Capítulo 43
— Onde estou? — pergunto, falhando em tentar esconder o pavor na minha voz.
Dou um passo para trás, sem a menor ideia se é seguro voltar para o carro.
— Não tenha medo, Emily! — A mulher continua imóvel na porta e a voz tem uma tranquilidade perturbadora. — Não queremos fazer nenhum mal a você.
— Então por que estamos no meio do nada? — pergunto, meu coração batendo na garganta. — Por que não pude decidir se queria estar aqui?
Dou mais um passo para trás, sentindo uma tensão incômoda em todos os músculos do meu corpo.
— Porque precisamos manter esse encontro em sigilo. — A resposta não me tranquiliza. Nem um pouco. — Como garantia de que não queremos fazer nada contra você, seu carro vai ficar esperando. Você pode voltar agora ou quando desejar — diz, e tenho vontade de fazer isso. Mas a curiosidade não me deixa sair do lugar. — Se resolver entrar, pode levar seu celular com você e ligar para quem quiser em qualquer momento.
— O que vocês querem?
— Apenas conversar com você sobre um assunto do seu interesse!
Ela abre a porta, e eu queria saber porque estou ponderando entrar e descobrir o que está acontecendo.
Dou um passo à frente e paro.
Pergunto-me porque ela disse que o Nathaniel não iria gostar de saber onde estou, e isso me faz caminhar até o prédio.
O ambiente à meia luz é assustador, e minhas mãos começam a tremer e a suar, enquanto a mulher me conduz para uma sala que faz toda a situação parecer ainda mais aterrorizante.
Há uma mesa, uma cadeira de ferro que parece extremamente desconfortável e uma luz por cima da cadeira iluminando apenas ela, enquanto o resto do ambiente está totalmente escuro.
É tudo o que vejo.
— Sente-se! — Uma voz modificada eletronicamente ecoa no ambiente, fazendo um arrepio percorrer cada centímetro do meu corpo.
— Isso é mesmo necessário? — pergunto, mostrando minha indignação. — A voz? A escuridão?
Claro que estou em pânico, mas é melhor não deixar ele saber.
— Sinto muito, Emily — a voz diz. — Mas para a sua segurança e para eu continuar anônimo é melhor que seja assim.
É um homem.
— Por quê? — pergunto direta. — Eu conheço você?
— Talvez — ele responde evasivo. — Mas vamos direto ao ponto. Você já ouviu falar na Resistência?
A pergunta traz uma lembrança à minha mente.
O bilhete.
— Foram vocês que... — hesito em continuar.
— Sim, fomos nós que enviamos o bilhete — interrompe-me. — Então, Emily! Você já ouviu falar na Resistência, movimento revolucionário dos Setores?
A voz agora parece mais autoritária.
Por que ele quer saber?
É uma armadilha?
Acho que tenho que responder a isso de uma forma não comprometedora.
— Quem nunca ouviu? — Consigo fazer a minha voz não tremer.
Não posso dar nenhuma indicação de que já estive envolvida ou de que as pessoas que conheço podem estar.
— Bem, eles são apenas uma parte da Resistência principal — faz uma pausa e sinto minha respiração ficar mais curta —, movimento revolucionário da Matriz.
Não escondo a confusão no meu rosto apesar de saber que ele está me vendo.
— O que? Há uma Resistência na Matriz? — pergunto surpresa sem controlar a curiosidade.
— Sim! — Essa resposta faz todo o meu corpo arrepiar, e não consigo decidir se é de um jeito bom ou ruim. — Nós somos a Resistência da Matriz.
Mas então um medo comprime minha garganta.
Já estou tendo problemas demais mesmo sem ter me envolvido oficialmente com a Resistência dos Setores. O que aconteceria comigo se Nathaniel descobrisse que a Resistência da Matriz entrou em contato comigo?
Levanto-me da cadeira.
— Não tenho interesse em ter mais problemas — aviso, com todos os tons de pavor na minha voz e começo a andar em direção à porta.
— Por favor, Emily, escute! Nós sabemos tudo que aconteceu entre você e o Lucas. — Ouvir o nome dele me faz parar e virar. — Nós também sabemos que o Comandante da Guarda Real tem informações sobre vocês dois.
— Como descobriram isso?
Não perco tempo negando, mas minhas pernas perdem as forças e tenho que me esforçar para me manter em pé.
Já é ruim Nathaniel ter essas informações e me chantagear.
A Resistência vai me chantagear também?
O que eles querem comigo?
Muitas outras perguntas se embaralham na minha cabeça em um ritmo tão intenso que me deixa enjoada.
— Temos muitas pessoas infiltradas — responde o que já imaginava. — Você já ouviu falar na crise do Setor 3?
— Por alto — respondo.
— O antídoto está perdendo cada vez mais efeito sobre o vírus e as pessoas não estão resistindo. Em poucos anos, nada existirá no Setor 3. Você sabia disso?
— Então é verdade?
Mais uma informação perturbadora.
— Infelizmente, sim!
— Por que você está me falando isso?
— Bem, precisamos de ajuda. Sabemos que o que você sente pelo Lucas é verdadeiro e que vocês querem ficar juntos de novo. — Não concordo nem nego, por isso, a voz continua: — Agora que você o perdeu, o que faria para estar com ele de novo?
É uma armadilha, certo?
Se eu disser que faria qualquer coisa, então as luzes vão se acender e vou ver o Nathaniel surgindo do fundo.
Traição.
Isso me renderia uma condenação, cuja punição é a morte.
Por isso, continuo calada.
— Sei que você deve estar pensando que pode ser uma armadilha. — Tento manter minha expressão indiferente, tenho quase certeza que estou falhando. — Não é! Mas não tenho como fazer você acreditar nisso agora. E antes de contar os nossos planos, porque nós temos um para salvar o Setor 3 e todos os outros Setores, você vai ter que passar por um teste. Não queremos uma resposta imediata, você terá tempo para pensar, e sua resposta serão as suas ações.
— E o que eu precisaria fazer? — pergunto sem conter a ansiedade de saber a razão de tudo isso.
— É simples, Emily — ele responde. Ouço as pernas da cadeira rangendo no chão e agora consigo ver apenas um vulto andando do outro lado da mesa. — Nós iríamos fazer as coisas de forma diferente, mas então você apareceu. Sua aproximação ao Príncipe fez a população desesperançada acreditar que você pode ser a primeira Rainha Setoriana. A Rainha que vai mudar a história de Gaia.
Rio alto com a impossibilidade de isso acontecer. Mas a seguir só ouço um silêncio.
— Isso é impossível — digo.
— As pessoas desesperadas tendem a se apegar a qualquer fio de esperança. E uma Rainha Setoriana poderia mudar tudo.
— Por que elas acham isso?
— Porque nós mostramos sua entrevista na conferência de imprensa completa para o Setor 3 e para alguns outros Setores. Por causa disso, você é a curada mais popular de sempre. Quer por acharem que você pode mudar o sistema, afinal, você disse um dos lemas esquecidos da Resistência e pediu para eles não pararem de lutar. Quer por causa da história de contos de fada que você está criando com o Príncipe.
— O Lucas viu? — pergunto nervosa.
Isso seria a prova que o faria ter certeza de que fui coagida a agir daquela forma na visita.
— Não, não mostramos para o Setor 7 — responde, e suspiro aliviada. — O Lucas saberia que você está sendo ameaçada e viria atrás de você, não é? — Confirmo com a cabeça. — Nesse momento, não precisamos disso. Não precisamos que as pessoas saibam sobre o Lucas. Não precisamos da vida dele em risco.
As palavras dele me desarmam por um momento, apesar de saber que eles podem estar me manipulando para me fazer acreditar que estão fazendo algo por mim quando só querem tirar proveito da minha situação.
— Você ainda não disse o que eu teria que fazer.
— É simples, Emily! Você só tem que se tornar ainda mais popular para conquistar a população da Matriz. O plano depende disso!
— A Resistência já me trouxe muitos problemas — afirmo. — É muito arriscado!
— Você já não tem nada a perder.
Não controlo outra risada.
— Além da minha liberdade ou da minha vida, você tem razão, já não tenho nada a perder — digo com ironia gritando em cada sílaba.
— Deixe eu colocar de outra forma — ele diz paciente, voltando a se sentar. — Você teria tudo a ganhar: reencontrar o Lucas, ajudar a libertar o país do domínio da Matriz e a curar todos os cidadãos dos Setores e da Fronteira.
— Curar a população dos Setores e da Fronteira? — pergunto, enquanto volto a me sentar também. — Isso não é possível.
— Oh, vamos lá, Emily. Foi você quem disse que tudo é possível. E nós sabemos que é. Há cura para todos os habitantes de Gaia e nós vamos consegui-la — ele soa convicto, e dou um suspiro ao pensar que isso pode realmente acontecer. — Será mais rápido se você nos ajudar. Mas pense com calma, não vamos forçá-la a fazer nada. Se nas próximas semanas não virmos nenhuma iniciativa da sua parte para provar que está do nosso lado, você nunca mais vai ouvir falar sobre a Resistência. Mas se virmos qualquer esforço seu para se tornar mais popular, aparecer mais na mídia, aproximar-se do Príncipe e ganhar a admiração da Matriz, nós entraremos em contato novamente.
Fico em silêncio tentando memorizar todas essas informações.
— Por que eu? — pergunto.
— Por que você está na posição certa para pôr em prática nossos planos. Além disso, você é exatamente igual ao seu pai, Emily, apenas tem suprimido essa parte revolucionária de você. Mas quando estiver preparada, você vai fazer a diferença. Não apenas porque você pode, mas porque é isso que você mais quer.
— Ele realmente era um Resistente?
Apesar do meu esforço, sei que minha voz sai embargada e tremida.
— Sim, ele era!
Sinto meus olhos se encherem de lágrimas. Respiro fundo, e a pessoa no outro canto da sala parece me dar um momento para me recuperar.
— Haverá consequências se eu não aceitar o acordo de vocês? — pergunto, depois do que parece uma eternidade.
Mas pensar no meu pai neste momento causa muitas emoções em mim e não quero parecer vulnerável ou fraca.
— Nós não vamos fazer nada, além de partir para o plano original. — Pelo tom de voz dele, sei que não era essa pergunta que ele queria ouvir. — No entanto, não diria que não haverá consequências. Afinal, o tempo está se esgotando para o Setor 3 e o Lucas vai continuar sendo monitorado pela Matriz. Não acredito que demorará muito para terem provas suficientes para condená-lo. Ou pior, para o Lucas fazer algo que comprometa a segurança dele e a sua. Mas, repito, é você que decide.
Os argumentos são bons, mas ainda não tenho certeza se vou considerar a proposta deles.
— Posso ir embora agora? — pergunto quando o ar começa a faltar depois de tudo o que fiquei sabendo aqui hoje.
É muita informação para processar de uma só vez.
— Claro, seu motorista está esperando você lá fora. Diga apenas que foi uma surpresa do Nathaniel — ele pede. — Não usaremos o telefone para tentar falar com você, eles estão monitorando suas chamadas. E acho que não preciso pedir para você não comentar com ninguém o que aconteceu aqui, não é?
— E me complicar ainda mais? — respondo com uma pergunta.
— Espero ver você de novo, Emily!
*
No caminho de volta para a Torre, todas aquelas palavras parecem como um grande tornado na minha cabeça, destruindo todas as crenças que eu tinha.
O Setor 3 realmente pode ser extinto.
A Resistência é maior e mais forte do que eu imaginava, e o centro dela é a Matriz.
Os Setores e a Fronteira estão com esperança de que eu me torne a primeira Rainha Setoriana.
Deito na cama assim que chego em casa e só paro de pensar quando tomo uma decisão.
Como eles disseram, tenho muito a ganhar.
E se esta é uma forma de voltar para o Lucas e ainda derrubar a Matriz, definitivamente estou dentro!
Tenho que continuar acreditando que tudo é possível.
https://youtu.be/hfDGlB96hE0
E você se tornou uma borboleta
Eu sempre soube que você se tornaria
Eles estavam jogando paus e pedras
Palavras nunca podem quebrar seus ossos
Você pode abrir suas asas e voar
(You | James Arthur)
É, nossa Emily está se transformando na borboleta!
AVISOS:
O livro À Beira do Caos está sendo repostado, e tem à volta de 90 capítulos. Estamos NO MEIO DA HISTÓRIA, daqui a pouco mais de um mês, ele estará completo... Esperem até lá para lerem o segundo, não pulem para Contra o Tempo agora kkk Sério, há muitas reviravoltas no final deste livro que valem a pena ver sem pegar spoiler no segundo livro.
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Até amanhã!
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