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Capítulo especial Nathan | 1

No dia em que o Nathaniel estava fora da Matriz e chega no apartamento da Emily com a mão cortada.

— O que você está fazendo? — Gabriel me pergunta baixinho enquanto minha arma está mirando a cabeça de um dos soldados da Matriz.

Tudo aconteceu tão rápido que quando vi já tinha tirado a arma do coldre, engatilhado e apontado.

Claro que não vou atirar.

Tiro o dedo do gatilho, sentindo o sangue escorrer na minha mão. Olho de relance para os outros soldados que parecem realmente surpresos e assustados com a minha atitude.

Sei a fama que tenho, mas impor medo nunca é a melhor alternativa com os meus próprios soldados. Até agora, o que eles sentem é respeito e não é do meu interesse que isso mude.

— Ele estava vindo na sua direção... — O soldado à minha frente tenta manter a voz firme, mas não consegue.

— Alguém deu permissão para você falar? — Gabriel pergunta, andando na direção do soldado, o que faz com ele abaixe a cabeça.

Resolvo intervir antes que Gabriel continue.

— Você está suspenso por ter desobedecido a uma ordem direta — digo, baixando a arma e tentando parecer mais ofendido pelo desacato do que afetado com a morte de mais um civil. Gabriel estende a mão, e o soldado entrega a arma sem contestar. — Se mais alguém quiser ser suspenso no futuro, é só seguir esse exemplo — digo para os outros e os dispenso.

Fico parado enquanto eles atravessam o resto da ponte.

Mesmo de olhos abertos a imagem se repete na minha cabeça.

Achávamos que tínhamos prendido todos os rebeldes, e a minha ordem era de não atirar em ninguém, eles estavam desarmados.

Os prisioneiros já estavam no fim da ponte com um grupo de soldados e eu estava voltando com o Gabriel e outro grupo. Foi quando ouvimos passos apressados na nossa direção e o soldado que acabei de suspender atirou sem ao menos fazer a ameaça.

Com o tiro, o civil acabou sendo lançado para uma parte da ponte com a grade de proteção destruída. Corri e, antes que ele caísse, consegui segurá-lo pelo braço. Gabriel veio logo a seguir para ajudar, mas o homem já não tinha forças para dar a mão para ele.

Eu sabia que não aguentaria segurá-lo por muito tempo. E mesmo sentindo que a barra de ferro onde estava me segurando estava cortando minha mão, não queria desistir.

Quando o homem ficou em silêncio, Gabriel pegou a lanterna, apontou para ele e constatou o que eu já imaginava. Ele estava morto. Deduzi isso quando a mão dele que segurava meu braço o largou.

Respirei fundo e o soltei.

Apesar de não costumar agir por impulso, a situação está cada vez mais insustentável e as minhas insônias cada vez mais longas e frequentes. Falta de descanso e o caminho que as coisas estão tomando estão me deixando nervoso e impaciente. Por isso, quando percebi o que estava fazendo já tinha o soldado que atirou no civil na minha mira.

— Você tem que se controlar, já tem pessoas desconfiando — Gabriel diz quando os soldados já estão longe o suficiente.

— Cada vez mais difícil.

Coloco a arma no coldre e me apoio na beira da ponte que ainda está de pé.

— Não sabia que impulsividade pegava — ele diz.

— Vai querer testar a minha paciência também, Gabriel? — Não consigo controlar a raiva na minha voz.

Gabriel me conhece. Ele sabe que em momentos como esse é melhor me deixar quieto. Mas não posso negar, agi como a Emily hoje.

— Que mau humor, Nathaniel — ele diz. — Relaxa! Em breve tudo vai estar resolvido.

— Novidades? — pergunto.

— Estamos perto — começa a responder. — Quase cem por cento da minha parte concluída.

A Resistência está começando a vigiar todas as pessoas que podem ter informações que queremos sobre a cura. Assim que tiverem algo concreto, partiremos para a segunda parte do plano. Até lá, eu continuo sem poder fazer nada.

Sinto a mão começar a latejar quando a adrenalina diminui. Pego a lanterna e foco no corte que parece profundo.

— Quando chegarmos à Matriz, você vai direto para a enfermaria no quartel, eu cuido do resto — Gabriel diz.

— Não é preciso — respondo, passando a lanterna para ele e pegando um lenço que amarro na mão para estancar o sangramento.

Essa dor até é suportável, a dor de cabeça me incomoda mais. Mas não tenho opção, vou acompanhá-los até a prisão para garantir que não haverá mais incidentes.

Pego de volta a lanterna e aponto para o relógio.

São quase nove horas da noite.

A Emily ainda deve estar jantando com James, e pensar nisso só piora o meu humor.

Mesmo que o Matt tenha me garantido que James só queria conversar, porque ele não tinha tido oportunidade desde o dia da Celebração do Anel, não me sinto confortável com alguém da Resistência jantando com ela. Corajosa e impulsiva do jeito que ela é, não duvido que iria querer ajudar de todas as formas possíveis. O que seria uma preocupação, e não preciso de mais nenhuma nesse momento.

Além disso, a Emily só precisa dar um passo em falso para voltar a ser um alvo da Matriz.

E isso colocaria em risco todos os planos da Resistência, tudo o que fizemos nos últimos meses, porque eu nunca deixaria que acontecesse alguma coisa a ela.

Ou ao Lucas.

Nem que eu tivesse que enfrentar de novo a fúria do meu pai ou da Matriz inteira.

Pensar nisso me faz ter vontade de abraçá-la e mantê-la protegida.

Mas vou ter que controlar a ansiedade de vê-la.

Ainda temos um longo caminho pela frente até a Matriz e não duvido que esta noite vai ser longa longe dela.

Depois de todos os prisioneiros estarem nos carros, fazemos o caminho de volta pelo meio das florestas densas e escuras do Setor 2.

Três horas depois, chego em casa e vou direto para o chuveiro. Não vi necessidade de ir ao hospital. Fecho os olhos enquanto a água quente escorre pelo meu corpo. Achava que isso iria me relaxar, mas a única coisa que me vem à mente é o corpo caindo na ponte e sendo engolido pela escuridão. Sei que não fui eu quem o matou, mas não consigo não me sentir culpado pelo que aconteceu.

Levanto um pouco mais a mão, mas o vapor da água quente faz o corte voltar a sangrar. Saio do chuveiro e pressiono uma gaze até estancar o sangramento e depois passo uma atadura à volta.

Quando chego ao quarto, quase consigo sentir a Emily perto de mim. Depois da noite de ontem, preciso dela.

Olho para o relógio e vejo que é quase meia-noite, mas não vou conseguir dormir sem vê-la.

Visto-me, pego o carro, fazendo meus seguranças me seguirem, e dirijo tão rápido que pouco depois estou tocando a campainha do apartamento dela.

— Nathaniel!

Os olhos azuis confusos e preocupados me desestabilizam.

E sem conseguir fazer qualquer outra coisa, eu a beijo. Sei que é precipitado, ela teve o dia inteiro para pensar sobre a noite de ontem, e pode ter se arrependido. Por isso, quase me afasto.

Mas quando ela corresponde ao beijo com a mesma intensidade que eu, tudo parece fazer sentido. Apenas sorrio na boca dela, puxando-a mais para perto.

Passei o dia inteiro desejando tudo o que ela me faz sentir.

Ela é perfeita.

Emily coloca a mão no meu peito e agarra a minha camiseta, puxando-me para dentro e fechando a porta atrás de nós.

Minhas mãos continuam segurando o rosto dela.

Segundos depois sinto o impacto quando ela se afasta de forma brusca, separando nossas bocas.

— O que aconteceu? — pergunta assustada, segurando o meu pulso.

Ela deve ter sentido a atadura enrolada na minha mão.

Só queria abraçá-la e tentar dormir um pouco, mas Emily insiste em fazer um curativo melhor na minha mão. E não a contrario.

Não posso negar, adoro ver a preocupação dela comigo. É o que me faz acreditar que ela não me odeia por completo.

Depois que ela termina um curativo, deitamos abraçados. E apenas isso me faz sentir milhares de coisas.

Todas intensas demais.

A Emily me traz um tipo de caos que eu já não sentia há muito tempo.

E eu gosto disso!

https://youtu.be/fNLvf0AIcRI

Agora eu não quero mais
Manter a minha paz
Eu gosto do caos que você me traz
(Ressaca | Jão)

Até amanhã com outro capítulo de NaMily! Vocês têm outro nome de shipp para os dois?

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