Capítulo 20° - Importar foi menos que o vento
Jormugand Ouroboros, oni
— Eu te amava.
— Sempre fui uma adorável criaturazinha — a oni, e moveu o arqueiro ao flanco esquerdo do tabuleiro.
— Você me amava? — ele pôs o dragão a frente da infantaria.
O demônio riu e fez a cavalaria abater o mago dele, derrubando a peça e então lançando-a para fora.
— Foi uma péssima jogada — a mulher com chifres marcados por carmim nas pontas, e o púrpura subiu para encontrá-lo as íris azuis. Um tom escuro agora quando antes quase pareciam brilhar. — Minha figura o distrai esse tanto?
— Sempre.
Ela não respirou e as pálpebras subiram ao limite por um instante, então riu.
— Morrer parece ter feito pouco em você. — fechou os olhos, agarrou o copo ao lado da coxa e bebeu do forte vinho produzido em Sangue Branco meio século atrás. — É um tanto entristecedor.
O elfo moveu o arqueiro, derrubando a cavalaria da oni.
— Eu ainda sou eu... majoritariamente.
Uma fenda pairava-o do centro do peito a borda superior da garganta, o músculo e o osso do pescoço eram visíveis, a ossada do peitoral e o coração, imóvel, também. Fedia a carnes congeladas de um açougue.
E uma longa cicatriz o divide o rosto no meio, seguindo a linha do golpe que o matou.
— Qual parte diverge? — usou o dragão para abater o sacerdote dele.
Ele desviou o rosto para a esquerda.
— Eu não me lembro da família que me adotou, embora saiba que houve uma. Também não lembro do período na escola e na academia militar. Não sinto nada no lado direito do corpo, é como se outra pessoa o movesse para onde eu preciso e... eu escuto a voz do meu mestre, aquilo que me trouxe da morte, às vezes a sussurrar comandos e sei que não poderia recusar por mais que tentasse.
Jason voltou o rosto a frente, então recuou a infantaria para a ala esquerda do tabuleiro. Uma série de movimentos e o jogo resumira-se aos reis, rainhas, dois lanceiros dele e dois magos dela.
— E quais são suas ordens? — a oni.
— Te tirar do caminho.
Ela segurou o queixo entre o indicador e o polegar. Tinha os magos em flancos opostos, o elfo possuía os lanceiros ao centro e duas casas adiante dos monarcas.
— Se baixar a guarda devo te matar, se me ouvir devo tentar convencê-la a ir embora oferecendo o que quer que seja. Também te contar o porquê da morte da vampira também servir a seus interesses.
Uma brisa fria deslizou-a sobre a pele.
— O último despertou minha curiosidade, admito.
Poças verdes, metálicas, escuras e bege pairavam sobre os destroços do teto que cobriam o piso da catedral. O líquido eram mortos vivos derretidos com ácido pelo demônio e cercava a dupla jogando ''batalha'' em um tabuleiro, e com peças, achados parcialmente sob um dos destroços. Acima a manhã e brisa fria entravam pondo o lago de carne e trajes a brilhar.
— Os monstros noturnos são culpa dela.
Moveu a rainha.
— Oh? Promete?
Ele mexeu o rei.
— Uma entidade se misturou a garota e enquanto cresce faz com que monstros nasçam.
A oni riu.
— Já ouvi esse conto, mas ainda estou a espera de um motivo para crer nele — pôs o mago do flanco esquerdo à frente.
Jason avançou o rei.
— Quando a garota morrer, os monstros param de aparecer.
Ela colocou a rainha em movimento.
— Sinto que quase cheguei perto de ser convencida, sua oratória é digna de nota, meu caro elfo. E o que seu mestre tem a ganhar com isso?
— E importa?
Fez sua jogada.
— Talvez. Ele é Ícaro?
Ela moveu o mago do flanco direito.
— Não.
Mais movimentos. Ambas as pernas de Jason tinham sido partidas no meio e derretidas, sangue negro escorrera dos buracos nos joelhos e molhara o espaço sob o tabuleiro.
— Então pouco me interessa, mas a pirralha vive.
A rainha dela foi tirada do jogo.
— Meu mestre eventualmente terá o poder para te matar.
O último lanceiro dele foi derrubado.
— Ser perfeitamente invencível é um dos meus charmes.
O mago e o rei punham o monarca de Jason em posição de abate. Os olhos lilases foram do tabuleiro ao rosto desgastado do homem que conhecera em um dia qualquer e vira morrer em outro. Não enterrei seu corpo, não avisei seus parentes e amigos... não chorei sobre sua pele gradualmente mais fria ou fiz de sua carne parte da minha o devorando.
— Eu te amava — a oni, então riu, fechou os olhos com força por três segundos. — Creio que amo muito fácil e rapidamente, sequer tivemos uma quinzena e aqui estou. É cômico, convido-o a rir.
Pegou a taça e bebeu o resto do conteúdo.
O canto direito da boca dele foi acima.
— Eu... — ela, os olhos desviaram para esquerda do tabuleiro. — Sinto muito.
Ser invencível não foi o bastante para salvá-lo. Amar não significou mais que indiferença. Importar foi menos que o vento fresco que passeou por seus cabelos dourados e empapados de sangue.
— Não precisa. Saber que me amava... basta, eu fico feli...
Estourou a cabeça dele com um golpe usando as costas do punho, fragmentos roséas, brancos e líquido gélido voaram, tronco caiu para trás e escuro vazou. O coração dela comprimiu dolorosamente, os lábios bambearam por um instante e os pés encontraram a poça de fluídos que cercava-os.
— ⚔ —
As vias eram marcadas por feras e homens caindo uns sobre os outros. As criaturas eram reptilianas, com quatro braços e dotadas de uma longa cauda de ponta aguçada. A Fearblood estava sobre o telhado de um armeiro arfando e melada de negro. Uma espada a pairava a esquerda, rachada.
— Fico feliz que esteja viva, pirralha. Seria terrivelmente incômodo ter uma segunda despedida marcando este dia.
Ela virou o rosto e a fitou de soslaio. As íris rubras soam como se talhadas em gelo.
— Eles não me atacaram... os monstros... — a vampira, voltando a face a frente.
''Os monstros noturnos são culpa dela''.
— Meu dedo mindinho falou.
''Uma entidade se misturou a garota''.
— ... talv... me mat...
''Quando a garota morrer os monstros param de aparecer''.
Deu um passo e então outro, a três mais pairava as costas da vampira. ''Me mate''? Jason morreu por ter ido atrás dela, os monstros talvez tenham mesmo ligação...
Ergueu a mão aberta na direção da cabeça da garota.
E se não, o que importa?
O ar fedia a fumaça e carne congelada. Guinchos de feras, músculo sendo rasgado e liquido disparando soavam.
Que ela morra.
A criança fungou.
De novo.
O demônio sentou ao seu lado, tirou um pequeno copo do bolso e o encheu de saquê. Bebeu.
— Que estupidez.
Colocou o braço ao redor dos ombros da garota e a puxou para si. Ela estava úmida, fria e fedendo a carne congelada.
— Jamais morra por um monte de gente que pouco se importa com você.
Ficaram ali por treze minutos e mais trinta e três. Um ronco suave escapou a garota e uma gota da baba despencou sobre a coxa do demônio. Ugh. A oni a ajeitou para que ficasse com a cabeça para cima e nuca deitada em seu colo.
Então encarou a noite, a madrugada e o chegar do dia.
As pálpebras da vampira subiram, desceram e se ergueram sob o primeiro raio de luz.
— Pensei que nunca acordaria.
O tronco dela foi acima rápida e subitamente.
— Pronta para irmos? — o demônio.
Silêncio. Os passos de mortos soando mais e mais próximos.
— Eu não vou — Stephanie. — Eu irei matar Ícaro.
A oni soltou um breve riso.
— Ícaro foi morto, seu alvo é um sujeito cuja única alcunha conhecida é ''mestre''. É tarefa demais para um saco de piolhos, esqueça.
Ela pôs-se de pé e pegou a espada. Girou, fitou a oni e então a dianteira. Andou.
— A ajude e te digo como se livrar de sua maldição — uma terceira voz, pondo um longo arrepio a percorrer a pele do demônio.
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