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CINQUENTA E UM - Por Rosa

Depois de contar até cem, lavar o rosto na pia, respirar fundo e me convencer de que não havia nada de errado no que eu estava fazendo e de que, ficar ali com Valente não era uma traição da minha parte, voltei ao encontro dele.

Olhei com expectativa para a porta. Valente parou atrás de mim, vedou meus olhos com as mãos e sussurrou perto do meu ouvido:

— Conte até três e empurre.

Arrepiei dos pés a cabeça. Meneei um sim, mesmo sem saber mais meu próprio nome ou onde estava. Tudo isso, por sentir seu hálito quente em meu pescoço.

Empurrei a porta com o coração em queda livre, dei um passo hesitante e Valente destapou minha vista. Olhei o salão embasbacada.

Uma sala de cinema!

Parecia uma espécie de teatro. Ao centro, havia uma tela que com certeza ultrapassava cem polegadas, onde diversas poltronas de veludo vermelho, individuais e duplas a circulavam. Um imenso candelabro pendia no teto. Desci os degraus até uma das poltronas e perdi o ar quando vi o andar de cima. Onde antes deveria ser o camarote, não havia nada além da sala de projeção e centenas de discos óticos espalhados em prateleiras do chão ao teto.

Usei toda a minha força para não dar uma cambalhota de entusiasmo. Valente exibiu os dentes perfeitos. Devo ter feito cara de idiota. Ele entrelaçou a mão na minha e ficou passeando com os dedos nos meus.

— Gostou?

— Amei, é um sonho!

— É pra você, Isabela. — Ele sorriu, como se presentear alguém com uma sala de cinema fosse algo super corriqueiro.

— Quê? — Ergui a sobrancelha.

— Eu passei muitas tardes aqui com a minha mãe, antes dela. — Ele parou e tossiu. — Antes do, é, daquilo tudo acontecer. — Ele limpou a garganta. — Fazia anos que eu não vinha aqui, eu nem sabia se voltaria a funcionar, mas podemos descobrir agora se o projetor e a tela vão cumprir o prometido. Depois do que você me contou sobre sua paixão por cinema, nos dias que seu pai esteve internado, fiquei refletindo sobre um milhão de coisas da minha vida. E tive vontade de resgatar isso. Eu não te falei, mas temos essa paixão em comum, sabia? Eu só nunca tive mais ninguém com quem dividir, depois. — Valente fixou o olhar no chão. — Da minha mãe, até você aparecer. — Depois olhou para mim.

Meus lábios tremeram. Ele falou com tanta sinceridade. Pela primeira vez, Valente se abria para mim, sem relutar. Claramente ele e a mãe tiveram um relacionamento forte, de amizade, como eu e meu pai. Só de imaginar a dor que ele devia carregar no peito, quis segurá-lo no colo e ampará-lo. E o que ele fazia por mim? Aquilo era tão lindo. Eu não me sentia como se ganhasse de presente uma sala de cinema. O presente era o próprio Valente. Como um convite para resgatar o menino perdido, e trazer à tona o homem carinhoso, inteligente e zeloso que vez ou outra, ele deixava aparecer.

Sem refletir, pulei no pescoço dele e o abracei com força. Ele me apertou ainda mais e suspirou, como se estivesse aliviado. E apesar de todo o tamanho gigante dele, senti que era eu, quem o amparava. Eu queria muito aceitar. Sempre que eu estava nos braços dele, me parecia certo, como se a vida de repente ganhasse algum sentido maior. Mas uma avalanche de sensações confusas me obrigava a frear. Em breve eu iria embora para São Paulo, e além dos rompantes de humor dele, havia ainda Isis no meio da história. Três pessoas poderiam sair machucadas. Talvez, no lugar de ajudá-lo, me envolver fosse atrapalhá-lo ainda mais.

Então, por que sinto falta de ar quando nos imagino distantes?

Me soltei do abraço e tentei fazer a mente funcionar. O efeito Valente me levava mesmo para o mundo da fantasia.

— Qual filme você quer assistir primeiro? Pelas minhas contas, ainda temos a tarde inteira.

Hesitei. Eu, Valente, escurinho de cinema, e sozinhos a tarde inteira.

— Errr. Hummm. Não. Sei.

— Vem.

Ele me puxou animado até a escada lateral. Me preparei para uma tarde de tortura prazerosa, mas quase caí do degrau.

— Graças a Deus, encontrei vocês! — O Sr. Alcindo gritou aterrorizado.

Andamos tensos até a porta do salão. Quando o alcançamos, notei que a luva branca do Sr. Alcindo estava suja, vermelha.

— Isso é sangue? — Perguntei já com os nervos embolados.

— Venham rápido! — Ele correu na frente.

Deslizamos pelos corredores, sem prestar atenção aonde íamos até chegarmos à cozinha.

— Eu ouvi Bruce chorando e não dei atenção, Sr. Valente. — Sr. Alcindo explicou, esbaforido. — Ele tem o hábito de aparecer aqui na porta de trás para pedir comida. Quando saí para levar o lixo, o encontrei coberto de sangue! Desculpe, Sr. Valente. Me desculpe! Eu não podia imaginar! Eu não sabia o que fazer! Liguei para a veterinária dele e fui atrás de você. Ela deve estar chegando. Deus, ela tem que estar chegando!

— Cadê ele? — Valente perguntou exasperado.

O Sr. Alcindo se limitou a apontar para a porta dos fundos. Valente saiu apressado. Fiquei tão angustiada que pensei que fosse vomitar. Me arrastei até a saída. Eu não tinha coragem para enfrentar aquilo.

E se a besta fofinha tivesse morrido? Não, não, por favor não!

Cruzei a porta e olhei para o chão. Valente estava agachado e fitava o rotweiller com uma expressão inconsolável.

— Você vai ficar bem, brutamontes, vou cuidar de você. — Bruce respirava devagarzinho enquanto Valente murmurava.

Levei o olhar para as mãos de Valente. Só então vi que ele havia tirado a camisa azul e a usava para estancar o sangue de Bruce. Pela localização, a ferida ficava perto do abdômen. Um espasmo de pura aflição me fez tremer.

— Shhh, isso vai passar, besta fofinha. — Agachei perto da cabeça de Bruce e afaguei as orelhas dele.

Minutos intermináveis correram. Eu queria que a veterinária chegasse logo.

Tadinho, aquilo devia estar doendo tanto!

Valente me olhou poucas vezes, visivelmente aflito. Ele não se movia um milímetro e a camisa ficava cada vez mais escura. A cena doeu muito fundo em mim. Coloquei minha mão por cima da dele, na tentativa de oferecer algum apoio. Ele me olhou com o semblante tomado de dor, murmurei um, vai ficar tudo bem, mas eu mesma não me convenci.

Quando pensei que fosse desmaiar de agonia, uma mulher se abaixou de súbito ao meu lado. Levei um susto.

— Vou pedir que se afastem, por favor. Preciso examinar o ferimento.

Levantei e Valente me fitou antes de tirar a camisa de cima da ferida.

— Acho melhor você esperar lá dentro.

Eu não queria deixá-lo passar por aquilo sozinho. Acabei o encarando por mais tempo do que pretendia, queria me certificar de que estaria bem mesmo. Por fim, assenti e voltei para a cozinha. Não podíamos desperdiçar tempo com minha insistência.

As promotoras vieram conferir o que estava acontecendo e arregalaram os olhos ao ver o estado de Bruce. Nenhuma das três falava nada.

— Como está o andamento da feira? — Valente ainda conseguiu perguntar.

— Acabamos de finalizar o evento, foi tudo ótimo, não se preocupe. — A morena hesitou um pouco antes de continuar. — Precisa de mais alguma ajuda? Ele vai ficar bem? — Ela apontou para o Bruce.

Valente não conseguiu responder, o que fez meu corpo inteiro estremecer, fiquei pior que o Sr. Alcindo, que não parava de murmurar frases sem sentido.

Depois de a veterinária e o assistente dela expulsarem todos da cozinha porque precisaram colocar Bruce sobre uma mesa grande, e de não sei quanto tempo roendo as unhas e arrancando os cabelos no salão da lareira, Valente apareceu. Furioso como um touro, ele socou a mesa do aparador, ouvi o vidro se espatifar. Parei de andar de um lado para o outro.

— Valente, o Bruce... como, como ele está? — Perguntei com o peito doendo de tanto medo da resposta.

— Ele foi levado para a clínica veterinária, vai passar alguns dias internado, mas vai sobreviver. — Valente rosnava. — Já aquele desgraçado, não! Eu vou acabar com a raça dele. Devia ter feito isso há muito tempo!

— Peraí, calma! Não tô entendendo nada, quem é o desgraçado?

Valente chutou a mesa de centro. O móvel se arrastou e fez um barulho estridente no piso de mármore.

— Isabela, o Bruce levou uma facada na costela, muito próxima do abdômen. — Ele afirmou, seco. — Mais alguns milímetros para o lado e bastaria para ele morrer. Consegue pensar em mais alguém com motivo e covardia o suficiente para fazer uma coisa dessas?

O olhar dele prendeu o meu e nós dois sabíamos. Não precisei responder.

Gastão.

Arregalei os olhos e entrei em pânico. Ele não foi embora, então. Gastão ficaria ali, em Itaipava, até se vingar de nós. Só que agora seria pior. Porque antes, ele provavelmente mantinha as aparências, por conta da Grão Puro. Depois de ser demitido, o que ele teria a perder? Acima de tudo, era um covarde, um mau caráter que agia pelas sombras.

Senhor! E se ele usou o coitadinho do Bruce para se vingar de Valente... O que faria quando chegasse a minha vez?

De repente imaginei meu pai acorrentado naquele galpão, implorando para que Gastão o deixasse sair vivo. Talvez como eu teria implorado na noite anterior.

Eu precisava pedir ajuda, socorro a alguém mais capacitado. Mas como eu poderia provar? Nós não tínhamos nenhuma evidência guardada. Apesar do medo, comecei a alimentar um ódio crescente por Gastão. Ele merecia ser enjaulado.

— Você fica aqui, que eu vou resolver isso agora! — Valente anunciou, enfurecido. — Vou matar esse mauricinho.

Ele andou determinado até a pilastra no centro do salão e eu me coloquei no caminho.

— Sem mim, você não vai.

— Me deixa passar, Isabela – rosnou com as safiras faiscando.

— Não, Valente! Você não vê que eu estou à beira de um troço? — Puxei os cabelos por puro nervosismo. — Quer me matar do coração? E tem outra, também tenho o direito de dar porrada nele!

Pensei que ele fosse me tirar à força da frente ou gritar mais alto. Valente gargalhou e meneou a cabeça. Sua voz soou incrivelmente mais calma.

— Adoro esse seu jeito maluquinho, sabia? Desculpa, Rosa. Perdi a cabeça e não parei pra pensar em como você deve estar se sentindo com isso tudo.

— Você... me... chamou... de.... quê? — Perguntei num sussurro com os joelhos trêmulos.

— Rosa. Não é esse o seu nome? — Um meio sorriso surgiu naquela boca perfeita. —Agora vem cá. Você não vai sair em busca de vingança atrás de ninguém, ouviu? Vai ficar quietinha aqui comigo.

Assenti feito uma retardada quando ele me puxou até o sofá e me sentou em seu colo. Adorei e estranhei meu nome em sua voz. Parecia mais íntimo. Carinhoso. Sem a entonação fria que ele adotava ao me chamar de Isabela.

Valente puxou minhas pernas para cima do sofá e escorregou para que deitássemos. Envolvi o pescoço dele e respirei fundo. Sua pele exercia o efeito abrasador em mim, calmante. Ele parecia uma lareira humana absurdamente cheirosa. Devia vir com um sinal de perigo, uma placa de aviso: altamente intoxicante.

Espalmei minha mão no peito dele e ao sentir sua pele nua, foi como levar um choque. No meio do caos, não me atentei ao detalhe de ele estar sem camisa. De repente fiquei muito consciente de seu corpo colado ao meu. Comecei a perder o raciocínio. Levei a ponta dos dedos à sua tatuagem tribal de leão naquele braço musculoso e a contornei lentamente. Os poros dele se arrepiaram.

— Gosta de tatuagens, Rosa?

— Gosto, da sua.

Meu nome, naquela entonação macia, me dava a certeza de que era certo ficarmos juntos, quase uma sensação cósmica. Ele me fitou, intensamente, e com um olhar penetrante, inclinou o corpo e me puxou para mais perto pela cintura. Entrei em estado febril. Sua respiração quente em meu rosto me fez respirar alto. Valente crispou as grossas sobrancelhas e, sem nenhum aviso, sem nenhuma suavidade, sua boca devorou a minha.

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Ai que eu me derreto toda! O que vocês fariam se tivessem um Valente caliente assim perto de vocês?

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