Epílogo
https://youtu.be/qN4ooNx77u0
"Remember everything will be alright
We can meet again somewhere
Somewhere far away from here"
(Lembre-se que tudo ficará bem
Podemos nos encontrar de novo em algum lugar
Em algum lugar longe daqui)
Sign of The Times | Harry Styles
Ainda não acredito.
Nathaniel é o líder da Resistência.
O Príncipe e Comandante da Guarda Real é parte fundamental da revolução que vai destronar o pai dele, que vai fazer o sistema ruir.
Quanto mais penso nisso, mais inacreditável parece.
Olho outra vez para a televisão e já conheço a sequência: Nina, Amanda, Mia e James.
Leio pela milésima vez a frase abaixo das fotos deles.
Acusados de traição.
Pela milésima vez uma onda de indignação passa por mim. Com exceção do James e da Mia, que também são Resistentes, Nina e Amanda não tinham nenhum envolvimento.
A seguir aparece a minha foto e a foto do Matt e da Meredith. A legenda diz que somos responsáveis pela explosão.
E então começam a aparecer os rostos dos Soldados que estão ao nosso redor. Alguns estão deitados no chão, outros dormem sentados, mas a maioria dos soldados está acordada vigiando o bunker e os arredores.
Nós não temos estrutura aqui.
Matt teve que mudar os planos, o prédio que estava preparado para nos receber não parece mais seguro. Não depois de suspeitarmos que alguém nos traiu.
Afinal, como o Kyle descobriu onde estávamos?
Luto contra a vontade de ir até o Kyle. Ele está consciente, mas ainda sob efeito da medicação. E como continua bastante alterado, é melhor deixarmos ele repousar por enquanto.
Mas por causa dele, Matt seguiu o plano B, um plano que só ele e Nathaniel conheciam.
Atravesso a sala na velocidade que a dor na minha perna permite enquanto alguns olhos me acompanham. Respiro fundo quando sinto que outro choro compulsivo está se formando no fundo da minha garganta.
Abro a porta e sento-me no banco no grande pátio. Minha perna está doendo, sei que não deveria forçá-la desse jeito.
Mas não aguento mais essa ansiedade.
Não me deixaram ficar com o Nathaniel enquanto ele continuava desacordado. Não me deixaram falar com ele quando acordou há algumas horas. Meredith disse que ele está bem, apesar de agitado.
Também disse que ele não deve querer me ver e tem coisas mais urgentes para resolver, afinal, quase todo o plano deu errado. Mas não consigo suportar a dor de não poder nem ao menos olhar para ele.
— Você deveria dormir, Emily — Matt diz sentando-se ao meu lado.
— Como ele está? — pergunto sem controlar minha ansiedade.
— Tentando resolver a situação. Não acho que vai querer falar com você agora. — Levanto-me e vou até o muro baixo. Olho para o horizonte, mas não consigo ver nada.
— Ainda não entendi algumas coisas — digo para o Matt. Ele vem na minha direção e se encosta ao muro ao meu lado. — Por que ele aprovou tantas execuções quando assumiu o cargo de Comandante da Guarda Real?
No fundo, ainda não consigo acreditar completamente que ele é o líder da Resistência.
— Estratégia. Ele sabia que teria que fazer isso para que as pessoas o temessem. Ele mandou executar algumas pessoas para salvar centenas. E conseguiu, mesmo que ele não se perdoe por isso até hoje.
Meu coração dói ao imaginar que alguém tenha que fazer isso contra a própria vontade, apenas porque nasceu com responsabilidades demais.
— Por que ele não se posicionou contra a implosão do Setor 3? — pergunto.
Uma rajada gélida nos envolve, fazendo as folhas balançarem nas árvores. Mas o frio não me incomoda, acho que até me acalma.
— Você sabe esta resposta — Matt diz com calma. — Ele era o Príncipe e Comandante da Guarda, não poderia ir contra a Matriz tão abertamente. Algumas pessoas não estavam contentes e provavelmente já estavam desconfiando de que alguma coisa estava errada. Principalmente depois da reação do Nathaniel ao que você fez.
— Sim, eu já tinha pensado nisso — confesso, tentando organizar os pensamentos. — Eu não precisava colocar nenhuma escuta no Palácio Real, eles só precisavam saber que eu tinha estado lá para acharem que tinha sido eu e não desconfiarem do Nathaniel quando a verdade viesse à tona, certo?
— Sim, o Nathaniel já tinha colocado as escutas em todos os lugares relevantes do Palácio. O que queríamos era preparar tudo para que a traição fosse atribuída a você, essa era a fase um. — Matt faz uma pausa e dou um suspiro longo. — A fase dois seria fazer o Rei confessar que existia a Cura.
— Mas agora o Nathaniel está aqui e nós falhamos.
E tudo culpa do Kyle.
Eu teria conseguido chegar ao escritório do Rei. O plano teria dado certo. Neste momento, o Nathaniel estaria na Matriz, não teria levado um tiro, e a Resistência teria muito mais força.
— Agora vamos ter que nos adaptar à nova realidade. — A calma do Matt neste momento me surpreende.
Mas o que ele acabou de dizer é verdade.
Sempre achei que lutaria contra o Nathaniel, e não com ele. E isso muda tudo.
Troco o peso de uma perna para a outra e uma pontada forte me faz lembrar de que não vou poder fazer isso por um tempo.
— Você quer se sentar? — Matt pergunta, e balanço a cabeça negativamente.
— Se ele sabia do plano de fuga, por que ele resistiu? Por que você teve que apontar aquelas armas para ele?
Trazer essas imagens à cabeça de novo faz meu coração quase parar.
— Porque eu disse que você era parte da Resistência, que eu teria que levá-la.
— Ele realmente não sabia que eu era parte da Resistência?
— Não — Matt responde e consigo sentir a culpa na voz dele. Ele omitiu essa informação do amigo. — E quando eu disse, ele não aceitou. Ele achava que o plano dos Mentores continuava ativo. E você gostar de livros fez com que suas idas aos escritórios não parecessem suspeitas. Eu apenas cumpri as ordens que ele próprio me deu de fazer o que fosse preciso para que este plano desse certo. Além disso, foi o Gabriel que insistiu para não falarmos para sobre a mudança de planos, quando incluímos você, porque o Nathaniel nunca permitiria você na Resistência.
— Foi o Gabriel? — Pensar no Gabriel como um Resistente ainda é difícil.
— Sim! Depois que James sugeriu seu nome — Matt respira fundo, James está preso neste momento e não sabemos o que vai acontecer a ele. — Mas todos sabíamos que essa era a nossa maior chance de conseguir algo. Afinal, você conseguiu convite para casas importantes, para as quais os outros Mentores nunca foram convidados. — Ouço passos vindo na nossa direção, e Matt para de falar e olha para frente. Mesmo sem ver que é o Nathaniel, consigo senti-lo. — Afinal, eu estava enganado. Ele está aqui. Espero que vocês se entendam — Matt diz e vai embora.
Não tenho coragem de me virar para ele.
Apenas ouço os passos pararem perto de mim.
— Eu admiro você — Nathaniel diz, por fim, depois do que pareceu uma eternidade.
A voz fria, sem emoção.
— Nathaniel... você deveria estar deitado — digo, virando-me.
A expressão dele é um misto de raiva e decepção.
— Eu escolhi você. — Ele faz uma pausa. Olho para o braço dele suportado por uma tipoia para estabilizar o ombro. — Na primeira oportunidade, quando achei que tinha que escolher entre você ou a Resistência, escolhi você. Por isso, eu admiro você. Você seguiu com os seus planos apesar de tudo.
Não consigo pensar em nada para dizer para ele que possa me justificar. Se as coisas tivessem corrido como imaginei, eu estaria longe dele nesta hora. Ele me odiaria, mas eu não teria que encarar seus olhos furiosos me acusando.
— Nathan, eu não... — começo, mas ele me interrompe.
— Você me deu a pior noite da minha vida. Por um momento, só por um momento, achei que estava tendo um pesadelo. Não conseguia me mexer, não conseguia falar, não conseguia ver, só ouvia seus gritos. Mas quando percebi que não estava sonhando, que tudo era real e eu não podia fazer nada, isso doeu, Emily. Doeu mais do que sua traição. — Ele olha para a minha perna e, quando a vê enfaixada, fecha os olhos como se de alguma forma os meus gritos tivessem voltado à cabeça dele e ele conseguisse sentir a minha dor. — Mas não é só isso. Você é um alvo agora. Meu pai não vai medir esforços para encontrá-la e acursar você de todos os maiores crimes. Fiz tudo o que podia para salvar você e o Lucas. Por que você tinha que se meter nisso?
Sei que não tenho o direito, mas raiva começa a tomar conta de mim. Tenho noção do que fiz. Mas ele também errou.
— Por que você não me disse que era um Resistente? — pergunto, olhando nos olhos dele. — Você me viu sofrer esse tempo todo. Você tem alguma ideia de como me senti quando descobri que estava me apaixonando pela pessoa que eu iria ter que trair? Ou pior Nathaniel, quando percebi que estava apaixonada pela pessoa que achava que você era? Você tem ideia de como foram os meus últimos dias pensando sobre isso todas as vezes que não consegui resistir à vontade de estar nos seus braços, todas as vezes que beijei você me perguntando se seria o último beijo, todas as vezes que achei que você nunca me perdoaria e que nunca ficaríamos juntos?
— Não queria envolvê-la na Resistência — ele diz abalado pela minha acusação inesperada, mas rapidamente se recompõe. — Mesmo assim, decidi falar depois do jantar porque tive medo de perder você se continuasse acreditando que eu era aquele tipo de pessoa. Não conseguia mais suportar a decepção nos seus olhos desde o dia da primeira explosão no seu aniversário.
Nathaniel coloca a mão no bolso da calça e tira algo. Dá alguns passos à frente, até chegar bem perto de mim e coloca uma pequena caixa preta em cima do muro ao meu lado. Ele não fala nada, mas tenho certeza de que era o que ele queria me dar em frente ao Palácio.
Tudo o que mais quero nesse momento é abraçá-lo.
Apesar de ele hesitar em se afastar de novo de mim, o olhar frio dele faz com que eu desista.
— Mas já não adianta pensar nisso, Emily. Temos coisas mais urgentes. Depois daquelas fotos, prometi para mim mesmo que nunca mais daria notícias ruins para você, mas prefiro ser eu a dizer, por isso, o Matt não falou nada. — Ele para e suspira. Tento me preparar, mesmo sabendo que não tenho força para aguentar mais nenhuma notícia ruim hoje. — O Lucas foi acusado de traição. — Eu me apoio no muro sentindo as minhas pernas perderem a força. — Mas ele está bem, Emily. Conseguimos entrar em contato com a Resistência do Setor 7, ele está a caminho daqui.
Por uma fração de segundo, sinto-me feliz por saber que o Lucas está vindo. Quase sorrio apesar de tudo o que passei hoje. Mas foi só por uma fração de segundo. Então meu chão se abre mesmo debaixo dos meus pés.
— Não! — Minha voz sai baixa e desesperada enquanto sinto mais uma vez um medo me dominar. O mesmo medo que senti há pouco quando vi Nathaniel baleado e inconsciente. — Quando foi o último antídoto? — pergunto, incapaz de me lembrar das datas.
— Há três dias — ele diz e desvia os olhos de mim.
Faço as contas e nunca os números me assustaram tanto.
— Dezoitos dias até os sintomas começarem a aparecer. Mais alguns dias... — Paro de falar, mas completo a frase mentalmente.
— Nós vamos encontrar o antídoto ou a cura. Nós vamos salvá-lo, Emily — Nathaniel diz antes de ir embora.
Caio em um choro compulsivo até não ter mais lágrimas para chorar.
Ele vai morrer sem o antídoto.
Ele não pode morrer.
Olho para a caixa que Nathaniel deixou na minha frente e a abro. Suspiro enquanto tiro o anel, o anel que o meu pai me deu.
Mesmo com a visão ainda embaçada pelas lágrimas, leio o que está escrito e uma ponta de esperança surge em mim.
"Tudo é possível."
FIM DO LIVRO 1
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