de dossel e começou a abrir a bermuda.

Minha nossa senhora da água ardente! Socorro!

— Espera aí, ô stripper. Deixa eu sair primeiro.

Valente fez uma cara absurdamente safada e sumiu pela porta do banheiro. Sacudi a cabeça e suspirei.

Isso está acontecendo de verdade? Que surto psicótico é esse? E de onde veio esse pufe lilás?

Eu devia sair do quarto, eu sabia disso. Mas de repente vi o livro sem título sobre os lençóis. A capa dura azul marinho parecia dizer meu nome. Fiquei morbidamente curiosa e me aproximei sorrateira. Cheguei a ouvir a música da Pantera Cor de Rosa na cabeça. Me inclinei para segurá-lo, mas fui distraída por um porta-retratos próximo ao travesseiro. Um homem, uma mulher e Valente sorriam para a câmera. A imagem de uma família feliz.

O som da maçaneta me fez dar um salto para trás.

Valente saiu com uma toalha enrolada na cintura. Fiquei ali de boca aberta. Dividida entre arrumar uma desculpa por ainda estar no seu quarto e secar o seu corpo digno de capa de revista. Ele não pareceu se incomodar com minha presença. Sua expressão carregada me fez pensar que algo ruim tivesse acontecido, até que ele entrou no closet e depois reapareceu com uma bermuda jeans surrada.

De repente percebi o que havia de estranho. Seus olhos estavam vermelhos. Lágrimas? Ele se manteve parado. Olhava para mim e para o chão. Parecia um menino perdido que não sabia como pedir ajuda.

— Você está bem? — Me aproximei dele, assustada com a mudança brusca de comportamento.

— Me deixa sozinho, Isabela — pediu com a voz embargada.

— Sossega, você não me ajudou ontem? — Ele fixou o olhar no chão. — Pelo visto, hoje é a minha vez.

— Não quero sua pena. — Valente evitava meu rosto, sem pensar no que fazia, segurei seu queixo e ele ergueu o rosto.

— Quem disse que eu tenho pena de bêbado? — Tentei descontrair o clima íntimo e sorri.

— Sabia que você é linda? — Ele soltou como uma bomba, cravando aquelas safiras profundas em mim.

Abri e fechei a boca. A tática funcionou para desviar o assunto. Perdi as palavras e ele se aproveitou do meu silêncio.

— Parece uma corujinha com essas amêndoas arregaladas.

Mais uma vez ele acariciou meu rosto e seu toque fez o chão desaparecer. Em um segundo, como se não aguentasse segurar a dor que o levava a agir daquela maneira, Valente escondeu o rosto nas mãos. Vi seu corpo sofrer um espasmo. Depois ele me fitou com olhos azuis banhados de lágrimas. E comecei a ver os mistérios daquele oceano transbordarem. Pequenas ondas atingiram a superfície.

Ele andou até o pufe lilás e afundou no tecido onde se alternou entre soluços e espasmos. Sua mão espalmada no rosto tentava inutilmente conter o choro silencioso. Senti um aperto violento no peito com a cena. Em nenhum momento eu refleti sobre o que o levaria a agir daquela maneira. Rude, impaciente. Não havia parado para pensar no quanto devia ser triste viver sozinho. Afinal, não era essa a sua vida? Solitário em um castelo, mascarado por trás da barba, do cabelo comprido e das roupas de maltrapilho.

Tentei imaginar o que teria lhe acontecido. Como chegou ao ponto em que se encontrava agora? Eu não sabia sua idade, mas definitivamente, Valente era novo. Muito novo para viver dessa maneira. Vazia, enclausurada. Sem família. Eu podia estar deduzindo errado, mas não havia nenhum vestígio no castelo de outra pessoa dividindo aquele espaço. E de acordo com o porta-retratos em sua cama, aqueles provavelmente seriam seus pais. O homem na foto parecia muito com ele. A imagem devia ser antiga, pois Valente tinha o rosto de menino. Será que ele havia perdido a família?

Me senti culpada. Andava tão imersa em minhas próprias preocupações e problemas que não reconheci os sinais de alerta tão nítidos em Valente. Ele obviamente só precisava de alguém para conversar. Alguém para dividir essa dor que o afligia tão amargamente.

O impulso de confortá-lo gritou dentro de mim. Me sentei no pufe lilás ao seu lado. Valente ergueu o corpo de súbito e me fitou. Mais uma vez, como o menino assustado. Para a minha surpresa, ele não me afastou. Em vez disso, passou os braços em volta de mim e respirou pesadamente no meu pescoço.

Naquele momento, no meio de sua dor, de seu aroma de sabonete e de álcool e de seu abandono, percebi que lhe dar esse carinho me fez bem. Não soube explicar muito bem o sentimento. Comparei a dar um salto livre de uma alta montanha. E torci para nunca precisar abrir o paraquedas.

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Hummmmmm, eu ouvi romance?

Beijo amoressss e até quarta!

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