O Acidente - Parte 4
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Minha fé em Deus se multiplicou depois daquele meu ato.
A criatura abissal saltou sobre mim, derrubando-me e imobilizando-me com seu peso, o que por si só, foi o suficiente para sentir os ossos trincando. Nunca havia me imaginado numa situação como aquela (e como eu poderia, né?). Havia aprendido nas aulas de ciências que quando um animal se encontra numa situação de vida ou morte, só há dois caminhos: luta ou fuga. Devido ao avanço inesperado do monstro, não pude fugir, então restava lutar, algo impensável contra aquilo.
Entretanto, puramente por instinto, avancei meus braços contra o tórax da criatura e soltei um grito tão grave que pareci meu pai em acessos de tosse. A sensação da pele daquilo diferente de tudo que eu já tocara, era sólido, mas longe de ser uma rocha, mas também parecia meio pegajoso e fluído. O simples toque me causou náuseas instantâneas e só não engasguei com vômito, porque meus instintos se preocupavam apenas em sobreviver.
SOQUEI! SOQUEI! Então, o empurrei com mais força do que achei que tinha. Por mais incrível que pareça e até hoje não acredito, consegui jogá-lo a uns metros de distância com aquele golpe. Talvez aquilo fosse como um cão raivoso, mesmo perigoso, ainda era mais fraco que um humano. Mas nem pensei isso na hora, apenas dei meia volta e corri o máximo que pude floresta a dentro. Dei uma última olhada para trás, lá estava a sombra humanoide próxima do seu cão de guarda encoberta por um nevoeiro denso, exprimindo um olhar sangrento cintilante sob os buracos da máscara.
Me enrosquei por entre algumas árvores finas, mas cheias de folhagem, achei que com aquilo, eu poderia me despistar deles. Tentei me esconder numa pequena toca entre certas rochas e um arbusto, mas aquele lugar emanava um cheio de morte e transmitia tanta tristeza que estava quase visível como tênues fios pelo ar. Tristeza tão densa que fui tocada por uma empatia enorme, transbordando no formato de lágrimas pelos olhos. Não consegui permanecer nem mais um instante ali; voltei a correr e saí daquele matagal sufocante. Então, apareci em outro pior.
Aquele lugar me lembrou de um bosque de eucaliptos da cidade onde alguns hippies fazem piqueniques e alguns transam escondidos. As árvores eram de uma grandiosidade que não enxergava as copas, o terreno sob elas era seco e morto como cinzas, os troncos, mais pálidos que a caatinga na seca. E pendurados em alguns troncos, estavam eles.
Seus gemidos asfixiavam, seus corpos em constante convulsão e suas bocas espumantes me causaram uma paralisia instantânea. O primeiro me assustou, o segundo me espantou, os que vieram em seguida me causaram algo indescritível e inenarrável. Diferente do bosque da minha cidade que era conhecido como bosque dos namorados. Aquele estava mais para um bosque dos enforcados!
Praticamente, em cada eucalipto sombrio havia uma pessoa com seu pescoço preso por uma corrente que se espremia na carne e ressaltava as veias até vazarem em hematomas pela região. Elas estavam nuas, pude enxergar os músculos do tórax se esforçando para trazer ar aos pulmões.
Cada inspiração era uma sibilância; a expiração, uma tosse profusa cheia de espuma rosa com pingos de sangue no final. Por causa das convulsões, volta e meia, os corpos despejavam fezes e urina sobre si e pelo ar. E aqueles olhos... Os olhos daquelas pessoas estavam fixados em mim!
Havia arrependimento neles. Eles sentiam dor pelo enforcamento, sentiam tristeza e ódio por estarem naquela situação, porém, o sentimento mais gritante que sobressaltava daqueles olhares era puro arrependimento. Logo, também senti. Comecei a sentir arrependimento por não ter dito nada a ninguém sobre meu mau pressentimento, sobre não convencer meus pais a ficar em São Paulo, pelos problemas que causei a minha família por conta das crises... Não... Não... Por que aquilo estava vindo à mente? Por que naquela hora?!
Então, ouvi um barulho súbito e me despertei daquela hipnose. Tratava-se de um tronco que havia se quebrado junto com uma pessoa. Era uma garota, uma menina! Quem sabe de uns treze anos.
Ela estava a uns três metros de mim o que facilitou a visualização mais detalhada dela. Seus cabelos eram raspados em um lado da cabeça e possuía algumas tatuagens no braço e perna. Pelos membros, diversos cortes simétricos e profundos espelhavam sangue borbulhante, contudo, o mais chamativo era um corte grande no ventre, pouco a cima da vagina. Ele se estendeu até expor resquícios de vísceras. Logo, eu o vi! Havia um olho me observando por dentro do ventre!
CRACK!
SOLTEI UM GRITO!
Um estrondo irrompera por detrás de mim! Duas árvores haviam sido derrubadas, e mais dois corpos se contorciam no chão. Quando me virei, o avistei. A mesma fera corcunda de dentes afiados. Seus ombros e quadril se estralavam enquanto se movia de quatro como uma onça rebolando até a presa, pronta para o impulso mortal do bote certeiro.
Enquanto isso, do meu outro lado, uma gosma gelada se agarra a minha perna. Sabendo que iria me arrepender, mesmo assim, me virei para ver o que era. "Ga, ga..." Pareceu dizer um protótipo de feto com o corpinho malformado e necrótico que apalpava minha pele com o olhar de boneca e a parte de baixo da boca inexistente. Seu cordão umbilical ainda o ligava ao útero destruído da mãe... SURTEI! O que mais poderia fazer?
Senti a descarga de adrenalina percorrer meu ser e tentei correr novamente. Dessa vez, estava tão atormentada que nem tinha coragem de abrir os olhos, talvez tivesse pisado no feto ou em algum outro cadáver, ter passado por mais gente sofrendo, não sei... Simplesmente corri à deriva, querendo apagar tudo da mente. Meus ouvidos eram os únicos sentidos funcionantes. Por eles, percebi a besta se aproximando, sua respiração ofegante cada vez mais alta e rouca, suas garras cavalgando pelo chão, tra-tra, tra-tra, tra... Enfim, ele me atingiu.
Suas múltiplas presas se cravaram em meu flanco esquerdo e travei de dor. Aquilo foi lancinante, todo meu ar se esvaiu na hora e meu abdome se contraiu em meio àqueles dentes tortos o pressionando. Aquilo me ergueu com a força da mandíbula, mantendo-me no ar, enquanto sangrava sob sua face deformada. Eu esganiçava de dor, gritei até perder pra tosse que se apossou de mim e ressecou toda a garganta. Assim, perdi as forças restantes e me debrucei sobre a criatura, que me arrastou pela boca sem muita dificuldade. Orgulhoso, como uma que abatera a bendita lebre.
Meu ser estava frio. Aquilo, finalmente, era morrer? Não senti mais dor no local da mordedura, nem me importava com meu corpo arrastado pelas pedras no chão. Até meus olhos pouco enxergavam e os ouvidos mal ouviam. Se isso fosse morrer, então era bom, pois a dor havia sumido, o que mais importaria? Se a morte é um destino inevitável, que pelo menos venha com uma anestesia geral. Só aguardava a total perda de consciência para não precisar mais presenciar àquelas horríveis cenas do purgatório, como resolvi chamar.
Enquanto estava grudada naquele monstro, tive a impressão de sentir o que se passava por dentro dele. Tive a impressão de saber a cor de seus olhos (eram vermelhos carmesim), de como gostava de deixar o cabelo crescer e penteá-lo para trás. Tive a impressão também de ouvi-lo gritar de dor, tentando apagar as chamas de seu corpo e conter um choro angustiante. Mas o que seria aquelas impressões? Delírios? Aquilo seria sobre a besta, ou alguém devorado por ela? Me perdi nas hipóteses e apaguei por um momento.
Dei algumas piscadas, e o mundo se moveu como flashes. A criatura já não estava com as presas em mim. Permaneci imóvel sob uma poça quente, até confortável se não fosse de sangue. Em frente, próximo pela primeira vez, estava o misterioso máscara de bode. Mas olhando melhor, não era um bode, mas sim, um bovino. Como se alguém vestisse o crânio de touro e o pintasse de branco com listras azuladas.
Ele aproximou sua mão do meu peito. Ela estava encharcada de sangue vivo e havia algo nela, algo reluzente como diamante, alaranjado e fedorento, tinha o mesmo cheiro da criatura de antes. Então, ele apertou aquilo contra mim até meu esterno quebrar e surgir um buraco em meu peito. Não doeu. Dor não seria a melhor descrição. Era como se enfiasse uma agulha na alma e injetasse veneno por dentro. Apenas senti um zumbido por todo o corpo que pensei que meus órgãos iriam explodir devido a ressonância.
TUDO SE ESCURECEU.
A DOR NO ABDOME RETORNOU.
Por fim, eu despertei. Ouvi gritos, choro e uma infinidade de barulhos estridentes um sobrepondo o outro. Quando a nitidez retornou aos meus olhos, enxerguei onde estava. Eu voltara ao ônibus escolar...
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