Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

SETE - Por Valente

Valente

Depois de receber o golpe no estômago de chegar ao castelo e minha avó não me reconhecer, levei-a a uma dúzia de médicos nos primeiros meses. Ouvi o diagnóstico repetidas vezes, e fui forçado a constatar que Laura, a víbora na tenda do Circo Minguante, roubou o que restava da alma de minha avó naquela noite. E de maneira grotesca e impiedosa, tirou tudo de vivo em meu peito.

Eu pensava com mais frequência do que gostaria naquela tenda amaldiçoada. Independente de meu esforço, além do livro irritante para me recordar, não conseguia evitar. As visitas a minha avó serviam de recordações diárias de minhas falhas. Quem se esqueceu, foi ela. De mim, dela mesma, de sua vida, de tudo.

O diagnóstico, obviamente errado, foi de Alzheimer.

Como eu contaria a alguém a verdade?

Qualquer médico que tomasse conhecimento de minha versão, me internaria junto. Afinal, a vida não é nenhum conto de fadas. Aquela história, pelo contrário, me fazia pensar em contos de horror.

Eu mesmo duvidaria.

Se não estivesse ali, de frente para minha avó, no Centro de Saúde para Idosos de Itaipava. Se não observasse diariamente a alma de minha avó vagar perdida entre o vento, voando feito papel jogado pela janela. E se não tivesse lido dia após dia, nos últimos dois anos, as páginas se escreverem no livro. Sozinhas.

Nessa manhã, minha avó me chamava de Amir, por causa de um livro novo que uma das cuidadoras leu para ela.

Movi uma peça no tabuleiro de dama. Eu jogava por nós dois, até que minha avó pareceu despertar de onde esteve nos últimos vinte minutos.

— Amado Klink! Que bom que voltou! — Ela abriu o amplo sorriso. Os olhos, no entanto, não se afetaram. — Me preocupei tanto com sua viagem em alto mar.

Eu nunca a contrariava. Habituei-me ao olhar perdido, às confusões mentais. Aprendi a esconder minha tristeza por trás de um sorriso sem brilho e a visitava no próximo dia. O frangalho restante de meu peito, só continuava a bater, por ela.

— Dama — anunciei para ela, que girava as peças entre o polegar e o dedão, alheia ao que acontecia.

A cuidadora extra, contratada especialmente por mim, se aproximou e informou que o horário de visita havia acabado. Meneei a cabeça e levantei. Beijei as bochechas de minha avó e despedi-me do seu perfume confortável de lavanda e talco. Feria-me deixá-la ali. Mas após tentar confortá-la por meses no castelo, concluí que no centro ela seria melhor assistida.

Antes que chegasse até minha moto, ouvi-a gritar atrás de mim:

— Cuidado com os tubarões, Amir!

Enquanto caminhava pelo estacionamento eu me perguntava exaurido: Até quando?

De acordo com a maldição, só havia duas respostas.

Por pouco mais de um mês ou para sempre.

Se dentro de trinta dias um milagre não acontecesse ela estaria condenada por meus erros para sempre, e eu, bem, eu já estava condenado, e não vislumbrava nenhuma saída. Somente um milagre poderia me ajudar.

Alcancei a moto e em poucos minutos eu deslizava pela estrada O vento cortante me causava a utópica sensação de liberdade. A velocidade me trazia paz. Segui em minha Harley Davidson até o castelo. Larguei a moto próxima às escadas na porta principal e entrei. Cruzei o suntuoso hall, ignorei as teias de aranha na lareira de pedra, depois subi os degraus de mármore preto e branco, cujos desenhos de zodíaco desapareciam debaixo da sujeira. Dirigi-me à ampla biblioteca no segundo andar. O ar empoeirado pesava no salão.

Chegou a hora de fazer o que eu vinha postergando: olhar os currículos dos candidatos para a vaga de assistente na biblioteca do castelo. Detestava a ideia de ver alguém mexendo no santuário de minha mãe. Também detestava a ideia de ter de aturar alguém ao meu lado o dia inteiro, mas fiz a promessa quando pequeno. Em uma das últimas vezes que ouvi a voz de minha mãe, lhe prometi que cuidaria do acervo, que manteria a biblioteca organizada e aberta às pessoas, pois o conhecimento, como ela sempre dizia, precisava estar acessível a todos.

Minha mãe reforçava que eu deveria dar valor ao que possuía, compreender a sorte que tinha e cuidar dos nossos bens.

Adiei a promessa por dois anos com um milhão de desculpas. Dessa vez, não. Dessa vez, eu iria adiante. Antes tarde do que nunca.

Liguei o computador do balcão arredondado de jacarandá e sentei. Abri o site e conferi as inscrições: trinta currículos recebidos.

A cada informação que lia, minha irritação crescia. Até que parei de absorver as palavras e passei a deletar um a um impiedosamente.

Não. Não. Não. Você, também não.

Esse tem cara de burro.

Essa tem cara de pegajosa.

SHIFT DELL.

Olhei para a tela do computador e viu que restavam apenas dois.

Resmunguei e enterrei as mãos entre os fios embaraçados de meu cabelo comprido caindo pelo rosto. Se eu não tinha paciência nem mesmo para aquilo, isso nunca daria certo.

Girei a cadeira de escritório e peguei o livro encantado na gaveta ao lado após destrancá-la. Era a hora da maior irritação do dia. Hora de ler a mensagem que nunca me trazia boas notícias.

Abri a capa dura azul marinho, ignorei o desenho do Enforcado, que ainda lutava para desvendar o significado, e quase perdi o equilíbrio na cadeira.

Pela primeira vez, as palavras diziam algo novo. Parecia uma espécie de conselho. Ainda que distorcido e novamente ligado à gravura da carta do Enforcado, soava como uma dica:

"Tenha a coragem, de encarar o mundo de cabeça para baixo."

Isso não ajudou em absolutamente nada. Contive pela milionésima vez o desejo de queimar o livro. Meu mundo já estava de ponta cabeça fazia tempo. Eu lutava era para reverter a ordem das coisas, ansiava pela vida de antes. Aceitar minha vida pós-amaldiçoado não seria uma opção.

Joguei o livro com uma força desnecessária na gaveta e fitei a tela. Pressionei o ENTER e abri o penúltimo currículo. Olhos grandes e inocentes me fitaram através da foto 3x4. Grandes e inocentes ao ponto de frear seu reflexo automático de SHIFT e DELL.

A garota tinha o olhar familiar. Tentei unir fragmentos de lembrança, mas antes de me frustrar, desisti. Ela representava a penúltima chance de manter a promessa feita a minha mãe. Bufei. Aprovaria ela, então. Em seguida, pensei se não seria melhor escolher alguém com experiência, afinal, a da garota no currículo era quase nula.

Dane-se!

Só precisava de alguém que não testasse minha paciência. E a garota parecia inocente, até uma mosca morta, talvez.

Além do mais, só havia um currículo além daquele. E por mais que eu não quisesse admitir, aqueles olhos me deixaram intrigado.

Antes que minha razão falasse mais forte e me desse mais uma desculpa para adiar a promessa, enviei um email sucinto, todo em caixa alta. Assim ela perceberia desde o início como funcionava o humor de seu novo chefe.

Seria bom que se acostumasse.

De: [email protected]

Para: [email protected]

"APROVADA!

COMPAREÇA AO CASTELO NA PRÓXIMA SEGUNDA-FEIRA, ÀS 9H.

TIAGO VALENTE"

Peguei novamente o livro encantado na gaveta. Se em poucos dias teria que dividir aquele espaço com a garota, talvez fosse melhor escondê-lo da sua curiosidade.

Do jeito que as mulheres são curiosas, não posso ser descuidado!

O melhor lugar seria o Salão do Zodíaco. Puxei a alavanca oculta atrás do dicionário Hindu na estante falsa. A parede atrás do balcão se arrastou para o lado e desnudou o espaço hexagonal. Fitei a área secreta, satisfeito. O ocultaria ali. Dos olhos grandes e inocentes. Amendoados. Aveludados.

De onde eu a conheço, afinal?

______________________________________________________________________________

Olá meus amores! Postei dois capítulos adiantados porque viajo amanhã e só volto na quinta. Espero que estejam curtindo a história e desejo a todos um natal de muita paz, amor e saúde!

Beijosss

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro