Visita
Mal pude dormir, a ansiedade é um veneno para os jovens e para os velhos também. Eu e Adamastor procuramos o melhor advogado para Isac, aquele garoto não tinha perfil de criminoso e isso eu sabia com certeza.
Quando fui à clínica no dia anterior, disseram que não poderia ver Isac por ser domingo e nem poderia ver o psiquiatra porque o dito cujo não estava lá. Não engoli as desculpas esfarrapadas. E acredito que minha Nia também não engoliria.
Arrumei-me e nem tomei café da manhã, diferente de Adamastor que comeu como um boi faminto. Meu marido também não acreditava que Isac tivesse culpa de algo, muito pelo contrário, ele suspeitava de uma conspiração ou algo assim. Era ridículo pensar isso, mas ele era mais imaginativo que eu.
Antes de a clínica abrir já estávamos nos portões, dois policiais montavam guarda. Fingimos não notar os mal encarados inúteis. Minha vontade era bater com meu salto em seus rostos de expressão ruim.
Entrei na clínica com minha pose mais altiva. A recepcionista ainda nem tinha se sentado quando bati minha mão no balcão e exigi que me atendesse.
— Quero ver Isac, agora! — Precisava ser enérgica. A garota olhou para Adamastor que fingiu nem estar ali.
— A senhora tem laço de parentesco com o paciente? — Aquela atrevida falou com doçura.
Eu queria sapecar minha mão naquela fuça.
— Não, mas ele não tem parentes, então me coloco como responsável. — Olhei no fundo dos olhos dela, eu não perderia para uma criança. Nunca!
— Sinto muito senhora, mas nossa política é...
— A SUA política — interrompi — é a de me deixar ver Isac, ou vou denunciar vocês em algum órgão que regulamenta seja lá o que for que me impeça de ver ele. ENTÃO MOCINHA, EU ACHO MUITO BOM QUE VOCÊ ME DEIXE VÊ-LO, OU LIGAREI ATÉ PARA O PAPA E FAREI COM QUE APAREÇA NESSA ESPELUNCA E A FECHE. VOCÊ QUER PERDER O EMPREGO?! — Ela negou com cabeça. — NÃO!? ENTÃO MEXE ESSA BUNDA E ME MOSTRE O CAMINHO!
Por alguns segundos ela ficou paralisada estupefata, mas acabou por ceder. Eu sabia o que fazia, afinal, minha longa experiência como mãe me ensinou a falar de maneira ameaçadora com qualquer gente jovem que estivesse pelo caminho.
Ela entrou por uma porta lateral e eu a segui. Era possível através de uma janela de vidro que havia em um longo corredor. Era de fato um lugar muito belo e arborizado.
Chegamos a uma porta guardada por um segurança muito alto. Ele me encarou e eu sustentei seu olhar. Jamais ele me encostaria um dedo, Adamastor, que me seguia em silêncio, não iria deixar. Caminhamos por mais dois corredores naquele labirinto que era a clínica. Pude ver muitos quartos comuns, mas Isac não estava neles. Por fim, chegamos a uma porta que dava acesso a uma cabine fechada. Fui obrigada a me separar de minha bolsa, mas não sem antes lutar contra isso. Por fim mandei que se danassem. Secretamente eu tinha um celular escondido no sutiã.
Fui guiada através de mais um corredor. Esse cheio de portas sem abertura alguma em todo o material maciço. Aquilo não me parecia bom e eu podia ver na expressão de Adamastor que ele também não gostava dali.
Finalmente chegamos a uma porta guardada por dois feios brutamontes. Ambos tentaram barrar minha entrada, mas a mocinha usou de seu charme para distraí-los. Excelente, eu mandaria uma cesta de bombons para aquela garota.
O loiro deformado abriu a porta e eu entrei. Adamastor ficou parado no portal, de modo que a porta não pudesse ser fechada.
O que vi me deu vontade de chorar e colocar fogo em todo aquele lugar. A sala era fechada, não tinha móvel, apenas um vidro no alto da parede, que mal poderia ser chamado de janela. Isac estava deitado no chão, de costas para mim. Encolhido, frágil e dormindo. Senti meu coração pesar como chumbo dentro de meu tórax.
Aproximei-me com cautela e o sacudi com leveza para que acordasse.
— Isac... Isac, meu filho. Acorde. — Ele não acordava. Coloquei a mão em sua testa, queimava em febre. — Isac! — Sacudi um pouco mais forte, e ele abriu os olhos.
Quando se virou em minha direção sua expressão estava confusa. Tinha olheiras profundas e arroxeadas e os ossos do rosto estavam aparentes de uma maneira nada saudável. Me ajoelhei e o puxei em um abraço. Maltratavam meu menino, eu tinha certeza, principalmente porque quando o apertei ele se encolheu de dor.
♠♠♠♠
Só podia ser um sonho. Lianmar estava em minha cela e me abraçava. No entanto não era um sonho, senti todas as dores da surra que levei durante a madrugada. As lembranças de cada soco, tapa e pontapé me assombraram. Encolhi-me precisando me soltar, mas não queria. Eu gostaria de dar um abraço forte naquela mulher que me passava tanta segurança.
— Mãe. — Não consegui segurar o choro. Se ela estava ali, significava que se importava comigo e que eu não estava só. — Você veio.
— Sim, estou aqui. — Ela passou a mão em meus cabelos de uma maneira carinhosa. — Tentei ontem, mas não deixaram e me disseram que o psiquiatra não estava.
Era mentira, eu o tinha visto no dia anterior, tinha certeza.
— Como? Eu o vi ontem, ele se chama Schukrut.
— Nome horrendo. Escute meu filho, vamos tirar você daqui. — Seu olhar estava repleto de compaixão e me fez sentir um calor no coração. — Você só precisa esperar.
— Mãe, eu... Por favor, me ajuda. — Não consegui dizer como me sentia naquele lugar, era horrível.
Não foi possível segurar as lágrimas outra vez.
— Confie em mim, eu...
Ela não conseguiu concluir a frase. Um segurança muito irritado estava no corredor e começou a discutir com Adamastor.
♠♠♠♠
Um enorme segurança apareceu e começou a discutir com Adamastor. Não tínhamos permissão para estar ali. Levantei-me e fui defender meu marido, mas o homem era grosseiro demais e disse que chamaria a polícia. Virei-me para me despedir de Isac, porém antes disso arranquei o celular do sutiã e o fotografei. Arrancaria um bom dinheiro daquele lugar e tiraria Isac dali rapidamente. Por segurança, enviei a foto para o advogado. Nunca se sabe quando vai ser assaltado.
Ajoelhei-me novamente onde Isac estava. A discussão tinha evoluído muito e Adamastor já gritava ameaçadoramente.
— Isac, nós iremos. — Peguei seu rosto entre minhas mãos. — Mas confie, logo você estará livre.
Ele chorou. Foi tudo o que conseguiu fazer.
Acariciei seus cabelos uma vez mais antes de me dirigir à porta e chamar Adamastor para partirmos. Fomos, mas não sem uma ameaça de destruir aquele lugar. Eu estava profundamente irritada. Isac fora tratado como um porco.
Meu próximo passo seria achar aquele ridículo detetive e esfregar meu celular em seu rosto. Os presos de um presídio recebiam melhor tratamento que aquele delegado ao meu menino.
♠♠♠♠
— Sua mamãe veio te ver, neném? — O homem loiro riu.
— Não fale dela, porco. — Me irritei.
— Ela não vai ver mais você. — Ele riu de maneira ameaçadora e chutou meu estômago.
Eu não conseguia mais me defender e me preocupava com o que fariam.
Seria fácil me matar e colocar a culpa em mim.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro