Capítulo 53
— Nunca duvidei que nos reencontraríamos. — A voz ecoa pelo ambiente pouco iluminado.
— Eu duvidei — reclamo, sentindo um cheiro que não conheço preencher o ambiente. — Vocês demoraram a me procurar de novo.
— Vamos então ao que interessa — ele diz. Pelo que estou vendo, eles vão continuar anônimos, já que tudo continua escuro. — Você passou no primeiro teste. Na verdade, você foi brilhante, Emily. Apesar de acreditar no seu potencial, não esperávamos que fosse tão longe, e isso nos fez ter certeza de que você é a pessoa certa.
— A pessoa certa para o que? — pergunto ansiosa.
Seguro o anel de diamante, mas ao contrário do que fazia com os outros anéis, não o giro no meu dedo. Simplesmente me lembro do que ele representa e paro de tocá-lo.
— Para ser a cara da Resistência. — Fico em silêncio tentando entender o que essas palavras querem dizer. — O que nós precisamos de você agora são algumas respostas. — Ele faz suspense enquanto os pensamentos passam acelerados e confusos na minha cabeça. — Você está disposta a ser acusada de traição? Está disposta a ser perseguida pela Matriz?
— Por que eu iria querer isso?
De todas as teorias que fiz sobre o que eles queriam comigo, por mais que os pensamentos que tivessem passado pela minha cabeça fossem assustadores, nenhum deles previu o que ele acabou de dizer.
Achava que eles queriam que eu me infiltrasse na Família Real, que tentasse descobrir algo sobre o Nathaniel.
Mas não isso.
Não ser a cara da Resistência.
— Para salvar Gaia — responde. — Nós sabemos que a Matriz pode curar todo mundo, Emily. Mas precisamos de provas para mostrar para a população, para fazer todos os cidadãos dos Setores e da Fronteira acreditarem e se unirem em uma Revolução sem precedentes.
— E como vocês vão conseguir essas provas? — pergunto.
— Nós não vamos — ele diz. — Você vai.
Agora, não consigo conter a risada.
— Se você não quiser me ver saindo daqui agora, é melhor falar todo o plano de uma vez.
— Isso é algo que nós simplesmente adoramos em você, sua impulsividade. Foi ela que trouxe você aqui, mas ela não vai tirar você das mãos do Nathaniel. Você tem que começar a se controlar, Emily. — Não posso discordar dele, afinal ouvi isso a vida toda. Mas ele está testando minha paciência, e ela já anda no limite. — O plano é simples. Nós achávamos que seria mais complicado até você — ele faz uma pausa, provavelmente para escolher as palavras que vai dizer a seguir — começar uma relação com o Príncipe. Não estávamos esperando por isso e foi uma jogada de mestre. Não temos dúvida de que vai facilitar muito as suas missões.
— A única relação que tenho com o Príncipe é do tipo gato e rato. E se vocês não perceberam ainda, eu sou o rato. Não tenho nenhum tipo de controle — digo.
— É hora de inverter o jogo. — A voz fala de forma convicta. — Você tem se tornado cada vez mais popular, e ter a companhia do Nathaniel certamente vai ajudá-la a ser convidada para a casa das pessoas mais importantes da Matriz. Médicos, juízes, cientistas: estes serão seus alvos.
— Qual é o plano?
— Quando estiver na casa dessas pessoas, nós precisamos que você consiga ir até o escritório delas.
— Como eu vou fazer isso? — pergunto. — Nunca fui além da sala de jantar ou de estar deles.
— Você é mais inteligente do que imagina, Emily. Vai descobrir uma forma de fazer isso.
Este é o tipo de resposta que me deixa com vontade de sair deste lugar e nunca mais voltar.
— Você se esqueceu de que o Comandante da Guarda Real está sempre ao meu lado? — Meu tom é agressivo. — Mas tudo bem, digamos que eu consiga ir até o escritório, o que preciso fazer?
— É mais simples de tudo o que já fez até agora. Você vai ter que colocar escutas nesses escritórios. Essa é a missão que eu já considero feita. Você tem os convites, os escritórios dos nossos alvos possuem uma biblioteca e você tem a fama de gostar de livros. O que você acha?
— Acho que é difícil, mas deve ser possível — digo, insegura.
— É esse o espírito, apesar de falta de certeza na sua voz. — Ele não deixa passar nada. — Ao fim dessas missões, você tem que realizar a prova de fogo: chegar ao Palácio Real.
— Nunca ouvi falar que um Curado foi convidado para um jantar no Palácio Real - respondo, sem acreditar que eles querem que eu faça isso.
— Eu nunca tinha visto uma curada beijar o Príncipe — contra-ataca no mesmo momento e com o mesmo tom. — Sabemos porque você beijou o Nathaniel. Mas, Emily, você realmente acredita que o Príncipe deixaria você beijá-lo e quebrar alguns protocolos se ele não quisesse? Mais do que isso, você realmente acredita que ele a beijaria para ajudar o Lucas mesmo tendo que enfrentar o Rei logo a seguir? — faz uma pausa enquanto reflito sobre isso. — Ele deixou você beijá-lo porque ele queria. Ele beijou você porque ele queria.
— Eu sei disso — respondo. — Ele me usou como estratégia política. Enquanto esse beijo for notícia, as pessoas vão se esquecer dos problemas reais de Gaia.
Agora quem ouve uma risada sou eu.
— Não é possível que você acredite nisso — ele rebate. — Você tem o controle da sua relação com o Nathaniel e vai conseguir receber um convite para o Palácio Real, até porque todo o plano depende disso. As possibilidades de conseguirmos algo em todos os escritórios que você colocar a escuta é de dez por cento apenas. Mas no escritório real, ficamos como noventa por cento.
E é aqui que percebo que não há certeza de que tudo vai dar certo.
E se não der certo, terei arriscado minha vida em vão.
— Não vou fazer isso — digo com desdém na minha voz. — É arriscado demais e até agora vocês não me deram nenhuma garantia de que vai funcionar.
— Qual é a sua preocupação?
— Vamos supor — começo, falando devagar para organizar meus pensamentos —, mesmo que eu coloque todas as escutas, inclusive a do Palácio Real, vamos esperar que eles digam que há cura para todos? É esse o plano de vocês?
— Sim, é basicamente isso.
— Sabe, vocês não estão me dando garantias que justifiquem eu me arriscar desta forma — digo sem rodeio. — Tenho certeza que o plano B de vocês vai conseguir salvar Gaia. Além disso, depois de tudo o que eu fiz, o Lucas já não deve se arriscar por mim. Ele vai ficar bem.
— Você acredita mesmo nisso? — Sinto um arrepio quando ouço a pergunta. — Você acredita que o Lucas desistiria assim tão fácil de vocês dois?
Não respondo.
Eu tinha certeza até um segundo atrás, mas não agora.
— O que vocês sabem sobre ele?
— O Lucas continua e está ainda mais ativo na Resistência. Ele não vai desistir, Emily. Mas nós pedimos para as Resistências dos Setores tomarem cuidado, avisamos que eles estão sendo cada vez mais vigiados.
Preciso fazer um esforço para não deixar as lágrimas caírem.
— Você é próxima da Nina, a menina do Setor 3, certo? — Concordo com a cabeça, lembrando que pedi para ela ter esperança, que havia planos. — Ela perdeu os pais e o irmão mais novo, e não há muita esperança para os dois que restaram. No ritmo que as coisas estão, daqui a algumas semanas ela não vai receber nenhuma visita. — Essas palavras me provocam um vazio no estômago e sinto meus olhos se encherem de lágrimas. — E enquanto estamos falando, as pessoas continuam morrendo no Setor dela. Não podemos deixar isso acontecer.
Não, não posso fazer isso com a Nina.
Não posso ficar de braços cruzados quando o vírus continua no sangue do Lucas e da família dele.
Não posso aceitar que nunca mais vou encontrá-lo sem lutar antes.
Mesmo que seja arriscado.
— Não queria ter que envolvê-la nisso — sinto sinceridade nessas palavras —, mas você é a nossa melhor opção no momento para derrubar a Matriz. E sabemos o que estamos pedindo para você, mas nenhum risco será em vão, Emily!
Respiro fundo.
Peço alguns minutos para pensar.
Eu já tinha tomado a decisão de fazer algo por Gaia.
E se essa é a melhor chance de acabar com a opressão da Matriz, não vou fugir disso.
Eu vou lutar, independentemente das consequências.
— Estou dentro — afirmo, convicta.
— É assim que se fala! — Sinto uma ponta de esperança surgir. — Quando a hora chegar, você não vai lutar por eles. Você vai lutar com eles. Vai ser a Setoriana que começou a revolução, mas não vai estar sozinha. No entanto, preciso voltar a fazer perguntar. Você está disposta a se tornar a cara da Resistência?
— Estou — não hesito desta vez. — Mas tenho uma condição.
— Qual?
— Vocês têm que me garantir que meus amigos não serão envolvidos.
— Eles não serão — a voz diz segura.
— E, aconteça o que acontecer, quero a Nina ao meu lado.
— Você tem a minha palavra.
— Então, podem contar comigo.
https://youtu.be/SKnRdQiH3-k
É nosso mundo, eles nunca poderão tê-lo
É assim que nos levantamos
É a nossa resistência
Você não pode resistir a nós
(The Resistance | Skillet)
A nossa borboleta está aprendendo a voar!
Até amanhã!
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