Capítulo 24
Capítulo 24, Ivy e Alexis.
Ivy.
"É a vida do meu filho que está em jogo!", grita a rainha de Virtur.
"A da minha filha também," rebate a de Paatros.
Afasto-me da porta do escritório junto das antigas criadas de Alexis e um dos cozinheiros. Já tínhamos escutado demais à espreita e o silêncio que seguiu poderia ser um indício de que fôssemos flagrados a qualquer momento.
Aceleramos o passo até o final do corredor, escutando as risadas contidas dos guardas de plantão.
— Para quem está discutindo desde o raiar do Sol, admira-me que ainda não tenham desistido — comenta Teodora.
Olivia suspira e comenta:
— A única coisa que consigo pensar nesse momento é em como esse palácio está vazio sem a princesa.
— Nunca imaginei que ficaria incomodada por estar tão desocupada — adiciona Suzana.
Tate, o cozinheiro, apenas contrai o rosto e se afasta de nós, indo na direção oposta. Ele também concorda com Suzana.
Respiro fundo, repensando em todos os meus atuais problemas. Estou tão preocupada com Alec, que vivo com a constante sensação de estar sufocada. Perdendo o meu ar aos poucos enquanto submergia em meu próprio mundo... Porém sou retirada dele rapidamente.
Caio para trás, batendo sobre o corpo de Suzana e levando sem querer um tapa com o dorso da mão de Olivia.
— Meu Deus, o que foi isso? — Suzana murmura aterrorizada.
Encolho-me junto a elas mais perto da parede, saindo do caminho de guardas que passam por nós às pressas. O barulho das explosões no exterior do palácio soa mais duas, três... sete vezes acompanhado de um alvoroço descontrolado dos funcionários e quem quer que esteja tentando entrar à força.
Estou segurando fortemente a mão de uma das garotas e sei que ela começou a suar quando, finalmente, conseguiram arrombar uma das partes do portão central e três enormes janelas no Grande Salão.
Um aperto forte e um tanto dolorido é dado no meu ombro, contraio-me mais ainda, mas abro os olhos para ver quem é.
— Saia daqui agora! — ordena Trevor. — Está maluca?
Demoro a me situar.
— Eu estou mandando você sair daqui, Coleman — ele repete ainda mais autoritário, mas apesar disso sei que há certo temor em seus olhos. — Se você pretende ver o seu irmão novamente, melhor que não esteja no caminho deles.
Ele sabe que não estou sendo capaz de entender nada do que está dizendo.
— Eles são rebeldes — segura os meus ombros. — Alec é um deles. Vão matar quem for necessário para chegar naquelas famílias. Então dá para você sair daqui? — e enfia um pedaço de pano na minha mão livre.
Percebo que a outra está agarrada a de Olivia, pois é ela quem me puxa dali, antes que eu possa compreender por completo todas aquelas informações.
Consigo apenas olhar por uma última vez para Trevor, que retira uma bandana preta de caveira de dentro do uniforme branco. Senão fosse pela roupa, estaria igual ao grupo de pessoas invadindo o palácio.
Tem uma bandana igual aquela junto comigo.
{...}
Meus pulmões estão ardendo, sei que comecei a inspirar mais fumaça do que poderia. Passamos por uma parte devastada da cozinha, estavam botando fogo nela. Encontramos com um homem morto no meio do caminho, era um camareiro, Dirik.
Perdemos Teodora e Suzana de vista, sobrou apenas eu e Olivia, que não se largaria de mim nem que sua vida dependesse disso. Ela estava em pânico. Rasguei a bandana no meio e a umedeci na pia, quando passamos por lá. Ela ficou com a outra metade e usamos para poder respirar melhor, evitando uma asfixia no meio de todo o caos que tomava conta da casa da família real.
Reconheci dois dos cinco homens na cozinha, que tinham dado o descuidado de descobrir o rosto, como allegrenses. Os outros três também não me pareciam estranhos, poderia até me arriscar a dizer que boa parte de Allegra estaria envolvida nisso.
Olivia começa a correr em direção aos nossos quartos, levando-me consigo. No entanto dessa vez não pudemos prosseguir, os disparos ocorridos a poucos metros a nossa frentes nos paralisa.
A minha mente fica embaralha com aquela cena, pois de todas as pessoas que eu pudesse esperar encontrar depois disso seria... Alec.
Ele bota a arma na cintura, notando a nossa presença e encarando-me. Nunca que eu deixaria de reconhecer os olhos negros do meu irmão, sem dúvidas é ele.
Alec apenas caminha até a mim, abraçando-me. Não recuo ou tento reprimi-lo pelo o que possa ter acabado de fazer — assassinado alguém —, porque nada está falando mais alto do que a saudade que sinto dele.
— Perdão, perdão, perdão — ele repete com a voz afetada em meu ouvido enquanto ainda me prende em seus braços. — Não queria que...
— Conversamos sobre isso depois — interrompo-o friamente.
Não posso e nem quero pensar nisso agora. Ele precisa se manter racional para garantir a própria vida, não seria esse o momento certo para arrependimentos.
— Você está bem? — pergunto.
— O tiro que ele me deu foi de raspão — diz, afastando-se.
Alec me mostra o braço com uma cicatriz ensangüentada empapando o couro na altura onde estava o machucado.
— Ficarei bem — ele continua com os olhos presos a mim. — Senão fosse ele, seria eu. Desculpas, fiz o necessário.
Não o julgo, apenas assento a fim de que saíamos dali o mais rápido possível.
Alec nota Olivia ao meu lado com todo o seu pavor estampado e lhe passa outra bandana.
— Melhor que achem que estão conosco. Pois os guardas não podem atirar para matar, a não ser que seja uma situação diretamente de risco a um membro real.
"E não é assim que os rebeldes estão pensando em agir com alguém daqui."
Olivia concorda com a cabeça.
— Estamos com vocês — diz sem nem saber o que estaria defendendo ou apoiando.
{...}
Alexis.
Estou sendo arrastada para o escritório da minha mãe, algemada e fraca. Deveria ser apenas mais uma no meio daquela multidão de gente "iguais" a mim, mas eu não estou lutando como eles. Não sou quem está caçando, mas quem está sendo caçada.
Desde que saímos do trem perdi Alec de vista. Agora era apenas eu e Archie no meio daquela loucura.
Levanto a cabeça ao alcançar o nosso destino, Joseph ainda me puxa pelos pulsos fortemente. Meia dúzia de pessoas saem de lá de dentro com sacos pretos na cabeça, conduzidos por rebeldes. Tanto eu quando Archie reconhecemos muito bem quem sejam, é a família dele. Vejo o rosto dele empalidecer e minha preocupação viajar até minha mãe e Rafaela. Ele não vai reagir, pois sabe que a sua vida também está em jogo... Deveria agir da mesma forma.
Os olhos arregalados e desesperados da minha mãe me analisam quando entro em seu escritório forçadamente. Quero gritar, correr e abraçá-la. Joseph arranca bruscamente a bandana do meu rosto e me joga no chão. Acabo tossindo com o ato, meus joelhos receberam todo o impacto.
Ele levanta o meu queixo para que continue assistindo ao que esteja preparando para nós, consigo ver a figura miúda e frágil de Rafa ao lado da rainha estática com uma arma apontada à têmpora.
— Olha, eu não vou dizer mais de uma vez. É sensata o suficiente para entender e não tentar cometer nada imprudente — diz Joseph rispidamente, cuspindo cada palavra na minha cara. — Tem três caras armados atrás de você e para me matar terá que ser muito mais do que boa de mira — diz batendo no colete que está vestindo e capacete. — Além de que a sua irmã e os Rosenbergs estarão dependentes da sua obediência. Principalmente, ele — diz, olhando para Archie.
Archie grunhi, sendo puxado para cima e preso pelo pescoço com uma faca. Respiro forte, pensando apenas em manter o meu foco na imagem grotesca de Joseph. Seu cheiro me enjoa cada vez mais.
— Seja rápida — repreende, antes de me entregar uma pistola.
A minha mãe é arrastada até o centro do escritório, cambaleante e sem tirar a atenção de mim. Sou posta novamente de pé por Joseph, que faz sinal com a cabeça para que eu vá até ela.
Termino saindo do meu lugar obrigada enquanto ele punha uma câmera de vídeo em sua mão para gravar a encenação.
Só então entendi o verdadeiro plano dele... Eu teria que matar a minha própria mãe.
— Lexis... — ouço a voz de Archie sufocada ao fundo.
A lâmina é pressionada ainda mais em seu pescoço, porém preciso ignorá-lo. Rafaela está agora espremida no canto da sala sob os "cuidados" de um rebelde, o seu choro é a única coisa que me preenche no momento.
O rosto de mamãe fica sereno, apesar das olheiras arroxeadas e fundas e rugas, que antes eram camufladas muito bem. Os cantos do seu rosto fino estão ainda molhados de suas últimas lágrimas. Meu peito está afundando aos poucos... Sou proibida de chorar. De pedir as minhas desculpas, sentir por tudo o que estava acontecendo, dizer o quanto a amava, que me perdoasse um dia por ter sido quem pôs fim ao seu resto de... vida.
"Apenas aja, Alexis. Apenas aja. Termine com tudo isso," repito para mim mesma.
Scarlett comprimi os lábios levemente em o que apenas eu poderia saber ser um sorriso. O cabo da arma está escorregando nas minhas mãos com o suor contido nelas e múltiplos espasmos nervosos que já adquiri.
"Te encontrarei logo... Eu te amo," despeço-me mentalmente.
Mordo o anterior do meu lábio, fazendo o sangrar com a força, e fecho os olhos. Então a arma me dá um coice com o disparar e o leve zunir em meus ouvidos afirmam que agora sobrou só eu e Rafaela entre os Morgenstern.
Bem... ainda. Pois se depender de todos, serei a próxima. As câmeras de segurança da sala e a com Joseph comprarão a minha pena de morte.
Finalmente, a arma escorre das minhas palmas com um baque seco no assoalho e caio aos prantos sobre o corpo inerte da minha eterna confidente e conselheira.
— Des-desculpas... Eu sempre a carregarei comigo, minha rainha — soluço. — Rafinha ficará bem.
"Ela também não pagará pelo o meu erro."
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