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08. Ventos do Norte

"Hæsvelger é o nome daquele
Sentado além do fim do céu,
E do grande farfalhar de suas asas de águia
Nascem as lufadas de vento."

Vafthrudni's-Mal (Discurso de Vaftrudener)
(Tradução inglesa de W. Taylor)

O LUGAR EM QUE EU ESTAVA era desconhecido, mas apesar disso não sentia receio de caminha ali. Era um jardim muito bonito, talvez por isso não sentisse medo, e algumas flores me eram estranhas. Conseguia sentir o calor do sol aquecendo minha pele, enquanto procurava por alguém que encontrei sentado em um dos bancos entre os arbustos.

O homem aparentava ser alguns anos mais velho do que eu, de cabelos curtos e um ar taciturno que o fazia parecer pouco amigável. Havia uma cobra de escamas rubras em seu ombro, parecendo adormecida, o que surpreendeu-me grandemente; como poderia aceitar tranquilamente que um animal peçonhento ficasse sobre ele?

Os olhos do desconhecido se arregalaram quando encontraram os meus, e estendeu uma mão em minha direção como se pedisse que me aproximasse. A cobra sibilou, atraindo minha atenção; não mais adormecida, tinha a cabeça erguida e a língua bifurcada mostrava-se por entre as presas. Apesar de bela e brilhante, a criatura me causava asco, queria arrancá-la dali e pisar em sua cabeça.

E foi o que fiz.

Aproximei-me em passos firmes e ergui a mão, porém, para meu espanto, o homem segurou meus braços, assumindo um semblante endurecido, como se quisesse impedir que eu machucasse o ser pestilento. Tolo! Eu estava tentando ajudar.

Tentei me soltar, mas ele tinha um aperto de ferro. A cobra sibilou mais uma vez, se erguendo, e lançou-se em minha direção, fincando as presas em meu peito. Foi uma dor e ardência terrível que senti, como se o veneno se espalhasse lentamente por meu corpo, dando-me uma morte lenta.

Acordei sobressaltada em minha cama, encarando a escuridão com o coração acelerado; levei a mão ao peito, tateando a região que ainda parecia doer, e só me acalmei ao perceber que não havia nenhuma cobra ou ferimento ali. Respirei fundo, empurrando as peles para longe de mim e saindo da cama para beber uma taça de água rapidamente.

Voltei a deitar, trêmula, e fechei os olhos fortemente; detestava quando sonhos deixavam-me assim, com a sensação de que era fraca e medrosa. Havia quem dissesse que todos os sonhos significavam algo, mas o que significava esse? Que iria morrer pelo veneno de uma serpente qualquer?

Adormeci novamente, dessa vez não sonhei, e apenas acordei com Arnora chamando meu nome suavemente.

— Precisa levantar, dróttning — sua voz chegava aos meus ouvidos — Artemisia.

— Não — reclamei, ainda de olhos fechados — Não vou à missa hoje, mande Robin avisar minha mãe.

Escutei os passos de Arnora se afastando, e, balançando a mão sem abrir os olhos, alcancei a cortina da cama e a fechei.

Era domingo, o dia em que todos iam à igreja, minha mãe e irmã principalmente, mas meu pai e eu geralmente só íamos em determinadas datas, como na Páscoa, por exemplo. Não que eu não gostasse das missas na grande igreja da cidade, pelo contrário, gostava bastante das palavras de bispo Sandarr, mas se podia escolher, escolhia não ir.

Além disso, os dias estavam ficando cada vez mais frios e logo começaria a nevar. Mamãe havia estado febril, também deveria ficar no Kristalhöll descansando.

Quando acordei novamente, Arnora entrava em meu quarto, informando que o rei queria minha presença na sala do trono, onde estaria concedendo audiências aos peticionários. Dessa vez levantei-me e fui me lavar, prendendo meus cabelos com grampos para que não molhassem, cuidaria deles à noite; não demorei para sair do quarto e descer as escadas, encontrando alguns servos que abriam caminho e abaixavam os olhos.

Era domingo e estava chovendo, além de estarmos quase no fim do outono, o que significava que haveriam poucas pessoas em busca de audiência, então talvez fosse rápido e não passasse do início da tarde, deixando-me com várias horas livres.

Surgi na sala pela entrada lateral e meus olhos buscaram meu pai, porém ele ainda não havia chegado; ambos os tronos estavam vagos, o de minha mãe não era uma surpresa, já que ela nunca gostou de presidir audiências e raramente o fazia. Abaixo dos tronos, ao lado esquerdo, estava Ambros Abjornsson, o escrivão, em sua pequena mesa, conversando com um homem muito alto e loiro — o mesmo que me recepcionara quando cheguei ao Kristalhöll. Balder!

Ambros se ergueu e Balder baixou os olhos, ambos curvaram o corpo em uma reverência.

— Bom dia, cavalheiros — desejei, sentando-me no trono de minha mãe — Como estão? Senhor Ambros, é um prazer revê-lo! E Balder, é uma surpresa agradável encontrá-lo aqui!

— O prazer é completamente nosso, dróttning, pois está nos honrando com sua beleza e graciosidade — Ambros realmente tinha um ótimo jeito com as palavras.

Os olhos azuis de Balder estreitaram-se quando ele sorriu para mim.

Não demorou muito para que o rei chegasse e desse início as audiências. Camponeses, em sua maioria ali mesmo de Konungr Staðr apresentavam suas causas ao meu pai e ele declarava sua sentença. Desde criança era costume que eu estivesse presente, pois um dia esse seria um de meus deveres; aos domingos os peticionários vinham logo após a primeira missa. Não era um dia tão ruim, pois as audiências duravam no máximo três horas, ao contrário dos outros dias quando poderiam se estender por mais tempo e deixar-me com dor nas coxas e nádegas.

Ao final, quando o salão se encontrou vazio, pensei em acompanhar meu pai e fazer-lhe companhia, mas ele apenas beijou-me na testa e se retirou com Balder ao seu lado. Franzi o cenho; como o rei poderia preferir um guarda à sua própria filha? Engoli a pontada de ciúmes e resolvi comer algo em meus aposentos.

Saí do salão com Ambros enquanto o homem contava sobre a ideia de levar um dos estudantes da Academia da capital para o palácio.

— É o melhor aluno, dróttning — ele dizia — Será bom trazê-lo, será um bom aprendiz e talvez venha a me substituir no futuro.

— Em um futuro muito distante, eu espero — sorri — Porém, penso que é realmente uma ótima ideia, assim o menino poderá decidir se é o futuro que deseja. É um menino, não?

— Sim, minha senhora — assentiu.

— Pode mandar buscá-lo, então.

Finalmente nos despedimos e eu pude seguir para minha antecâmara, onde encontrei Robin arrumando a mesa; havia trazido uma tigela com frutinhas silvestres.

— Hmm... Amoras! — peguei algumas na mão e comecei a comer.

— Há uma carta para você, de Samantia — Robin avisou — Está em seu quarto de dormir.

Senti um frio em meu estômago e ele revirou, fazendo com que deixasse as amoras na tigela e agradecesse rapidamente, indo pegar a carta que estava sobre a cama.

Quebrei o selo e comecei a ler, sorridente, sentindo-me levemente trêmula pela expectativa ao reconhecer a letra de Sten.

Dróttning Artemisia Henriksdóttir,

Minha cara companheira em título, princesa por direito próprio e herdeira do trono de seu reino, sinto-me na necessidade de explicar-me sobre as notícias que poderão chegar até seus ouvidos.

Eu estou noivo e irei me casar com Estrid Matsdóttir, a bela jovem que conheceu enquanto vivia aqui em Samantia. Entretanto, não pense que meus sentimentos não foram verdadeiros; ao meu modo eu a amei, e apreciei seus risos, seus beijos e suas palavras espirituosas. Porém, precisava pensar em meu reino e em meus futuros herdeiros. Com sua amizade e presença aqui, tivemos o amor do povo e o apoio de seu pai, o admirável rei Henrik, e pensei realmente por alguns momentos que poderíamos nos casar e os meus filhos viriam de você - o que agora vejo que seria um erro.

Seria perigoso para um futuro rei se casar com uma futura rainha, poderia colocar em risco a soberania de meu reino - assim como a de seu reino. E você, minha querida, é uma guerreira, uma governante nata, não seria uma mãe como sei que Estrid será; lhe faltaria o toque gentil e doce, a suavidade no tratar e a mansidão materna necessária que eu desejaria que rodeasse meus filhos enquanto esses crescessem. Acredito que em seus tantos dons, lhe falta o dom materno, o mais necessário à mulher que manteria ao meu lado como consorte.

Essa é minha honestidade, como um companheiro e amigo, espero que me perdoe e espero que Samantia e Astana permaneçam unidas, não por um casamento, mas pela admiração mútua e amor que criamos um pelo outro.

Com os melhores desejos direcionados à você,
Sten Fagerberg

Após ler a carta, permaneci trêmula, porém não mais por expectativa. Algumas palavras continuavam saltando em meus olhos, como "noivo", "casar" e "Estrid", enquanto a compreensão do que estava escrito ali atingia-me com a força de uma tempestade.

Sten iria se casar com Estrid.

Sten havia me desprezado e escolhido Estrid.

Minha garganta fechou e o ar pareceu me faltar, e eu cambaleei para frente apertando o pergaminho em minha mão.

— Ar... Eu preciso de ar — balbuciei, saindo do quarto.

— Artemisia, você está bem? — a voz de Robin pareceu distante e eu não respondi.

Sentia meu corpo dormente enquanto caminhava pelos corredores, mal notando as pessoas que passavam por mim, apenas me concentrando em respirar. Alguns pontos escuros dançavam em minha visão quando cheguei no passadiço a céu aberto, que ligava duas alas do palácio naquela área.

Debrucei-me no parapeito de pedra e comecei a inspirar e expirar, com o vento frio agitando meus cabelos e me fazendo estremecer. Fechei os olhos com força. O príncipe de Samantia... o meu amor... havia dito claramente que Estrid seria melhor mãe do que eu. Faltava-me o dom materno, em sua opinião.

Não sabia o quanto isso me atingira até me dar conta de que estava chorando e soluçando alto, afundando o rosto em minhas mãos. Cada momento que passava piorava ainda mais a dor em meu coração, como se mil facas o atingisse simultaneamente.

Queria procurar minha mãe e me jogar em seus braços, me aninhando em seu colo, mas ao mesmo tempo não queria preocupá-la e nem revelar o que permiti que Sten fizesse comigo. Sentia-me enjoada e chorei ainda mais.

— Dróttning Artemisia! O que houve? — consegui escutar alguém perguntar.

Virei em direção à voz, assustada, deixando que Balder Agnarsson visse meu rosto contorcido pela mágoa e molhado de lágrimas. Ele correu pelo passadiço até parar ao meu lado, com os olhos cheios de preocupação; ergueu as mãos, como se fosse me amparar mas estivesse indeciso entre me tocar ou não.

— O que houve? — ele repetiu — Está machucada? Está passando mal? Quer que eu vá buscar algo ou chamar alguém?

A doçura na voz de Balder ao falar comigo foi tão comovente que voltei a soluçar. O homem nada disse, porém sua feição pareceu cheia de dor, e ele passou os dois braços por meu corpo, apertando-me contra si. Deveria me surpreender com sua ação, mas apenas o agarrei de volta, sem me incomodar em sentir o aço de sua armadura e cota de malha.

Seus dedos se entrelaçaram com meus cabelos, acariciando meu escalpo com gentileza. Agora percebia o quanto Balder era alto: se eu tinha seis pés de altura, ele certamente tinha sete!

O abraço era acolhedor e quente, fazendo com que fechasse meus olhos. Respirando fundo, consegui acalmar meus soluços e aos poucos parei de chorar, mas permaneci abraçada com Balder.

— Parece que Hræsvelgr está balançando os braços novamente, nos enviando do céu um vento gélido — ele falou, ao perceber que agora estava quieta.

Dei uma risada, sentindo meu cabelo ser sacudido pelo vento frio que soprava do norte.

— Tem medo de que o inverno seja o prenúncio do Ragnarök? — questionei, apertando os braços ainda mais ao seu redor.

— Teremos que esperar para ver, não é? — sorriu olhando para mim, mas em seguida ficou sério — Está melhor agora?

— Bem melhor — respondi, fungando de leve — Obrigada, Balder. Eu... Seu abraço é muito bom.

— Não precisa agradecer, dróttning — seus dedos voltaram a carinhar meus cabelos.

O silêncio entre nós não era desagradável e em nenhum momento ele tentou fazer com que falasse, parecendo entender que algo deixara-me triste.

— O homem que eu amo irá se casar com outra — contei, ainda sem me afastar — Meu coração está partido.

— Que homem recusaria uma princesa? — perguntou, espantado.

— Um príncipe samantiano que prefere a filha de um Jarl — respondi, com amargura — Ele não quer a herdeira de um trono sem dons maternais.

Eu não deveria ter aberto minhas emoções para um homem que mal conhecia, porém não conseguia me arrepender; Balder transmitia confiança e tranquilidade. Ele se calou por um tempo.

— Nem mesmo um rei seria digno de você, dróttning — sussurrou, gentilmente, e apenas o calor de seu corpo me impediu de estremecer.

Fechei os olhos.

Aos poucos Balder foi me soltando, segurando apenas minha mão de forma respeitosa, e permitindo que voltasse a apoiar-me no parapeito. Ele colocou-se ao meu lado, como se para permanecer me fazendo companhia; provavelmente havia terminado seu turno na guarda e iria descansar um pouco, e aqui estava eu colocando-me entre ele e seu descanso, mas sua presença consolava-me tanto que me vi incapaz de dispensá-lo.

Uma atitude egoísta, reconheço.

— Dróttning, sei que não deveria me intrometer nos assuntos de uma dama, principalmente nos de uma princesa — Balder parecia hesitante e mantinha a voz suave — Mas... não seria algo bom que esse príncipe tenha lhe rejeitado?

Apertei as mãos contra o parapeito e encarei o homem, franzindo o cenho.

— Quero dizer... — ele pareceu tentar explicar — O único príncipe samantiano é o príncipe herdeiro, o que significa que ele será rei assim como a senhora será rainha... — hesitou mais uma vez.

— Continue — pedi.

— O título de rainha muitas vezes é considerado inferior ao de rei. Mesmo que seja uma filha de reis, talvez ser casada com um rei pudesse vir a diminuí-la aos olhos estrangeiros — falou — Poderiam tentar pressioná-la a dividir os assuntos de Astana com seu marido, se ele fosse um monarca.

Pressionei os lábios, pensativa, deixando que suas palavras passassem por minha mente. A verdade era que Balder não estava errado; reis eram considerados superiores à rainhas, mesmo rainhas reinantes — e ainda eram raras as ocasiões em que aceitavam uma mulher com esse título. Apesar de meu povo sempre aceitar mais facilmente mulheres em posições de poder, não era impossível que, sendo um rei, meu futuro marido fosse mais elevado do que eu gostaria, e algumas coisas poderiam mudar.

E eu nunca aceitaria que meu cônjuge fosse igual ou superior a mim em meu próprio reino. Meu orgulho provavelmente não iria suportar. Em Astana, somente eu seria rei.

— Você é um homem muito inteligente — elogiei honestamente — Diga-me, estudou em alguma das Academias?

— Sim, dróttning — ele umedeceu os lábios, pousando a mão esquerda no punho de sua espada, sem dar indícios de que diria algo a mais.

Balder olhou-me com certa expectativa, enquanto eu pestanejava algumas vezes.

— Pode ir, querido Balder — sorri em sua direção, o dispensando — Não quero atrapalhar seu descanso ainda mais.

— A senhora não atrapalhou, dróttning — fez uma reverência — Estar em sua companhia é um prazer.

Ele se retirou do passadiço e eu fiquei ali, apenas sentindo o vento sacudir meus cabelos. Realmente, sentia-me melhor, como se as palavras de Balder houvessem aberto meus olhos, apesar de já ter consciência do que o guarda dissera.

A dor em meu coração continuaria ali, por algum tempo, mas não iria me permitir chorar por isso. Talvez eu até mesmo começasse a sentir raiva, como iria saber?

— Obrigada — murmurei, agradecida, pensando no homem que me acalentou enquanto eu chorava.

⚜️"VAFTHRUDNI'S MAL (DISCURSO DE VAFTRUDENER)": Na mitologia nórdica, Vafþrúðnismál (A Balada de Vafthrúdnir, A Canção de Vafthrúdnir, Os Ditos de Vafthrúdnir) é o terceiro de onze poemas da Edda Poética- uma coleção de poemas em nórdico antigo, preservados inicialmente no manuscrito medieval Codex Regius, do século XIII. Vafþrúðnismál é uma conversa em forma de verso realizada inicialmente entre o deus Æsir, Odin, e a sua esposa Frigg e, posteriormente, entre Odin e o gigante Vaftrudener.

⚜️"(...) SE EU TINHA SEIS PÉS DE ALTURA, ELE CERTAMENTE TINHA SETE! (...)": 6 pés equivale à 1 metro e 82 centímetros; 7 pés equivale à 2 metros e 13. Isso significa que a altura de Artemisia é 1.82m, e a altura de Balder é 2.13.

⚜️"(...) PARECE QUE HRÆSVEÆGR ESTÁ BALANÇANDO OS BRAÇOS NOVAMENTE (...)": Os nórdicos imaginavam que os ventos que sopravam do Norte eram postos em movimento pelo gigante Hræsvelgr (devorador de cadáver). Vestido em plumas de águia, ele ficava sentado na extremidade norte do céu e, quando erguia os braços - ou asas - enviava lufadas frias que varriam impiedosamente a superfície da terra.

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