Capítulo 29
Quando saio do prédio, James está me esperando com a porta da limusine preta aberta.
— Você está encantadora, Emily — diz, e sorrio com o elogio.
— Obrigada! Você também — retribuo, é impossível ignorar a elegância dele nesse traje de gala.
Depois de me ajudar a entrar na limusine, seguimos para o Palácio Nacional.
No caminho, repassamos todo o protocolo necessário para o evento. James é extremamente paciente e me explica tudo nos mínimos detalhes.
Sei que o sucesso dele depende de como vou me sair, e seria ótimo para ele que eu me destacasse, assim seríamos ambos convidados para muitos jantares e eventos. E isso definiria o futuro dele e o meu.
Por isso, é impossível não me sentir culpada por saber que, por mais que ele possa se esforçar para ser um ótimo Mentor, não tenho intenção nenhuma de me tornar popular.
— São poucas regras, Emily.
— É estritamente proibido criticar a Matriz e a Monarquia, não posso fazer comentários polêmicos nem incitar movimentos revolucionários — digo, fazendo James balançar a cabeça em aprovação.
— Se tiver isso em atenção, vai correr tudo bem.
As palavras dele me dão um nó no estômago.
Liberdade de expressão é algo que não existe nem na Matriz. Essa é a forma que o Sistema encontrou para nunca ser questionado.
Tudo o que é transmitido nos jornais televisionados, impressos e na Internet referentes às questões políticas, econômicas e sociais de Gaia precisa ser aprovado.
Nas redes sociais, todos os posts publicados são automaticamente analisados em busca de palavras e imagens proibidas. Qualquer publicação suspeita é imediatamente apagada e a pessoa que a postou submetida a uma investigação.
Por isso, já decidi que não vou ter redes sociais. Estou ainda esperando o momento certo de dizer isso para o James, e espero que ele entenda minha decisão.
Não quero me expor, e também não quero saber o que vão falar sobre mim. Deve ser cansativo demais e, para ser sincera, eu realmente não me importo.
Quando James começa a falar com o motorista, olho para a Matriz do lado de fora do carro passando rápida e suspiro quando a imagem do Lucas me vem à cabeça.
Ele quer tanto derrubar o sistema.
Claro que também quero.
Naquela noite na casa da Olivia, entendi que o que a Resistência faz é importante e que ficar de braços cruzados realmente não é a nossa melhor opção.
Talvez seja útil fazer o povo se lembrar deles. E estou em posição de fazer isso, afinal Gaia inteira verá a conferência de imprensa.
Se eu quiser voltar para o Lucas, seria um bom ponto de partida mostrar para as pessoas que alguém que está na Matriz se preocupa com elas, que elas não estão sozinhas e que podem e devem continuar lutando.
Uma chama de esperança nasce em mim.
Afinal, não preciso esperar o Lucas fazer tudo. É sempre ele a se arriscar por mim, por nós dois. Preciso ajudá-lo, como fiz naquela noite.
E vou ser sutil.
O carro para e respiro fundo enquanto James sai para abrir a minha porta.
Do lado de fora, observo Jess subindo a escadaria com o Mentor dela. Ela está usando um vestido prateado com a costa completamente nua e uma postura confiante e sensual. Acompanho o olhar dela e vejo que Jess não tira os olhos do Príncipe que está no topo da grande escadaria de mármore.
Nathaniel cumprimenta os dois rapidamente, e Jess e seu Mentor são dirigidos por um organizador do evento para dentro do Palácio.
— Você está tão básica e tão deslumbrante ao mesmo tempo. — Amanda me assusta novamente, chegando de surpresa perto de mim. — Como faz isso?
— Você está linda também, Amanda — digo, sorrindo.
O vestido dela é de um tom dourado discreto. O cabelo está preso, e a franja, desta vez, não está cobrindo sua testa. A maquiagem carregada a deixa diferente, ainda mais linda do que das outras vezes em que a vi.
Continuamos na parte de baixo esperando a nossa vez, e Amanda reclama de novo sobre o quanto está nervosa com esta noite.
Mas depois dos meus pensamentos no carro, não vejo a hora de colocar meu plano em prática.
Então Amanda volta para perto da Mentora dela, e as duas se dirigem para o Palácio.
— Você chamou a atenção do Príncipe — James comenta, oferecendo-me o braço, e o seguro feliz por ter algum apoio para conseguir subir tantos degraus.
— Por que você acha isso? — pergunto.
— Ele olhou para você umas três vezes.
— Nós nos conhecemos ontem — digo, e James franze as sobrancelhas.
Mas não posso dizer mais nada, estamos nos aproximando do Príncipe Nathaniel, que sorri para mim enquanto passa a mão nos cabelos castanhos desgrenhados.
— Senhorita Reid! — A voz rouca é intimidante, e o fato de ter me chamado pelo sobrenome também.
Ontem ele não estava tão formal.
— Vossa Alteza — cumprimento-o, enquanto faço uma reverência, e vejo por trás dele cinco homens de terno preto e expressão fechada.
A Matriz não economiza na segurança do herdeiro do Rei. As armas estão à vista e eles parecem atentos a tudo à volta do Príncipe e nos arredores.
— James! — Nathaniel desvia os olhos para o meu Mentor. — Aceitem minhas desculpas por não ter comparecido à apresentação na Torre, mas vamos ter ainda muitos outros encontros.
— Estamos ansiosos por isso — James responde.
— Tive o prazer de conhecer a Emily ontem — Nathaniel diz direto. — Ela é adorável — comenta. James concorda com ele, e sinto meu rosto corar. — Bem, sejam bem-vindos! Espero que se divirtam esta noite.
— Obrigado, Vossa Alteza — James agradece com formalidade.
Faço uma reverência, e vejo Jess me encarar com os olhos estreitos. Ela parece ter odiado a atenção que Nathaniel nos deu, mas apenas sorrio, o que faz com que ela desvie os olhos de mim depois de revirá-los.
— Depois, quero saber tudo sobre esse seu encontro com o Nathaniel. Mas agora, vamos tirar nossa primeira foto oficial — James avisa, enquanto avançamos pelo tapete branco que acompanha o mural de imprensa decorado com imagens de diamantes.
— Não acho que vou me sair bem — aviso, sentindo a tensão em cada músculo do meu corpo.
— Não precisa ficar nervosa, Emily! Você está incrível esta noite, apenas sorria para as fotos — James pede, enquanto mexe um pouco no nó da gravata e uma das organizadoras nos pede para parar.
Há dezenas de fotógrafos tentando chamar a atenção para olharmos para as lentes deles.
Encaro envergonhada as câmeras que disparam umas atrás das outras. Imito o James para mudar de pose, embora não me sinta nada segura ou confortável fazendo isso.
Depois de mais fotos do que conseguiria contar e praticamente cega com os flashes, direcionam-nos para o interior do palácio, e meu único pensamento é que ter que passar por isso por um ano vai ser uma tortura.
Somos levados para os bastidores da sala de conferência, e consigo ver que a sala já está cheia de repórteres.
Nós seremos entrevistados separadamente, e cada entrevista demorará no máximo dez minutos.
Todos os Curados estão ocupados com seus Mentores, enquanto o tempo passa rápido demais e minha ansiedade aumenta na mesma velocidade.
Assim que o primeiro Curado é chamado, Adam, ouve-se uma grande salva de palmas e então ele entra.
Todos nós nos viramos para a televisão, a conferência está sendo transmitida ao vivo para a Matriz. Os Setores e a Fronteira verão apenas uma versão editada e resumida.
Adam se senta em uma das três cadeiras da mesa larga. A Mentora está ao lado esquerdo e, ao lado dela, está a moderadora da Conferência. É ela que dá permissão para os repórteres fazerem as perguntas.
— O que você pensou quando soube que foi o escolhido da Tômbola?
— Na praia — Adam responde. — Sempre quis conhecer o mar.
— Você não pensou que iria ser curado?
— Claro, isso também. — Ele ri de forma divertida.
As perguntas continuam e são superficiais, ainda não sei bem como vou dar a volta a isso.
Depois de dez minutos, é chamado o Curado seguinte e fico atenta às perguntas que são muito parecidas, tentando encontrar uma forma de dizer o que quero.
Mas rapidamente meu nome é anunciado. Um frio percorrer meu corpo, fazendo minhas mãos suarem.
James diz no meu ouvido que vai correr tudo bem e, com uma mão na minha costa, me acompanha até a mesa da conferência.
Olho rápido e há ainda mais repórteres do que antes.
— O que você estava fazendo quando soube que tinha sido a escolhida na Tômbola? — um repórter me pergunta, enquanto tento encontrar uma posição confortável na cadeira.
— Relatórios — respondo. — Estava fazendo os relatórios semanais do hospital onde eu trabalhava.
Dou a resposta mais monótona que consigo, e a verdadeira também.
— Você é órfã emancipada, por isso, desde os dezesseis anos mora sozinha, certo? — Confirmo com a cabeça. — E estava fazendo estágio de enfermagem em um dos lugares mais difíceis de se trabalhar nos Setores. — Desta vez, apenas encaro o repórter tatuado no meio dos outros. — Em algum momento imaginou que sua vida poderia mudar desse jeito? E como está sendo sua experiência na Matriz?
Troco um olhar com o James, que sorri, encorajando-me a responder.
— Não, nunca imaginei que hoje estaria na Matriz. Não consigo acreditar até agora. Quanto à experiência, tem sido ótima — respondo.
Mas me arrependo.
Tenho que desenvolver as respostas para poder falar o que realmente penso.
— Já fez amizade com algum outro Curado?
Sorrio com a pergunta.
— Amanda — digo. — Nós nos conhecemos há pouco mais de um dia, mas parece que foi há muito mais tempo. E tenho certeza que virão outras amizades por aí.
A mediadora dá a vez para uma repórter agora.
— Certamente, você tinha sonhos diferentes há dez dias, Emily. Qual é o seu maior sonho hoje?
É essa a minha oportunidade.
— Eles não mudaram — digo, e vejo a curiosidade no rosto deles. Dou um suspiro lento enquanto decido se realmente vou continuar com isso. Lembro-me do Lucas e da saudade que sinto dele neste momento, e isso me faz seguir em frente. — Meu maior sonho é ver toda a população de Gaia curada.
As pessoas ficam quietas, e a repórter que fez a pergunta volta a falar:
— Você sonha alto, infelizmente, isso não é possível — ela diz.
— Tudo é possível — digo a frase que está gravada no anel que meu pai me deu e que ele costumava sempre me dizer. — E espero que os Setores e a Fronteira continuem acreditando nisso.
—Tenho certeza que todos os esforços da Matriz estão voltados para que isso seja concretizado um dia — a Mediadora diz rápido, depois de colocar a mão no auricular, como se alguém tivesse falado com ela.
— Não duvido que vocês fazem tudo o que podem — minto, não acredito nisso.
Mas então reparo na tensão no rosto da mediadora e do James.
Depois de mais algumas perguntas fúteis, as quais tentei responder de forma irrelevante, uma vez que já disse o que queria para os Setores e Fronteira, algumas questões são direcionadas ao James que me surpreende. Ele é sempre tão espontâneo e divertido, mas consigo sentir tensão nas respostas dele.
— Bem, chegamos ao fim dessa entrevista, fique conosco para conhecer Jess Diaz — a mediadora avisa.
Assim que saímos do ar, o sorriso no rosto da mulher desaparece.
— Senhoras e senhores, Emily Reid e James Christopher — ela diz séria para os repórteres à nossa frente.
Eu me levanto, e as pessoas aplaudem enquanto me dirijo para a saída com James.
— O que foi aquilo, Emily? — ele pergunta nervoso. — Eles não vão deixar passar...
— O que? — interrompo-o, sentindo-me rapidamente confusa.
Mas James não tem tempo para responder.
Rapidamente, estamos cercados por homens da Escolta Real e eles me pedem para acompanhá-los.
— Você fica — um deles diz quando James começa a andar conosco.
Olho desesperada para ele.
— Sou o Mentor dela — James diz, dando um passo à frente e ficando ao meu lado de forma protetora —, devo acompanhá-la.
— Apenas a garota! — A voz é intimidante, e sinto um arrepio percorrer meu corpo. — São ordens do Comandante.
Olho para o James que agora fica calado, e isso faz vários tipos de medo passarem por mim.
— Por aqui, Senhorita Reid.
Espero James dizer alguma coisa, qualquer coisa. Espero ele insistir em vir comigo, mas ele fica lá parado, enquanto eu me afasto a cada passo que sou obrigada a dar.
— Para onde estão me levando? — pergunto, desistindo de olhar para trás, para James que desviou o olhar para o chão.
Não ouço resposta.
Entramos em um corredor largo com várias portas de ambos os lados. Eles abrem uma delas e me mandam aguardar.
A sala é bastante intimidante. Toda branca, com uma mesa grande no meio com várias cadeiras. Tudo é muito simples, não tem quadros pendurados, as janelas estão fechadas, e começo a me sentir desconfortável depois de algum tempo e um medo súbito me obriga a sentar.
Então vejo Nathaniel entrar e fechar a porta atrás dele bruscamente.
Parece que agora vou conhecer o Príncipe de verdade.
https://youtu.be/CPfPROuYNuQ
Corra e se esconda, esta noite vai ser ruim
Porque aqui vem seu lado malvado
Ele vai me arruinar
É quase como um suicídio em câmera lenta
Assistindo seu lado malvado ficar entre você e eu
(Devil Side | Foxes)
Sentiram os arrepios com essa entrada do Nathaniel?
Amanhã tem treta!
Até!
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