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Capítulo 55

— O que estamos fazendo aqui? — Amanda pergunta enquanto folheia as páginas de um livro que tirou do mostrador.

Essa livraria não é tão impressionante como aquela em que a Mia me levou, mas é perto da Torre, até conseguimos vir a pé.

— Preciso comprar um presente — respondo, enquanto viro o livro para ler a sinopse. — Tenho um jantar importante hoje.

— Odeio os jantares — Nina comenta. — Acho que já consigo dormir sentada e com os olhos abertos.

Rimos da cara que ela faz.

— Nem da comida você gosta? — Amanda pergunta.

— Não. — Nina dá de ombros. — A única coisa que gosto é da companhia da Louise.

— Talvez um dia você mude opinião como a nossa amiga aqui — Amanda comenta. — Ela também odiava esses jantares e festas e agora até está comprando presentes para os anfitriões.

Dou uma risada, e Nina sorri para mim.

Ela sabe que é tudo fingimento.

Não mudei, assim como Nina não vai mudar. Nós nunca vamos conseguir deixar o passado para trás.

Não critico a Amanda por parecer feliz aqui, ou até mesmo a Jess e os planos ambiciosos dela. Afinal, nós podemos ter vindo do mesmo lugar, mas de situações muito diferentes.

Tenho certeza que Amanda não está preocupada que a família dela não apareça na próxima visita. Pode acontecer, mas não é tão provável como é para Nina.

E isso me faz voltar para a noite em que foram me buscar no hospital.

Não entendia como o Lucas conseguiu me magoar tanto ao impedir que Anna eliminasse as possibilidades de eu participar da Tômbola.

E então fiz igual ou até mesmo pior. Eu o magoei mais, para protegê-lo.

Para salvá-lo.

Hoje, acredito que alguns fins justificam os meios, e isso é um pensamento assustador.

— Preciso pedir um favor, Amanda — digo quando vejo que Nina está distante.

Falta pouco para a próxima visita das famílias dos Curados e queria prepará-la de alguma forma para uma possível notícia ruim. Nem que fosse mostrando que ela pode contar com a Amanda também.

Nina tem se esforçado para parecer bem. Acho que já ninguém consegue ver dor que ela esconde por trás desse sorriso tímido, mas isso porque ela aprendeu a usar a máscara, assim como eu.

E essa é minha preocupação, porque pessoas como nós, que ficam acumulando tudo, quando explodem, saem destruindo o que encontram pela frente, principalmente elas mesmas.

Ainda tenho bem presente a noite em que eu achava que ela ia pular do terraço.

— Pode dizer — Amanda pede, tirando-me dos meus pensamentos.

— Estou com receio da próxima visita — respondo, olhando para Nina. Amanda acompanha meu olhar e já deve prever o que quero dizer. — Ouvi falar que a situação do Setor 3 tem se agravado. Você pode ficar de olho nela também?

Nina olha para nós e acena do outro lado da livraria.

— Claro, Emily. — Ela sorri. Amanda é doce e gentil, tinha certeza que poderia contar com ela. — Depois de você, ela é a pessoa que mais gosto do grupo. Pelos vistos, tenho uma queda por Curadas complicadas.

Faço uma expressão chateada, e ela ri.

— Obrigada! Isso significa muito para mim — digo, abraçando-a. Assim vou para a minha primeira missão mais tranquila, não tenho certeza de como as coisas vão correr. E se algo acontecer comigo, não quero que Nina fique sozinha. — E preciso de outro favor — falo, roubando a atenção de novo da Amanda. — Fui convidada para ser a capa da revista Glamour.

Matt me ligou ontem para me perguntar se eu gostaria de fazer esse ensaio fotográfico com o Nathaniel como ele tinha prometido.

Não pude dizer que não.

— O que? — Amanda pergunta surpresa. — Nenhum Curado foi capa da Glamour. Nunca — fala empolgada.

— Não deve ser por mérito meu. Afinal, o Nathaniel também foi chamado para o ensaio — aviso. — Eles disseram que eu poderia convidar duas amigas, e adoraria que você participasse deste ensaio comigo.

Gosto muito da Amanda, apesar de passar muito mais tempo com a Mia. Mas isso é porque eu e a Mia estudamos na mesma universidade. Além disso, Amanda também tem os compromissos como Curada, não é fácil encaixar nossos horários.

— Claro que vou — responde empolgada. — Estou me sentindo honrada pelo convite. Isso não é um favor que estou fazendo para você, mas que você está fazendo para mim.

— Obrigada — digo. — Tenho certeza que nossas fotos ficarão lindas.

Abraço Amanda de novo.

Começar as missões para a Resistência está me deixando carente e aquela conhecida sensação de morte iminente se torna cada vez mais intensa. Mas ao contrário de antes, gosto dessa adrenalina, preciso dela para continuar fazendo a coisa certa.

— Como estão as coisas com a Louise? — pergunto, antes de voltarmos para perto da Nina.

— Na mesma — Amanda responde, com a voz chorosa. — Quando estou perto dela eu travo. Tenho medo de ela só estar sendo simpática comigo.

—  Não acho que ela esteja sendo apenas simpática — digo sorrindo para Amanda, que parece ser tão insegura. — Você tem ideia de quantos foras já deu nela?

— Não me lembra, Emily — Amanda me interrompe. — Quando a Louise está na minha frente eu não sei como agir. Será que ela ficou chateada comigo? — ela pergunta baixinho, vendo Nina se aproximar.

— Deve estar dando espaço para você.

Amanda pede para pararmos de falar sobre a Louise, ela tem medo que a Nina diga alguma coisa para a mentora dela, por isso, voltamos a procurar o presente.

— Acho que encontrei.

Mostro para as duas um livro antigo, com capa de couro e um cheiro que me leva para as madrugadas em que eu ficava sozinha com minha leitura à luz de velas.

— MacBeth — Amanda diz, tocando nas letras em relevo quase completamente sem cor. — Esse livro é muito antigo e muito caro! — exclama quando vê a etiqueta de preço.

— É por uma boa causa!

O filho dos Grant gosta de livro, por isso, vou levar um presente, esperando começar uma conversa com ele sobre o assunto.

Mas como este livro vai me levar para o escritório ainda não sei. Ainda mais com Nathaniel do meu lado.

Desfaço os pensamentos para tentar controlar a ansiedade que começa a comprimir meus pulmões. Melhor não me preocupar agora.

Escolho outros três livros para mim, mesmo que ainda não tenha terminado os que comprei antes.

Não consigo resistir.

*

Depois de um banho demorado e duas xícaras de chá de camomila, vou para o Centro de Beleza onde deixo que a equipe escolha tudo por mim.

— Imagina colocar no meu currículo que fui cabeleireiro da Princesa de Gaia - Ryan fala empolgado.

Desde o beijo no Festival, eles não param de falar sobre Nathaniel e eu. Já desistiram de fazer perguntas diretas, porque sabem que não vou responder. E agora eu apenas sorrio com esses comentários.

— O que você acha, Emily? — Keysha e Bea aparecem com o vestido e os acessórios que escolheram.

— Perfeito!

— Ela sempre diz isso — Ryan começa —, menos quando é verde. Sou lerdo na maior parte do tempo, mas já notei que você não gosta dessa cor.

— Eu gosto — afirmo, e me arrependo, porque agora vou ter que explicar. — Eu só não quero usar verde.

— O que aconteceu, gata? — Ryan pergunta, olhando-me com aqueles grandes olhos escuros. — Você fica deslumbrante de verde. Mas tudo bem, se vai ser princesa, tem mesmo que começar com as excentricidades.

Apenas rio com o comentário.

Depois de fazerem o rabo de cavalo desarrumado que pedi e uma maquiagem bem marcada, coloco o vestido azul claro. Sem decote e com manga curta em renda até o busto, o vestido cai em camadas da cintura para baixo.

É lindo.

E curto.

Tão curto que quase me recuso a usá-lo.

Olho-me no espelho por algum tempo sem prestar atenção ao que estão falando. Tento encontrar algo que me faça lembrar da antiga Emily e não vejo nada.

Talvez a única coisa que sobrou foi o meu amor pelo Lucas. E isso é a única motivação que preciso para seguir com este plano arriscado.

— Você está perfeita! — Keysha comenta.

Pelo sorriso da equipe, todos parecem aprovar o resultado final.

Volto para o apartamento, vou até o cofre e retiro a caixa que a Resistência me entregou. Eles disseram que provavelmente não conseguiria levar a minha bolsa para o escritório, por isso, prepararam grampos de cabelo com as escutas.

Parece realmente mais fácil.

O difícil é acreditar como algo tão pequeno é tão avançado.

A bateria dessas escutas dura aproximadamente mil e duzentos minutos, ou seja, vinte horas. Além disso, elas possuem detector de voz, por isso, não gastam bateria quando o ambiente está em silêncio.

E assim que começa a gravar, o áudio é transmitido para a Central da Resistência onde será analisado.

Retiro um deles e o enfio delicadamente no cabelo.

Coloco o livro embalado dentro da bolsa sem nenhuma ideia do que vai acontecer esta noite.

A seguir, respiro fundo e espero meu Mentor chegar.

https://youtu.be/_ubnhgZgsfc

Como um míssil em uma missão
Eu sou uma força que você vai temer
(Stronger | The Score)

Alguém nervoso com a primeira missão da Emily?

Até amanhã!

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