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2. SONHO

Eu sentia a brisa noturna no meu rosto, fazendo esvoaçar meus longos cabelos negros enquanto meus pés descalços se firmavam na terra úmida e minhas mãos forçavam o arco a se esticar.

Observei a presa semioculta pela espessa folhagem da mata. Era um belo veado-vermelho, um macho adulto com uma galhada de dez pontas, o que indicava que era mais velho que a maioria.

Um barulho de folha pisada assustou o animal, que disparou pela floresta ao norte.

“Filho de Anhangá!¹ Que seja seco como a erva que se queima à luz de Guaraci² por ter espantado minha presa!”

Cerrei os olhos para enxergar, encoberto pelo véu da noite, Meumã. Teria nosso pai o enviado para me dar alguma mensagem ou foi ele mesmo querendo me fazer rival ao atrapalhar minha caçada?

Não me importei com sua intromissão. Ainda havia tempo de alcançar o animal cuja carne eu queria dar de presente ao nosso pai por ser agraciado com mais um ciclo por Tupã³.

Disparei em uma corrida silenciosa pela floresta, seguindo os rastros do animal. Depois de algum tempo, a luz de Jaci⁴ iluminou a encosta de um morro alto, onde o veado subia com certa dificuldade.

Eu sorri, oculta pela sombra de uma castanheira. Posicionei novamente a flecha no arco e estiquei a corda. Mirei no macho, respirando profunda e lentamente enquanto ajustava a mira com um olho fechado.

Um... Respira... Dois... Solta...

Três... Respira... Quatro... Solta...

Cinco... Respira... Seis... Agora!

A flecha foi solta, voou com a velocidade dos raios de Tupã e encontrou seu alvo no flanco direito do veado, que cambaleou e rolou morro abaixo, abatido.

Acordei assustada, a respiração ofegante, coberta de suor, com o travesseiro úmido embaixo da minha cabeça. Meus cabelos estavam grudados nas têmporas e meu coração batia tão forte que quase podia ouvi-lo.

Olhei para o teto do meu quarto, cravejado de luzinhas que formavam as constelações que se veem no céu do hemisfério sul, as mesmas que minha mãe me mostrou através de imagens e ensinou a me orientar por elas quando eu era adolescente.

Assim como meu pai me ensinou a amar o mundo submerso, mamãe teve seu espaço me ensinando o respeito à natureza e a admiração pelo céu limpo, sem os poluentes das grandes cidades. Era isso o que mais me fazia sentir falta das ilhas no Havaí, onde o ar era puro e as águas tão cristalinas que era impossível não se apaixonar pela beleza natural e selvagem daquele lugar.

Rolei na cama e me levantei para ir olhar o céu de Atlanta pela janela de vidro. Não era como em Honolulu, mas dava para admirar. Olhei para o relógio na parede, ainda eram cinco da manhã, estava escuro.

Suspirei, frustrada por não ter dormido até um pouco mais tarde. Meu expediente começava às duas da tarde, eu poderia aproveitar para descansar mais um pouco, no entanto, aquele sonho vinha me perturbando nos últimos três dias, e eu ficava agitada. Era como assistir a um filme a partir da ótica da personagem, vendo e sentindo tudo como ela, desde os sons até os pensamentos e cheiros. Parecia tão real que era difícil me desconectar o bastante para abandonar a sensação de que a cena foi interrompida no momento errado. Faltava alguma coisa.

Eu ficava tentando descobrir quem era ela. Não podia ver seu rosto, apenas partes de seu corpo. Sua pele era como a da minha mãe, de um bronzeado natural, as pernas longas e fortes, e os cabelos eram como os meus. Ela andava quase nua, havia apenas uma tanga de couro cobrindo sua pélvis.

Obviamente era uma indígena perita em caça e talentosa guerreira, muito forte, porém não sei como sabia essa última parte, apenas sabia. Assim como sabia que ela pensava e falava em uma língua desconhecida, mas que eu entendia no sonho.

Isso tudo era uma loucura, e só me deixava confusa.

Deixando as conjecturas sobre o sonho de lado, vesti um top, um short curtinho e um par de tênis antes de ir para a minha minúscula cozinha preparar uma vitamina energética. Ao terminar de tomar a bebida cremosa, conectei meu fone bluetooth na TV da sala e liguei a minha esteira para correr um pouquinho.

Eu gostava de fazer exercícios como corrida e natação, mas como não tinha piscina no meu prédio, eu preferia correr na segurança da minha casa, onde poderia ouvir minhas músicas sem o risco de algum assaltante me abordar.

Depois de quarenta minutos de corrida intensa, observei o céu clareando. Era um dia limpo, sem nuvens e abafado, provavelmente seria muito quente, então decidi que chegaria mais cedo ao aquário para poder treinar mergulho e apneia. Havia uma piscina gigantesca que se ligava ao oceano através de uma grade submarina de aço, usada para abrigar temporariamente algum animal marinho ferido e depois libertá-lo. Atualmente estava vazia, então os funcionários podiam usar.

Meu trabalho não consistia em ficar em um laboratório durante dezoito horas. Às vezes as pesquisas precisavam ser feitas em campo, com horas de observação ou coleta de materiais para estudo, e até mesmo resgate de animais. Da última vez que a piscina foi utilizada, uma equipe de dez funcionários, na qual eu estava inclusa, foi chamada para ajudar em um caso de encalhamento de uma orca de quatro metros que estava ferida na praia mais próxima do aquário.

Era difícil manter o animal hidratado até o transporte marítimo chegar para levá-lo para a piscina a fim de receber tratamento. Muita gente acha as orcas lindas e fofas e, de fato, elas são, porém o apelido “baleia assassina” não está assim tão equivocado, exceto pelo fato de que elas não são baleias.

Orcas são uma espécie de golfinho, predadoras que estão no topo da cadeia alimentar. Podem chegar a pouco mais de nove metros de comprimento e pesar até oito toneladas. São extremamente inteligentes e costumam caçar em grupo, por isso comem qualquer coisa que se move, desde tubarões a outros golfinhos, baleias e focas.

Podem ser sociáveis e brincalhonas, mas são muito perigosas. Eu as respeito, porém, curiosamente, não sinto medo. Isso é uma das coisas que me faz ser tão boa no meu trabalho. Eu já nadei com golfinhos, leões marinhos, peixes-boi e baleias de várias espécies, incluindo a maior do mundo: baleia azul.

O cetáceo resgatado passou uma semana na piscina sendo tratado, então um grupo de orcas apareceu a duzentos metros e ele foi libertado para ir com sua família, felizmente sem nenhum incidente.

Cheguei ao aquário por volta das dez e meia e fui deixar minhas coisas no armário antes de vestir uma roupa de mergulho. Falei com alguns colegas no caminho e parei no tanque das belugas, onde agora havia dois novos filhotes transferidos de outro aquário. A permuta de filhotes era feita para que não houvesse laços de parentesco e elas pudessem se reproduzir sem problemas no futuro. Eu achava curioso que os filhotes eram rosados e não branquinhos como os adultos.

Ao chegar na piscina percebi que havia uma tartaruga com cerca de um metro lá dentro, e o cuidador dos répteis estava fazendo anotações.

— Bom dia, Sean. Eu não sabia que a piscina estava ocupada.

— Ah, oi, Nara. Nós resgatamos esse filhote, estava com uma nadadeira presa em algumas rochas, mal consegue nadar. O pessoal tá usando todos os equipamentos disponíveis para encontrar a família dele, e se não achar, ele terá que se tornar parte do aquário.

— Ah, tadinho. Será que se perdeu ou tinha algum predador envolvido?

— Não sabemos. Mas você pode nadar sem problemas, ele tá quietinho por causa da nadadeira ferida.

Eu assenti e não perdi tempo. A coisa que eu mais amava na vida era estar debaixo d’água, eu me sentia livre sem o barulho constante da superfície. O mar é silencioso, todos os sons são abafados, é um mundo à parte.

Maravilhoso. Vasto. Lindo. Incontrolável.

Eu mergulhei, fiz piruetas, imitei sereias, nadei de costas, de frente, fiquei flutuando na água... Aquele era o meu ambiente, meu lugar feliz.

Durante uma hora que pareceu acabar rápido demais, eu me desconectei de todas as preocupações e deveres. Era apenas a Nara e o oceano infinito.

Quando finalmente me pediram para sair, pois estavam preocupados que eu tivesse uma hipotermia, fui para os chuveiros quentes e me preparei para ir almoçar e depois enfrentar outro expediente. Aquele era o último antes da viagem para a Amazônia começar.

Foi um dia cheio, muito cansativo, e a partir da meia-noite nós dividimos o turno, como sempre, em dois grupos. Enquanto três iam dormir, outros três ficavam monitorando todas as atividades dos animais, depois trocavam de lugar. John e eu estaríamos separados dessa vez, para o meu alívio, pois não aguentava quando ele deixava a temperatura do laboratório e do dormitório tão gelada.

Eu fiquei no primeiro turno, acordada até três horas da manhã. Ficava observando os cetáceos e pinípedes pelos monitores para o caso de algum problema enquanto cruzava os dados no computador sobre os seus hábitos e outras coisas. Vez ou outra um dos golfinhos ficava perturbando os outros, o que poderia causar brigas e ferimentos entre eles.

Aproveitei que meus relatórios de trabalho estava em ordem para continuar um artigo sobre as baleias Jubarte que eu vinha escrevendo há algumas semanas. Recentemente eu havia terminado um doutorado em mamíferos marinhos, além de ter mestrado e especializações sobre esses animais, por isso eu precisava escrever pelo menos dois artigos científicos por ano para me manter como PhD relevante na minha área de atuação.

Quando deu o horário, salvei meu artigo em vários lugares de acesso pessoal e fui dormir. Às seis horas fui chamada, como todo mundo, pois o expediente só acabava às oito, então ainda poderiam precisar de nós antes dos outros especialistas chegarem.

Já era quase sete e meia quando o chefe do resgate veio me chamar para uma ocorrência. Eu só queria ir para casa.

— Daves, você teria uma hora para nos ajudar?

— Meu expediente acaba em meia hora, você não pode esperar até o Dominique chegar?

— Tem um cachalote bebê preso no meio de um vazamento de óleo de um cargueiro a cinco quilômetros da costa. A mãe está desesperada, querendo passar pelo meio do óleo. Os dois vão morrer se ela fizer isso.

Eu suspirei, derrotada. O Roberts sabia como me pegar.

— Espera um momento, vou me trocar.

Meia hora mais tarde estávamos em um barco no oceano, com uma equipe de resgate de animais em conjunto com a guarda costeira, barcos de pesca voluntários e o pessoal do órgão ambiental para ajudar na limpeza e remoção da pequena baleia cachalote do meio da sujeira.

Foi um trabalho árduo que levou horas, e quando acabou, apesar da emoção de um resgate realizado com sucesso, eu estava exausta, mal conseguia me manter de pé. Roberts me fez sentar para comer alguma coisa que nem notei o que era e me recomendou que ficasse ali mesmo no dormitório do aquário para descansar antes de enfrentar o trânsito da cidade.

Não percebi quando dormi, apenas me lembrava de ter deitado na cama e apagado, até que algo mudou. Não estava mais completamente escuro, agora a luz da lua iluminava uma floresta, e eu vi um cervo morto ao pé de um morro.

Corri até o animal e rapidamente o segurei pelas patas, colocando-o sobre os ombros para voltar à aldeia antes que o cheiro de seu sangue atraísse predadores. Era um veado com mais de quarenta quilos e uma enorme galhada. A maioria das mulheres da tribo não conseguiria carregar tal peso sozinhas, mas Tupã me agraciou com a força dos caçadores, e por isso eu era o orgulho de meu pai.

Não demorou a Meumã me encontrar, oferecendo-se para ajudar com o cervo. Mas eu sabia quais eram suas intenções e neguei. Me dirigi apressadamente até a aldeia, em cujo centro estava a oca de meu pai, o pajé da tribo. Ele estava na frente com minha mãe, e seus olhos brilharam ao ver o belo presente que eu trouxe.

Depositei o animal no lugar das caças e minha mãe se apressou a pegar uma faca de pedra para começar a limpá-lo. Logo minhas tias e primas se uniram a ela para separar a pele, retirar a galhada, derramar as entranhas e cortar o animal para cozinhar sobre o fogo ou na água.

Normalmente eu faria esse serviço no chão da floresta logo após o abate e levaria em sacos de couro para as cozinheiras, porém os veados-vermelhos têm hábitos noturnos e são muito ariscos, difíceis de encontrar à luz do dia. Não tínhamos problemas em caçar sob o véu das trevas, mas não éramos os únicos fazendo isso, então tínhamos preferência por terminar o trabalho na segurança da aldeia.

Fiquei na frente do pajé, ainda suja com o sangue da caça, e coloquei um joelho no chão, baixando a cabeça em respeito a ele.

— Meu pai, ofereço esta dádiva a ti, caçado com suor, força e determinação, com a ajuda de Jaci.

Meu pai fez um sinal para que eu me aproximasse e tocou minha fronte, proferindo uma benção e um elogio.

— Tu, Kaolin⁵, a maior entre as belas, que carrega em si a força de Tupã, és valente guerreira cujo poder ofusca seus próprios irmãos. Que tu sejas abençoada com a vida e que teus seios alimentem poderosos entre todos os poderosos da terra.

Ele me beijou entre os olhos e eu sorri, indo até o grande rio me banhar. Mais uma vez os deuses me deram sucesso na caçada. Eu era a mais feliz entre as mulheres. A mais amada.

Despertei com a voz de Amanda Jones, minha colega oceanógrafa, me chamando.

— ... Nara, já anoiteceu. Eu pensei que você ia aproveitar a folga de hoje para comprar as últimas coisas pra viagem.

— O quê? — Olhei ao redor, confusa. — Que horas são?

— Vai dar sete. Agora só os shoppings estão abertos.

Droga. Eu havia deixado algumas coisas para fazer antes da viagem no dia seguinte, agora não dava mais tempo. O jeito era arrumar o que tinha e correr em algumas lojas cedo na manhã seguinte.

— Obrigada por me chamar, Amanda. Eu fui na equipe resgatar aquele bebê cachalote, estava tão destruída que simplesmente entrei em coma aqui. — Soltei um longo bocejo e estiquei os braços para cima antes de me levantar. — Vou pra casa, amanhã cedo compro o que falta.

— Não esquece o protetor solar, a lanterna e o repelente de insetos. O Brandon disse que é impossível suportar a Floresta Amazônica sem repelente e as coisas básicas para andar no meio do mato.

— Eu vivi no Havaí e estive na Austrália pra fazer meu artigo de conclusão do mestrado. Sei quais os perigos de uma floresta temperada e das águas.

— É claro que sabe, mas o oceano ao redor de Queesland é bem diferente do Rio Amazonas. No oceano dá para ver tudo com clareza, você enxerga o perigo antes mesmo de entrar. A água do rio é turva, escura, enlameada em algumas partes. São ambientes diferentes, com perigos diferentes. Você já pegou a lista que a assistente do Jeyel enviou no e-mail? O guia contratado para nos acompanhar mandou uma lista de coisas necessárias.

— Eu vou olhar. Obrigada.

Peguei minhas coisas e me despedi dela. Parei no caminho de casa para comprar comida tailandesa e passei as próximas horas arrumando minha bagagem. Nosso avião partiria às oito horas da noite seguinte e eu estava ansiosa.

Enquanto fazia minhas coisas, não conseguia parar de pensar nos sonhos que tive. O último pareceu uma continuação do primeiro e isso me intrigava demais.

Havia muitas perguntas sem resposta fervilhando na minha cabeça, entre elas:

“O que está acontecendo comigo?”

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Para quem não conhece as referências indicadas por números na narrativa, elas vêm dos povos de raíz linguística Tupi-guarani, nossos indígenas. São deuses da crença indígena e todos representam algum elemento relacionado à natureza.

Quer conhecer um pouquinho? Então vem comigo.

¹ Anhangá é o protetor dos animais e dos caçadores. Embora tenha esse significado, é associado ao mal e a tudo o que vem das regiões infernais. É também o inimigo de Tupã. Para as culturas religiosas cristãs, seria o equivalente ao Diabo.

² Guaraci é o deus do Sol, guardião do dia, que auxiliou o pai Tupã a criar todos os seres vivos. Ele é esposo de Jaci.

³ Tupã é o criador dos céus, da terra e dos mares, o grande “Espírito do Trovão”, como é conhecido por boa parte dos povos, foi quem deu origem à vida. Além de ensinar às criaturas humanas o fazer da agricultura, do artesanato e da caça, Tupã concedeu aos pajés todo o conhecimento sobre as plantas, ervas medicinais e rituais de cura.

Jaci é filha de Tupã, deusa da lua e guardiã da noite. Responsável pela reprodução, ela tem o dom de despertar as saudades no coração dos caçadores e guerreiros para que voltem sempre ao colo de suas esposas e cuidem de suas famílias.

Kaolin significa bela jovem. Não é o nome da nossa personagem misteriosa que aparece nos sonhos da Nara, é apenas um título.

Então, gostou de saber um pouquinho sobre a cultura indígena brasileira? Fique atento (a), pois os deuses que são personificação dos trovões e da vida (Tupã), do sol (Guaraci), da lua (Jaci) e do mal (Anhangá) estarão presentes em vários momentos da história, e outros aparecerão.

Isso é tudo por hoje.

Beijos no coração e... Tchau!

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