Capítulo 16: Negação e Desejo
O sol voltou a brilhar sobre Los Angeles. E na medida em que o grupo se movia à procura da próxima atração, o desconforto inicial entre Aaron e Alyssa ia se dissipando, substituído por uma sensação de familiaridade e afeição. Ambos ainda estavam conscientes dos olhares curiosos ao redor, mas decidiram focar no momento, aproveitando o tempo juntos.
Enquanto caminhavam, o celular de Kyle tocou. Ele pegou o aparelho rapidamente, observando o número do agente na tela.
— Desculpe, preciso atender isso, — disse ele, afastando-se alguns passos do grupo.
Aaron continuou conversando com Jack, tentando manter o clima descontraído enquanto Kyle falava ao telefone. A voz dele era baixa, mas Alyssa conseguiu ouvir partes da conversa.
— Sim, estou no parque com uns amigos... Não, não estou longe... Assinar os papéis hoje?... Entendi, mas é realmente necessário?... Certo, estarei aí em meia hora.
Kyle voltou para perto deles com uma expressão séria, o telefone ainda na mão. Alyssa olhou para ele, preocupada.
— Algo errado?
Ele balançou a cabeça, suspirando.
— Era o meu agente. Ele quer que eu vá até o escritório para assinar os papéis de um próximo papel no cinema. Parece que é algo urgente.
Alyssa franziu a testa.
— Você tem que ir agora mesmo?
Kyle assentiu, claramente frustrado.
— Sim, ele disse que precisa ser hoje, agora. Eu tentei argumentar, mas ele foi bem insistente.
Ela pensou por um momento, depois sugeriu.
— Eu posso ir com você. Não tem problema.
Kyle sorriu, apreciando a oferta.
— Obrigado, Alyssa, mas você deve ficar e aproveitar o resto do seu dia. As gravações vão voltar amanhã e eu não quero estragar o resto do seu domingo. Eu vou resolver isso e volto o mais rápido possível. Não quero que você perca a diversão por minha causa.
— Tem certeza? Eu não me importo de ir, sério, — insistiu Alyssa, sabendo que isso seria o que ela faria se de fato fosse a namorada dele.
Kyle colocou uma mão gentilmente no ombro dela.
— Tenho certeza. Você está aqui para se divertir, então aproveite. Prometo que não vou demorar.
Alyssa suspirou, ainda um pouco preocupada com o que aconteceria com ele indo embora. Afinal, não estava em bons termos com Aaron.
— Tudo bem, mas me avise se precisar de alguma coisa, tá?
Ele assentiu, agradecido.
— Pode deixar..., mas antes de eu ir, posso falar com você a sós bem rápido?
Alyssa estranhou o pedido, mas não hesitou quando ele a puxou para mais longe de Aaron e Jack, seus olhos encontrando os dela com uma intensidade inesperada.
— Acho que deveríamos fazer uma despedida convincente para as câmeras. Só para manter as aparências, não acha?
Alyssa sentiu seu estômago revirar, o frio na barriga quase tomando conta de todo o seu corpo.
— Acho que sim...
Ela respirou fundo, sentindo um ligeiro desconforto com a ideia, mas tentando superar. Kyle colocou uma mão no rosto dela, aproximando-se lentamente. Seus lábios se encontraram em um beijo suave, técnico e breve, apenas o suficiente para parecer convincente. Ela tentou se concentrar no papel que estavam desempenhando, mas não conseguiu evitar sentir a tensão ao redor, especialmente sabendo que Aaron estava a poucos passos de distância, provavelmente a observando.
Quando se afastaram, Kyle sorriu.
— Eu volto logo.
Ela apenas assentiu e sorriu, tentando parecer natural.
Kyle deu um último aceno para o grupo e se afastou rapidamente, deixando Alyssa com uma sensação estranha de desconforto misturada com alívio.
Já Aaron, sentiu um aperto no peito no instante em que viu Kyle segurar o rosto de Alyssa. Ele deveria desviar o olhar. Deveria se importar menos. Mas não conseguiu.
Os segundos se arrastaram como uma tortura enquanto Kyle inclinava a cabeça e seus lábios encontravam os de Alyssa em um beijo suave. Aaron sentiu o estômago revirar, e sua mandíbula se contraiu instintivamente. O ar ao seu redor pareceu ficar mais pesado, sufocante.
Ele não sabia o que o incomodava mais: o fato de Alyssa não ter hesitado em beijar Kyle ou o fato de aquilo parecer tão... natural. Como se já tivessem feito aquilo inúmeras vezes antes.
Jack, ao seu lado, soltou um assovio baixo.
— Caramba, pai... isso deve doer.
Aaron lhe lançou um olhar cortante.
— Não sei do que você está falando.
Jack ergueu uma sobrancelha, cruzando os braços.
— Certo, então você está assim porque se preocupa muito com a sua colega de trabalho? — Debochou.
Aaron estreitou os olhos, mas não respondeu. Definitivamente não teria uma conversa como essa com o seu filho no momento.
Alyssa e Kyle finalmente se afastaram, e Kyle sorriu para ela de um jeito que fez algo dentro de Aaron se contorcer. Ele não sabia nomear o que era, mas sabia que odiava. Odiava como ele a olhava e parecia confortável ao lado dela.
Kyle disse algo a Alyssa, depois se virou para ir embora, deixando-a para trás. Aaron tentou agir normalmente quando ela voltou para perto deles, mas seu peito ainda estava apertado.
— Então é isso? — Ele não conseguiu evitar que a pergunta escapasse.
Alyssa franziu a testa, sem entender.
— O que é isso?
— Você e ele. — A voz de Aaron saiu mais seca do que pretendia.
Alyssa piscou, parecendo pega de surpresa.
— O que tem eu e ele?
Aaron piscou, em seguida riu sem humor.
— Nada. Eu só achei que você era mais esperta do que isso.
Os olhos de Alyssa brilharam com irritação.
— Guarde os seus achismos para você. Você não tem o direito de me dizer o que fazer, Aaron.
Ele balançou a cabeça em negativa, o coração batendo forte.
— Não estou te dizendo o que fazer. Só estou me perguntando quando foi que você decidiu que Kyle Ryker era bom o suficiente para você.
Alyssa ficou em silêncio por um momento, os olhos presos nos dele.
— E por que ele não seria? Ou melhor ainda, o que a minha vida amorosa tem a ver com você?
Aaron abriu a boca para responder, mas nenhuma palavra saiu. Ele não sabia o que dizer. Não sabia como justificar o aperto sufocante em seu peito, a raiva absurda que sentia ao vê-la com Kyle.
— O que acha do bate-bate? — Alyssa se virou para Jack de repente, decidida a ignorar o irritante do pai dele.
— Você e Kyle não já foram nele? — Jack lembrou. Tomando coragem para voltar a falar após uma cena tão intensa.
— Sim, mas posso ir de novo com você. É meu brinquedo preferido.
Alyssa passou o braço por cima dos ombros do garoto e começou a guia-lo da direção do brinquedo. Andando alguns passos atrás dos dois, Aaron tentava se acalmar enquanto observava a naturalidade com que ela sorria e interagia com Jack. Ele sentiu um calor estranho no peito com isso, mas rapidamente afastou qualquer pensamento que o levasse a explorar uma explicação para isso. Decidindo que o melhor seria focar no presente, aproveitar o dia e deixar as complicações de lado.
Os três seguiram para a fila do bate-bate e não muito depois, entraram na atração, cada um escolhendo um veículo colorido. As luzes piscavam ao redor e a música alta criava uma atmosfera vibrante.
Jack, cheio de entusiasmo, escolheu um carro vermelho e falou animadamente:
— Se preparem, eu não vim aqui para perder!
Aaron riu, entrando em um carro azul ao lado.
— Vamos ver se você consegue ganhar, Relâmpago Marquinhos!
Alyssa, em um carro verde brilhante, riu.
— O perdedor paga um sorvete de baunilha, que por acaso é o meu preferido!
Os carros começaram a se mover, e logo, a pista estava cheia de risos e gritos enquanto eles se chocavam uns contra os outros. Jack dirigia de forma imprevisível, rindo alto toda vez que se chocava com alguém. Aaron, tentando evitar ser atingido por Jack, acabou sendo um alvo fácil para Alyssa.
— Toma essa! — Alyssa falou, dando um golpe certeiro no carro de Aaron, que fingiu uma expressão de dor quando o seu carro se chocou contra a parede.
— Oh, não! Como você pôde? — Aaron dramatizou, segurando o peito como se tivesse sido mortalmente ferido.
Jack, vendo a oportunidade, deu uma volta rápida e bateu no carro de Alyssa.
— Surpresa!
Alyssa riu, balançando a cabeça.
— Você é bom, Jack, mas não tão bom quanto eu.
Ela fez uma manobra para reaver o controle do carrinho, e após uma curva brusca, foi atrás de Jack, que tentava desesperadamente escapar.
Aaron aproveitou a distração deles para manobrar seu carrinho para longe da parede e ir atrás dos dois. Com os carros lado a lado, Jack e Alyssa se entreolharam de forma conspiratória e, mesmo sem dizer uma palavra, entenderam que deveriam unir forças.
— Vamos! — Falou Jack, e cada um virou o carro para um lado, em uma emboscada perfeita contra Aaron no meio.
Os três continuaram a se perseguir, a diversão e a energia do momento substituindo qualquer tensão anterior. O barulho dos carros colidindo, as luzes piscando e a música alta criaram uma bolha de alegria e despreocupação.
Finalmente, o tempo da atração chegou ao fim, e os carros pararam. Jack, com um sorriso enorme no rosto, exclamou:
— Podemos ir de novo?
Alyssa e Aaron riram.
— Talvez mais tarde, campeão, vamos dar uma volta e ver o que mais podemos encontrar.
Enquanto saiam do brinquedo, Alyssa olhou para Aaron e sorriu.
— Até que você não foi tão ruim. Mas não esquece que o meu sorvete é de baunilha.
Aaron retribuiu o sorriso, passando a língua pelos lábios.
— Eu não esqueci, McKay. Mas não se acostume com isso, pois da próxima vez, eu vou ganhar.
Jack, caminhando entre os dois, ergueu a cabeça de forma convencida.
— Ah, qual é! Todos nós sabemos quem de fato foi o melhor ali. — Ele fingiu apertar uma gravata imaginária em seu pescoço. — Meu sorvete é de morango.
Eles caminharam juntos pelo parque, um trio inesperado, mas de certa forma, perfeito, totalmente em sintonia. As risadas e provocações continuaram, e, por um momento, todas as complicações e ressentimentos foram esquecidos, substituídos por um sentimento caloroso de pertencimento.
A tarde passou rapidamente, com mais risos, brincadeiras e momentos de pura diversão, e o dia terminou com os três compartilhando sorvetes, sentados em um banco, observando o parque começar a se iluminar com as luzes da noite. O crepúsculo lançava um brilho suave sobre tudo, tornando o momento ainda mais especial.
— Isso foi realmente divertido, — disse Alyssa, olhando para Aaron enquanto saboreava seu sorvete. — Obrigada por me deixar fazer parte disso.
Aaron sorriu, sentindo uma estranha sensação de paz enquanto aproveitava seu sorvete de chocolate.
— Eu é que agradeço por ter nos aceitado no grupo.
— A gente deveria fazer isso mais vezes, — disse Jack, distraído com o seu sorvete de morango nas mãos.
Aaron assentiu, pensativo.
— Prometo voltar com você assim que possível, filho. Acho que deixei a fama entrar demais em nossas vidas e na nossa cabeça, e esqueci de apenas... viver. Não tenho um dia normal assim há anos!
— Eu também não, — Alyssa olhou para ele, uma admiração crescendo no brilho do seu olhar. — Ninguém nos incomodou, ninguém nos seguiu enfiando câmeras nas nossas caras, foi apenas... um dia tranquilo.
— Tá bem que vocês são famosos, mas ainda são seres humanos, não é? — Jack comentou, sem realmente entender a complexidade do assunto que eles estavam falando.
— Muita gente esquece disso, filho, — Aaron comentou, sem realmente tentar aprofundar o assunto.
— Isso é triste, então, — lamentou o garoto, terminando de comer a casquinha do seu sorvete.
Enquanto se despediam e se preparavam para ir embora, Aaron percebeu que o dia tinha sido uma lembrança valiosa de que a vida poderia sim seguir em frente. Momentos de alegria ainda eram possíveis, mesmo em meio a tempestades.
— Com quem você vai? Kyle deu notícias? — Ele perguntou quando os três passaram pela saída do parque, caminhando pela extensa área de estacionamento.
— Ele mandou mensagem, ainda está com o agente dele. — Alyssa abaixou a cabeça, encarando o celular nas mãos.
— Podemos te deixar em casa, não é, pai? — Jack sugeriu, ainda sem estar pronto para se despedir da mais nova amiga.
— Não precisa, — Ela se apressou em dizer antes que Aaron concordasse.
— Tem certeza? — O ator insistiu, preocupado. — Eu não me importo de levar.
Alyssa assentiu firmemente para passar confiança. Sabia que não seria uma boa ideia se ele a deixasse em casa, já foram fotografados uma vez mais cedo, se uma foto dele a deixando em casa fosse parar na internet, todo o seu esforço e tempo gasto com o namoro falso com Kyle seriam para nada.
— Eu já chamei um carro no aplicativo, o motorista já está chegando. — Aaron observou Alyssa com atenção quando ela deu um passo para trás, mantendo uma distância segura. — Nos vemos amanhã no set, Fitzgerald? — Ela perguntou, arqueando uma sobrancelha, a voz carregando um tom provocativo que não passou despercebido por ele.
Aaron sentiu uma faísca no peito ao ouvir seu sobrenome na voz dela novamente, algo familiar, quase íntimo. Seu instinto foi provocar de volta.
— Isso significa que somos melhores amigos agora?
Alyssa não hesitou nem por um segundo.
— Óbvio que não. — A resposta foi seca, mas seus olhos brilharam com contentamento enquanto ela continuava a dar passos para trás. Jack, ao lado do pai, riu, claramente se divertindo. — Mas eu não quero mais te esganar — acrescentou ela, dando de ombros de forma descontraída. — Pelo menos por enquanto.
Aaron sorriu de lado, inclinando a cabeça levemente.
— Que honra. — Alyssa revirou os olhos, mas ele viu o canto de seus lábios ameaçar um sorriso. — Até mais, McKay.
Ela finalmente se virou, caminhando em direção ao carro de aplicativo que já a esperava mais na frente. Aaron a observou entrar no veículo, sem desviar os olhos até que ele sumisse de vista. Seu olhar instintivamente captou a placa, os números ficando gravados em sua mente como se fossem parte de um roteiro.
Quando entrou no próprio carro, Jack deslizou para o banco do passageiro e fechou a porta com um sorriso travesso.
— Então... — Ele puxou o cinto de segurança. — Já consegue admitir que está gostando dela?
Aaron, que acabava de ligar o motor, congelou.
— O quê? — Seu tom de voz saiu um pouco mais alto do que deveria.
Jack riu, cruzando os braços.
— Ah, por favor, pai. Você estava praticamente hipnotizado enquanto ela ia embora.
Aaron bufou, concentrando-se na direção.
— Isso é ridículo!
— É mesmo? — Jack insistiu, divertido. — Porque, pelo o que eu vi, você estava todo preocupado, decorando a placa do carro dela como um detetive de filme policial.
Aaron lançou um olhar de advertência ao filho, tentando não sorrir.
— Primeiro: eu estava apenas sendo cuidadoso. É perigoso pegar carros de aplicativo sozinha à noite. Segundo: eu me preocupo com todos os meus colegas de trabalho.
— Até mesmo o Kyle?
— Até mesmo o... — Aaron se deu conta do que estava falando enquanto pronunciava as palavras, e como não havia mais como sair daquela situação, ele apenas dobrou a aposta. — Até mesmo o Kyle.
— Certo. E eu sou o Batman. — Jack riu, desviando seus olhos para a paisagem passando pela janela.
Aaron acelerou um pouco mais o carro quando eles saíram da área que rodeava o parque e voltaram as rodovias da cidade.
— Não sei por que estamos falando disso.
— Porque é óbvio! — Jack insistiu, animado. — Você gosta dela.
— Não gosto.
— Gosta sim!
— Não gosto!
Jack o encarou com um olhar carregado de conhecimento, como se estivesse diante de um mistério já resolvido.
— Sabe, você está agindo exatamente como aqueles caras de filme que dizem que não estão apaixonados, mas todo mundo ao redor sabe que estão.
Aaron soltou uma risada seca.
— Você anda vendo muito drama adolescente.
Jack apenas sorriu e se recostou no banco.
— Sei que estou certo. Mas tudo bem, vou te deixar sofrer em negação. Pela sua cara de "felicidade" vendo a Alyssa beijar o Kyle, deve ser divertido.
Aaron suspirou, sem responder. Porque, no fundo, sabia que Jack estava certo. E isso era exatamente o que o incomodava. Alyssa tinha namorado. E para todas as instancias, ele ainda estava casado. Insistir nisso seria burrice. Além de um show de merda midiático.
— Eu não estou em negação, — murmurou de repente, mais para si mesmo do que para ele. — Mas se caso essa sua teoria da conspiração tivesse algum fundamento... você veria problema?
Aaron fingiu estar concentrado no trânsito, mas não conseguiu evitar lançar um olhar curioso para o filho.
— Eu não sou uma criancinha, pai. Não vou criar problemas se quiser namorar de novo.
Aaron fez uma careta e resmungou:
— Não estava nem pensando nisso!
Jack bufou uma risada.
— Desde que ela não seja uma chata de galocha, eu não vejo problema.
Aaron estalou o pescoço para um lado e depois para o outro, pensativo.
— Então, você achou a Alyssa chata?
Jack sorriu, fechando a armadilha.
— Pensei que isso não fosse sobre ela...
— Só responde à pergunta, pirralho! — Aaron tirou uma das mãos do volante para bagunçar o cabelo do filho, que se contorceu de tanto rir.
— Não. A Alyssa é incrível. — Jack admitiu entre risos, colocando a mão sobre a barriga dolorida.
Aaron não respondeu, mas sorriu, olhando para a estrada.
Após pegarem Thor na creche canina — o cachorro entrou no carro exausto de tanto brincar — eles chegaram ao hotel. Jack foi direto para o banho, e Thor se acomodou na caminha ao lado do sofá.
Aaron, por sua vez, se jogou no sofá e pegou o celular. Seus dedos deslizaram automaticamente até o perfil de Alyssa. Com um impulso quase inconsciente, seguiu-a.
Passou os minutos seguintes rolando o feed, ignorando as fotos dela com Kyle, mas curtindo algumas em que ela estava sozinha ou com seu gato — Desde quando ela tinha um gato? Ele sequer sabia. Não sabia muitas coisas sobre ela ainda, ele percebeu.
Do outro lado da cidade, já de banho tomado e com Loki enroscado ao seu lado na cama, Alyssa observava o nome de Aaron aparecer repetidamente em suas notificações.
Ele a havia seguido.
E não apenas isso, ele também estava curtindo várias de suas fotos.
Seu coração vacilou, um misto de surpresa e inquietação tomando conta dela. Mordendo o lábio, clicou no perfil dele e, após um breve instante de hesitação, seguiu-o de volta.
Rolou o feed algumas vezes, mas tudo que encontrou foram postagens profissionais. Bastidores de filmagens, eventos, divulgações. Nenhum vislumbre da vida pessoal dele. Nenhum traço do homem por trás da estrela de cinema. Como se ele não existisse fora das telas.
Antes que pudesse refletir mais sobre isso, uma nova notificação apareceu.
Aaron Fitzgerald postou uma foto.
O dedo de Alyssa deslizou pela tela quase automaticamente. Assim que viu a imagem, sentiu o peito aquecer. Aaron e Jack no parque, sorrisos despreocupados no rosto, uma felicidade genuína que a fez sorrir também. Jack tinha os olhos azuis da mãe, mas era inegavelmente parecido com o pai. O mesmo sorriso torto, a mesma expressão travessa. Mas era impossível olhar para aquela foto e não pensar em Sarah. Ou no motivo de ela não ter estado lá com eles.
Alyssa desviou o olhar da tela, sentindo-se inquieta. Não que quisesse que Sarah estivesse lá, principalmente pelo o que quase aconteceu quando a chuva caiu de repente.
Ela queria continuar odiando Aaron Fitzgerald, mas momentos como aquele faziam seu coração vacilar. Queria continuar remoendo o que ele lhe dissera no hospital, mas tudo que conseguia lembrar era da mão dele segurando a sua, puxando-a para correr na chuva com ele.
A proximidade sufocante.
O olhar dele preso ao dela.
O instante em que seus rostos estiveram tão próximos que o mundo pareceu parar.
Alyssa fechou os olhos com força. Se tivessem se beijado...
— Seria um desastre! — murmurou para si mesma, balançando a cabeça, como se pudesse afastar aqueles pensamentos perigosos.
Com um suspiro agoniante, ela voltou a encarar o celular em sua mão. Pensando que se aquele flash fosse de fato uma foto, e ela vazasse, eles estariam ferrados.
Rapidamente, selecionou algumas imagens para postar e manter as aparências. A primeira era dela e Kyle sorrindo, abraçados. A segunda, uma dela sozinha. A terceira, um inocente sorvete de baunilha em sua mão — comprado por Aaron! — A última, os quatro juntos no restaurante. Algo que gritava "colegas de trabalho se divertindo", e nada além disso.
Depois de postar, desligou o celular e tentou dormir. Mas, mesmo depois de desligar o aparelho e se acomodar debaixo das cobertas, a lembrança permaneceu ali, latejando em sua mente.
E, no fundo, ela sabia que a única coisa mais perigosa do que aquele quase beijo... Era o quanto uma parte dela queria que ele tivesse acontecido.
No hotel, Aaron viu a notificação e clicou na postagem.
Seu estômago revirando ao ver a primeira foto: Alyssa e Kyle juntos, sorrindo, perfeitamente felizes. Como um soco invisível, a imagem acertou seu peito, roubando-lhe o ar.
Ele tentou se convencer de que não importava. Que não deveria importar. Mas havia algo naquela foto — na facilidade com que Kyle a segurava, no jeito como Alyssa se inclinava para ele, como se aquilo que tinham fosse perfeito — que o incomodava mais do que deveria.
Sem vontade de ver o resto, Aaron bloqueou o celular e se levantou. Caminhou até a cozinha com passos pesados, abriu o armário e puxou a garrafa de uísque. Serviu-se de uma dose generosa, girando o líquido âmbar no copo antes de levá-lo aos lábios.
Ele deveria estar feliz por ela estar bem, por ter alguém que a fizesse sorrir, principalmente depois de todas as vezes em que ele a fez chorar. Mas, em vez disso, sentia-se miserável. Como se algo dentro dele estivesse se partindo aos poucos.
E isso, mais do que qualquer outra coisa, o assustava.
Virou o uísque de uma só vez, sentindo o calor da bebida queimando sua garganta. Em um gesto automático, guardou a garrafa e lavou o copo imediatamente, como se apagar qualquer vestígio da bebida pudesse, de alguma forma, limpar também os pensamentos que o atormentavam.
Ao passar pelo quarto de Jack e notar que o filho já dormia, soltou um longo suspiro e seguiu para o banheiro. Ligou o chuveiro no mais frio possível, despiu-se, e entrou debaixo da água gelada, esperando que o choque térmico o ajudasse a colocar a mente no lugar.
Mas nem mesmo a água fria conseguiu apagar a única coisa que persistia em sua mente.
O rosto de Alyssa McKay.
Os olhos dela nos seus.
O instante antes do beijo que nunca aconteceu.
Encostou as mãos na parede do chuveiro e fechou os olhos com força.
Ele estava ferrado.
Muito ferrado.
E, pior, não tinha ideia do que fazer a respeito disso.
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