Capítulo 10
— O Lucas chegou e pediu para você encontrá-lo na sala dele — Rachel avisa. Fecho o livro à minha frente e dou o último gole no chá. Geralmente odeio quando não consigo finalizar o capítulo, mas estou com saudade demais do Lucas para me importar com isso agora. — Você está gostando? — ela pergunta interessada, enquanto coloca um pouco de café em uma xícara.
São dezoito horas.
Se eu tomasse café a esta hora, provavelmente não iria conseguir dormir nem um minuto à noite.
— Tive que segurar o choro duas vezes nas últimas dez páginas, estou adorando — respondo. — Obrigada por ter me emprestado. Assim que terminar o devolvo.
— Sem pressa, Emily — Rachel diz, dando um gole longo no café, enquanto eu procuro o marcador de páginas que improvisei e que tinha deixado ao lado da xícara de chá. — Não se preocupe com isso, apenas dobre o canto da página.
— Isso não é crime? — pergunto, fazendo uma expressão horrorizada.
Rachel apenas ri, e me abaixo para pegar o marcador que não sei como foi parar no chão.
— Agora vai lá ver o que o chefinho quer — ela diz, sorrindo de forma divertida.
Sorrio de volta e sigo o caminho para a sala onde o Lucas está, e vejo a porta entreaberta.
Avanço sem bater, mas paro quando ouço que ele não está sozinho.
— Eu entendo, Lucas! Mas você deveria ter me dito isso antes. — Ouço Anna dizer com um tom nada amigável para ele, e limpo a garganta para avisar que estou aqui.
Em todos esses meses que trabalho no hospital, nunca tinha visto nenhum tipo de discussão entre os dois, e eu já vi a Anna brigar com muitas pessoas.
— Rachel me disse que você queria falar comigo — digo hesitante, quando eles notam minha presença e viram os olhos para mim. — Mas posso voltar depois.
— Não — Anna se apressa a dizer. — Já estava de saída.
Assim que ela está na minha frente indo em direção à porta, minha pergunta a faz me encarar.
— Foi por pouco hoje, não foi?
Tenho medo de ouvir a resposta, mas passei o dia ansiosa esperando encontrar a Anna aqui no hospital para saber se ela conseguiu invalidar minha amostra de sangue.
— Muito pouco — ela se limita a dizer. — Tenho que ir ver os pacientes agora, Emily. Espero que tudo corra do jeito que você queria.
— Obrigada! Nem ao menos sei como agradecer mais.
Anna se vira, olha para o Lucas e dá um suspiro longo.
— Até já, Emily.
Ela geralmente é bastante fria, mas nunca tanto como agora.
A briga com o Lucas deve ter sido séria.
— O que aconteceu? — pergunto, preocupada. — Ela parecia estar realmente chateada com você.
A frase que a ouvi dizer para o Lucas há pouco volta a minha mente.
Mas você deveria ter me dito isso antes.
Será que ela estava se referindo a mim e a ele?
Talvez, ela ainda tivesse esperança de que eu poderia ser escolhida na Tômbola e assim o caminho dela ficaria livre para o Lucas.
Mas pedi para ela invalidar minha amostra, para excluir qualquer possibilidade de eu ir para a Matriz, e isso acabou com a esperança dela de ficar com ele.
— Vocês estavam falando sobre mim? — pergunto em um impulso.
Vejo o Lucas engolir em seco. Sei que ele não mentiria para mim.
— Sim — responde.
— Sobre querer que você tivesse esclarecido as coisas com ela antes?
— Sim.
Não sei se o que sinto agora é mais raiva ou mais ciúme.
Mas não posso julgá-la.
Se pudéssemos ter assumido nosso relacionamento, não teria havido mal-entendidos. Talvez Anna teria feito um esforço para não se apaixonar por ele.
Mesmo assim, imagino que ela esteja chateada, afinal eles são amigos há anos e Lucas nunca deve ter contado que estava em um relacionamento.
Embora eu também entenda o lado dele.
Não é seguro assumirmos nosso namoro para ninguém.
— Mas agora está resolvido? — pergunto, tentando não estender muito o assunto constrangedor diante das respostas monossilábicas do Lucas.
Além disso, estou curiosa para saber o que ele queria comigo.
— Eu espero que sim — ele responde, e dou um suspiro aliviado.
— Tudo bem! E o que você queria comigo? — pergunto, enquanto Lucas desencosta da maca e vai até a mesa, onde retira alguns papéis de um envelope.
Mesmo de longe, consigo saber que são resultados de exames e, assim que ele me entrega, vejo meu nome neles.
Duas rugas na testa do Lucas denunciam a preocupação, e sinto um frio na barriga.
— O que está errado? — pergunto ansiosa, esperando que ele me diga antes de eu analisar os resultados.
Mas encontro rápido o valor que colocou essa expressão no rosto do Lucas.
—Leucocitose — ele diz ao mesmo tempo que eu. — Seus glóbulos brancos estão muito acima do valor de referência. Deve ter outra infecção além da sinusite.
— Podemos tratar isso.
— Com medicamentos que vão baixar ainda mais sua imunidade. — Lucas me lembra da minha doença. — Há meses estou tentado descobrir se algum Setor tem o tratamento que você precisa.
— Imunoglobulina? — pergunto. — Meu pai fez o mesmo Lucas.
— Era isso que ele estava procurando na Fronteira? — Respiro fundo enquanto confirmo que sim, sentindo uma tristeza profunda por ver o Lucas começar a seguir o mesmo caminho que ele. — Desculpa, Em. Não queria trazer lembranças tristes... nem más notícias.
— Não há o tratamento, não é?
— Infelizmente, não há nos Setores, apenas na Matriz... talvez, na Fronteira, mas além de ilegal pode ser perigoso. — Sento-me na cadeira, sem conseguir mais encará-lo. Sei que não tenho culpa, mas não suporto provocar essa preocupação nas pessoas à minha volta. — Além disso — Lucas continua —, trabalhar em um hospital não ajuda sua imunidade baixa. Você está exposta a todos os tipos de agentes infecciosos aqui.
Não posso contradizê-lo, ele tem razão.
Lucas vai até a porta, e surpreendo-me quando a fecha.
— Eu vou ficar bem, Lucas — afirmo, quando ele volta e segura a minha mão com o olhar preocupado.
— Eu sei, Em. Mas preciso que você me prometa uma coisa — Lucas continua, quando levanto o rosto para olhar nos olhos dele. —Você nunca, nunca vai se esquecer de que tudo o que eu faço é por que amo você.
— Por favor — minha voz sai angustiada —, não vá para a Fronteira. É perigoso demais, Lucas, e provavelmente não há nada lá.
Como meu pai nunca voltou, não tenho certeza disso. Mas acho que não devemos correr esse risco mais uma vez.
— Apenas me promete, Em — ele pede, com os olhos cheios de culpa.
— Prometo — digo, apesar de por um momento nada disso fazer sentido, mas a mão dele segurando o meu rosto me faz esquecer de todo o resto.
— Eu te amo — Lucas sussurra, olhando-me nosolhos e me dá um beijo carinhoso.
https://youtu.be/k4V3Mo61fJM
Luzes te guiarão até em casa
E aquecerão seus ossos
E vou tentar consertar você
(Fix You | Coldplay)
E a nossa Emily bookstan? O que vocês acham que ela estava lendo? Um romance? Um drama? Uma distopia?
E Lucas e Anna brigando?! Mudou a teoria de vocês?
Até amanhã!
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