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SESSENTA - por Valente

Eu me recusava a aceitar que escrevi aquilo tudo à toa. Que cutuquei minhas feridas por nada. O livro ainda fazia a contagem regressiva e minha avó acabaria louca, além de desmemoriada. Quanto a Rosa, infelizmente constatei que pena, seria tudo o que conseguiria com a carta. Bati com a testa no tampo de madeira da escrivaninha ao reler os papéis com as várias anotações espalhadas pela mesa:

" Depois que vi meu pai caído no chão do corredor, corri para entrar no quarto deles, mas ele bloqueou a passagem. Lembro que ele me fitou com o cenho franzido. Uma expressão desesperada. E simplesmente me abraçou. Com a voz embolada, ele deu tapinhas nas minhas costas quando disse:

'Somos só você e eu agora, filho. Mas vamos ficar bem. Vai ficar tudo bem.'

Mas isso nunca aconteceu.

Eu completei doze anos, três dias depois. No mesmo dia em que ouvi o médico explicar que a morte foi causada por embolia pulmonar.

Esfreguei o rosto com força. A voz de meu pai somada à promessa que ele não foi capaz de cumprir, ressoava pelo quarto de forma dolorosa. Perdi o ar, mas segurei a anotação seguinte.

Mas levei muito tempo até entender o que aconteceu à ela. Ninguém quis me contar. Meu pai se recusava, minha avó desconversava.

Um ano passou voando. O castelo parecia lamentar a perda conosco. As flores murcharam. Meu pai parou de trabalhar e ficou com aquele olhar vago, a expressão vazia de um coração ressecado. Não chegava a ser amargo. Era apenas um semblante de dor constante, como se sofresse de uma doença incurável. E ele sofria, da mesma forma que eu. Da saudade de minha mãe. Eu pensei que o tempo lhe traria resignação. Pensei que ao menos ele se esforçaria para superarmos aquilo juntos. Mas ele foi se encolhendo cada vez mais. Se escondeu dentro de si mesmo.

Amassei o papel e o arremessei do outro lado do quarto. Não conseguia mais respirar direito. Escondi essa saudade tão fundo aqui dentro, que desaprendi a lidar com os sentimentos. A verdade é que escolhi passar uma tinta preta nas telas do passado, porque me feria demais observar um tempo que não iria voltar.

Por que, pai? Por que isso aconteceu com a gente?

Andei pelo quarto de um lado para ao outro e abafei um grito com o travesseiro. Encarei as anotações espalhadas pela escrivaninha, e avancei para cima delas. Seria melhor atear fogo naquilo.

Havia uma lágrima constante passeando nos olhos de meu pai.

Eu devia ter reparado. Talvez, se eu não tivesse mergulhado no próprio vazio que sentia, se eu não tivesse começado a faltar à escola e a me aventurar com más companhias gastando o dinheiro dele, eu poderia ter impedido aquilo que ele fez depois.

Hoje, vejo que todos os amigos que pensei ter, só se aproximaram por interesse. E naquela época, meu pai estava bem ali. O melhor amigo que a vida poderia me oferecer, jogado no salão da lareira, com os olhos fixos no piso de mármore. Dormia mais da metade do dia, sempre naquele sofá. Eu tentei conversar com ele algumas vezes. Poucas, confesso. Mas tentei. A rejeição dele, de certa forma, me feria. Ele sempre me afastava. Hoje eu sei que não era esse o caso. Se tratava apenas de alguém machucado demais para falar. Alguém impossibilitado pela dor.

Dobrei o papel e soquei a escrivaninha. Percebi que o tempo sempre seria meu inimigo. Ele só servia para aumentar minha culpa e a saudade, sempre pronta para me rasgar por dentro. Soprei o ar com força algumas vezes e tornei a ler. Eu precisava encarar aquele monstro de frente e me livrar do medo.

No início tentei compreendê-lo. Depois, fiquei revoltado. Era ele quem deveria ter pena de mim. Ele é quem deveria me ajudar. Sim, eu tinha consciência e idade o suficiente para saber que ele precisava de ajuda. E que nós havíamos nos tornado dois fantasmas que dividiam o mesmo castelo. Mas fui incapaz de fazer alguma coisa.

Vivemos assim, em silêncio por um tempo, até que meu pai chegou ao limite e descobri a verdade. Eu pensei que aquilo seria o máximo que ele faria.

Ele veio cambaleando até mim. Eu acabava de completar mais uma volta na piscina e fui me estirar na espreguiçadeira. Ele sentou de mal jeito na beirada, perto de meus pés. Segurava uma garrafa nas mãos. Deu um gole direto no gargalo e olhou para mim. Vesgo. Com as bochechas avermelhadas.

'Você sabia, que a culpa foi sua? Ela escolheu não fazer o transplante porque estava grávida de você. Falou que a gravidez era um sinal.' – Ele virou um gole do gargalo e continuou, me olhando de soslaio.

'O médico disse que pacientes diagnosticados no início, viviam muitas vezes por até mais de doze anos se fizessem o tratamento correto. E para ela foi o suficiente. Ela já amava você.'

Lembro da sensação de ficar parado na espreguiçadeira com a cabeça vazia. Só as palavras de meu pai indo e voltando.

'Não deixe nenhuma outra mulher amar você, Tiago. Há algo em você, que as destrói.'

'Do que você está falando, pai?'

'Sua mãe, tinha LLC.'

Lágrimas insistentes caíram por minha barba. A cena ainda era viva demais na minha cabeça, e a culpa por não tê-lo abraçado e oferecido conforto quando ele estava no seu pior momento, revirava minhas entranhas.

Passei aquela noite pesquisando no computador. Descobri que se tratava de leucemia linfoide crônica. Ao ler as explicações médicas, tudo começou a se encaixar. Ao recusar o transplante porque estava grávida, minha mãe abriu mão do único tratamento que oferecia potencial de cura. Ela sofreu tudo por mim. E tudo ganhou sentido. Todas as dúvidas, foram respondidas.

Eles não saíam para viajar. Saíam para a quimioterapia. Por isso ela voltava com mangas compridas. Para esconder hematomas causados por seringas.

Virei a noite no computador. Li tudo que encontrei sobre o assunto. A sensação, foi de ter sido engolido pela terra. Um buraco me sugou e nunca mais devolveu.

Mas descobri no dia seguinte, que meu pesadelo estava apenas começando."

Hoje eu sei que você não queria me magoar, pai. Sei que você era uma alma sofrendo demais para raciocinar seus atos.

Pena que demorei tanto tempo para perceber isso.

— Me perdoa, pai. — Falei em voz alta para o quarto. — Me perdoa.

Fechei o caderno. Não leria o restante. Não falaria sobre aquilo nunca mais. Não servia de nada reviver aquelas lembranças dolorosas. Seguir as recomendações do livro encantado não me levaram a nada. Aquelas mensagens eram inúteis. Eu lia-as dia após dia e não chegava a conclusão alguma.

Ou eu fazia algo agora, para salvar minha avó, ou não.

Rosa sentiria apenas compaixão ao ler minhas palavras. Não era isso o que eu pretendia. Talvez, só tivesse arruinado tudo entre nós.

Quem iria querer ficar com um cara traumatizado desse jeito?

Não sei onde eu estava com a cabeça.

Fui um covarde por contar dessa maneira. Deveria tê-lo feito pessoalmente. Pela primeira vez na vida, havia um sentimento real dentro de mim. Sincero. Sem a dose de egoísmo, com a qual eu estava habituado a ver na maioria dos relacionamentos. Sem a falsidade que cansei de ver nas pessoas.

Cheguei a me surpreender com a constatação. Só desejava estar com ela. Dividir outras tardes, rir de sua língua afiada e do seu jeito desafiador. E Rosa, até ontem, correspondia o sentimento.

Eu só faço cagada.

E se ela não conseguisse me perdoar? Podia ter desperdiçado a sua última chance. Mas eu só saberia, se tentasse.

Sem um pingo da coragem que eu tentava impor aos pensamentos, fui até o banheiro. Mesmo com medo, e sem saber o que faria depois se desse errado, peguei o barbeador no armário. Estava na hora de mudar. Primeiro aparei os cabelos que cobriam meu pescoço com uma tesoura. A cada mecha que caía na pia, sentia que deixava uma parte da mágoa, do meu trauma, para trás. Eu precisava me libertar daquilo. Enxuguei o rosto com a toalha e conferi o resultado no espelho. Vi meu sorriso forçado no reflexo e suspirei.

Talvez ela me escute. Talvez ela me dê mais uma chance.

Cansado de tantas dúvidas em minha vida, deixei o castelo, em busca da certeza.

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Olá meus amores! Como passei um tempinho sem postar nada por aqui, dessa vez trouxe capítulo dose tripla! Uhul! Tem mais um a seguir...

bjossss

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