Capítulo 12: Sob o Olhar da Lei
A Califórnia brilhava sob o sol matinal. Já L.A., com seu contraste de glamour e luta, era um palco perfeito para dramas pessoais e batalhas públicas. Dentro de um tribunal da família, a batalha judicial pela guarda de Jackson Fitzgerald iniciava-se de maneira feroz.
O ambiente austero da sala de audiências, com suas paredes de madeira escura e iluminação fria, intensificava a tensão que pairava no ar. Aaron se viu imerso nas intrincadas complexidades do sistema legal, onde cada detalhe era minuciosamente examinado. Consciente de que os próximos dias seriam decisivos para o futuro de seu filho, ele se preparava para enfrentar uma das maiores provações de sua vida.
Thomas estava ao seu lado, guiando-o através dos procedimentos.
— Aaron, lembra de manter a calma. Nossa estratégia é mostrar a instabilidade de Sarah, mas precisamos fazê-lo com cuidado e sensibilidade, ela ainda é a mãe do seu filho.
Aaron assentiu, tentando controlar a ansiedade.
— Eu entendo, Thomas. Só quero que isso termine o mais rápido possível.
Então, Aaron se viu cara a cara com a esposa pela primeira vez em dias. Ela entrou na sala em uma cadeira de rodas e parecia frágil e abalada, sua pele pálida contrastando com a roupa formal que vestia. O cabelo loiro estava opaco, preso em um coque simples, o rosto sem qualquer maquiagem. Aaron se sentia abalado com a imagem, como se aquela não fosse a mulher com quem passou boa parte da sua vida.
Por um momento, ele percebeu detalhes que nunca haviam chamado sua atenção antes. As linhas ao redor dos olhos dela, antes suaves, agora pareciam marcadas, quase profundas, como se a tensão das últimas semanas as tivesse esculpido em sua pele. A palidez de sua face realçava a idade que ele nunca notara, ou talvez não quisesse notar, enquanto ainda estava apaixonado. Antes, tudo o que via era Sarah como a mulher vibrante e intensa que dominava qualquer ambiente que entrasse. Mas agora, a paixão que um dia cegara seus olhos dissipou-se, deixando apenas a realidade nua diante dele. Ele não via mais a esposa que idealizara, mas uma mulher despedaçada.
No entanto, havia uma dureza em seus olhos que não passava despercebida. Quando seus olhares se encontraram, foi como se uma geada passasse entre eles. E então, ele a reconheceu. Por trás de todo aquele ato estava a mulher implacável que ele conhecia.
— Senhor Fitzgerald, por favor, descreva os eventos ou motivos que o trouxeram até aqui, — pediu o Juiz.
Aaron respirou fundo e começou o seu testemunho.
— Sarah jogou o carro que dirigia contra um poste. Não sei se ela estava tentando se matar ou apenas me atingir. Independentemente do que for, entrei com um pedido de divórcio e não acho que ela esteja apta para cuidar do nosso filho. Por isso, desejo a guarda completa.
Sarah se manifestou, a voz carregada de emoção.
— Agora decidiu agir como um pai ou está apenas atuando como em um dos seus grandes filmes?
O juiz decidiu intervir.
— Senhora Fitzgerald, por favor, controle-se. Você terá o seu momento de fala.
— Minha prioridade é o Jack. Ele precisa de um ambiente seguro. E infelizmente, Sarah não está em condições de proporcionar isso. — Continuou Aaron, tentando não se deixar afetar por ela.
Thomas entrou em ação, apresentando evidências de comportamento errático de Sarah.
— Temos registros médicos e testemunhos de vizinhos que corroboram o relato do senhor Fitzgerald. Além disso, temos a gravação da câmera de segurança mostrando que o acidente foi intencional.
O advogado de Sarah contra-atacou, tentando pintar um quadro de uma mulher sob imenso estresse, mas não instável.
— O que pode ser explicado pelas constantes ausências do Sr. Fitzgerald. Minha cliente estava em um estado emocional abalado naquele momento.
Thomas manteve-se firme.
— Não existem "constantes ausências", meu cliente sempre esteve presente em momentos importantes como podemos provar com fotos de aniversários, dia a dia, eventos escolares. No entanto, isso nunca foi o suficiente para a sua cliente. Ela sempre cobrava mais, cobrava que ele se aposentasse. Acho que por isso causou o acidente. Talvez na mente perturbada dela, ela pensou que o meu cliente largaria toda a sua carreira para cuidar dela...
— E eu realmente pensei em fazer isso. — Aaron se pronunciou, interrompendo o advogado. — Liguei para o meu agente e tudo, mas isso foi antes de descobrir que ela arquitetou tudo. Agora, tudo o que eu fico pensando é.... e se o nosso filho estivesse no carro naquele dia? Era ela quem deveria ter buscado ele na escola naquela tarde.
O olhar de Sarah se encheu de indignação.
— Eu nunca colocaria o Jack em perigo de propósito, Aaron!
— E este tribunal está aqui para determinar exatamente isso, o melhor interesse da criança. Então, os dois lados terão sua chance de provar que merece ter a guarda dessa criança. — O juiz informou.
As horas se arrastaram, cada argumento cuidadosamente construído e desconstruído. A tensão na sala era pesada. Aaron sabia que estava lutando não apenas contra Sarah, mas também contra o sistema que ele esperava que enxergasse a verdade. Ela era a mãe. Ela tinha a vantagem. Mas ele sabia que ele seria o melhor para o seu filho.
Após uma pausa para beber água e ir ao banheiro, Thomas se virou para Aaron enquanto eles caminhavam de volta para dentro da sala de audiências.
— Você está indo bem. Só mais um pouco.
Aaron assentiu, sentindo o peso da responsabilidade.
Quando a audiência foi retomada, a batalha continuou feroz. Os advogados de ambos os lados apresentaram seus argumentos com intensidade. Testemunhas foram chamadas, evidências foram apresentadas, e cada detalhe da vida de Aaron e Sarah foi dissecado.
Ao final do primeiro dia, Aaron estava exausto, mas sentia uma pequena chama de esperança. Ele sabia que a batalha estava longe de terminar, mas também sabia que estava fazendo o que era necessário para proteger seu filho.
No dia seguinte, de volta ao tribunal, Thomas começou chamando a psicóloga familiar para testemunhar a favor de Aaron. Aaron achou importante ele e Jack começarem a ir nas consultas logo após ele ter contado para o filho do divórcio. Não queria que Jack se sentisse mal ou culpado por nada. A psicóloga disse o que Aaron necessitava ouvir após tanto tempo sendo chamado de pai ausente e irresponsável: ele era um bom pai, tinha uma ótima relação com o filho, e Jack estaria seguro com ele.
Apesar de ter ajudado o seu lado, o testemunho dela não ajudou a descredibilizar o outro lado, já que a psicóloga não chegou a ter nenhum contato com Sarah. Mas para isso, Thomas chamou uma outra testemunha importante ao tribunal.
Quando a testemunha, uma mulher com cerca de trinta anos, vestida de maneira modesta, com os cabelos pretos soltos, maquiagem leve e uma expressão neutra, subiu ao banco, a tensão na sala aumentou. Thomas se levantou e começou a questioná-la com um tom de voz calmo e seguro.
— Por favor, diga ao Juiz o seu nome e sua relação com a senhora Sarah Fitzgerald, — Thomas pediu, estabelecendo uma base de credibilidade para a testemunha.
— Meu nome é Lisa Smith, — começou a mulher, a voz um pouco trêmula. — Eu sou babá do Jack, filho dos Fitzgerald, há cerca de onze anos.
— Lisa, poderia nos contar sobre o comportamento da senhora Fitzgerald nos últimos anos? — Thomas incentivou, mantendo um tom de voz gentil.
Lisa respirou fundo e começou a falar, cada palavra pesada com a gravidade das revelações.
— Nos últimos anos, Sarah... mudou. No começo, ela era uma pessoa amigável, me tratava sempre bem, era educada, sorria, mas depois de um tempo, comecei a notar acessos de raiva que vinham e iam do nada. Lembro-me de uma vez em particular, quando ela teve uma explosão com o Jack apenas por que ele derrubou e quebrou um copo de cristal na cozinha. Ela gritou com ele por quase dez minutos.
Aaron observou Sarah enquanto as palavras de Lisa enchiam a sala. Sarah estava pálida, com os olhos fixos no chão, evitando o olhar de todos. Ele podia ver a tensão em seus ombros, a forma como apertava suas mãos nervosamente no colo. Parte dele ainda sentia pena dela, lembrando-se da mulher que ele um dia amou.
— Além desses acessos de raiva, você notou algum outro comportamento preocupante? — continuou Thomas.
Lisa assentiu, parecendo hesitar antes de continuar.
— Sim, houve várias ocasiões. Uma vez, ela deixou Jack sozinho em casa para ir a uma aula de yoga. Ela me ligou já dentro do carro, no caminho, e eu tive que correr até a mansão deles, pois Jack estava sozinho e ele não tinha mais que cinco anos na época. Quando cheguei, eu o ouvi chorando e fui até lá ficar com ele até ela voltar. Foi assustador pensar que ela poderia fazer isso novamente.
A sala de audiências estava em silêncio absoluto, cada pessoa presente absorvendo a seriedade das acusações, inclusive Aaron, que escutava essas informações pela primeira vez. Aaron sentiu um nó se formar em seu estômago, a dor de ouvir essas histórias se misturando com a raiva que ele sentia por Sarah, e por si mesmo. Afinal, ele também não tinha percebido.
— E você acha que ela seria capaz de algo assim novamente? — Thomas insistiu.
— Sim. Infelizmente, — continuou Lisa. — A impressão que eu tenho é a de que ela não ama o filho tanto assim. Quero dizer, até ama, mas não tanto quanto ama o senhor Aaron.
— Protesto, meritíssimo, — o advogado de Sarah se levantou. — O que a testemunha acha ou deixa de achar em relação aos sentimentos da minha cliente não é cabível ao caso. Estamos aqui para discutir fatos.
— Estamos aqui para discutir a guarda da criança. Acho que a opinião da pessoa que cuidou dele por mais de uma década seja importante, não? — articulou Thomas.
— Estou inclinado a concordar com o senhor Harris. Protesto negado, — o juiz decidiu, batendo o martelo.
Lisa respirou fundo, continuando seu testemunho.
— Além disso, houve momentos em que Sarah parecia esquecer completamente das necessidades de Jack. Teve uma vez em que ela o deixou trancado no quarto porque ele estava atrapalhando sua social com amigas em casa. Jack ficou chorando por horas até eu chegar e o pegar. Quando Aaron chegou à noite ela me ameaçou de demissão para que eu não contasse nada.
Thomas se aproximou de Lisa, com um tom mais brando.
— Lisa, você poderia agora descrever como era a relação entre Jack e Aaron? Como Aaron lidava com o filho?
Lisa sorriu levemente, seus olhos demonstrando carinho.
— Aaron sempre foi muito atencioso com Jack. Ele fazia questão de estar em todos os momentos importantes da vida do filho, desde eventos escolares até os detalhes do dia a dia. Nunca perdeu um aniversário, sempre estava lá quando Jack estava doente ou o ajudando com lições de casa quando podia. O amor dele pelo filho é claro.
Thomas fez uma pausa, dando tempo para que as palavras da testemunha se fixassem na mente do juiz.
— Muito obrigado, Lisa. Sem mais perguntas, meritíssimo.
Enquanto o Juiz anotava algo em seu caderno, Aaron lançava um olhar de gratidão a Lisa, sentindo um misto de alívio e tristeza. As revelações eram dolorosas, mas ele sabia que eram necessárias para garantir a segurança e o bem-estar de Jack.
O advogado de Sarah se levantou, pronto para contra-atacar.
— Senhora Smith, você já viu a senhora Fitzgerald em momentos de calma ou felicidade?
Lisa hesitou, pensando.
— Sim, claro. Ela pode ser muito amável e carinhosa quando quer. Mas esses momentos se tornaram raros com o passar do...
— Então, você diria que ela é uma pessoa instável o tempo todo? — insistiu o advogado, interrompendo-a para minimizar o impacto do depoimento.
— Não o tempo todo, assim como ela não é carinhosa o tempo todo. Honestamente, o que acho preocupante na Sarah é como ela é apática. Especialmente quando se trata de cuidar do próprio filho, — respondeu Lisa, sua voz firme apesar da tentativa de intimidação.
— Senhora Smith, você afirmou que os momentos de instabilidade de Sarah são frequentes. Pode nos dizer quantas vezes isso aconteceu nos últimos meses? — O advogado de Sarah perguntou, tentando encontrar brechas no depoimento dela.
Lisa respirou fundo, refletindo sobre as várias ocasiões que presenciou.
— Eu diria que pelo menos uma vez por mês havia algum incidente. Seja um ataque de raiva, uma decisão impulsiva ou um comportamento negligente.
— Uma vez por mês? — o advogado arqueou as sobrancelhas. —Isso parece um tanto trivial, não acha? Quantas mães por aí não se estressam e gritam com o próprio filho? É comum. Pode dar exemplos específicos de algumas dessas ocasiões?
Lisa assentiu, determinada a se manter firme.
— Claro. Houve essa vez em que Sarah decidiu ir a yoga e deixou Jack sozinho em casa. Outra vez, ela ficou tão irritada pelo filho está assistindo a um filme na TV que quebrou vários objetos na casa, assustando Jack. Ele tinha nove ou dez anos na época.
O advogado de Sarah tentou desviar a atenção.
— E você acha que esses episódios isolados são suficientes para julgar a capacidade dela como mãe? Todos passam por momentos difíceis na vida.
— Esses não são episódios isolados. São padrões de comportamento. E quando se trata de uma criança, qualquer padrão de comportamento que coloque a criança em risco é extremamente preocupante.
— Você tem algum diploma em pedagogia ou psicologia para fazer tais afirmações?
— Protesto, meritíssimo, o advogado perguntou o que a testemunha achava e não uma opinião profissional. — Thomas se pronunciou.
— Protesto aceito.
Com um suspiro frustrado, o advogado de Sarah mudou de abordagem.
— Senhora Smith, você mencionou que trabalha para a família há mais de uma década. Durante esse tempo, você criou algum tipo de vínculo emocional com o senhor Aaron?
Lisa franziu a testa, percebendo a tentativa dele de a descredibilizar. Havia sido perfeitamente treinada por Thomas Harris exatamente para isso.
— Claro, eu respeito muito o senhor Aaron, assim como respeito a senhora Sarah. Meu vínculo é com Jack, e minha preocupação é com o bem-estar dele.
— Então, você diria que seu depoimento não é influenciado por favoritismos? — o advogado continuou, insistente.
— Não. Meu depoimento é influenciado pelo que é melhor para Jack, — Lisa respondeu categoricamente.
Thomas se levantou, pronto para intervir com um protesto, percebendo a direção que a defesa estava tomando, quando o advogado de Sarah recuou.
— Sem mais perguntas, meritíssimo.
O juiz agradeceu a Lisa e a dispensou, chamando a próxima testemunha. Uma vizinha amiga de Sarah que testemunhou que ela era amorosa e uma mãe perfeita. Aaron não soube dizer se era tudo verdade ou se ela simplesmente fingia na presença das amigas.
Ele sentia um misto de emoções enquanto observava o desenrolar do processo. Sabia que ainda havia muito pela frente, e que cada depoimento poderia ser crucial para o desfecho do caso.
Sarah se levantou lentamente quando seu nome foi chamado para testemunhar. Ela caminhou com passos trêmulos, mas havia uma determinação em seu olhar que indicava que estava preparada para enfrentar o momento. Sentando e ajeitando os cabelos loiros, Sarah lançou um olhar rápido e furtivo em direção a Aaron, antes de fixar os olhos em Thomas Harris.
O advogado de Aaron levantou-se lentamente com uma expressão de determinação.
— Senhora Fitzgerald, — começou ele, sua voz firme, — O que você deseja para o seu filho Jack?
— Nada além do melhor. — Ela respondeu de imediato, com convicção.
— Você diz que nunca desejaria nada além do melhor para o seu filho... Então, você estava querendo o melhor para ele quando disse que iria sumir no mundo com ele caso o meu cliente não desistisse de sua carreira e se aposentasse?
Sarah hesitou por um momento, olhando rapidamente para seu advogado antes de responder.
— Eu não... eu nunca disse isso.
— E se eu dissesse que tenho uma testemunha pronta para testemunhar isso.
— Impossível. Aaron e eu estávamos sozinhos no nosso quarto quando eu... — Ela parou de falar, percebendo o que havia feito.
Thomas cruzou os braços, uma leve expressão de triunfo no rosto. Ela percebeu a armadilha se fechando.
— Interessante, senhora Fitzgerald. Você nega ter dito algo, mas consegue descrever exatamente quando e onde essa conversa ocorreu. Fascinante, de fato.
Sarah piscou algumas vezes, como se tentasse processar rapidamente uma saída para o erro que acabara de cometer. Ela notou que o seu advogado tentava dizer algo, movimentando a boca sem fazer som do outro lado da sala, mas ela desviou o olhar dele, visivelmente irritada.
— Isso não significa nada! — Sarah retrucou, tentando recuperar o controle. — Só me lembro de discutirmos algo, mas nunca disse que fugiria com Jack.
Thomas deu um passo em direção à mesa dela, seu olhar fixo e implacável.
— Então, se trouxermos a testemunha que ouviu essas palavras de sua boca, você dirá que ela está mentindo?
Sarah abriu a boca para responder, mas as palavras pareciam escapar antes que pudessem ser formadas.
— Porque, — continuou Thomas, a voz agora carregada de convicção, — a testemunha em questão é uma pessoa imparcial, alguém que ouviu isso enquanto passava pelo corredor. Uma empregada da casa que tinha motivos de sobra para permanecer neutra e, ainda assim, está disposta a jurar em tribunal que ouviu você ameaçar levar Jack para longe de Aaron caso ele não abandonasse sua carreira.
A tensão na sala ficou palpável. Sarah bateu a mão na mesa, seu rosto ficando mais vermelho a cada segundo.
— Isso é um absurdo! Uma empregada? Você está usando fofocas e suposições como prova agora?
Thomas manteve a calma, ajustando os óculos enquanto olhava para o juiz.
— Excelência, isso não é uma fofoca. É uma pergunta sobre uma situação hipotética que a senhora Fitzgerald se recusa a responder. Sim ou não, Sarah, a testemunha estaria mentindo?
Sarah abaixou o olhar, pensando com calma. Não conseguia dizer com certeza se havia mais alguém além dela, Aaron e Jack em casa quando disse aquilo. Algum funcionário de fato poderia ter ouvido. Se negasse e fosse verdade, ela estaria fodida.
Ergueu o olhar em busca dos olhos do seu advogado, e o encontrou fazendo um cinco com a mão.
— Eu invoco a quinta emenda. — Ela finalmente disse, oficialmente recusando-se a responder. — Mas quero deixar claro que vocês estão me pintando como uma louca, quando tudo o que eu quero é proteger o meu filho desse pai imoral e traidor!
Thomas não perdeu a oportunidade.
— Proteger? Com ameaças de fugir? Com manipulações e instabilidade emocional? Senhora Fitzgerald, o que o meu cliente quer é um ambiente estável para criar Jack, onde ele não seja exposto a situações de pressão psicológica.
— Eu sou a mãe dele! Nenhuma testemunha e nenhum advogado vão tirar isso de mim!
— A questão aqui não é a maternidade, senhora Fitzgerald, — rebateu Thomas, sua voz firme. — Você é a mãe, nada vai mudar isso. É a estabilidade. E, pelo que acabamos de ver, essa é uma área em que você está, no mínimo, deixando a desejar.
Entrando ainda mais no jogo de Thomas, Sarah explodiu.
— Você acha que pode me humilhar aqui, na frente de todos? Que pode distorcer as coisas desse jeito? Eu não vou permitir isso!
O juiz interveio, batendo o martelo na mesa.
— Senhora Fitzgerald, recomendo que controle sua postura imediatamente, ou serei forçado a encerrar esta sessão e rever a validade das alegações com base em seu atual comportamento.
Sarah afundou na cadeira, respirando pesadamente. O estrago, no entanto, já estava feito. Thomas olhou para Aaron, dando um pequeno aceno quase imperceptível. Ele sabia que tinham acabado de ganhar mais um ponto crucial naquele caso.
O advogado de Sarah, um homem de porte imponente chamado Richard Malone, levantou-se de sua cadeira com uma calma controlada e o coração acelerado. Ele ajeitou o paletó e caminhou até o centro da sala, posicionando-se de frente para Sarah. Sua expressão era de seriedade, mas havia algo em seu olhar que sugeria pânico.
— Senhora Fitzgerald, — começou ele, a voz baixa, mas firme. — Vamos falar sobre o acidente.
Sarah, sentada rigidamente no banco das testemunhas, respirou fundo antes de responder.
— Certo.
— Você estava emocionalmente abalada naquela noite. Pode nos dizer o motivo?
Ela hesitou, os olhos vagando pela sala antes de se fixarem em Richard.
— Descobri que meu marido... Aaron... estava me traindo.
Aaron, sentado com Thomas ao seu lado, contraiu a mandíbula, mas manteve o silêncio.
— Traindo? — Richard inclinou a cabeça, como se quisesse compreender melhor. — Pode nos dizer com quem?
Sarah apertou os lábios, seus olhos brilhando de lágrimas reprimidas.
— Com Alyssa McKay.
A revelação provocou algumas arfadas de surpresa pela sala, não muitas, já que era uma audiência fechada a convidados, ainda assim, e o juiz teve que bater o martelo para restaurar a ordem. Richard, impassível, deu um passo em direção ao banco.
— Isso foi confirmado? Ou é apenas uma suposição sua?
Sarah ergueu o queixo, a voz agora cheia de convicção.
— Alyssa me contou. Eles se beijaram.
Thomas respirou fundo. Poderia protestar e alegar "ouvir dizer", mas isso poderia fazer com que Sarah e seu advogado chamassem Alyssa para testemunhar, e Aaron não queria isso. Não queria envolver McKay em nada desse julgamento.
Richard assentiu, como se já esperasse a resposta.
— E como isso a fez sentir?
Ela engoliu em seco, as mãos se apertando no colo. Tentava a todo custo passar uma imagem fragilizada e triste, mas a verdade é que tudo isso lhe causava raiva. Pensar em Alyssa McKay fazia o seu sangue ferver.
— Humilhada. Traída. Como se... como se tudo o que construímos juntos não tivesse valor algum.
Richard deu um passo mais perto, sua voz adquirindo uma nota de empatia calculada.
— Essa dor emocional... foi o que a levou a sair dirigindo, correto?
Sarah assentiu, os olhos agora fixos em suas mãos.
— Sim. Eu precisava pensar. Precisava... respirar.
— E foi nesse estado emocional que você sofreu o acidente? — Richard perguntou, sua voz carregada de peso dramático.
— Sim.
Ele deixou o silêncio pairar por um momento antes de continuar.
— Senhora Fitzgerald, você está dizendo ao tribunal que a traição do seu marido foi o catalisador para sua instabilidade emocional naquela noite?
— Sim. — Sarah respondeu com veemência, sua voz quebrando. — Se ele não tivesse me traído, nada disso teria acontecido!
Thomas levantou-se rapidamente.
— Protesto, excelência. Estamos nos desviando do ponto principal do caso. Estamos aqui para discutir a guarda de Jack, e não o casamento do meu cliente.
O juiz acenou com a cabeça.
— Concedido. Senhor Malone, mantenha o foco.
Richard não se deixou abalar, ajustando a postura antes de continuar.
— Claro, excelência. Apenas um último ponto. Senhora Fitzgerald, você mencionou anteriormente que nunca colocaria seu filho em perigo. Mas, considerando seu estado emocional e a sequência de eventos que levaram ao acidente, como pode afirmar que estava apta a tomar decisões racionais naquela noite?
Sarah abriu a boca para responder, mas hesitou. Sua expressão oscilava entre indignação e desamparo. Eles não haviam ensaiado essa pergunta, Malone estava improvisando.
— Apesar de tudo, eu sou uma mãe. E como mãe, eu nunca faria nada para colocar a vida do meu filho em risco.
Richard virou-se para o juiz.
— Excelência, o que minha cliente passou é prova clara de que ela foi levada ao limite emocional pela falta de consideração e mau-caratismo do seu então marido. Alguém desse nível não deveria ter a guarda completa de uma criança, um ser com a mente ainda em desenvolvimento. Não acha? — Ele se virou para Sarah mais uma vez. — Obrigado, senhora Fitzgerald.
Enquanto Richard voltava para sua mesa, Thomas trocou um olhar breve com Aaron. Eles sabiam que, embora a traição tivesse sido habilmente explorada, a instabilidade de Sarah era agora uma evidência clara para o tribunal. O caso havia se tornado ainda mais delicado, expondo as feridas de todos os envolvidos em um espetáculo que ninguém ali esqueceria tão cedo.
O juiz olhou para ambos os lados, visivelmente exausto com o drama que se desenrolava diante dele. Ele esfregou os olhos, um gesto que traía sua própria fadiga.
— Senhores, — começou o juiz, sua voz firme, mas cansada. —Estamos lidando com questões de extrema importância aqui, envolvendo a vida e o bem-estar de uma criança. Preciso que todos compreendam a seriedade deste caso. — Virando-se para os advogados, ele continuou: — Eu espero que vocês conduzam suas perguntas e apresentações com o respeito e a dignidade que este tribunal exige. Já vimos emoções intensas hoje, e compreendo que isso é inevitável em um caso como este. Mas peço que mantenham a compostura e foquem nos fatos amanhã. Estamos aqui para discutir custódia, e não, o casamento ou divorcio de ambas as partes.
O juiz então deu um leve aceno para o oficial de justiça ao lado dele antes de continuar.
— Vamos encerrar por hoje. Retomaremos amanhã às nove da manhã para o último dia. Todos estão dispensados.
Ele bateu o martelo, um som que ecoou na sala, marcando o fim da sessão. Todos começaram a se levantar lentamente, um murmúrio de conversas sussurradas preenchendo o espaço enquanto os advogados trocavam algumas últimas palavras com seus clientes.
Enquanto as pessoas começavam a se dispersar, Thomas colocou uma mão firme no ombro de Aaron.
— Foi um bom dia, — disse ele, transmitindo confiança. —Precisamos continuar pressionando amanhã. Vamos ver como ela reage sob pressão contínua.
Aaron assentiu, sentindo o peso do dia finalmente cair sobre ele.
— O investigador particular conseguiu alguma coisa?
— Ele ficou de me ligar hoje à noite com notícias, vamos esperar, — Thomas respondeu, com determinação.
Enquanto se dirigia para a saída, Aaron lançou um último olhar para Sarah, cercada por seu próprio time de advogados enquanto entrava no banco traseiro de um carro. Sequer reconhecia aquela mulher à sua frente. E cada passo que dava em direção ao seu próprio carro, e para longe dela, ecoava sua promessa silenciosa: lutar até o fim pelo bem de seu filho e junto com ele, recomeçar.
O peso do dia ainda pesava em seus ombros, mas a chama da determinação em seu coração queimava mais forte do que nunca.
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