CINQUENTA - Por Rosa
Isis não esperou resposta, simplesmente virou e saiu em disparada. Daquela vez, decidi que não deixaria para lá saí correndo atrás dela.
Será que eu nunca mais terei um minuto de paz?
— Isis, para de correr igual a uma gazela e me escuta!
— Pra ouvir o quê, Rosa? Vai inventar qual história dessa vez? — De repente, ela parou em frente a um estande próximo ao portão do castelo e voltou-se para mim, com a cara vermelha. — Quer saber, cara? Cansei de você!
Eu que fiquei exausta naquele momento. Depois de todos os deslizes cometidos comigo, de sequer ter ficado ao meu lado quando Gastão tentou me agarrar e de ainda ter me arrastado para aquele bar horroroso, de onde só Deus sabe como eu sairia se não fosse por Valente, minha paciência foi para o espaço.
— Sabe de uma coisa, Isis? Quem cansou, fui eu. — Falei seca, podia sentir os batimentos aumentando, a raiva começando a dissipar minha falsa polidez. — Eu devo ter sido uma péssima amiga nesses últimos anos em que te arranjei pra todos os garotos que deram em cima de mim, não é?! — Dane-se, soltei o berro. — Estou de saco cheio dessas suas paixonites, que nascem só porque alguém apertou sua bochecha. Será que eu tenho o direito, de pelo menos uma vez na vida, me interessar por alguém!? Sem ter que ficar me preocupando se você o queria também!?
Ela cruzou os braços e me encarou com a cara vermelha, parecia uma bunda de Babuíno.
— Sério que você vai apelar pra isso, Rosa? Como sua memória é seletiva... Esqueceu do Rafael? Nossa excursão em Búzios? Quando o cara mais gato da escola me quis, mas eu neguei porque você gostava dele?
— Isso foi há mais de cinco anos, Isis. — Meneei a cabeça para os lados. — Eu nem sabia o que era gostar de verdade.
— Ah, é? Então vamos falar do presente. — Ela cruzava e descruzava os braços, batia com o pé na grama, totalmente inquieta. — Você lembra que foi o Valente quem me convidou para o drive-in? Esqueceu que eu me desculpei depois daquele episódio de ataque do Gastão? Esqueceu do nosso combinado, minas antes dos manos? Eu me abri pra você, Rosa! Te disse antes de irmos pra Trindade que gostava dele!
Pensando por esse lado, talvez ela tivesse um pouco de razão, mas quanto mais eu analisava a relação e o contato superficial dos dois, mais me parecia que Isis insistia em Valente apenas por carência. Só que, por que raios do inferno, ele havia convidado ela para o drive-in e vindo se declarar para mim pouco tempo depois?
Mordi a boca. Isis percebeu que fiquei sem saber o que dizer.
— Você é uma idiota, Rosa! Cara, por que não me contou a verdade? Acha que eu teria insistido se soubesse que ele estava a fim de você?
— Isis, eu...
— Chega! — Ela ergueu a mão e gritou, engoli em seco. — Você me magoou, mais por ter escondido isso de mim do que pelo que fez.
Isis cruzou o portão e fiquei ali na grama, encarando o portão derrotada. Eu me sentia como se tivesse perdido uma luta acirrada, e a dor me atingia lá dentro, no fundo do peito por ficar nessa guerra com minha melhor amiga.
Respirei fundo umas trezentas vezes até sentir um par de mãos quentes se apoiarem em meus ombros. Um calor abrasador se espalhou por dentro de mim. Só podia ser ele. Me virei e fitei Valente:
— Você está bem? — Ele perguntou com a expressão meio sem graça.
— Vou ficar. — Será que ele ouviu tudo?
Ele acariciou meu rosto com o polegar.
Cerrei as pálpebras e soltei o ar. Queria me livrar do veneno expelido por Isis, aproveitar o surto carinhoso de Valente. Ele parecia tão entregue, tão vulnerável. Absurdamente irresistível. Mas algo que ela disse provocou um enorme desconforto na minha barriga, como se 300 espartanos enfurecidos batalhassem dentro do meu estômago. Ele realmente a convidou para sair, ele a buscou em casa, os dois foram juntos ao drive-in, e o que os dois teriam feito ao final do filme, se Gastão não tivesse agido como um maníaco?
— Isabela, preciso saber o que você está pensando.
Só me perguntando, por que você convidou Isis para o drive-in, e depois vem me derreter com essas safiras carinhosas.
— Nada, não. — Fiz força para afastar as lágrimas que ameaçavam aparecer. — Só estou digerindo essa discussão.
— Então esquece isso e vem comigo. — Ele entrelaçou os dedos nos meus. — Eu preparei uma surpresa para você. Eu ia esperar até o final do dia pra gente comemorar a feira, mas depois dessa... Acho que pode cair bem.
Segui-o confusa e morta de curiosidade para dentro do castelo. Ficaríamos sozinhos de novo. Preocupante. Eu perdia toda a habilidade de pensar racionalmente quando ele me tocava.
No meio de um corredor Valente parou bruscamente, como se tivesse esquecido algo, depois passou um rádio para as promotoras contratadas cuidarem do encerramento da feira.
Passamos por mais três corredores no primeiro andar, que eu nunca vi antes. Claro, meu trajeto no castelo se restringia à sala da lareira, biblioteca e salão do jantar, com exceção da vez em que dormi no quarto da baronesa.
Paramos diante de uma porta dupla de madeira, muito alta. Os detalhes incrustados me chamaram a atenção. Anjos soprando trombetas, cavalos alados e outros seres voavam sobre as nuvens. Em letras douradas, lia-se:
"Bem-vindo ao mundo da fantasia."
— Espera um pouco, tem algum banheiro por aqui?
Ele me olhou com cara de quem não entendeu nada, eu não queria quebrar o clima, mas continuava abalada pela discussão com Isis.
Valente apontou para uma porta ao final do corredor.
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Ai que não tô me aguentando com esse romance! <3
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