Nico trouxe um aparelho de roupas adequado ao julgamento. Por curiosidade, perguntei como as tinha conseguido já que elas realmente pertenciam a mim e ficavam guardadas em minha casa.

— Lianmar, ela está cuidando da sua casa. — Respondeu.

— Onde ela está? — Percebi, com uma estranha sensação de vazio, que Lianmar não me visitara em nenhum dos dias. Eu não poderia reclamar de tempo, não fazia muito que eu estava ali, e ela fez o possível para garantir minha defesa em termos jurídicos, mas intimamente eu sentia como se não nos víssemos a uma eternidade.

Fui levado para o vestiário.

Eu estava exausto pelos últimos acontecimentos, e nem de longe a cadeia era tão ruim quanto eu tinha imaginado, pelo contrário, ela me ofereceu oportunidade de me recuperar e fazer amigos. Claro que eu não estava nas piores celas, na verdade Nico me colocou longe delas, junto com presos mais “amigáveis”.

Um enfermeiro estava tratando dos inúmeros machucados que eu tinha adquirido nos últimos dias e o nutricionista que cuidava de balancear a comida dos presos me ofereceu uma dieta especial.

Estava tudo bem, mas eu sentia falta da liberdade. De poder andar pelas ruas e fazer o que eu bem entendesse. Depois dos últimos acontecimentos, fui obrigado a admitir que vivi apagado demais. Aproveitei pouco todas as possibilidades que tive. Eu não tinha família próxima, tudo que eu tinha era a família de Nia, talvez por isso eu tivesse me agarrado a ela de uma maneira tão obsessiva. Não era justificativa para o meu comportamento, mas era uma forma de mudar o que estava errado. Era uma autocrítica necessária que, graças a Carlos, consegui fazer.

Nia nunca enxergou meus predicados como um homem desejável, e a culpa era toda minha. Fui omisso, preso e quando pensei em agir, fiz da maneira mais imbecil que poderia ter feito.

Então ela se casou. Eu precisava admitir. Precisava entender e respeitar, mas apesar da vontade de deixá-la viver, meu instinto dizia que eu não deveria fazê-lo. Eu sentia que ela corria perigo. Miguel parecia bom e ele era bom, mas seu passado era obscuro. Tão obscuro que nem mesmo o próprio Miguel parecia conhecer.

E havia um assassino atrás de Nia, que a idiota provocara.

Eu estava decidido. Quando saísse, se saísse dali, ajudaria a encontrar e prender o assassino da rosa. Manteria Nia em segurança, e depois, aproveitaria minha liberdade. Talvez abrisse uma pequena empresa, sempre fui bom no que fazia e trabalhava lentamente porque meu pagamento não era tão bom. Talvez eu pudesse pedir para ser sócio na empresa em que trabalhava.

E no tempo livre faria viagens. Isso era ótimo, viagens e mais viagens. Aprenderia idiomas, iria a alguma comic com. Provaria pratos exóticos cuja aparência se assemelha a órgãos sexuais.

Ri sozinho enquanto me olhava no espelho. Estava melhor que no último mês. A aparência já tinha algum viço, o cabelo foi arrumado por um colega de cela, ficou bem cortado com os cachos grandes em seus devidos lugares. A luz do fim da manhã que entrava pela janela fez meus olhos castanhos brilharem dourados.

Sorri.

Não sabia como, mas nascia, naquelas adversas condições, um homem mais confiante.

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Eu estava nervoso. Respirei fundo por muitas e muitas vezes até que um pouco de confiança entrasse em mim.

Mais cedo havia enviado um recado para o juiz. Era melhor deixar o vídeo de Djéfani por último. Isac ainda não tinha visto, e quando visse, ficaria completamente fora de si. Não seria bom porque seu depoimento estaria comprometido.

Isac era importante porque não tinha ligação pessoal com Djéfani. Soares aconselhara sobre o que deveria ser dito ou não. A liberdade de Isac também dependia disso.

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Lianmar saiu para assistir ao julgamento de Schukrut.

Sinceramente eu gostaria de ter ido, mas não tínhamos condições de sair. Nia estava, mais uma vez, entregue ao desconsolo e ao pranto. Seu estado nervoso me preocupava. Ela não conseguia falar, a comunicação ficou impossível. Nem mesmo consegui contar sobre os acontecimentos da madrugada.

Nia não tomou café da manhã e não quis almoçar. Eu precisava pensar em uma maneira de deixá-la melhor.

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Com os últimos acontecimentos, Miguel não foi buscar os móveis da própria casa. Eu não podia instalar as câmeras e Nia estava abalada. Meu coração de mãe me alertava que algo muito ruim logo aconteceria. Eu precisava deixar tudo organizado.

Comecei a me sentir estranhamente cansada toda manhã desde que fui passar um tempo com minha filha. Logo eu, que sempre tivera tanta energia. Vi Adamastor entrar no tribunal e andar pelo corredor. Meu companheiro de toda a vida. Nós nos importávamos com nossa filha, mas também nos importávamos com Isac e por isso estávamos ali.