Capítulo 12
Capítulo 12, Alexis.
Nessa noite sonhei com Louis. Eu havia saído do quartinho, encontrado-o no chão com a mão na barriga e rosto sujo de sangue. Becky o acudia.
Louis tem quatorze anos de idade, é magrelo e ruivo como a mãe e a irmã mais velha. Anthony e Gabriel eram gêmeos idênticos e cópias mais novas de Alec, Nicole tinha as feições do pai.
Um dos guardas havia batido nele, quatro socos na barriga e dois no rosto. Fazendo-o vomitar e ter o supercílio cortado. Oleg entrou a madrugada fazendo Louis escutar todos os seus sermões.
A casa tinha ficado em um clima estranho durante a manhã, apenas voltando a ser aquela alegre família no início da tarde.
Alec ainda não tinha chegado da rua, só veio para casa almoçar. Eu decidi que iríamos fazer pizzas para a Inebria de hoje, então fui mais cedo com Becky e Nick comprar todos os ingredientes — fiz questão de pagar.
Quanto a Nicole, Alec tinha acertado, ela amou a ideia e não desgrudava mais de mim para nada — chegava a me esperar na porta do banheiro.
Começo a abrir a massa sobre a bancada de mármore enquanto Becky supervisiona o meu serviço e lava a louça. É quando ouvimos, finalmente, a voz de Alec.
— O que vocês estão fazendo? — estranha ao chegar na cozinha.
— Preparando pizzas com a minha mais nova filha — responde Becky sorridente. — Sophia estava ansiosa para a Inebria e decidiu inovar.
Nicole, que está sentada sobre os joelhos em uma cadeira perto de onde estou, comeu mais um pouco do frango desfiado. Ela é a nossa degustadora.
— E está aprovado — comenta Nick.
Ele se aproxima, passando os braços pela irmã e se esticando para ver o que faço.
— Desde quando você sabe fazer essas coisas? — cochicha.
— Eu não sei — admito. — Por isso mesmo sua mãe está me ajudando.
— Quis fugir para aprender ser uma cozinheira, princesa? — diz ainda mais baixo, me chamando por esse modo irritante.
— Eu sabia que ela era uma princesa! — Nicole tenta dizer com a boca cheia.
Alec passa a mão pelo saco de farinha apanhando um bocado, por minha sorte Becky se vira para nós no momento.
— O que estava fazendo... — começa, mas repara na mão dele e no que estaria prestes a fazer. — Se for para atrapalhar, pode ir se retirando, mocinho.
— Claro — e mesmo assim assopra uma pequena parte da farinha no canto do meu rosto.
— Idiota — resmungo sem conter um sorriso.
Ele bate o resto dela no canto da bancada rindo.
— Eu fui visitar Agnes — responde à mãe, escorando o corpo sobre o mármore.
Relaxado cruza os braços. Quero que continue, fico curiosa em saber quem é Agnes.
— Oh, estou morrendo de saudades dela! — exclama Becky declaradamente feliz. — Por que não me avisou que iria visitá-la? Teria preparado alguma comidinha para ela.
— Ela é uma boboca — resmunga Nicole com uma careta de desagrado.
— Ela está bem, Alec? — pergunta Becky, terminando de por a última louça para escorrer e secando as palmas nas roupas.
— Está linda como sempre — e dá um sorriso contemplativo.
— Quem é Agnes? — acabo perguntando.
— Minha namorada — responde de supetão, assumindo um tom mais provocante. — Por quê?
Fico sem graça. Mais pela forma como está me olhando do que por ter me metido sem querer naquela conversa.
— Agnes vai fazer quatro anos de idade — explica Becky. — Ela vive em um orfanato.
— Ela já disse que iria se casar comigo — brinca Alec.
— Ela é... órfã — repito, tentando assimilar. — Por que não me contou sobre ela? Gostaria de conhecê-la.
— Decidiu bancar a boa moça logo quando não tem uma câmera para te gravar? Que idiotice — Alec implicou.
Fechei a cara para repreendê-lo. Imagino que Becky entendeu como uma piada interna, pois não fez perguntas.
— Ela vai amar te conhecer. É um doce de menina — comentou Becky gentilmente. — Se dependesse de Alec e eu, já a teríamos adotado há muito tempo. Mas mal temos o suficiente para sustentar esse tanto de bocas — e riu.
— Culpa de vocês. Só sabiam fazer filhos — rebateu Alec. — Deveriam ter parado em mim que estaria de ótimo tamanho.
— Você não queria que eu tivesse nascido? — perguntou Nicole com um biquinho.
Não tinha notado que ela prestava atenção na conversa. Rimos.
— Estou brincando, pirralha — diz com um sorriso largo e beijando a testa dela. — Levo você e a Sophia amanhã para verem a Agnes, tudo bem?
— Fazer o que, né? — desdenhou Nicole, ajeitando os óculos e voltando-se para o potinho com frango.
Alec dá língua para ela, parecendo tão infantil quanto a própria irmã.
— Por isso eu gosto mais dela — resmungou.
A alegria que tinha tomado conta dele me contagia. Nunca vi Alec tão descontraído. Seu mau humor só aparecia com um membro da família real? Se fosse por isso, espero que passe a ser assim também comigo. Porque, no momento, eu não sou mais a Alexis... Mas a Sophia.
{...}
— Estou bonita? — pergunto a Nicole, que ficou sentada a minha espera em um banquinho de madeira na saída do corredor.
Ela estava com um casaco amarelo-canário e marias-chiquinhas. Tive um pouco de vontade de rir da combinação cômica, mas ao mesmo tempo ela conseguia ser fofa.
— Ficou linda! — exagerou com seus olhos parecendo ainda maiores pelas lentes de grau.
Não perguntei esperando uma verdadeira resposta, apenas disse para informar que já estava pronta. O costume de ouvir as minhas mosqueteiras não poupando elogios sobre qualquer roupa que me vestiam, tinham tirado a minha sensibilidade de ouvir críticas.
— Você tem uma amiga gata ou sou eu que estou ficando cego? — murmurou Louis a Alec.
Louis está sentado junto ao irmão no sofá assistindo um programa de esporte em uma televisão pequena. Oleg voltou-se para mim em sua cadeira ao lado deles.
— Acho que ainda não precisa se preocupar com esse glaucoma surgindo no seu olho, mas tem garotas bem melhores que ela... Isso posso garantir — implica Alec.
— Vai se catar — diz Louis, batendo em seu braço para logo depois levar a mão a mancha roxa em seu rosto.
A princípio fiquei irritada e tocada com o comentário de Alec, talvez tivesse atingido o meu ego. Porém, tentei relevar rapidamente. Ele não iria me deixar tocada com a sua opinião.
— Está ótima, Sophia — comenta Oleg.
Alec rola brevemente os olhos e se põem de pé.
— Podemos ir? — pergunta.
Concordo com a cabeça.
— Tenham uma boa noite — diz Oleg, mudando de canal. — Não cheguem muito tarde. E, Sophia, não perca Nicole do seu campo de vista, por favor. Se for depender apenas de Alec, ela vai acabar dormindo na casa da nossa vizinha de novo — olhou para o filho. — Senhora Doveva não é babá da sua irmã não, entendeu?
— Já entendi — respondeu Alec com uma voz forçando cansaço.
— Pode deixar que eu cuido dela — digo.
Oleg, Louis e Becky não iriam para a Inebria de hoje. Enquanto Anthony e Gabriel tinham ido junto com a tal Senhora Doveva mais cedo, ainda estava tomando banho quando foram.
Alec pega as pizzas guardadas em caixas de papelão, saindo antes de mim e Nick.
— Se o rei não nos concede motivos de alegria, que isso fique por conta da Inebria! — grita Oleg repentinamente.
Para a minha surpresa ele é acompanhado de Becky e Louis. Fico nervosa com a situação. O que seria isso?
— É só um lema, princesa, relaxa — explica Alec, abrindo a porta com o braço desocupado.
Percebo que a minha mão começa a suar segurando a de Nicole. Alec abre um sorriso, repetindo a frase. Fez sinal para que eu fizesse o mesmo, mas não me senti confortável o suficiente para acompanhá-lo.
O meu desconforto não aconteceu por ter encarado como uma forma de protesto, mas por ter lembrado de uma frase dita pelo o meu pai logo depois de tê-lo convencido a permitir o direito aos guardas reais de punirem fisicamente quando eles próprios ou alguém da realeza fosse desacatado. O mesmo direito que fez aquilo com Louis.
"Se seu povo não consente com a servidão, que se parta para a agressão."
Eu me arrependo do que fiz, bastante. No dia que cheguei naquela conclusão, tinha participado de uma passeata a favor da igualdade de gênero. Fomos eu, Nice e Rafaela. E tudo andou como o planejado, sorrimos, acenamos, mostrei estar apoiando a causa — apesar de na verdade ter passado duas noites sem dormir e nem saber direito o que fazia ali, vergonhoso —... até que um homem bêbado e repugnante conseguiu agarrar o meu punho pelo cordão de isolamento.
Não lembro muito bem o que disse, apenas fragmentos do que devia ter sido uma lista de xingamentos derivados de "vadia" e "aproveite enquanto é tempo, porque vocês vão cair". Apenas depois de eu ter soltado um grunhido de dor com o deslocamento do meu pulso, empurraram aquele homem para longe de mim.
SIMPLESMENTE, empurraram. Não suportei a fúria que cresceu em mim. Eu tinha sido xingada e machucada para ele passar ileso! Então fiz questão de ir até o escritório do meu pai obrigá-lo a intervir na situação. Meu ódio era tanto que cheguei a tratar qualquer uma daquelas pessoas como "vermes". Agressão como resposta a um desacato, pareceu-me o mínimo.
Eu sou horrível...
— Posso ir brincar com a Molly? — pergunta Nicole, trazendo-me novamente a realidade.
Escuto pela milionésima vez alguém gritar novamente aquele lema.
— Claro, mas fiquem por aqui — respondo, procurando por uma fatia da minha pizza naquela mesa lotada.
Não acho, exatamente por ela já ter terminado. Então pego um pedaço do bolo de chocolate cortado em uma travessa.
— Você sabe onde Alec está? — pergunto antes dela se afastar.
— Deve estar no galpão. Ele sempre está lá — responde para sair correndo.
— Mas que galpão? — tento perguntar, mas ela não está mais me escutando.
Percebo que a Senhora Doveva, de tez negra e uma vasta juba cheia de cachos bem formados, está junto com eles e eu devia ir à procura desse galpão por conta própria.
Não demoro muito para conseguir me livrar do aglomerado de pessoas falando alto e rindo ao redor da mesa de comida. Alcanço uma área mais espaçosa e circular, onde um homem alto de traços discretos tocava uma flauta acompanhado de uma garota de cabelos exuberantes tocando violino muito bem. Ela tinha o dom, é um fato, apenas lhe faltava aperfeiçoar a sua técnica.
Eles emendam a música lenta anterior com uma bem mais mais agitada e os casais começam a surgir entre as outras pessoas, que apenas apreciavam, para uma dança animada. Giravam, pulavam e, incontrolavelmente, riam. Desejei um terço de todo aquela felicidade para mim.
Então termino o meu bolo e noto um galpão de portões abertos servindo como cenário de fundo para aquela apresentação ao ar livre. Vou até lá, decepcionando-me por seu interior estar tão lotado e a cada momento chegarem mais pessoas.
Os guardas ali perto não ligam para o que pudesse estar acontecendo ali dentro, estão mais interessados na Inebria em si. Penso que o desespero nascendo em mim possa ser apenas pela sensação de insegurança que toma conta completamente do meu corpo, mas não. Tem muito mais envolvido.
A bandeira do meu reino estava aos trapos no centro de um palco improvisado com a madeira sob seu cabo suja com marcas de mãos em tinta vermelha.
E bem ao lado dela assistia com satisfação um homem que eu gostaria de nunca ter posto a minha vida nas suas mãos. No caso, nas mãos de Alec.
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