Capítulo 27
A primeira coisa que vejo quando acordo é a programação para hoje na tela em frente à minha cama.
Celebração do Anel
19:00, Palácio Nacional de Gaia
Código de vestimenta: rigor
Hoje é o dia do baile onde seremos apresentados para toda Gaia.
Além disso, é o dia em que nossos anéis, que representam os Setores, serão trocados pelo anel de diamante da Matriz.
Há muitos protocolos que devem ser seguidos.
O código de vestuário é um deles, mas tenho certeza que minha equipe de consultores vai me ajudar com isso.
O que realmente me preocupa é a conferência de imprensa.
James já me instruiu sobre o que posso ou não falar na entrevista, e também havia uma grande parte dedicada a ela no livro de protocolos que li quando ainda estava hospedada na Muralha.
Mesmo assim, é impossível não sentir esse frio na barriga, afinal, tenho consciência de que não sou boa em pensar antes de falar.
Mas é melhor deixar a ansiedade para depois.
Tomo um banho morno e relaxante, e ando descalça até a cozinha, sentindo o piso gelado debaixo dos meus pés por causa do ar-condicionado ligado na temperatura mínima. Acho que vai demorar até eu me habituar ao calor.
Abro a geladeira e, a seguir, os armários, e fico abismada com a quantidade de comida que tem disponível.
Isso me faz sentir várias emoções ao mesmo tempo.
Afinal, era tudo o que eu queria quando morava nos Setores.
Meus pais sempre fizeram tudo o que estava ao alcance deles para suprir todas as minhas necessidades. Mas, tanta comida assim, era impossível.
Muitas vezes, eu via que eles deixavam de comer por minha causa. Por isso, geralmente eu fingia que estava satisfeita para deixar um pouco e eles poderem comer sem se sentirem culpados.
As lágrimas inundam meus olhos, e meu apetite se desfaz.
Pego apenas uma barra de cereal e, mais uma vez, tiro à sorte um sachê de chá dentro da caixa transparente ao lado da chaleira.
Lavanda.
Assim que o coloco na água quente, o vapor com um aroma mais intenso do que eu me lembrava chega ao meu nariz. Levo a xícara à boca, mas quase a derrubo quando o telefone toca, assustando-me.
Ando rápido até a sala, seguindo o som que soa cada vez mais alto.
Reconheço a voz da Amanda assim que atendo.
— A culpa é do Adam. — Amanda dá uma risada nervosa, e agora faz sentido. — Ele contou para todo mundo que você estava com o Príncipe ontem de madrugada. Mais do que isso, ele garantiu que você e o Príncipe estavam vindo de algum lugar e que a Sua Alteza Real estava com as suas sandálias na mão.
— Ele conseguiu ver até os detalhes? — pergunto.
Nem me passou pela cabeça que ele falaria para alguém, apesar de James ter me alertado que tudo o que eu fizer aqui provavelmente vai virar notícia.
Eu já deveria estar esperando. Até porque, dessa vez, envolveu o Príncipe de Gaia.
— Então é verdade? — A voz dela agora parece mais interessada.
— Eu o conheci por acaso ontem, mas a Jess e qualquer outra Curada interessada na Sua Alteza Real não precisa se preocupar comigo — respondo sincera.
Queria poder dizer que estou apaixonada por outra pessoa, mas não posso. Além disso, mesmo que eu pudesse dizer, ninguém entenderia.
Afinal qualquer possibilidade de relacionamento entre um Setoriano e um Curado é praticamente inexistente. A não ser que com muita sorte o Setoriano fosse sorteado nos anos seguintes, o que definitivamente não é uma opção para mim e para o Lucas, já que a vez dele de participar da Tômbola já passou.
— Bem, infelizmente, apesar de acreditar no que você disse, acho que você não vai se livrar da fúria da Jess.
— Eu acho que consigo lidar com isso.
— Mas como o Príncipe é? — Amanda pergunta curiosa. — Adam disse que ele tem presença. O que isso quer dizer?
Dou uma risada.
— Adam tem razão, o Príncipe tem presença e é simpático — digo, esperando a reação da Amanda e aproveito para tomar um gole do chá enquanto me sento no sofá e constato que o sabor é tão bom quanto o cheiro.
— Simpático? Você sabe que tem uma lista infindável de adjetivos que poderia usar agora, não sabe? Confesso que estava esperando uma descrição mais empolgada do Nathaniel, quer dizer, da Sua Alteza Real — ela se corrige, para cumprir o protocolo. — Ele é bonito pessoalmente?
— Bem — faço uma pausa, e a imagem do Príncipe volta bastante clara na minha cabeça —, ele é muito bonito e educado, além de surpreendentemente descontraído para um Príncipe e Comandante da Guarda Real.
— Isso é melhor do que apenas simpático. — Amanda comenta e dou uma risada. — Ele estava de uniforme militar como o Adam falou?
— Sim — respondo. — Mas a covinha no rosto dele acaba com todo o ar de perigoso e intimidante que ele tem quando está sério.
Não sei porque disse isso em voz alta.
— Espera! — Amanda quase grita no meu ouvido. É tão fácil falar com ela. Parece que nos conhecemos há muito tempo, mas faz apenas algumas horas. — Ele sorriu para você? Ai meu deus, Emily! Eu quero saber tudo o que aconteceu.
Digo que não há nada para falar, mas Amanda é insistente e acabo contando tudo. Ou melhor, quase tudo. Oculto todas as partes constrangedoras.
E só depois de satisfeita e de me garantir que não falaria nenhum detalhe para a Jess, apesar de eu não ter pedido isso, desligamos.
Preciso me preparar psicologicamente para hoje à noite. Eu só queria poder ter alguma desculpa para não ir, mas tenho certeza que a única justificativa seria estar morta.
Este é o dia mais esperado do ano, tanto para a Matriz, como para os Setores e a Fronteira.
E nós, Curados, somos a atração principal.
Isso pode dar errado de tantas formas.
Mas não vai!
Respiro fundo tentando acreditar nisso e tomo o resto do chá de uma vez, talvez, a lavanda me ajude com a ansiedade.
https://youtu.be/CA9E4HHHbRk
Você está contando isso da forma como vê
Como se a verdade fosse o que você decide
Algumas pessoas vão acreditar
E algumas vão ler nas entrelinhas
Você está me colocando debaixo dos holofotes
(Skin | Sabrina Carpenter)
A Emily é tão iludida, não é?
Até amanhã!
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