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Capítulo 57

— Obrigada por nos receber — digo para o casal Grant assim que somos levados para a sala de estar luxuosa onde estavam nos esperando.

— O prazer é nosso, Emily — a mulher responde com um sorriso gentil contornado por lábios de um tom vermelho escuro. — Você é tão linda pessoalmente, minha querida.

— Obrigada, Sra. Grant.

— Pode me chamar de Esther — avisa, e retribuo o sorriso. — Este é o nosso filho, Louis — continua, virando-se um pouco para o rapaz alto e loiro que está um passo atrás deles.

— Já ouvi muito falar de você, Louis — digo, estendendo a mão para ele que a aperta de forma delicada. — É um prazer finalmente conhecê-lo.

O Louis corando por causa do meu comentário e o Nathaniel me encarando com olhos confusos me dizem que exagerei ao tentar parecer simpática.

Mas a atenção do meu Mentor se volta para o nosso anfitrião.

— Nathaniel, é um prazer ter você aqui. Como está Regina? — Esther pergunta depois de ele e o Dr. Grant trocarem cumprimentos formais.

E, como se referiu a ele e à Rainha pelo primeiro nome, noto que as famílias devem ser bastante próximas.

— Ela está ótima, obrigado por perguntar. — Nathaniel é sempre tão educado, e tenho que me segurar para não revirar os olhos. Odeio quando ele faz todo mundo acreditar que ele é perfeito. — Inclusive, ela mandou cumprimentos e disse que está esperando sua visita.

— Acho que ela e eu temos que colocar a conversa em dia realmente. — Esther dá uma risada elegante, típica das mulheres do status dela.

E o que vem a seguir é igual a todos os outros jantares: sempre as mesmas perguntas e as mesmas respostas. Nathaniel sendo uma pessoa extremamente simpática, os anfitriões fazendo de tudo para agradá-lo.

Apesar de entediante, tudo está normal até aqui.

A não ser pelo fato de eu me sentir diferente. Pego-me observando detalhes que nunca me chamaram a atenção antes.

Por exemplo, o Dr. Grant tem um broche de diamante preso na lapela do paletó, e me pergunto se todas as pessoas importantes da Matriz têm um igual.

Ele é um homem alto e magro, um pouco calvo, mas provavelmente o cabelo dele deve ter sido igual ao de Louis quando era mais jovem, pelo menos é do mesmo tom de loiro.

Olho para a mão do garoto que só tem o anel de diamante da Matriz. Mas a senhora Grant ostenta mais de oito anéis.

Então meus olhos se desviam para o ambiente luxuoso que nos rodeia.

— Vocês têm uma casa linda — comento.

Claro, eu poderia ter usado outras palavras como palacete ou mansão, elas refletiriam melhor o luxo e o tamanho deste lugar.

— Obrigada minha querida — Esther agradece —, você é muito gentil.

Tudo o que ela fala ou faz parece forçado, e é assim com todas as outras pessoas.

Já me habituei a isso também.

Afinal, estou me tornando igual.

Olho mais uma vez à minha volta e há um grande espelho refletindo à nossa imagem à direita. Louis encontra os meus olhos no reflexo, sorrio para ele, mas o garoto desvia o olhar rapidamente.

Ele é a única chave para eu conseguir entrar no escritório e nem sequer me devolve o sorriso.

Mais uma vez Nathaniel me olha parecendo intrigado. Ou estou apenas nervosa demais e vendo coisas que não existem.

— Por favor, nos acompanhem — a senhora Grant diz depois de um funcionário pegar minha bolsa para guardar.

A conversa antes do jantar é sempre leve, nada de política ou outros assuntos mais sérios.

Eles recordam ocasiões passadas que viveram juntos, até mencionam acharem o Nathaniel preparado neste momento para a coroa. Eles o comparam a Louis quando tinham a mesma idade e dizem estar satisfeitos com o amadurecimento do Príncipe nos últimos três anos.

Então percebo que não sei nada sobre o Nathaniel no período anterior a ele se tornar Comandante da Guarda Real.

Lembro-me apenas dos comentários que afirmavam que o Príncipe era muito diferente dos outros.

Então, tudo mudou.

Ele foi para o exército, tornou-se Comandante da Guarda Real e por tudo o que já fez começou a ser temido e admirado, o primeiro pelos Setores e Fronteira, e o segundo pela Matriz.

Desfaço a curiosidade que surge sobre o Nathaniel, preciso me concentrar na missão.

Forço-me a analisar o cômodo.

Assusto-me quando me deparo com uma grande espada pendurada na parede acima da lareira que eles provavelmente nunca usaram.

Há muitos outros detalhes, mas nada que me ajude a criar um plano alternativo, se o do Louis não der certo.

— Então, Emily — Dr. Grant começa —, você já está bem integrada pelo que vemos. Nathaniel tem feito um ótimo trabalho como Mentor?

O tom de voz dele faz com que eu me sinta desconfortável. Em outros jantares, já senti de tudo: indiferença, pena, admiração. Mas desconfiança é a primeira vez.

Ou talvez seja apenas mais uma paranoia criada pela minha ansiedade.

— Não poderia ter tido um Mentor melhor — comento e vejo por reflexo o canto da boca do Nathaniel fingir um sorriso.

Esse é o nosso jogo.

Eu o elogio, ele me elogia de volta. E já fizemos isso tantas vezes que sei exatamente o que ele vai dizer a seguir.

— Ela é sempre tão adorável. — Repito mentalmente enquanto ele fala. Ele sabe que odeio o tom de deboche todas as vezes que ele diz isso.

Mas então sorrimos um para o outro, e só nós sabemos todos os sentimentos por trás deste sorriso.

Mas Nathaniel me olha de uma forma diferente agora. As lembranças do que fiz no carro voltam à cabeça e sinto o rosto corar de vergonha. Não tenho a menor ideia do motivo de eu ter apertado a gravata dele daquele jeito.

É claro que não iria enforcá-lo nem era uma ameaça, apesar de ter sido a primeira vez que senti que estou forte o suficiente para não recuar.

Ele não me intimida mais.

Mas não queria ter perdido o controle daquele jeito.

Apesar de eu ter gostado!

Tudo isso me deixa tão confusa.

Quando anunciam que o jantar está servido, levantamos e caminhamos em direção ao cômodo que já deve estar preparado.

Deparamo-nos com um enorme candelabro de cristal entre duas escadas arqueadas com tapete dourado. No corredor espaçoso, um dos quadros na parede me chama a atenção. Fixo meus olhos e viro a cabeça sem conseguir desviar, por isso, acabo tropeçando nos pés do Nathaniel.

— Você está bem? — ele pergunta baixinho segurando meu braço. Os anfitriões estão na frente e não devem ter notado, já que não se viram. — Você está tão distraída e com um comportamento tão estranho — ele conclui, soltando meu braço quando já estou novamente equilibrada.

— Estou ótima — limito-me a responder.

E, ao contrário do que Nathaniel disse, estou bem focada e, claro, apavorada. Por isso, aquele quadro me desestabilizou. As mãos segurando o que parecia ser um rosto gritando em desespero é uma imagem muito assustadora.

Por um momento, eu me vi ali.

Impeço o medo de me dominar e tento acreditar que tudo vai dar certo hoje.

Tem que dar!

https://youtu.be/Z2BkIxnNNM4

A hora é agora
Indo como kamikaze
Não voltarei atrás
(Army | Zayde Wølf)

Amanhã a gente vai ver como acaba esse jantar! Será que ela consegue?

Até!

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