Capítulo 21.5° - O que mais tenho de qualquer forma?
Stephanie Fearblood - Vampira
Não sei o que pensar sobre um monte de coisas faz um tempo. Haviam chegado à área vinte de Semiramis, localizada no extremo sul da metrópole. Faz calor, há mortos vivos e um abismo. A borda esquerda da boca pendeu trêmula acima por um instante. O que eu estou fazendo? Pararam de correr ao chegar na parede. A rocha erguia-se a seis metros de altura e estendia-se em largura vastamente para oeste e leste, atravessando destroços de edifícios e com restos de carne pútrida e queimada na base. Não sou forte como esse demônio. A oni acenou para o trio em cima do muro. Não tenho pelo quê lutar como aquele guarda. O sujeito gritou uma pergunta.
Mal consigo ouvi-los.
Eu deveria dar meio volta e morrer.
Uma abertura surgiu na pedra, a bêbada a cruzou e Stephanie seguiu, foi fechada após atravessarem-na. Os zumbis se concentravam na extremidade norte e em três das áreas centrais. Um elfo se aproximou delas e os músculos de Stephanie tencionaram imediatamente, a mão fechou-se no cabo da espada e a energia mágica agitou-se. O elfo que a salvara do Lancelot e do humano zumbi. Que ela socara o rosto até virar polpa.
Eu não me sinto realmente com raiva, mas devo.
— ...Não teria sido melhor levá-la ao norte? — o elfo.
— O saco piolhos queria ajudar a pobre Semiramis, pouco havia em mim capaz de dar uma negação a tamanho altruísmo.
As íris azuis do elfo a encontraram.
— Meu nome é...
A espada deixou a bainha rumo ao pescoço do homem, lâmina fria encontrou a lateral de garganta. A vampira empurrou-a com toda força contra o pescoço do soldado de Sangue Branco, a energia mágica usada ao limite e suor e vermelhidão de esforço manchando-a a pele. O elfo não moveu-se um milímetro, o semblante voltado a ela em uma expressão... melancólica. Imagens de vampiros sendo partidos ao meio por armas élficas cruzaram-na a mente com todos os lamentos e odores nítidos, os lábios da garota bambearam e os punhos fecharam mais vigorosamente. Morra. Só morra. Morra e leve todas essas lembranças embora. Um filete de sangue escorreu, do ponto de encontro de pele e espada. Ele a fitava da frente e esquerda dela, vestia um peitoral de aço sobre cota de malha e placas de metal amarradas a antebraços e coxas. O rosto estava marcado por terra e suor. Pessoas encaravam e murmuravam, três haviam chegado a três passos deles e falado algo.
O braço de Stephanie era segurado pela oni e não conseguia terminar o balanço que derrubaria a cabeça élfica.
Por favor, morra... umidade acumulava-se nos olhos da vampira.
— Por mais feliz que um tanto de sangue élfico me faria, creio que deva deixar para derramá-lo quando o problema mais imediato for sanado.
Stephanie tinha as presas dilatadas e a respiração profunda e rápida.
— Entendeu? — a bêbada.
A garota fechou os olhos e virou o rosto para o outro lado.
Sim.
Matá-lo não muda nada.
Nada muda nada.
A desgraça já caiu sobre mim, jamais sumirá.
— Excelente.
Foi solta. Guardou a espada.
— ... Sou Augustus e sinto muito — o elfo.
Os punhos da garota cerraram e os pés levaram-na adiante, que se foda o seu ''sinto muito''. A bêbada a seguiu após lançar umas palavras aos sujeitos que haviam se aproximado. Os primeiros três quarteirões eram tomados por pessoas armadas, o quarto por ferreiros e artesãos produzindo explosivos, flechas e maldições. Foram paradas por um guarda licantropo e guiadas até o grande edifício cujo topo brilhava sob a luz do sol e, de acordo com o soldado, o comando da cidade se reunia.
— Senhor, a Ouroboros — o licantropo, então pisou para o lado e as duas passaram por entre a porta dupla para dentro do salão com um telhado de vidro sete metros acima. No centro havia uma enorme mesa redonda onde, sentados em cadeiras na borda contrária a entrada, repousavam três sujeitos que os fitaram em uníssono.
— Levou seu tempo, não é, menina? — o lobo humanoide no assento do centro. A pelagem era negra e as íris alaranjadas, trajava um robe cinzento. Stephanie tencionou e desviou o olhar rumo ao chão. Isso é comigo?
— Tive esperança que o velhote morresse se eu atrasasse o passo o suficiente — a oni, e continuou a andar. A vampira expirou, relaxou os membros e a seguiu. Provavelmente não.
— Isso foi pouco cortês, mocinha — com um sorriso curto tomando os lábios lupinos.
— Oh, ofendi o pobre ancião?
Pararam diante a mesa.
O licantropo a esquerda era Jurandir. A direita havia uma mulher com orelhas bovinas e rosto rechonchudo em uma expressão séria.
— Precisamos dos seus serviços — ele.
— E outros do pagamento pelo último — a oni.
Eu deveria sair daqui. Se eu morrer esse dedo podre, seja o que for, não será um problema.
Mas eu ainda me importo com isso? Eu lutei com toda minha força, perdi, fui salva e... agora?
Fitou o rosto de tom cobre de Jurandir.
Devo experimentar o sangue de pessoas?
O prazer parece fazer da bêbada uma pessoa feliz...
Os polegares esfregaram as laterais dos indicadores e os dentes morderam o canto esquerdo e inferior dos lábios.
Eu não sei.
— Perdemos um terço do território, essa tarefa necessita de ação imediata.
— Assim o faz minha compensação.
O licantropo soltou o ar pela boca e levou uma mão a manga da túnica. Puxou para fora um pergaminho.
— Aceite o trabalho e é seu imediatamente.
Em um instante o item sumiu de entre os dedos do velho e surgiu nos do demônio.
— Estou disposta a ouvir sua oferta de emprego — a bêbada.
— Mate todos os zumbis a norte daqui.
A oni piscou duas vezes. Stephanie ergueu o encarar ao idoso, que tipo de pedido estúpido é esse? Esse velho é sênil?
— Por que eu faria isso? Tem um exército, use-o, velhote.
— Pode fazê-lo? — o licantropo.
O demônio deu de ombros. A vampira a encarou de soslaio. Ela mantêm um sorriso curto, postura ereta e um odor tranquilo. Um frio arrepio passeou Stephanie. Ela pode...
— O que gostaria de ganhar pelo serviço?
A oni balançou o pergaminho.
— O que mais eu poderia querer do bom velhinho?
— Perdão por todos os seus crimes e dívidas, por exemplo.
Silêncio, demônio e homem fitando um ao outro.
— É uma proposta que me vejo impelida a aceitar.
— Imaginei que seria.
— Tem um aposento separado para mim ou pensou em deixar que eu ficasse ao relento? Uma cama antes de mandar sua salvadora a guerra seria cortês.
Foram guiadas por Jurandir ao segundo andar de uma pousada com salão principal e corredores lotados de gente.
— ...Pode fazer isso? — a vampira em um murmúrio, dentro do aposento, o licantropo havia saído. A cama à frente dela era forrada de vermelho, a oni estava deitada na esquerda a essa e roxa.
A borda da boca do demônio foi acima.
— Sua falta de fé é perturbadora — e riu e pôs-se de lado no colchão, íris e frente do torso rumo a Stephanie. — Qual seria seu palpite sobre minha possibilidade de êxito?
Ela é impossivelmente forte, pode se curar absurdamente rápido e é inimaginavelmente veloz. Sinto como se a cada segundo em sua presença minha vida estivesse à mercê de sua benevolência.
A vampira girou e sentou na cama, de costas ao demônio.
Ela conseguiu me trazer até aqui em meio a uma maré de mortos.
— Se eu conseguir, vivo, se não, morro — a oni. — A resposta é simples assim.
A bêbada irá tentar mesmo sem ter certeza.
Stephanie levou as costas de encontro ao colchão. É mais forte que eu em todos os sentidos que valem algo. Eu deveria só dormir, dormir até me sentir melhor.
Fechou os olhos. Não que eu ache que vou.
— Pirralha, pode parecer impossível para você agora, mas voltará a rir um dia.
Não, não irei.
— Viva como um demônio. Impiedosamente amando o que te cativa. Pessoas, coisas, ações... seja indiferente ao que fica entre você e eles, tire-os do caminho sem remorso se a necessidade surgir.
Por que essa balela de nov...?
Abriu os olhos, subitamente assaltada por uma ideia.
— Acha que vai morrer? — a vampira, o coração tensionando no peito e uma fagulha de medo a tocando a corrente sanguínea.
— Um dia e mais cedo do que eu gostaria. Há muito tempo essa noção vem sendo o empurrãozinho que me impede de ser uma boa criaturazinha.
Stephanie a fitou de soslaio.
— Mas digo em honra dos seus devaneios de fim — a oni. Stephanie semicerrou os olhos. De novo essa conversa... nada do que diga, quantas vezes o faça... me torna mais próxima de me sentir melhor.
Desviou o encarar para o teto. Duas tábuas de madeira horizontais próximas a borda esquerda e à direita, com sete verticais deitadas sobre elas e telhas sobre essas. O quarto fedia ligeiramente a mofo e o ar entrando pela janela na parede oposta a das camas era tênue. O colchão pairava duro e o travesseiro fino, quase indiferenciável da cama.
Partirei com ela. Vim todo o caminho até aqui, mas voltarei para lutar com os zumbis e ser um peso morto. Inutilizarei o esforço da bêbada... dessa mulher cujo nome desconheço... mas que não quero perder como perdi a todo o resto.
— ⚔ —
Estou em um beco, mão enterrada em um pescoço largo. Os olhos negros do homem estão esbugalhados, a boca paira aberta e a puxar ar. Tinha o antebraço agarrado pelos punhos dele. Lágrimas o desciam o rosto. Vou matá-lo? Os dedos entram mais fundo na carne da garganta e o corpo do humano é pressionado mais à parede que racha. Ele tosse, gotas de saliva ligeiramente frias a tocam o rosto. Eu não sei...
O lança para a esquerda e fundo da pequena via entre dois edifícios. Ele é comida. Vira o rosto para a rua tomada por silêncio, estava na região mais ao sul de Semiramis, trezentos e cinquenta metros de onde a população incapaz de auxiliar no combate se encontrava amontoada. Ele é uma pessoa que em um rompante desesperado para amar estar viva aceitou sem ressalvas a ideia de devorar.
Ele soluça e puxa ruidosamente ar, as íris negras a encarando fixamente.
Se não terminar, será punida pelas leis locais. Mordeu o canto da boca. Se não terminar continuará onde está, a espera da morte. A mão foi ao cabo da espada, couro frio e rígido. Se não terminar, se convencer a começar isso será mais uma das coisas que não importaram na sua vida.
As íris rubras encararam as do humano. Ele está tão assustado quanto eu estive de casa até aqui, o fedor do medo se mistura ao da urina que mancha-o as calças. Escarlate pairava-o na lateral esquerda do pescoço onde a vampira pressionara.
Eu o odeio. Soltou o ar pela boca. Não, não o faço.
O desejo. Desejo seu sangue... e mais. Tocá-lo, beijá-lo e tudo que possa proporcionar prazer.
Ela fecha os olhos com força.
Eu odeio ser um monstro. Odeio merecer tudo de ruim que recai sobre mim. Odeio me odiar.
Eu...
— Não fale nada a ninguém e te deixo em paz — soltou, rosto voltado a parede direita do beco.
— S-sim — o humano, alto e agudo, pés deslizando sobre o calçamento de pedra e então cruzando-o para fora do canto estreito.
Eu preciso de um objetivo. Algo que vá importar e seja bom.
Caminhou para fora do beco, a brisa era ligeiramente fria e o crepúsculo do final de tarde tocava os céus. Não há nada que me importe.
Andou com fileiras de edifícios a ambos os flancos, o cheiro de pessoas de variadas raças aglomeradas adiante e os trajes leves tremulando suavemente sob o vento.
A oni sumira enquanto Stephanie dormia. Uma carta havia sido deixada. Ela tem uma letra bonita... e o papel fedia e tinha manchas de álcool.
''Eu disse tudo que acreditei ser essencial a sua pessoa, espero que quando eu retornar já tenha se posto em movimento para amar ou que faça bom proveito de seu luto, embora sem tomá-lo como a última fase da vida que testemunhará. Pedi para todas as suas despesas serem postas na minha conta, veja isso como um presente de um demônio mais antigo.
Para finalizar, tristemente torno a repetir: viva, pirralha, seja um demônio.''.
Largara a mensagem no quarto, fitara o movimento na rua abaixo e além da janela. ''Seja um demônio'' havia dito a si mesma, escolhido uma vítima que fez todo o trabalho de convencer-se a segui-la.
Não pude ser um demônio... fitou a lua pálida e fina no lado oposto ao sol que partia. Cia, a bêbada assinara a carta com esse nome. ''Não meu nome de nascimento, mas mamãe se absteu de me dar um, então não é como se fosse falso. Todas as máscaras são rostos reais para alguém sem face... ou algo assim''.
A respiração a saia lenta e profunda, o som dos batimentos suavemente chegando aos ouvidos. Suspirou.
Vou me juntar a linha de frente de Semiramis. Um cheiro. Virou o rosto à esquerda e na direção do indivíduo a três metros de si na esquina que abria-se a duas vias laterais. As pálpebras subiram por completo.
— Acaba de deixar seu jantar sair intocado, em alguns lugares seria considerada uma criminosa pior do que se o tivesse secado.
Uma gota de suor frio desceu as costas do pescoço da vampira, pôs um pé ao lado e, devagar virou completamente à mulher. ''Mommy''. Ruiva, com uma camisa de botões florida aberta e olhos rubro alaranjados.
Eu deveria estar com raiva, ela e sua gangue deram uma surra em mim e meus tios ao chegarmos em Semiramis. Fechou os punhos. Mas não estou. Não consigo... eu só... quero que acabe.
— Gostaria de me acompanhar para o jantar já que desistiu do seu? Alegremente te contarei sobre o que virá se aceitar.
Respirou fundo. Ela se esgueirou sem que fosse notada, até onde sei pode ter outros camuflados por perto e... o que importa se for uma armadilha? O que tenho que valha a pena agir com cautela?
A seguiu. Sentaram no topo de uma residência, sobre um lençol de piquenique e dois vampiros trouxeram um bolo e uma garrafa de sangue. Era de chocolate com morangos e o sangue... humano. Do humano que deixei fugir.
— O que é isso...? — tensa, olhos fixos no rubro dentro da garrafa de vidro. Mais que merda, mais que...! Pôs-se de pé, íris fixas no conteúdo do pote.
— Um presente — a... mulher. O cheiro dela é estranho. Não é humano, licantropo ou qualquer outra raça ou mistura de raça.
É esquisito... não tenho uma palavra que possa descrevê-lo...
— Você... o matou.
O odor da vida humana era doce, quase tão doce quanto o élfico... fechou os olhos com força. Não, pare de pensar nisso.
— Não exatamente, mas pode-se inferir que foi feito sob minhas ordens. A desagrada?
Não. E não o fazer me incomoda.
— Sua tia está bem, se sentar posso te contar mais a respeito.
Os olhos da vampira abriram por completo.
Sentou.
— Ela está aqui, com os sobreviventes do surto de mortos vivos. Samantha seguia sua trilha quando tudo começou e se viu arrastada pela confusão. É uma boa informação, não é?
Sim... é a primeira coisa boa em dias. Os punhos de Stephanie fecharam sobre as coxas e lágrimas começaram a se acumular.
— Preciso de um favor em troca das boas novas.
O fitar da vampira subiu ao rosto da criminosa.
— Dentro de alguns minutos haverá caos. Quero que fuja com uns cinco das minhas crianças e... bem todo a turba de não combatentes que também o farão.
Stephanie piscou duas vezes. Quê?
O semblante e músculos tencionaram.
Eu não tenho porque fugir. Se houver luta, lutarei.
— Não v...
— Se ficar e for pega pelo novo mestre dos zumbis, a chance dos vivos continuaram a serem o tipo dominante de criatura nesse continente diminui drasticamente. Se sobreviver a luta terá dado a deusa da vida tempo para que seu novo hospedeiro chegue e a absorva, o que geraria o fim das formas de vida inteligentes atuais e traria uma nova. Vá com meus meninos até a antiga terra do dragão Rá e mergulhe seu dedo infectado no topo do vulcão que os onis batizaram de Surt. Isso resolverá as duas principais ameaças.
Stephanie pressionou a lateral dos indicadores com os polegares. Os mortos estão atrás de mim, o dedo falou sobre ser uma divindade da vida e caos... e como essa mulher poderia saber disso...? Como seria capaz de dizer a solução?
Mordeu o canto esquerdo e inferior dos lábios. Sangrou. Era quente e amargo.
Não importa. Seja ou não seja. Vou acreditar nisso e morrerei tentando fazer algo que acho importar.
Como vim fazendo o caminho todo até aqui...
Será que eu nunca aprendo?
Fechou os olhos.
O que mais tenho de qualquer forma?
— Eu irei.
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