Capítulo 4
Capítulo 4, Alexis.
Archie bota o anel em meu anelar respirando aliviado, beija a minha mão e fica novamente de pé. Sei o que vem depois, mas prefiro focar na loucura que o pedido causou em todos.
Ele põe a mão em meu pescoço virando o rosto contra a câmera. E antes de seus lábios se encontrarem com os meus, murmuraram suas "Desculpas".
Não consigo pensar em mais nada além de raiva, só quero que me largue o quanto antes. Tenho vontade de chorar. Quando escuto o aviso de fim, solto-me jogando o anel contra seu peito. Corro para o mesmo camarim de antes sendo sufocada pelo meu choro preso. Sei que vários passos me perseguem, então faço questão de trancar a porta.
Escuto batias acompanhadas das vozes da minha mãe e irmã, mas eu não quero ver ninguém agora.
Eles já planejavam tudo antes mesmo que eu começasse a suspeitar.
Fico feliz por me deixarem no meu canto por um bom tempo até voltarem a bater.
— Alexis — chama logo depois.
Era um homem e eu suspeito muito bem quem é.
— Por favor.
Vou abri-la. Não por querer vê-lo ou achar que vai me ajudar, mas por ser ele o responsável. E agora nunca mais me livraria dele.
Ele entra, fecha a porta e não tenho mais nada a sentir na sua frente. Minha fúria começa a ser aniquilada sem nem tentar.
Esmurro seu peito inúmeras vezes, mas sei que não está adiantando de nada para nenhum dos dois. Então quando percebo já estou sendo presa pelos seus braços, encosto-me sobre seu peito mais fraca do que pudesse imaginar.
— Eu sou a sua segunda tentativa?
Não responde.
— É idiota a ponto de achar que um dia vai me amar? — pergunto.
— Talvez.
— Eu nunca vou conseguir gostar de alguém assim, Archie.
— Humano? — brinca.
"Perfeito," penso. Ao invés de dizer a verdade, concordo.
— Bem, a gente pode ter o noivado mais longo da história — ri. — E quando não permitirem mais e você tiver certeza que não sou o certo, eu mesmo termino. Prometo.
Afasto-me dele, tinha feito uma mancha preta ainda mais escura em sua roupa.
— Está falando sério?
— Só precisa me dar a verdadeira resposta quando estiver pronta.
Não me contive, a alegria transborda em meu rosto.
— Muito obrigada, Archie.
Volto a realidade, pois eu não sou a única pessoa presa a esse possível casamento.
— Espero que tenha sorte e ache o que quer — digo.
Ele sorri tímido.
— Não preciso.
— Não se importa mesmo? — pergunto ainda não convicta com sua indiferença.
— Só não se procura pelo o que já achou.
Seu olhar se afasta, parecendo arrependido do que tinha dito. Tento perguntar a quem ele se referia — não podia ser a mim —, mas ele foi mais rápido beijando a minha testa.
— Boa noite, Vossa Alteza — afasta-se. — E que da próxima vez eu não te encontre chorando de novo.
Então me deixa sozinha.
Archie tinha alguém?
{...}
— Alexis não vai mais morar com a gente mamãe?
— Não necessariamente, Rafaela. Ainda temos muito a resolver, mas o príncipe vai passar alguns dias conosco. Ele e seu pai têm muito a compartilhar.
— E se ele for chato?
— É uma característica que vamos ter que lidar.
— Alexis não parece que gostou dele — olha-me de rabo de olho, como se quisesse verificar que eu não estava perto o suficiente para ouvir. — Falou nada desde que saiu daquele camarim. Sabemos que quando ela fica assim é porque está irritada.
— Deixe-a em paz. Já ganhei o meu dia por ela não ter dito um "não" ao vivo, era o que eu mais temi o dia inteiro. Tomei dois calmantes desde que conversamos, não sei como ainda não desmaiei.
— Aquela conversa foi para isso? — digo finalmente.
Rafaela se surpreende ao lado de nossa mãe.
— Ele queria ter certeza de que era o certo a ser feito e se devia ser como combinamos.
— Combinaram? — repito a palavra sem crer nela.
Então Rafa se arrasta pelo banco da limousine indo para longe da gente fazendo cara de que uma briga estava por vir.
— Por que a surpresa? — ela pergunta.
— Imaginei que fosse um plano deles, não de vocês.
— Dos dois. Sendo que estamos precisando até mais do que eles.
— Como assim? Você nunca disse isso.
— Você que nunca percebeu. É uma das mais privilegiadas da nossa sociedade, só saiu desse castelo para conhecer o que permitimos que tenha contato, mal sabe das condições que os mais pobres vivem. E posso garantir que são a maioria.
— Por que querem me privar da verdade?
— Porque ela não é feita para você. Eu já fui uma deles boa parte da minha vida, tive a sorte que nunca vão ter. Vivem apenas para garantir a sobrevivência.
— E por qual motivo ainda permitem?
— Porque não são eles que garantem seu pai no poder, que garantem você no poder! Será que não sabe de nada mesmo? — diz furiosa para mim, me sinto como uma criancinha tola e fútil. — Minhas esperanças estão todas entregues na mão de Archie. Não estrague.
O carro para e ela faz questão de ser a primeira a sair. Vou depois junto de Rafaela com olhos saltando do rosto, está desesperada. Papai tinha ido na frente, cansado para esperar sua filha chorona.
Do outro lado do jardim da frente, chega a limousine que traz a família Rosenberg. Com seus filhos felizes, mãe responsável, tia doutrinada e o futuro rei mais bem preparado que eu podia dizer ter conhecido nesses anos.
O futuro de Paatros estava nas mãos deles, não nas minhas.
{...}
Os nossos visitantes foram dirigidos para os quartos de hóspedes e acompanhei Rafaela até os nossos, a essa altura ela tinha lembrado do que disse mais cedo e não parava de reclamar da nossa não ida à estufa.
— Eu não consigo nem chegar na cozinha, Ivy! Não vou durar uma semana aqui — escutamos alguém dizer na altura do meu quarto.
Tampo a boca de Rafa antes de virarmos o corredor. Achei constrangedor chegarmos na hora.
— Você não pode perder esse emprego, Alec — reprimi uma menina de avental. — Nossa família depende disso, nunca tivemos tanta sorte antes. Sabe como é difícil conseguir um emprego no palácio, ainda mais dois.
— Eu estou dando voltas na mesma ala a quinze minutos! Já considere que temos apenas um.
— E será nenhum se pegarem a gente conversando aqui. Escutei que a família real havia chegado, podemos nos deparar com um a qualquer momento. Seria ainda pior do que se fosse a senhora Davis.
— Ai! — resmunga Rafaela, soltando-se de mim. — Está coçando — e se abaixa para tentar chegar até a sua perna sobre as camadas do vestido.
Fomos flagradas, apareço junto à ela. A garota é mais rápida do que ele na reverência, parece que ainda está estudando o que deve fazer.
— Vossa Alteza... — começa Ivy.
— Só seguir o corredor à direita da sala de jantar principal. É o caminho mais perto.
Ele levanta o olhar a mim e ela está tremendo.
— Espero ainda encontrá-los por aqui amanhã — e vou me encaminhando até eles, o que seria o mesmo que ir até meu quarto.
Eles caem em si e Ivy sai às pressas antes dele. Alec me encara antes de fazer o mesmo, fico envergonhada.
Não estou acostumada com pessoas me olhando tão fixamente. Os olhos dele são tão negros que as pupilas passam despercebidas.
Antes de Rafa puxar meu vestido, observo-os novamente. A menina e ele eram bem diferentes, ela tinha cabelos ruivos e os dele eram castanhos e raspados baixo.
— Acho que um bicho me picou, posso dormir com você?
Sorrio.
— Desde que guarde segredo.
Ela abre um sorriso de orelha a orelha, exibindo seus novos incisivos — agora mais largos e descoordenados que os anteriores, de leite.
— Afinal, imagina se ele era venenoso — provoco.
O terror substitui a alegria em seu rosto.
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