Capítulo 5
Senti medo antes quando estávamos a caminho daqui, mas, agora, estou apavorada.
Assim que sairmos, não seremos apenas duas pessoas andando na rua fora do toque de recolher. Seremos duas pessoas com objetos roubados e que nos associariam à Resistência.
E apesar de saber o que o Lucas sente por mim, em momentos como este, não tenho certeza do que é mais importante para ele: eu ou a luta contra a Matriz.
Parte do que pegamos hoje nos ajudará no hospital, pelo menos os remédios e os agasalhos. O resto, Lucas vai entregar para a Resistência.
Não sei muito sobre o que fazem, apenas que eles mantêm vários abrigos com coisas que podem ser úteis em caso de guerra.
Até estremeço só de pensar nessa palavra e continuo achando que nada disso vale a pena.
Olho para o Lucas sem esconder meu descontentamento.
— O que foi, Emily? — ele pergunta quando som do carro já está longe o suficiente para podermos respirar aliviados.
— O que nós temos não é suficiente para você? — pergunto, sem conseguir me controlar. — Nós temos um ao outro, nós temos planos.
Lucas se aproxima de mim. Fica tão perto que consigo ouvir o coração dele bater tão acelerado quanto o meu.
Nós nos conhecemos desde que éramos crianças, e em nenhum momento duvidei que ficaríamos juntos. Mas nosso contato físico é quase inexistente. Não só porque não é permitido, mas porque também é muito difícil ficarmos sozinhos.
Mesmo morando no mesmo prédio, há sempre inspeções surpresas. Por isso, vou para a casa dele apenas quando sua mãe e seu irmão estão lá. Nunca nos encontramos na minha casa, porque não tem nenhum adulto que possa se responsabilizar se a inspeção aparecer.
Moro sozinha.
Além disso, temos muitos vizinhos. Não dá para confiar neles, ainda mais quando sabemos que uma denúncia como esta pode render uma boa recompensa.
E não posso julgá-los.
As pessoas não são ruins ou nos entregariam por diversão, elas apenas estão lutando para sobreviver.
Assim como nós.
Lucas guarda a lanterna no bolso e, logo a seguir, segura meu rosto desfazendo meus pensamentos e o levanta forçando-me a olhar para ele.
— Você é tudo para mim — diz, olhando-me nos olhos de forma intensa. — Você ainda duvida disso?
— Não — respondo. — Mas...
Tento continuar, mas o que vejo é ele se inclinar na minha direção até encostar a boca na minha.
Nenhuma parte de mim resiste ao que vem a seguir.
Sinto uma das mãos dele deixando meu rosto e encontrando lentamente o caminho para a minha cintura, puxando-me mais para perto enquanto deixo a língua dele entrar na minha boca e me fazer esquecer de onde estamos e do que estamos fazendo.
Somos só nós dois nesse momento!
Meus braços envolvem o pescoço dele, e me perco no movimento dos lábios dele nos meus.
Um calor me envolve enquanto o beijo fica cada vez mais intenso.
— Emily — Lucas sussurra, quando mordo devagar o lábio dele.
Ele se afasta um pouco e respira fundo, provavelmente tentando recuperar um pouco do controle que ele raramente se permite perder.
— Eu te amo! — digo, fazendo-o fechar os olhos.
Beijo o sorriso que surge na boca dele. Sinto o cabelo macio entre os meus dedos. Nossos corpos se fundindo, se aquecendo.
Minha única certeza é que eu poderia viver nesse momento para sempre, mesmo que me deixe sem ar e me fascine ao ponto de achar que nada é melhor do que estar nos braços dele, do que ser beijada por ele.
— Você ainda tem alguma objeção? — Lucas pergunta, ainda com a boca tão perto da minha que minha única vontade é beijá-la de novo.
Quando disse antes que ele quase nunca transgride as leis da Matriz, estava me referindo também a nós dois e ao nosso relacionamento proibido.
— Não quero perder você, Lucas — digo sincera, olhando-o nos olhos castanhos infinitos. Nos olhos que eu amo há tanto tempo, que jamais conseguiria viver sem. — Não posso perder você.
— Então você me entende. Também não quero perder você. — Ele faz uma pausa e parece estar analisando o que vai dizer a seguir. Aguardo enquanto ele hesita, e meu coração se contrai em preocupação. — Quantas crises de sinusite você teve nos últimos anos? De otite? Pneumonia, Emily? — As perguntas sobre a minha saúde me fazem estreitar os olhos de forma confusa. — Sua mãe me contou.
— O que? — Minha voz sai surpresa. — Você sabe?
Desvio meu rosto, incapaz de continuar olhando para a sua expressão angustiada.
— Eu sei! — Ouço a preocupação, o medo, a tristeza que ele está sentindo. — E a quantidade de antibiótico e anti-inflamatório que você toma para tratar essas infecções diminui ainda mais a sua imunidade e o vírus pode se aproveitar disso. — E isso justifica porque ele tem andado tão preocupado com a minha saúde ultimamente. — Eu vou fazer tudo o que puder para ver você curada, mas, para isso, a Matriz tem que cair.
Ainda estou tentando processar essas informações.
Ele sabe que tenho imunodeficiência primária e, por isso, o vírus no meu sangue é uma bomba-relógio.
Em qualquer momento, meu corpo vai enfraquecer e desistir de lutar, mesmo com o antídoto, mesmo que eu não tenha idade para o meu coração parar de bater. Foi o que aconteceu com a minha avó e o que aconteceu com a minha mãe.
Dou um suspiro triste.
Nunca teria contado para ele.
Nunca o colocaria na posição em que meu pai esteve tentando salvar a minha mãe e a mim.
E a única coisa que sinto neste momento é vergonha. Sempre achei que ele queria salvar o mundo, mas sou eu quem ele quer salvar.
A culpa de ele se arriscar deste jeito é minha.
É culpa do meu corpo que pode me trair quando eu menos esperar.
— Não quero que você se preocupe com isso — peço, segurando as lágrimas que ameaçam cair. Ele coloca as duas mãos no meu rosto, forçando-me a olhar para ele. — Não quero que você se arrisque por mim.
— Eu amo você... mais do que tudo nessa vida! Você sabe disso, não sabe? — pergunta, encostando a testa na minha, e eu balanço a cabeça confirmando que sim. — Então, não me preocupar com você é impossível.
Antes que eu consiga argumentar, Lucas me beija de novo.
Agora, é um beijo carinhoso e protetor.
Tão lento quanto a lágrima que escorre no meu rosto. Tão delicado quanto o toque do dedo dele limpando a lágrima na minha pele.
Infinito.
Mas rápido demais o beijo se transforma em um abraço.
Encosto a cabeça no peito do Lucas enquanto ouço o coração dele voltar ao ritmo normal.
E o abraça acaba também.
Não quero que ele se afaste, mas precisamos voltar à realidade.
— Nós vamos dar um jeito nisso, Emily! — ele promete. — Nós vamos conseguir.
Dou um suspiro triste, mas forço um sorriso logo a seguir e balanço a cabeça de forma positiva.
Lucas segura a minha mão e abre a porta, enquanto respiro fundo antes de sairmos.
https://youtu.be/Za8oEoJw55w
Porque você é a razão pela qual eu acredito no destino
Você é o meu paraíso
E farei qualquer coisa para ser seu amor
Ou ser seu sacrifício
Porque eu te amo até o infinito
(Infinity | Jaymes Young)
Ai, ai! Esses olhos castanhos!
E um amor desses?
Até amanhã!
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