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CINQUENTA E NOVE - por Rosa

Pelos meus cálculos, estou perto de vinte e quatro horas deitada no sofá.

Não tive forças nem para tomar banho.

Eu era mesmo patética. A pessoa fez a maior sacanagem da história comigo e qual foi a minha reação? Ficar igual a uma retardada assistindo Top Gun repetidamente. Já estava na terceira vez seguida.

Meu pai tentou me convencer a dormir na cama à noite, mas eu não quis. Depois que me esgoelei de chorar e de implorar por desculpas por ter editado o vídeo, ele me perdoou. Mas, claro, ainda estava muito chateado comigo. E eu perdi totalmente o rumo. Sem o emprego que meu pai teria garantido na Grão Puro de São Paulo, de que adiantaria eu conseguir a bolsa de estudos para a faculdade de cinema?

Vou morrer sozinha, trabalhando em uma locadora. Esse será o meu auge. O ápice do meu brilhante futuro.

Tudo por culpa de um cabeludo irresistível. De um par de safiras profundas, de um beijo que me levava para o paraíso. De braços quentes que me faziam sentir em casa, acolhida. Bastava fechar os olhos e a sensação de paz absurda que Valente me proporcionava, pelo simples fato de me abraçar, me atingia como um maremoto. Ergui as pálpebras, eu precisava ser forte.

Encarei a televisão e vi Tom Cruise subir na moto, seus cabelos esvoaçaram com o vento. Aumentei o volume para suplantar o som irritante da saudade na minha cabeça. O problema era que o grito do meu corpo alcançava notas que até um surdo escutaria. E para não deixar dúvida do quanto eu era patética, ainda vesti a jaqueta de Valente, esquecida no meu armário. Ele tinha um perfume viciante, e deixei o cheiro dele me abraçar. Subi o zíper até o pescoço e me aninhei mais no sofá. Ou o sofá se aninhou em mim. Apertei a almofada e com raiva de mim mesma e do sentimento de traição que me estraçalhava por dentro, deixei lágrimas grossas descerem pelo meu rosto até se acomodarem no pescoço e esfriarem. Me mantive assim por um tempo. Contando as lágrimas que desciam sem parar, lutando para conter a respiração ofegante até cansar. Quando meu nariz entupiu por completo e minha cabeça começou a latejar, sentei e cocei o ombro, meu dedo roçou um bordado.

Desci os olhos para o emblema e pulei. O sofá me olhou desapontado, percebeu que havia despertado do torpor depressivo. Olhei embasbacada para a tela da tevê, tirei a jaqueta e a joguei no sofá.

— Top Gun, jaqueta, emblema. Top Gun, jaqueta, emblema.

Repeti as palavras até chegar a um resultado. Eu parecia um bebê aprendendo a falar. O bordado, o cheiro de couro, o perfume dele, a semelhança com o Tom Cruise...

Apontei o dedo para a tela feito o ET.

Tudo me levava à recordação do meu primeiro beijo há dois anos atrás. Na tenda do Circo Minguante.

O resultado da soma era Valente. Só podia ser.

Minha nossa senh... Jesu... ama...

Pensei no beijo que Valente me deu na feira. No quanto o toque me foi familiar. Na sensação de dejá vú.

Minha mente reiniciou o processo.

Jesu... Noss... Valen....

Não. Não era possível.

Meu peito acelerou. Recordei do cabelo sedoso em meus dedos.

Do beijo que ativou cada partícula do meu corpo no escuro da tenda.

Do tato na jaqueta de couro, do abraço que me acolheu.

Do perfume que ficou gravado na minha memória.

Meu Deus! Era ele!

O Top Gun de Itaipava que vi na feira, agarrado a outra garota, era ele! Nós nos beijamos na tenda do beijo! Eu não o reconheci por conta da barba e do cabelo!

Por isso ele ficou tão perturbado quando o cravo fosforescente caiu do meu livro. Por isso foi embora daquele jeito!

Meu coração bateu a dez mil por hora. Pior que asa de beija flor.

Sentei no sofá.

Em vez de me alegrar com a constatação, murchei ainda mais. Eu levei muito tempo para me recuperar daquele beijo no Circo Minguante. Passei meses pensando naquilo, como se aquele encontro tivesse um poder cósmico. Eu acreditei seriamente que reencontraria a pessoa daquela noite. Enchi o saco da Isis nas semanas seguintes, dizendo que o homem da luz roxa voltaria para me resgatar. Claro que ela só ria de mim. Na época, cheguei a apelar para o destino, pedi que me enviasse o cavaleiro do Circo Minguante de volta.

Aparentemente, meu apelo foi atendido. Só que tardiamente e de um jeito bem errado.

Valente seria, apesar de tudo, a pessoa perfeita para mim.

Mas apesar de toda a nossa sintonia, como poderia dar certo? Se ele guardava segredos de mim? Se mentia? Agia de forma incoerente, convidando minha amiga para sair e não eu? Como eu seria capaz de me relacionar com alguém que vive à margem de si mesmo e age impulsivamente, sem mensurar as consequências? Pensando na quantidade de motivos que eu possuía para recuar, ficava nítido que o relacionamento estava fadado a dar errado.

E ainda por cima, por culpa da mentira dele e de sua vingança mal calculada com Gastão, meu pai ficou desempregado e nossas vidas de cabeça para baixo. E eu não podia esquecer da promessa feita a Isis. Éramos melhores amigas desde pequenas, e ela já havia me dado todas as chances de ser sincera. Isis, pelo menos, deixou claro suas intenções desde o início.

Deitei no sofá, agoniada. Fechei os olhos e vi o olhar de menino perdido me encarando suplicante. Pude sentir seu abraço quente me aninhar. Ergui as pálpebras e fitei o ventilador de teto. Estava prestes a surtar. O envelope que ele me entregou pareceu ganhar vida no meu bolso, coçava e pinicava. Eu não queria ler. Sabia que só acabaria por ficar ainda mais confusa.

O papel começou a sussurrar meu nome dentro da calça e o Tom Cruise deu um beijo apaixonado na mocinha na tela. O mundo estava conspirando contra mim.

Está bem, vou ler!

Ergui o tronco, desdobrei a folha e precisei tomar fôlego logo depois, eu não estava preparada. Comecei a chorar.

"Aqui está o meu passado, corujinha. Espero, assim, ganhar seu voto de confiança.

Vou direto ao assunto.

Depois que minha mãe faleceu, eu via o sorriso dela todas as noites, antes de dormir. Tentava me iludir que na manhã seguinte ela estaria me esperando na cozinha, bem humorada e com aquele brilho quase violeta no olhar. Mamãe era suave como uma frésia colhida na primavera. Carregava um espírito contagiante. Até nos meus piores dias, eu me flagrava sorrindo com ela.

Havia momentos em que ela e meu pai desapareciam. Passavam um final de semana longe, meu pai a negócios e ela o acompanhando. Eu estranhava o fato de ela voltar com roupas de manga comprida em pleno verão. Estranhava o fato de ela ficar dias no quarto deitada, com um aspecto de quem não dormia há meses, mais magra.

Até que depois de uma dessas viagens, os dias no quarto transformaram-se em semanas. E eu observei o corpo dela encolhher naquele pufe lilás. Ela vivia deitada ali. Chamava o pufe de o lugar mais aconchegante do mundo e me puxava para deitar ao lado dela. Ela continuava sorrindo, mas sua pele havia mudado de cor. O tom rosado deu lugar a algo cinza. Meio amarelado. Círculos roxos marcavam seus olhos. Mas minha mãe sustentava o sorriso ao me ver. Sempre com o brilho quase violeta de suas íris, como se eu fosse a luz dos olhos dela. Meus pais se chamavam assim. Luz dos olhos. Na época, eu achava bem brega.

Passamos bastante tempo em uma certa rotina. Eu voltava da escola, fazia o dever no quarto com minha mãe e insistia para ficar com ela. Apesar de ela alegar que eu deveria voltar para o futebol, sair, fazer coisas de criança, eu me recusava. Sentia que algo estava errado.

Nós líamos todas as noites. Porque minha mãe decidiu concluir a leitura de uma lista encontrada na internet de 100 livros que todos deveriam ler antes de morrer. Eu retornava ansioso da escola, com medo de chegar ao castelo e não encontrá-la deitada no pufe lilás. Já estávamos no livro 42. De alguma maneira, aquilo passou a ser importante para mim. Quase uma obstinação. Eu sentia que precisávamos concluir aquilo. Sentia que ela precisava completar aquela lista. Mas uma intuição macabra me dizia que não conseguiríamos.

Um médico se mudou para o castelo. Minha mãe passou a fazer fisioterapia, a receber as refeições na boca, raras vezes passeou pelo gramado.

Comecei a me esquecer da última vez que a vi ficar de pé sozinha.

Quando as roseiras que ela tanto cuidava murcharam, passei a ser mais insistente nas minhas perguntas, mas nenhum dos dois me contava o que ela tinha. Apelei várias vezes para a minha avó. Ela apenas me segurava pela mão e passava o dia todo tentando me distrair.

Até o pior dia da minha vida chegar. Quer dizer, o primeiro pior dia da minha vida. Eu tive essa grande sorte. Posso dizer que tive dois.

Meu peito parecia oco. Eu já estava com um mau pressentimento aquela noite, porque minha mãe nunca me pedia para interromper a leitura. Mas ela o fez. Lembro que fechei o livro do Pequeno Príncipe e fui deitar com aquela frase que ela marcou para mim, perturbando meu sono: "A gente corre o risco de chorar um pouco, quando se deixou cativar..."

Parece que é sempre de madrugada que essas coisas acontecem. Você levanta da cama e já sabe. Ninguém precisa dizer nada.

Acordei ao ouvir uma agitação no corredor. Pensei ter escutado o meu pai gritar. Abri a porta assustado. Vi o médico se aproximar correndo de pijama e meu pai, caído no chão, abraçado aos próprios joelhos. Ele chorou até erguer os olhos para o médico e meneou a cabeça para os lados. Lembro do suspiro do médico. Dos olhos dele se virando para mim. Um olhar de pena, que dizia: "Sinto muito."

O mundo congelou. Fiquei de meias no corredor, olhando meu pai e o médico.

Eu queria entrar no quarto, perguntar a minha mãe o que havia acontecido. Ela sempre era a mais sensata nesses momentos. A mais centrada. Foi naquela hora que me dei conta. Ela não iria me responder.

Desculpa por despejar isso em você, Rosa. Mas sinto que jamais poderia contar isso a outra pessoa..."

A carta continuava, mas precisei lavar o rosto antes de prosseguir. 

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