Capítulo especial | Lucas
Setor 7 – Hospital
No dia do jantar com o Hugh e a Meredith
— Ela está linda naquele vestido verde — Rachel, a secretária, fala enquanto preencho a ficha de um paciente na recepção do hospital.
Finjo que não ouço, e ela não insiste.
Assim que termino de preencher e assino meu nome, entrego os papéis. Reluto contra a vontade de olhar para a televisão, mas não resisto.
É impossível impedir meu coração de acelerar todas as vezes que a vejo.
E sim, ela está linda naquele vestido verde.
Tão linda que só agora reparo em quem está ao lado dela.
Nathaniel.
Abaixo os olhos e tento controlar qualquer reação.
Nestes momentos, uma confusão de sentimentos parece me acertar como um tornado.
Preciso de um pouco de ar.
Pego o meu casaco na sala de descanso e saio.
Faz tempo que deixou de nevar, agora é apenas o frio e o vento que encontramos do lado de fora do hospital. Apoio as mãos no muro baixo e fecho os olhos tentando desfazer as imagens que acabei de ver.
Estou tão concentrado que só vejo que a Anna chegou do meu lado quando ouço a voz dela.
— Isso é raro — ela diz com um sorriso olhando para o céu. Acompanho os olhos dela e vejo uma lua cheia prateada em um céu parcialmente nublado. Poucas vezes vi a lua desse jeito. — Você está bem?
— Não se preocupe comigo — respondo.
Não vale a pena mentir para Anna e dizer que está tudo bem. Afinal, ela deve ter visto a Emily com o Nathaniel na televisão e sabe exatamente porque estou aqui.
— Desculpa, Lucas — ela começa hesitante. — Eu nunca falo nada, mas já não aguento mais ver você assim. Faz quanto tempo que você está no hospital? Doze horas? Mais do que isso, não é? E sinceramente, nem parece que você vai para casa quando sai daqui. Você está comendo?
Sorrio vendo a preocupação dela.
E sim, desde que mudei da casa da minha mãe, eu passo muito tempo aqui no hospital, na faculdade ou em qualquer lugar onde a Resistência se reúne. E não é porque eu não quero estar no apartamento para o qual me mudei e divido com o Armon, eu gosto da companhia dele.
Mas eu não consigo estar parado.
E sim, não tenho comido como deveria. Mas emagreci também por causa dos treinos pesados, a Resistência me forneceu alguns equipamentos para eu melhorar meu preparo físico. A única coisa que me acalma é chegar em casa depois de um dia exaustivo e passar alguns minutos dando socos no saco de boxe. Ou sair para correr antes do sol nascer.
Preciso ocupar a cabeça.
Tem algo acontecendo com a Emily, ela não está bem.
Eu a conheço.
— Eu vou ficar bem, Anna — respondo, quando um suspiro alto dela me tira dos meus pensamentos. — Só preciso resolver algumas coisas.
O toque de recolher soa e ficamos em silêncio por algum tempo. O único ruído que ouvimos é o vento gelado balançando as folhas das árvores.
Anna fecha mais o casaco e cruza os braços como se estivesse se abraçando, ao mesmo tempo em que olha para um lugar qualquer do horizonte.
— Eu posso fazer uma pergunta? — ela questiona hesitante.
A verdade é que a Anna é a única pessoa que nunca fala sobre a Emily desde que ela foi embora, e isso, até agora, foi reconfortante. Ela acabou se tornando a minha pessoa favorita só por causa disso. Mas agora deu todos os sinais de que isso vai acabar.
— Claro — respondo, querendo que ela volte atrás e desista.
Mas isso não acontece.
— Você acredita que ela está realmente envolvida com o Príncipe?
Não preciso pensar na resposta.
A única coisa que preciso decidir é se vou ser sincero ou não com a Anna. Mas, como se eu não tivesse alternativa, decido dizer a verdade, enquanto passo a mão no cabelo e noto que já faz tempo que não o corto.
— Você ficaria surpresa se eu dissesse que não, que não acredito? — respondo olhando para ela.
Anna sustenta o olhar, mas então o desvia.
— Não — responde rápido —, eu também acho que não.
Isso me surpreende.
Nunca pensei sobre isso, mas apesar de não falarem na minha frente, todo mundo deve achar que a Emily está apaixonada pelo Nathaniel.
E essa posição da Anna me dá abertura para desabafar com ela.
— Eu acho que ela está sendo coagida de alguma forma. Ela é tão impulsiva, não me surpreenderia...
— Eu tenho uma teoria — Anna me interrompe —, e você não vai gostar nada dela.
Também criei algumas, mas nenhuma que eu conseguisse sustentar por muito tempo. Por isso, minha atenção agora está toda focada no que Anna tem a dizer.
— Que teoria?
— Quando entreguei o material que vocês pegaram na casa da Olivia para a Resistência, eu coloquei as iniciais da Emily na cópia do prontuário. — Apenas encaro a Anna. — É o procedimento normal, colocar as iniciais do Resistente que executou a missão como você sabe.
Eu próprio já coloquei as iniciais da Anna na cópia do prontuário que entreguei para a Resistência.
— Mas o que isso tem a ver com o fato de ela poder estar sendo coagida? — pergunto, curioso.
— O prontuário sumiu — ela responde. — Eu fiquei com isso na cabeça desde que você voltou do Dia da Visita, e semana passada, quando estive com a Resistência, pedi para ver esse prontuário. E ele simplesmente desapareceu.
Fico calado, processando essa informação.
Se esse prontuário chegou nas mãos da Matriz, seria uma prova de que a Emily faz parte da Resistência, apesar de ela só ter participado de uma missão.
E estar sendo ameaçada explicaria muita coisa.
Menos uma.
— Por que eles não a condenaram se tinham essa informação? Quando pensei que ela poderia estar sendo ameaçada, imaginei algo mais leve, algo que ela poderia ter dito ou feito sem tanta gravidade — pergunto para a Anna que tem uma expressão de culpa no rosto dela. — A Matriz não perdoa Resistentes.
— Eu estou me perguntando isso há dias — ela responde. — Queria ter alguma teoria antes de falar para você. E também estava criando coragem... Eu não fiz de propósito. Eu nunca entregaria a Emily.
— Eu sei, Anna — digo rápido para acalmá-la. — Obrigado por me falar. Vou tentar descobrir o que aconteceu a esse prontuário.
A lua já não está visível neste momento, rapidamente o céu se encheu de nuvens.
— Se souber de alguma coisa, me avise — ela pede. — E se cuida, Lucas. Não se esquece de que tem pessoas que se preocupam com você — a voz dela é hesitante —, que amam você. Se você precisar de algo...
Anna volta a me olhar nos olhos e coloca a mão em cima da minha. O gesto me faz ficar desconfortável, mas eu nunca seria indelicado com ela.
Não tiro a mão.
Mas também não faço mais nada.
Vejo os olhos dela brilharem enquanto ela dá uma desculpa para voltar para o hospital.
Não gosto de machucá-la dessa forma, sei o que a Anna sente por mim, mas não posso iludi-la.
Porque mesmo que eu tivesse certeza de que a Emily está apaixonada e feliz ao lado do Nathaniel, eu nunca conseguiria esquecê-la.
https://youtu.be/dvSZQ4oMHGM
Toda vez que fecho os olhos
É como um paraíso sombrio
Ninguém se compara a você
Tenho medo de você
Não estar me esperando do outro lado
(Dark Paradise | Lana Del Rey)
Até amanhã com um capítulo especial do Nathaniel!
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