Capítulo 19, Alexis.

Eu não tive tempo de me recuperar. Um forte estrondo invadiu a casa, informando que o levante havia começado.

Archie está abraçando o meu corpo e o de Nicole, não estou conseguindo raciocinar direito. O cheiro de fumaça começa a ser perceptível e facilmente se torna um tanto sufocante.

— Você está bem? — pergunto a Archie.

Eu sabia que ele estava, a explosão não tinha sido tão perto, mas mesmo assim estou preocupa.

Ele não me responde a princípio, quer saber se algo está errado comigo. Bati com a cabeça na parede com o susto, só que não tinha ganhado nenhuma lesão... Além de uma chata dor de cabeça.

Archie finalmente concorda e minha mente começa a fugir dele.

— Alec... — sussurro, desprendendo-me dele.

— Onde você vai, Lexis? — pergunta, agarrando a minha mão.

A solto por ser necessário, porque estava longe de ser o que desejava.

— Preciso saber como ele está.

Passo pelo corredor desesperada. No fundo, já temia que alguma coisa tivesse acontecido com ele por causa da sua ausência. Agora estava sentindo que esse temor seria confirmado.

Esmurro a porta do quarto dele e nada dela ser aberta. Não teria como Alec ainda estar fazendo drama depois disso...

— Archie! — grito, querendo que me ajude.

Afasto-me um pouco da porta, pensando se seria possível eu ter força para arrombar uma porta sozinha.

Archie surgi no início do corredor, fico feliz por ter me dado ouvidos. Mas somos presos pelo barulho do portão de entrada sendo aberto, fazendo o habitual rangido contra o piso. Paraliso, por saber que coisa boa não poderia ser.

Vejo brevemente Alec aparecendo nos últimos degraus da escada e caindo neles.

Meu coração dispara. Ele não estava no quarto, eu deveria saber.

Joseph Black sobe, pisando firme e o ignorando. Carrega correntes e cadeados nas mãos, só que não consigo me importar com elas naquele momento. Becky acode o filho, não impeço a minha vontade de ir até ele.

Alec respira bruscamente com o corpo sobre os degraus. Suas costas sobem e descem rapidamente, exibindo a camisa com rasgos e manchas de sangue escuras no tecido preto.

Seguro sua cabeça com as minhas mãos, tentando não machucá-lo e mesmo assim poder ver como está seu rosto. Ele tenta se levanta até conseguir ficar sentado no chão. As pontas de uns dos meus dedos da mão direita voltaram sujos do sangue na lateral da sua cabeça.

Quando finalmente consigo vê-lo nos olhos, agradeço por estar muito melhor do que tinha pensado primeiramente. O rosto estava bom, apenas sujo e com levíssimos arranhões. O sangue vinha de um machucado na cabeça e ralados nas costas, como podia supor.

— Por quê? — pergunto, depois de estarmos tempo de mais apenas nos encarando. — Por que se arriscou tentando fugir?

Consigo ouvir aos fundos as reclamações de Joseph acompanhado das vozes estressadas de Archie e Oleg. Antony e Gabriel acordam chorando, noto. Becky se afasta da gente, indo à procura deles.

— Eu não vou aceitar ficar preso aqui que nem você — solta nitidamente irritado.

Entendo o motivo, não era apenas isso que o incomodava.

— Estava me parecendo bem mais racional antes de Archie chegar — sou sincera.

"Ficou maluco? Sabe muito bem que não tem como sairmos dessa cidade. Se fosse qualquer outra pessoa, eles teriam matado."

"Infelizmente, preciso admitir que Joseph foi legal contigo."

Ele continua com a cara fechada. Nunca imaginei que fosse ir tão contra ele, porém a ideia de que tivessem dado outro fim a ele é aterrorizante. Eu tinha criado sentimentos suficientes para me importar com Alec.

— Não precisa agir como se eu fosse fazer diferença para você.

Penso em me levantar e deixá-lo sozinho com toda aquela ignorância. No entanto meu coração está apertado demais para conseguir fazer isso.

— Babaca — acabo dizendo.

Suas feições continuam intactas. Tento me acalmar, pois sei que quanto mais eu tentasse agredi-lo mais machucada eu sairia. Alec é como uma parede de cimento, bruta e sólida, pode bater o quanto quiser, ela afetará apenas a você mesmo.

— Eu queria que tivesse me levado junto — admito.

Ele para de me olhar como se eu fosse a madrasta má, voltando a me ver apenas como a princesa que tem prazer em odiar.

Alec exibe um sorriso, porém desvia o olhar. Percebo como está incrédulo.

— Sério. Não gostei de ter tomado as suas próprias decisões e não ter pensado em mim. Normalmente, eu sou a prioridade. Precisa saber disso — brinco, não quero que banque mais o durão comigo.

Ele ri, fico aliviada por um instante.

— Entendido, Vossa Alteza. Será a prioridade número um na minha vida... Certo?

Fico incomodada por ter me chamado de um modo mais formal, ainda mais pelo tom irônico que pôs ao dizer.

— Pare de me tratar desse jeito — reclamo. — O que eu fiz?

"Está com ciúmes de Archie, é isso? Pois não deveria."

Ele contrai o maxilar. Pela primeira vez fico orgulhosa por como consegui me impor, estava descobrindo a rainha que um dia eu deveria ser.

— Desculpas... — Alec balança a cabeça sentido. — Não é nada disso.

Para mim ainda não é o suficiente.

— Então qual é o motivo, Alec?

— Eu só queria ter salvado vocês e não consegui... Isso está me deixando louco, entende?

"E, se quer saber, eu não gosto nem um pouco de você com Archie. É a verdade."

Aquilo me deixa nervosa. Só poderia ter um motivo.

— Você está gostando de...? — começo.

— Não! — avança. — Eu só me preocupo com você. Até que bastante. Mas como um...

Ele não termina, chego a desconfiar se está mesmo discordando da ideia.

— Amigo? — pergunto.

— Pode ser.

Não era a resposta que esperaria receber.

— Qual o seu problema com Archie, hem? — questiono.

Alec demora a reponder.

— Talvez que não queira ele sendo o noivo da minha amiga. Apenas.

— Archie não está me obrigando a nada, se é o que acha. Se eu ficar com ele, é porque eu quero.

Nenhum de nós dois diz mais nada por um tempo.

— Você gosta dele? — Alec pergunta.

Não sei o que responder.

— Por que quer tanto saber? — continuo desconfiando.

— Porque senão eu vou precisar me dar bem com ele.

Termino sorrindo. Ele lentamente passa os braços pelo o meu corpo, fechando-me dentro deles. Encaro como o seu pedido de desculpas.

— Nunca mais faça isso. Eu nunca mais falaria com você.

Acabei ficando levemente magoada. Alec ri.

— Eu não ousaria estragar a nossa amizade de novo.

Aquela frase não agrada os meus ouvidos, era estranho tê-lo desse jeito. Apesar de não querer que fosse diferente.

Os passos de Joseph voltam a soar no corredor, trazendo consigo aquele odor peculiar. Afasto-me de Alec, olhando para Joseph.

Ele fixa o olhar em nós dois por um tempo até passar para Archie ao seu lado e dar um sorrisinho.

— Adoro como vocês são falsos. Vendem desde de carisma forçado a falso amor.

— Fique com suas próprias conclusões — rebate Archie.

Ele continua furioso, mesmo eu duvidando que possa ter motivos diferentes agora.

— É... — começa Joseph, puxando minha atenção para ele. — Botei cadeados nas janelas, só para informá-la logo. Haverá um cheiro incômodo de queimado nas próximas horas, mas já vamos resolver isso. Tivemos que atear fogo em um galpão... Fazer o que, né?

"Mas não se preocupe com a revolta, por favor," ironiza. "Começou muito bem, como em muitas outras cidades. A explosão foi necessária, infelizmente."

Ele passa por mim, mantendo a calma.

— O show começou, princesinha! — grita, descendo as escadas. — Sua Paatros está em chamas — ri por fim.

Então seria assim tão rapidamente? Haveriam explosões, tiroteios, mortes... Eu não esperava por isso, nem estava pronta.