Capítulo 14
Capítulo 14, Alexis e Alec.
Alexis.
Alec não demorou no galpão com o tal Joseph Black e quando saiu fez tanta questão quanto eu de ir embora.
Nicole não insistiu em continuar. Pelo jeito, viu em nossas caras que não havia mais clima nenhum para celebrações. Então agarrou a minha mão e a de Alec com um sorriso no rosto ao caminho de casa.
— Eu enchi o bolso com pirulitos, vocês querem? — pergunta ao alcançarmos a porta.
Estou imersa demais em meus pensamentos para reponder, mas mesmo assim retira um pirulito do bolso do seu casaco amarelo e me entrega.
— Ah, obrigada.
Alec abre espaço para que entremos, Nice sobe correndo na frente. Noto que os olhos dele estão sobre mim.
— Ainda quer aquele abraço? — pergunta com um sorriso.
Se referia ao que Joseph acabou interrompendo. Não estava ainda muito bem com ele, além de que o Alec de antes da discussão estava longe de me oferecer repentinamente um gesto de carinho. No entanto eu estava frágil, ele sabia disso.
Acabo sendo incapaz de negar e ele me envolve em seus braços. Em silêncio, sem que nenhum de nós dois demonstrasse vontade de se pronunciar, fico presa a ele por alguns segundos. Quando me afasto, estou ciente de que Alec conseguiu o que queria. Não estava mais com raiva.
Sigo meu caminho escada a cima. No final dela, Nicole espionava o que eu e Alec pudéssemos estar fazendo com olhinhos arregalados e atentos. Tenho vontade de rir.
Oleg e Becky ainda estão acordados, assistindo à televisão com roupas de dormir no sofá.
— Nossa, voltaram cedo — comenta Becky.
— Cadê Louis? — pergunta Alec.
— Foi dormir, estava com dor de cabeça. E as crianças virão mais tarde — Oleg reponde. — Sentem-se, têm uma notícia urgente para darem no Jornal.
Becky se levanta.
— Acomodem-se. Eu vou levar essa pequena para tomar banho — comenta, segurando a mão de Nicole.
Fazemos o que pedem. Fico no meio, no lugar onde Becky estava ao lado do marido, e Alec senta na outra ponta, pondo o braço sob o encosto do sofá atrás de mim.
— Disseram qual era a urgência? — pergunto, preocupada. — Algum desastre?
— Não, acabaram de anunciar.
A imagem de Maddox Martin surgi na tela, era de fato importante. Ele estava sério, suas feições me assustam. Penso logo que possa ser algo relacionado com o meu pai, andava temendo esse dia constantemente.
"Infelizmente, venho noticiar que nessa noite uma calamidade ocorrida na Família Real chegou até nós."
Meu coração se aperta. E tanto Oleg quanto Alec, principalmente, ficam mais atentos.
"A senhorita Alexis Morgenstern, futura herdeira do trono de Paatros, não foi encontrada em seus aposentos pela manhã. E após uma longa averiguação e passadas doze horas do ocorrido, acharam melhor não esperar mais e avisar sobre o desaparecimento da Sua Alteza."
Fico sem chão. Em meus planos, nunca tinha imaginado que chegariam a tanto. Já passávamos por muitas turbulências, minha mãe com certeza tentaria manter às escondidas o meu sumiço ao máximo.
"Há suspeitas de que possa ter sido um sequestro, por isso, o príncipe de Virtur e noivo da princesa, Archie Rosenberg estará assumindo o comando das tropas."
Sequestro? Eu deixei uma carta para ele, como conseguiu acreditar em tal hipótese?
"Com o nosso rei doente e rainha em estado de desamparo, preferimos nem pensar no que virá a acontecer com a perda de mais uma princesa Morgenstern. Rafaela, ainda em seus sete anos de idade, teria que assumir o comando de Paatros junto do apoio da Sua Majestade."
"Muitas das famílias de linhagem podem começar a exigir a antecipação de uma nova eleição, levando ao fim da era dos Morgenstern no poder."
"Esperamos que Alexis volte o mais rápido possível para nós e que, independentemente, do que tenha ocorrido, ela esteja bem."
Então pequenas gravações minhas começam a ser exibidas. Em particular, do Jornal em que Archie me pediu em casamento.
A imensidão do problema que eu tinha causado começa a tomar conta de mim. Ainda mais quando Oleg vira-se na minha direção com olhos aterrorizados.
— É... você — diz quase gaguejando. — Eu sabia.
— Pai, pelo amor de Deus, não fala isso para ninguém — avança Alec.
Ele passa os olhos para o filho, mas voltam rapidamente a mim.
— Como você fez isso? — pergunta.
Suas palavras caem como pedras sobre a minha consciência. Eu tinha arruinado todas as estruturas da minha família com a minha vontade imatura e irracional de conhecer a verdade que escondiam de mim.
Algumas verdades foram feitas para nunca serem descobertas? Verdades que deviam ser mantidas em segredo? Eu agora estava ficando convicta disso.
— Eu não queria — admito.
Espero que vá me julgar ou simplesmente continuar me observando incrédulo.
— Desejo que tenha feita o certo, filha. Nunca vi alguém ter coragem de cometer uma loucura dessas antes — e sorri.
Becky surgi na sala novamente com o rosto brilhando de curiosidade.
— E aí? Qual era a notícia? Não deu para ouvir direito do banheiro — ela diz.
Oleg volta-se para ela e é quem responde:
— Estão desesperados porque finalmente teremos uma líder que preste.
{...}
Alec.
Foi escolha do meu pai manter em segredo, enquanto desse, de minha mãe quem Alexis era. Apesar de ter se tornado muito mais difícil escondê-la dos outros, isso não iria ser um problema. Porque agora ela estava determinada a ir embora de qualquer jeito, queria conserta o erro que cometeu. E eu não discordo dela, é o certo a se fazer. Só que no fundo estava irritado, irritado por mesmo eu tendo me acertado com Alexis... Ela não poder mais ficar.
Estava começando a apreciar a presença dela. Não queria que já fosse, fosse para nunca mais voltar. Eu imaginava que não iria mais vê-la pessoalmente quando completasse uma semana e tivesse que ir. Mas não tão cedo...
Alexis entra no quarto de Ivy e Nicole, onde dormia e eu estava sentado na cama à sua espera. Porém, hoje seria apenas dela, papai fez questão de que Nicole fosse dormir com eles.
— Pensei que o seu quarto fosse o do lado — brinca, secando os cabelos úmidos do banho.
Não consigo achar uma resposta da mesma forma, estava atordoado. Ela percebe e vem se sentar à minha frente, pondo a mão sobre os meus joelhos dobrados.
— Está tudo bem?
Ela sabe que não, só quer saber o motivo.
— Estou preocupado com você.
Alexis força um espanto.
— Não posso acreditar que Alec Coleman esteja preocupado comigo.
— E também comigo — completo. — E se acharem que eu sequestrei você?
— Não vão achar — afirma. — Tanto porque já estarei de volta amanhã mesmo quanto por Archie ser a única pessoa que sabe sobre você.
— Alexis, acha mesmo que ele acreditou tão fielmente em uma carta?
Ela fica surpresa, encarando-me por um longo tempo. Estranho.
— O que foi? — pergunto.
— Acho que é a primeira vez que chama pelo nome.
Acho graça. Não tinha reparado nisso.
— Desculpas, princesa.
Ela ri, porém não deixa o assunto anterior de lado.
— Pode ser que não. Acho que eu também acabaria duvidando depois de ouvir as pessoas repetirem tanto outras versões. Temos tendência a acreditar no pior.
"Mas não se preocupe, não vou deixar que caia nada sobre você."
Termino assentindo, afinal Alexis tinha poder para isso.
Dou um beijo em sua mão que ainda pairava sobre o meu joelho, um gesto sútil que faço antes mesmo de perceber.
— Às 5 então? — pergunto em relação ao horário que deveríamos acordar para garantir que ela não perderia o trem das 6.
— Sim.
Aceito que essa será a resposta final. Levanto-me para sair e ela faz questão de mandar um "boa noite" antes que eu feche a porta novamente. Com uma agonia estranha surgindo no meu peito, acabo retribuindo:
— Boa noite.
As horas da princesa em Allegra estavam contados.
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