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Pós reunião

— Alô? — Vi no display que era o delegado, mas me finigiria de louco até o último momento.

Eu simplesmente não tinha ido trabalhar e também não dera satisfações. Se ele estivesse apenas furioso comigo, era meu dia de sorte.

— Nico, você pode me dizer o motivo de não ter comparecido ao trabalho? — A boca dele tinha se convertido em uma fonte de sarcasmo. Se eu não tomasse cuidado, minha sorte acabaria em questão de segundos.

— Dormi mais do que deveria, delegado. Me desculpa, sei que é muito irresponsável da minha parte e eu deveria ter ido de qualquer maneira, mas é que também estou com uma terrível dor de cabeça... — Que desculpa imbecil. Qual seria a próxima? O cachorro comeu meu distintivo? Não, porque eu não tinha cachorro, mas dado o nível da imbecilidade, bem que poderia ser esta.

— Demitido. — O ouvi fungar do outro lado da linha.

Meu coração apertou. Aquilo não era brincadeira que se fizesse com um homem que escondia um fugitivo. O homem que ele mesmo prendeu.

— Espere. Me senti mal, com tonturas. Não sei o que aconteceu. — Com certeza eu não parecia um adulto. Parecia o tipo de desculpa se usa para não ir a uma aula do colégio.

— Detetive. Acho que vou te visitar. — Sim, ele duvidava de minha desculpa esfarrapada.

E ele tinha razão em duvidar. Comecei a entrar em pânico com aquela proposta.

— Não! — Respondi de supetão e isso me fez parecer ainda mais culpado.

Que merda eu estava fazendo? Nem parecia um detetive com vários anos de profissão.

— Tudo bem, detetive. Você sabe de suas obrigações. Preciso falar duas coisas importantes. — Deu uma pausa e gritou com alguém, o que só comprovava que ele estava de péssimo humor. — A primeira é que seu retrato falado ficou pronto. A segunda é que Isac fugiu da clínica. Não sei como, mas ele roubou um carro e fugiu.

— Não posso acreditar. — Falsidade até o teto. — Como isso aconteceu?

Aaah... Como eu era cínico.

— Já disse que não sei. É seu trabalho descobrir como isso aconteceu, não meu. — Grosseiro, mas ele tinha razão. Não sei se me sentia aliviado por não ter outro no encalço de Isac ou se me sentia tenso. Eu mesmo teria que prendê-lo se ele não provasse suas acusações contra a clínica.

— Sim. — Respondi no automático.

Isac, que estava na cozinha, apareceu na sala e gesticulou de uma maneira engraçada.

— Estamos entendidos. Quanto ao retrato falado, acho que já vimos esse homem antes. — Pausou a fala para uma tosse seca. — No entanto, não me lembro onde.

— Você pode enviar uma foto do retrato. — Era uma opção.

— Não. Tchau, preciso trabalhar aqui. — O delegado resmungou.

Ele nem esperou eu me despedir, apenas desligou o telefone na minha cara. Eu devia estar feliz por não ter sido pior.

Isac ainda acenava. Guardei o celular no bolso e segui na direção da cozinha.

Lianmar e companhia tinham ido embora havia pouco tempo. Soares esperaria nossa ação da noite para terminar de armar a defesa de Isac.

A mãe de Nia procuraria a filha para cuidar dela, e seu pai... Bom, eu não entendia como o pai dela pensava, nem o quê pensava, mas a mãe era bem mais enérgica que ele. Cheguei a pensar que não conseguiria dissuadi-la da idéia de ir até a clínica.

Será que realmente havia algo de errado com Miguel? Que tipo de pessoa era Djéfani?

— O almoço está pronto. — Isac acenou para a mesa posta.

— Fantástico. — O aroma da comida bem temperada fez meu estômago roncar.

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